A preparação do mês vocacional da Arquidiocese de Ribeirão Preto, em
agosto do ano de 1985, foi confiado ao Colégio Santa Úrsula pelo então Arcebispo
Metropolitano, Dom Romeu Alberti. Direção, Professores, Alunos, Funcionários e
Familiares dos Alunos se empenharam nessa preparação, tornando histórico o mês
vocacional em toda a região da Igreja particular de Ribeirão Preto. Não se via
e nem se ouvia falar nas Congregações de Religiosas na Arquidiocese. Tratava-se
de um convite à promoção vocacional bem mais ampla: vocações sacerdotais,
religiosas e leigas.
A Diretora e Priora do Colégio Santa Úrsula, Irmã Maria da Salette
Barboza pediu-me que coordenasse o mês vocacional. Eu viera de Bogotá
(Colômbia), onde iniciara o Curso de Teologia na Universidade Javeriana dos
Jesuítas. Preparava-me e aguardava o visto de estudante para continuar os
estudos de Teologia na Universidade Católica de Eichstätt na Alemanha. Um dos
requisitos do Seminário daquela Diocese era que o candidato lá chegasse pelo
menos, com as então chamadas “Ordens Menores”, os Ministérios de Leitor e
Acólito. Uma vez que nos anos de 1983 e 1984 eu lecionara Ensino Religioso e Filosofia
no Colégio Santa Úrsula, o Arcebispo achou por bem transferir a Catedral para
debaixo do caramanchão do pátio interno do Colégio, instituindo-me nesses
ministérios, durante a celebração do encerramento do mês vocacional, no dia 31
de agosto de 1985, às 9 horas, numa linda e ensolarada manhã de sábado. O Coral
“Vozes do Santão” animou o canto litúrgico da celebração. Esse coral foi formado
com alunos e alunas das disciplinas que eu ministrava. A data coincidia com o
Encontro das Prioras e Diretoras das Comunidades e Colégios das Ursulinas do
Brasil e do Peru.
O tema daquele mês vocacional foi “Dai-lhes vós mesmos de comer”
(Mt 14,16), o que passou a ser meu lema dos Ministérios de Leitor e Acólito,
recebidos numa única celebração. Esta frase foi a que Jesus utilizou quando os
discípulos se demonstraram preocupados com aquela multidão que passou o dia
ouvindo a pregação do Mestre sobre o Reino de Deus. Tinham apenas dois peixinhos
e cinco pãezinhos. Jesus insinuou de que “partilhassem de sua pobreza” para com
quem sentia fome. Como Jesus não era “espetaculoso” e sim “espetacular”, quis
contar com a comunhão e participação dos seus, para só então abençoar aquele “pouquinho”
que eles possuíam, e multiplicar pães e peixes num “tanto”, que alimentou,
segundo o Evangelho de São Mateus, cinco mil homens, sem contar mulheres e
crianças. E não esqueçamos que os judeus constituíam famílias com numerosos
filhos. Milhares de pessoas se alimentaram por conta do milagre de Jesus,
porém, com a participação e comunhão dos discípulos. Quem vive sua fé na
Eucaristia ensimesmado, escondendo-a somente para si, anda na contra mão do
gesto milagroso do Mestre. Não poucas vezes transferimos responsabilidades ou
desanimamos facilmente achando que somos muito insignificantes ou impotentes
diante das tantas formas de fome pelas quais passam as pessoas de nosso tempo.
Fome de justiça, de liberdade, de trabalho, de moradia, de oportunidades, de
paz interior e de uma vida bem mais digna. Devemos fazer a nossa parte.
Especialmente os instituídos nos Ministérios de Leitor e Acólito não deveriam ficar
limitados a proclamar as leituras ou a distribuir a sagrada comunhão nas
celebrações. Deveriam ser exemplos de comunhão, participação e missão nas
Comunidades, levando por exemplo, a Palavra e a Sagrada Comunhão aos Enfermos,
Idosos e Pessoas que não têm como participar das celebrações. Outrossim,
deveriam testemunhar uma vida de verdadeira “partilha da própria pobreza” com
os irmãos na fé.
Se o 3º Ano Vocacional do Brasil tem como tema: “Vocação: Graça e
Missão” e o lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33), nosso
lema nunca se desatualizará: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16).
Pe. Gilberto Kasper - Teólogo