Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação
Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente
Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo
Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC –
Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.
“Tudo aquilo que quereis que as pessoas vos
façam, fazei-o vós a elas, pois esta é a Lei e os Profetas.” (cf. Mt 7,12)
A
visita do Papa Francisco a Cuba e aos Estados Unidos, a meu ver, ficou marcada
pela palavra por ele proferida ao desembarcar na Ilha centro-americana: “a cultura do encontro”. O encontro
sugere disposição para o diálogo, para o entendimento e para a reconciliação.
Encontro que vê as pessoas como irmãos, semelhantes, companheiros e não
adversários nem inimigos.
A cultura do encontro propõe para
hoje, a superação daquela visão utilitarista que nega direitos aos idosos, aos
portadores de deficiência, aos doentes; rechaça o mito da superioridade de uns
contra a inferioridade de outros, pois o valor de cada pessoa não depende do
seu saldo bancário nem da classe social. A dinâmica do “encontro” chama todas
as pessoas a um processo de conversão, supõe uma mentalidade nova, através da
qual o ser humano se deixa encontrar por Deus e começa a
construir a sociedade sobre o alicerce da misericórdia, da compaixão e da
fraternidade. Neste novo modo de ver e viver não tem lugar a cultura do
“descartável”, ou de considerar alguém inativo, inútil, pois os filhos e filhas
de Deus carregam durante a sua existência a Imagem do Pai Criador e misericordioso.
Há uma crise financeira que é
preocupante porque nós a sentimos no bolso, mas esta é consequência de outra
crise pior, mais perigosa e com efeitos mais destruidores que a bomba atômica:
a crise moral! Por causa da esperteza, do “jeitinho” aqui e ali, do apego
desenfreado ao dinheiro, da busca de lucro e da ganância por ter mais e ficar
sossegados quanto ao amanhã, surgiram pessoas implacáveis que não aceitam
partilhar, que não devolvem o troco que recebem a mais e reclamam aquele “um
centavo” que lhes falta, que não têm sentimentos de compaixão pelos seus
semelhantes, e que abrem mão de valores morais e religiosos para justificar sua
avareza.
De modo muito simples, entusiasmado
e envolvente o Papa Francisco falou ao mundo inteiro desde Cuba e dos Estados
Unidos chamando-nos todos a “convertermo-nos à cultura do encontro” e a vencer
o individualismo egoísta, as intrigas, os rancores e ódios que são as origens
de tantas guerras. As diferenças econômicas entre os países não pedem uma “luta
de classes” e sim uma globalização de solidariedade e de fraternidade. A
distribuição de riquezas será satisfatória quando soubermos lutar contra a
sedução idolátrica do dinheiro.
O mundo, a economia, a política,
sistemas de governo podem se aperfeiçoar se promovermos esta “cultura do
encontro” e aprendermos a ser “misericordiosos como o Pai”. Precisamos cuidar
melhor de nossa casa comum, a irmã e mãe terra, a fim de que a vida, dom
divino, aconteça como foi pensada por Deus. Política e economia devem privilegiar
o ser humano, eliminar a espiral de violência e agir em favor da vida humana
desde a concepção até seu fim natural.
A cultura do encontro supõe espaço
dentro de nós para o amor, a compaixão, o perdão incondicional. Muitas
perdoamos, mas reabrimos “cicatrizes” e machucamos as pessoas através da
exclusão, principalmente quando representam ameaça ao nosso prestígio pessoal.
A conversão, a reconciliação e o amor devem superar qualquer rusga e
remeter-nos ao recomeço, sem mágoas ou rancor. Eis aí um novo modo de viver,
conviver e reconstruir a sociedade que está à beira de um colapso.
Fonte: (Baseado
nas reflexões do Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada
Conceição de Mogi Guaçu – SP).