Padre
Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e
Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo
Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado
Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio,
Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com
“Mãe do terceiro mundo, mãe de todos os homens;
todos são filhos teus, porque és Mãe de Deus” (D. Pedro
Casaldáliga).
O povo brasileiro,
povo religioso e cheio de fé, celebra festivamente a festa de Nossa Senhora
Aparecida e festeja com singular confiança a sua proteção materna para com este
povo devoto. Antes de qualquer coisa é preciso lembrar que o título de “Nossa
Senhora” é um modo carinhoso tipicamente brasileiro de se referir à Virgem
Maria, a serva fiel que gerou para toda a humanidade o Salvador, Jesus Cristo.
Desde o início do Cristianismo Maria
recebe do povo cristão um carinho particular, ela é a “cheia de graça” (cf. Lc
1,26-28), a “Mãe do Senhor” (cf. Lc 1,43), é uma pessoa humana, que não se gaba
de suas virtudes, mas sim reconhece a Deus como o seu Senhor (cf. Lc 2, 46-56)
e ensina aos filhos e filhas de Deus a obedecer ao Filho unigênito de Deus,
Jesus Cristo e a fazer tudo quanto ele nos diz (Jo 2,1-11). Assim, de geração
em geração o povo de Deus canta as maravilhas que Ele opera em favor de seus
filhos que esperam e confiam em seu amor. E quando o culto cristão exalta a
figura de Maria, nossa Senhora e nossa Mãe, jamais se esquece que ela “não é deusa nem mais do que Deus, mas depois
de Jesus, o Senhor, neste mundo ninguém foi maior”!
A devoção do povo nasce do respeito
profundo para com a Virgem Maria, mulher simples, do meio do povo, uma jovem de
fé e repleta de esperança. Em Maria os filhos e filhas de Deus se identificam
em sua jornada de esperança e luta. Maria ensina aos discípulos de Jesus que é
necessário obedecer ao que Ele diz se desejarmos viver a felicidade que não é
migalha que sobra do bolso dos poderosos e sim abundância de graça que Deus
derrama sobre seus filhos e filhas. O povo simples chama Maria de nossa Mãe, a
invoca em suas aflições, em suas dores se consola com o afeto maternal e sente
solidariedade de Maria com os sofrimentos nossos, nós os “irmãos” de Jesus (Jo
19,25-27). “Nossa Senhora”! Palavras que, quase instintivamente vêm aos lábios
nossos quando algo nos surpreende. E mesmo quando inesperada notícia boa nos é
dada, bradamos “Nossa Senhora”!
Fato interessante ocorreu em 1717, no
Rio Paraíba, quando o Conde de Assumar visitaria a região onde está o município
de Aparecida e a população quis fazer uma grande homenagem ao ilustre
visitante. O produto daquela região era o peixe, mas naquela ocasião não havia
peixes para tamanha solenidade. E os coitados pescadores, conhecedores da
natureza, nem puderam contestar as ordens recebidas. Voltam ao ofício, jogam as
redes, se esgotam e nada de peixes. De repente, surge a cabeça de uma imagem de
Nossa Senhora da Conceição; em seguida resgatam o corpo daquela imagem e se não
bastasse a surpresa, o mais prodigioso acontecimento se deu: pescaram peixes em
tamanha quantidade como nunca antes se havia visto. Uma intervenção
interessante, um milagre de Deus com a intercessão materna de Maria, a Mãe dos
filhos de Deus.
Desse fato até aos nossos dias muito
se tem visto da intercessão materna da Mãe de Deus e nossa em terras
brasileiras. Quem intercede em nosso favor é Maria, aquela que cuidou do Menino-Deus,
que embalou seu sono, que lhe ensinou os primeiros passos, curou seus esfolados
de menino cheio de energia. Maria intercede e pede e roga por nós agora e na
hora de nossa morte. Rezamos a Maria, e as suas imagens espelhadas por todo
esse Brasil são lembranças carinhosas de alguém que viveu a fé e ainda hoje
reza por nós junto a Jesus.
Todos os anos vou a Aparecida. Lá
contemplo na imagem da Padroeira do Brasil, a imagem da misericórdia divina que
por meio de Maria nos veio visitar; contemplo minha mãe e tantas mães de nossa
comunidade e do mundo com suas dores, esperança e com aquela fé límpida como os
raios do sol. Em Aparecida aprendo com o povo simples a teologia dos joelhos
dobrados, do coração caloroso de amor e ardoroso de solidariedade. Em Aparecida
peço a bênção para Nossa Senhora, peço às mães que lá encontro que também me
abençoem como eu pedia à minha mãe. E meu coração de filho, de peregrino e de
padre fica reconfortado. Não somos órfãos, temos Pai e temos Mãe que nos
protegem, nos amam e nos querem felizes.
Em Aparecida aprendemos a devoção
que derruba as idolatrias dos nossos dias, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a
falta de caridade, o apego ao dinheiro e o desrespeito à vida e à família. De
Maria aprendemos a ser os discípulos de Jesus quando também aceitamos que se
“faça em nós o que é do agrado de Deus” (Lc 1,38).
(Em
parceria com o Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição
de Mogi Guaçu (SP)