Padre Gilberto Kasper é
Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja
Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Contato: pe.kasper@gmail.com
Quanto
mais medito a “Ambiguidade humana e graça
de Deus – A origem do mal” no terceiro capítulo do Livro de Gênesis,
especialmente o diálogo do Criador com o Homem (Gn 3, 8-13), concluo que até nossos dias
a história se repete, no que diz respeito à transferência de responsabilidades!
O homem remete sua culpa à mulher e esta à serpente no cenário do Éden. “Fiz, mas não tenho culpa, porque foi ela
que me tentou!”
No
atual cenário político não parece ser diferente. Os que vão sendo descobertos
em suas falcatruas, roubalheiras, desvios de verbas públicas, corrupção
sistêmica e responsabilidade fiscal remetem a terceiros seus atos, mesmo que
tenham tido conhecimento ou não disso ou daquilo. Perdeu-se totalmente a
consciência do ridículo. Nossos Governantes, especialmente alguns Deputados e
Senadores reeleitos, que mais parecem com raposas de campanha (não são todos),
subestimam seus eleitores decepcionados com as inúmeras revelações do que
costumo chamar de diabólico, porque enganoso, mentiroso, cruel e nem por último
criminoso.
Não
me refiro aos bilhões de reais que escorrem pelos bolsos de tantos homens
públicos, utilizados para o bem pessoal ou de coleções de sapatos de suas
esposas. Segundo o Magistério da Igreja Católica, a Teologia Moral nos ensina
que alguém arrependido de ter roubado algo de maior ou menor valor, e tendo a coragem de confessá-lo, será
orientado a devolver o roubado, a fim de que reencontre a paz que tal
pecado lhe roubou. Se os bilhões desviados dos cofres públicos fossem
devolvidos a quem de direito, já teríamos uma boa solução para a crise que se
instalou em nosso rico Brasil: crise política, econômica e principalmente
ética. Porque não acredito que os “Corruptos
poderosos” condenados a alguns anos de prisão, se convertam. Gosto de pensar
que quando se encurta uma calça, é na barra da mesma que se corta e nunca na
cintura. Os subservientes que paguem pelos verdadeiros mandantes.
Devemos ser misericordiosos como o Pai é
misericordioso. Mas se lermos o texto de Gênesis 3, 14-24, veremos que a
atitude de Deus foi a imposição de uma penitência corretiva. Não basta
arrepender-se, pedir perdão e não corrigir os estragos que nossa atitude causou.
Ao invés disso, um remete a culpa ao outro. Se cada um assumir sua parcela de
responsabilidade, chegaremos ao consenso de que é necessária uma imediata conversão
ou radical mudança, que devolva não só o dinheiro desviado e gasto
indevidamente, como a dignidade do Povo tão pacífico, trabalhador e sofrido,
porque subestimado em sua capacidade de discernir o certo do errado e o
verdadeiro culpado do inocente. Para que isso aconteça, será necessário rever o
equilíbrio, a educação básica sem gritos histéricos e ameaçadores, as
manifestações que depredam bens públicos e privados, o diálogo e respeito com o
diferente!
A transferência
de responsabilidades não leva a lugar nenhum, a não ser a um poço de areia
movediça. Já passou da hora de colocar a mão na consciência, ter um pouquinho
de vergonha na cara e uma dose de humildade, a fim de redesenharmos o
Brasil que todos merecem!