Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Quem não carrega sua cruz
e não caminha atrás de mim
não pode ser meu discípulo” (Lc 14,27).
Como seria bom se retomássemos o Domingo como Dia do Senhor, promovendo, segundo sugestão do Santo Padre o Papa Francisco,
uma verdadeira Cultura do Encontro. Encontro da Família, Igreja Doméstica, encontro com a Comunidade
de Fé, Igreja
dos Filhos de Deus reunidos em torno das Mesas da Palavra e da Eucaristia!
Ao domingo aplica-se, com muito
acerto, a exclamação do salmista: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: exultemos e
alegremo-nos nele” – é o que nos dizia São João
Paulo II, na carta apostólica “Dies Domini”.
Repletos de alegria, portanto, nos
reunimos neste Vigésimo-Terceiro Domingo
do Tempo Comum para louvar e bendizer nosso
Deus e para pedir, “que a bondade do Senhor e nosso Deus repouse sobre nós e nos
conduza”.
Somos chamados a voltar nosso olhar
para a cruz de Jesus, pois neste mês dia 14, celebraremos a festa da Exaltação da Santa Cruz. Ao iniciar a Santa Missa, lembramos que “nele, e por seu sangue, obtemos a redenção e recebemos o perdão de
nossas faltas, segundo a riqueza da graça, que Deus derramou profusamente em
nós, abrindo-nos para toda a sabedoria e inteligência” (Ef 1,7-8).
Jesus nos desafia a segui-lo,
deixando de lado tudo o que não condiz com seu projeto. Decidir-se a caminhar
com ele significa discernir e escolher, com sabedoria, os valores que fazem
nascer a nova sociedade. Atentos à proposta do Senhor, somos chamados a
estabelecer e assumir prioridades, colaborando para a construção do reino de
Deus.
Para penetrar os pensamentos de
Deus, vamos abrir nosso coração à sua palavra, que nos dá a conhecer o que ele
espera de cada cristão e o que nos é necessário para sermos fiéis seguidores de
Jesus.
A verdadeira sabedoria nos ajuda a
discernir o valor de cada coisa. O seguimento de Jesus é exigente. O cristão é
convidado a se empenhar em eliminar as desigualdades, discriminações e
preconceitos.
Com o pão e o vinho, ofertamos nossa
vida e a vida de todos aqueles que deixam tudo para seguir Jesus na opção
radical pelo evangelho.
“Ser cristão é um caminho, ou melhor, uma peregrinação, um
caminhar juntamente com Jesus Cristo. Ir naquela direção que ele indicou e
indica”. Assim ensinou o Papa Emérito Bento XVI, na
homilia do Domingo de Ramos de 2010.
O evangelho deste Vigésimo-Terceiro Domingo do Tempo Comum nos chama a esse seguimento, a esse caminhar junto, participando
da vida do Ressuscitado, como nos
indica o Catecismo da Igreja Católica. O mesmo documento assim complementa seu
ensinamento: os cristãos “seguindo a
Cristo e em união com ele, podem procurar tornar-se imitadores de Deus como filhos amados e andar no amor, conformando seus
pensamentos, palavras e ações aos sentimentos de Cristo Jesus e seguindo seus
exemplos” (CIC,
n. 618).
Numa sociedade imersa em intensa crise de sentido, em que o vazio
avança sobre o coração humano, é difícil entender e mais ainda assumir a proposta
de vida mostrada por Jesus. No entanto, para aqueles que conseguem sair de dentro de si
mesmos e vislumbrar a grandeza deste chamado, ele se torna entusiasmante.
Podemos pensar que tal proposta diz
respeito tão somente àqueles e àquelas que querem seguir o caminho cristão como
presbíteros ou como membros de ordens religiosas. Eis uma idéia incompleta.
Viver intensamente um ideal, no caso o ideal cristão, requer desapego,
disponibilidade, doação de si. Contudo, tal forma de vida pode ser exercida, também,
como leigo, como leiga. Como esposo e esposa. Como pai e mãe. Maria é exemplo disto. Ela
assumiu uma família, foi esposa, mãe... Teremos algum ser humano de maior
santidade do que ela em quem nos espelharmos?
O desapego de que fala o evangelho
de hoje está longe de representar um afastamento do mundo, um distanciamento do
mundo tal qual ele é. Pelo contrário, para quem assume tal desapego, por estar
assumindo a pessoa de Jesus, significa viver no mundo, inserir-se nele para transformá-lo,
sem se deixar dominar “pelas coisas deste mundo”, pois “as coisas do alto” são mais valiosas (Cl 3,1).
Acontece que hoje o ser humano está
muito voltado para dentro de si mesmo. Por incrível que pareça, o primeiro “desapego” na opção pelo caminho de Jesus terá que ser o desapego de si mesmo. O soltar as amarras do
egoísmo, do individualismo, para se abrir a Deus e consequentemente aos irmãos
e às irmãs.
Não poucas vezes nossa cruz a ser
assumida para seguir coerentemente o projeto de vida de Jesus Cristo é uma pessoa,
uma situação, uma perda ou até mesmo uma conquista. Lembro-me com emoção do
Jovem de Londrina (PR), que durante a Vigília da Jornada Mundial da Juventude, no
Rio de Janeiro, na noite do dia 27 de Julho de 2013, testemunhou seu amor pela
Igreja, pela vida e pela cadeira de rodas que ocupava, como sua CRUZ. Fora baleado na medula, quando tentaram roubar o dinheiro
arrecadado para seu Grupo de Jovens participar daquela JMJ no Rio. Anunciou,
também, diante do Papa Francisco e de quase três milhões de jovens sua outra CRUZ, dizendo-se Virgem e propondo-se como tal até o dia de seu casamento. Não houve um
único ruído, sinal de deboche ou algo parecido: apenas lágrimas de emoção.
Oxalá o Senhor também possa contar com nossa alegria, enquanto carregamos e
anunciamos ao mundo o quanto é maravilhoso assumir nossa cruz e seguir com ela, Jesus!
Sejam todos sempre muito abençoados.
Com ternura e gratidão, meu abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb
9,13-18; Sl 89(90); Fm 9-10.12-17 e Lc 14,25-33).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus
de Setembro de 2019, pp. 39-42 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum II
(Setembro de 2019), pp. 18-21.