Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente e Coordenador da
Teologia na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da
UNIESP S.A., Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico,
Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos
Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Ao
longo da Quaresma, ouvimos Deus, o nosso Pai, falar carinhosamente ao nosso
coração chamando-nos a nos voltar para Ele. Quaresma é o tempo propício para um
silêncio do coração para ouvir o que realmente nos interessa.
Nestes
quarenta dias, que iniciamos recebendo cinzas sobre nossas cabeças, teremos
muitas oportunidades de fazer revisão de nossa vida, avaliarmos as escolhas e
melhorar nossas decisões olhando para frente, para o caminho que está pronto
para nele andarmos. Essa peregrinação de Quarenta dias é o nosso êxodo, nossa
caminhada de libertação para celebrarmos a vitória de Cristo Ressuscitado em
nossa vida e no mundo.
Para
este tempo santo, o que podemos carregar sem pesar nossas costas e para alívio
de nossa consciência são os chamados “exercícios quaresmais” que nos ajudam a
aproveitar a paisagem do caminho sem nos perder na estrada: Oração, Jejum e a
Esmola.
A
Quaresma é tempo próprio de Oração, a atitude que nos recorda sempre que somos
filhos de Deus, que a Ele recorremos como o Pai bondoso e cheio de compaixão.
Na oração nos relacionamos pessoalmente com Deus, abrimos nosso coração e
confiamos em seu amor. A oração nos lembra de nossa responsabilidade com a
criação; somos “Herdeiros de Deus”, fiadores dos bens naturais para manter viva
a “vida no planeta”.
Nosso
Jejum é oportunidade para lembrar que Deus nos criou para a liberdade; não
fomos criados para nenhuma escravidão nem para os vícios. Jejum é a atitude de
quem vence o consumismo, rejeita a ganância e respeita a natureza e não lhe
esgota seus dons.
E
a Caridade, ou seja, a “Esmola”, só tem verdadeiro significado como consequência
da oração e do jejum. A prática da caridade nos permite “ver o outro como um
dom”! Nossa esmola, como ensina o
evangelho, deve ser praticada em segredo, sem propaganda, pois o “Pai sabe o
que está no segredo” de nosso coração. O Pai vê o Segredo!
Oração,
Jejum e Esmola são três atitudes que nos ajudam a responder aos apelos da
Campanha da Fraternidade deste ano. Vemos um descaso total de autoridades, das
pessoas e das grandes empresas que, movidos por ganância e ávidos por lucro
destroem os nossos biomas e assim ameaçam a vida.
Os desastres e tragédias ambientais
são fruto da omissão do Estado na preservação da água, da fauna e da flora. Em
Mariana e em Santo Antonio de Posse a imprensa noticiou o tamanho do desastre
que compromete as fontes de água, as matas e animais. O surto de febre amarela
em Minas é resultado daquele mar de veneno que estourou. E do jeito que vai, não
vai sobrar nem a mula sem cabeça, nem o boi tatá. Entrarão para as estatísticas
dos “animais em extinção”
A ganância empresarial está fazendo
adoecer o “pulmão do mundo”, a Amazônia, e se não houver cuidados imediatos,
fica irreversível. Depois, não adianta chorar... O consumismo de nossos dias
cria uma população mais egoísta, autossuficiente e pouco fraterna que exige
seus direitos e não reconhece o outro como irmão; o consumismo gera uma fome de
coisas desnecessárias para disfarçar o vazio de cada ser humano.
Assim mesmo, a caridade é a atitude
que concretiza o amor gerando partilha generosa que defende a vida dos mais
pobres para que recebam o que é devido e não vivam de migalhas; a caridade não
é refresco de consciência pesada, mas consequência da oração sincera, do jejum
libertador que nos faz acordar para a missão querida por Deus. A caridade,
cheia de compaixão, transforma a realidade, nos aproxima dos irmãos e nos faz
construtores da sociedade que respeita e valoriza cada pessoa, “dom de Deus
para nós”.
(Parceria
com Pe. João Paulo Ferreira Ielo,
Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP)