Padre
Gilberto Kasper Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia,
Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente
no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente
Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da
Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de
Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com
Iluminado
por uma colocação de Dom Angélico Sândalo Bernardino, gosto de comparar nossa
existência a três partos. O primeiro parto é quando nascemos do útero materno.
Nenhuma criança quer nascer. Mas ao nono mês não tem jeito, ela precisa nascer.
Partir do útero da mãe, onde se sente segura, aconchegada e amada,
especialmente quando planejada e desejada.
Eu
nunca acreditei em cegonha. Mas acreditei em frasqueira de parteira.
No bairro Liberdade na cidade de Novo Hamburgo (RS) onde cresci, havia uma
parteira, a Dona Avelina. Ela levava consigo uma frasqueira. E de onde saída
com sua frasqueira, nascia uma criança. Minha dedução: Dona Avelina levava as
crianças às mães em sua frasqueira. Quando nasceu minha prima, lembro-me como
se fosse ontem, a Dona Avelina deixou sua frasqueira sobre uma coluna na
entrada da casa de minha avó e a chamou para o nascimento da criança. Até me
aproximei, coloquei meu ouvido sobre a frasqueira para tentar ouvir algum
balbuciar do bebê. Ainda não havia ultrassom e não se sabia o sexo da criança
que estava por nascer. Num quarto escuro, junto à parturiente, somente as avós
com a parteira participavam do parto. Os demais esperavam na sala da casa. A
criança nem chorava. Mas a parteira lhe dava um tapinha na bunda, para
constatar que nascera viva. Quando então a criança começava a chorar, todos na
sala comemoravam a nova vida que acabara de nascer. E eu tinha convicção de que
minha prima fora levada na frasqueira da parteira. Já hoje as
crianças nascem chorando de susto da forte iluminação e dos obstetras e
enfermeiras com máscaras nas sofisticadas maternidades.
Nosso
segundo parto é quando nascemos do útero da Igreja, a Pia ou Bacia Batismal.
Neste primeiro Sacramento da Iniciação Cristã, somos adotados como filhos de
Deus, irmãos de Jesus Cristo e nos tornamos seres divinizados, isto é,
candidatos à santidade. Sim, porque santo é todo aquele que morrendo vê Deus
como Ele é.
O
terceiro e definitivo parto será quando nosso nome ecoar na eternidade e
partirmos do útero da terra (vida terrena) à eternidade. É um parto dolorido
aos que ficam e entregam a quem de direito, pessoas que amam, o próprio
Criador. Este parto chamado de morte dói demais, mas é imprescindível para
irmos diante de Deus que nos amou primeiro e nos quer em seu colo, acariciados
por Nossa Senhora. Só o tempo ameniza a dor dos que devolvem a Deus seus entes
queridos, que na gestação do útero da terra se lhes foram emprestados por algum
tempo: para alguns mais e para outros menos! O importante é estarmos preparados
para que o terceiro e definitivo parto seja o mais natural possível. E o que
nos prepara para aquele derradeiro momento é amor que amamos!