Pe.
Gilberto Kasper
Mestre em Teologia
Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário,
Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto da UNIESP, Assistente
Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo
Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC –
Fraterno Auxílio Cristão da Cidade de Ribeirão Preto e Jornalista.
Se há alguns poucos anos
falar de sexo abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte". Por que medo da morte?
A grande certeza que vivemos, é que um dia morreremos, no entanto "morremos de medo de morrer...".
Cada vez que a morte passa por perto, ou me encontro diante dela através do
exercício de meu ministério, encomendando alguma pessoa falecida, meu
questionamento é em relação à vida
que levo! A morte é uma excelente oportunidade de melhorar
minha qualidade de vida. Geralmente deixamos para depois, as mudanças que
talvez teriam de ser revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa
morte, mas quando vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito,
a não ser morrer! Há quem chama a morte de segundo parto. O primeiro acontece quando deixamos o
útero materno, que geralmente é aconchegante e delicioso. Talvez por isso a
criança, ao nascer chora. O segundo parto, é deixar o "útero da terra".
Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói, nos faz chorar e traz vazio
com sabor de saudade inexplicável.
Nossa vida poderia ser comparada a uma viagem de ônibus. Quem ainda não andou
de ônibus? Quando nascemos, entramos num ônibus, que é a vida terrena. A única
certeza que temos é que há um lugar reservado para nós. Uma poltrona. Não
sabemos quem serão nossos companheiros de viagem. Apenas sabemos que a poltrona
reservada para nós deverá ser ocupada. Às vezes, ocupamos a poltrona do outro,
e isso nos traz constrangimentos. Já assisti muitos "barracos" em
ônibus cuja mesma poltrona estava reservada para duas pessoas. Não sabemos
quem serão nossos pais, irmãos, amigos, parentes, enfim...
Nossa única missão é tornar a viagem a mais agradável possível. Às vezes há
pessoas que tornam a viagem insuportável; outras vezes a viagem é agradável!
Há também o bagageiro. Nossas coisas não podem ocupar o lugar dos outros, mas
devem caber em nosso próprio bagageiro do ônibus, a vida!
O ônibus, de vez enquando pára na rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida
terrena, a rodoviária é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de
banheiros, de óleo diesel, barulho de ônibus chegando e saindo, ninguém se
conhece, muita gente se esbarrando ou até se derrubando. Há sempre uma
incerteza, um friozinho na rodoviária que arrepia nossa espinha, que é a morte.
Ninguém gosta da rodoviária: todos passam por ela porque precisam, mas não
porque gostam. Haverá um momento em que nosso nome será chamado no alto-falante
da rodoviária. Então precisaremos descer do ônibus da vida. Se tivermos enviado
algum bilhete, uma carta, feito um telefonema ou até mesmo enviado um
email para a eternidade, avisando nossa chegada, não precisaremos ter
medo, porque Deus estará esperando por nós. O bilhete, a carta, o telefonema, o
email são nossa maneira de viver a fé, a esperança e a caridade através
de nossa relação conosco, com Deus e com os outros!
Assim Deus estará esperando-nos na rodoviária da morte. Seremos identificados e
acolhidos por Ele, de acordo com o que fomos e nunca com o que tivemos. Se Deus
não tiver tempo, pedirá ao Seu Filho Jesus para buscar-nos e conduzir-nos à
morada eterna. Se de tudo Jesus também não tiver tempo, Nossa Senhora nunca nos deixará
perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de braços abertos,
para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos em Seu Eterno
Colo de Amor. É o que rezamos sempre: "...rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa
morte. Amém!"