Queridos Irmãos e Amigos na Fé!
“Como Jesus morreu e ressuscitou,
Deus ressuscitará os que nele morreram.
E como todos morrem em Adão,
todos em Cristo terão a vida” (1Ts 4,14; 1Cor 15,22).
A Igreja convida-nos a entrar em
comunhão com o Deus da vida e rezar pelos nossos falecidos. O dia nos lembra
que nossa existência terrena é passageira, mas nem por isso deve ser
desvalorizada; lembra-nos também que não podemos perder a fé na ressurreição.
Por isso nos unimos ao salmista e proclamamos: “O Senhor é minha luz e salvação”.
Nossa vida não se resume nos poucos anos de existência
neste mundo. Fomos criados para a eternidade. Assim como o Senhor vive para
sempre, na ressurreição viveremos eternamente junto a ele.
Muitos nos precederam no tempo; deixaram-nos uma herança
de vida construída no amor e na fé, no sacrifício e no trabalho. Apresentamos
ao coração de Deus todos os nossos falecidos.
A
palavra da Sabedoria gira em torno do conflito justos versus injustos, chamados de insensatos. No Sermão da Montanha (cf. Mt 5,7-27), Mateus reúne a nova justiça
trazida por Jesus. As bem-aventuranças abrem esse sermão, anunciando a
felicidade verdadeira de ser merecedor do Reino. São proclamações de salvação para aqueles que
aderem à comunidade dos seguidores de Jesus Cristo. Quando tudo parecer
acabado, novas coisas surgirão, e quem se manteve fiel receberá sua herança.
Será tudo novo, sem dor, sem choro, sem luto. Nem morte haverá.
A Palavra de
Deus é um apelo para sermos pobres em espírito e nos propõe
o aspecto dinâmico do ser humano, de buscar a incerteza do ser. Expressa muita
exigência e não apenas desprendimento dos bens materiais. Ser pobre “em espírito”
nos leva a transformar a referência de uma situação econômica e social em uma
atitude para aceitar a Palavra de Deus.
Este é um tema central das Sagradas Escrituras que nos convida a viver em total
disponibilidade à vontade de Deus e fazer dela nosso alimento. É uma atitude de
filhos e filhas, irmãos e irmãs dos demais filhos de Deus; ser pobre em espírito é ser discípulo de Cristo.
O discipulado exige abertura ao dom do amor de Deus e solidariedade
preferencial com os pobres e oprimidos.
As demais bem-aventuranças
referem-se a outras atitudes do discípulo, do pobre: bom trato, aflição pela
ausência do Senhor, fome e sede de justiça, misericórdia, coerência de vida,
construção da paz, perseguição por causa da justiça. Elas enriquecem e
aprofundam a primeira bem-aventurança.
Neste dia de esperança,
de comunhão com quem amamos e continuamos amando, mesmo sem a presença física,
a Ressurreição de Jesus é uma luz cintilante para nossa fé na vida.
Temos certeza que todo mal já foi vencido e nos aguarda um futuro onde a morte
não existirá mais. É essa também a certeza que temos quanto a nossos pais,
irmãos, amigos e a todos os que adormeceram no Senhor.
Temos que construir o novo céu e a nova terra durante o
tempo de nossa história, mas temos a confiança que quem morreu, tendo guardado
a fidelidade a Jesus Cristo, já pode usufruir do novo céu e da nova terra sem
fim.
Com Santo Agostinho de Hipona, gosto de pensar que “Ter fé é
assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser!”
Nossa fé se debruça sobre a esperança de que, morrendo, veremos Deus como Deus
é, e isto nos basta. “Nascemos para morrer e morremos para viver de
verdade...”, mesmo na incerteza de que “O passado já não é mais e o futuro não é
ainda...”, questionando “Que é, pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se
quero explicá-lo a quem me pede, não sei”. Finalmente fazemos a
experiência, neste dia, que “A angústia de ter perdido, não supera a alegria de ter
um dia possuído!” É por isso que prefiro
pensar que não perdermos, mas devolvemos
a quem de direito, o Criador, aqueles que nos foram emprestados para a
experiência inexplicável do amor com sabor divino!
Desejando-lhes a esperança na
ressurreição, com ternura e
gratidão, o abraço amigo,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler Sb 3,1-9; Sl 41(42); Ap 21,1-7 e Mt
5,1-12).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2015, pp. 20-29
e Roteiros Homiléticos da CNBB de Novembro de 2015, pp. 75-79.