Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Provai de vede quão suave é o Senhor!
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!” (Sl 33,9).
“A página do Evangelho do Décimo-Quarto Domingo do Tempo Comum está entre as páginas mais intensas e profundas de todo o
Evangelho; na verdade é composta de três
partes. A primeira é uma oração: ‘Te
louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra’, a segunda é uma narração dos
feitos salvíficos de Deus em favor do seu povo: a revelação ‘destas coisas aos pequeninos’, a
entrega por parte do Pai, de todas as coisas ao Filho – ‘Tudo me foi entregue por meu Pai’ e a profunda intimidade entre o
Pai e o Filho que resulta na ‘revelação’
do rosto paterno de Deus àquele ‘a quem o
Filho o quiser revelar’. Essas duas primeiras partes, oração e memória, nós
podemos afirmar que são ‘eucarísticas’.
A terceira para é um convite: ‘vinde a
mim’.
Os destinatários da revelação feita
pelo Pai são os pequeninos, os humildes, os simples. Os pequeninos deste
Evangelho são em primeiro lugar os discípulos de Jesus; todo e qualquer
discípulo de Jesus, como é afirmado em Mt 10,42: ‘quem der, nem que seja um copo d’água fria a um destes pequeninos, por
ser meu discípulo, receberá a vida eterna’. Geralmente quando chego a uma
casa para visitar um enfermo ou idoso, ou para levar a bênção a uma família,
pergunto ao ser interpelado, o que gostaria de beber: ‘Você quer ir para o céu quando
morrer, o que deverá demorar?’ Me respondem que sim. Então reafirmo: ‘Então
me dê um copo d’água’, referindo-me à afirmação desta orientação de
Jesus no Evangelho de Mateus. As pessoas reagem positivamente, e oferecendo-me
um copo d’água geladinha, dizem que me dariam uma fonte, se eu quisesse!
Nesta perspectiva, no entanto,
encontramos Jesus como o mais pequenino entre os pequenos, o mais humilde entre
os humildes, o mais simples entre os mais simples. Tal imagem é evidenciada
pela figura real, plena de contradições, apresentada na primeira leitura: o
rei, o justo, o salvador. O rei é humilde
e vem sentado num jumento; é justo
porque vem eliminar ‘os carros de
Efraim e os cavalos de Jerusalém e quebrar o arco de guerreiro’, mas o seu estandarte é a paz; é simples, mas
tem um ‘domínio’ que se estende de
mar a mar e de rios a rios, ‘até aos confins da terra’. Este rei do qual fala o
oráculo é Jesus Cristo. Só quem é humilde sabe como é bom ser
humilde e simples a exemplo do Senhor! Sábio é aquele que prefere a sabedoria
de Deus em lugar de todos os bens e promessas humanas!
Poderíamos interpretar esta página do Evangelho ‘ideologicamente’, pensando que Deus se
revela, ou revela os mistérios do Reino, a uma categoria social e a outra não.
Não falta quem pensa e prega assim. Mas isso não corresponde à mensagem de
Jesus Cristo que não faz acepção de pessoas, ‘pois ele é Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam’
e têm lugar em seus corações para A
Alegria do Evangelho! O Pai não ‘esconde
o Reino’ aos sábios e inteligentes, mas ele o ‘protege’ dos que se arrogam inteligentes e se recusam a toda e
qualquer forma de obediência e submissão àquele conhecimento que não vem
necessariamente através da comprovação científica: o conhecimento da fé. O
fechamento a toda revelação que vem do alto e portanto à fé, não é conseqüência
da inteligência, mas do orgulho. A falsa idéia do homem de pensar saber tudo de
todas as coisas anula e bloqueia o conhecimento de Deus, eis porque a Bíblia
afirma que ‘Deus resiste aos soberbos,
mas dá a graça aos humildes’ (Tg
4,6).
É verdade que muitas vezes os ‘humildes’ são identificados com os ‘pobres’, o que não quer dizer,
necessariamente, que os desprovidos do bem material sejam humildes. Pobreza e
humildade são sinônimas na Bíblia de abertura e disponibilidade à novidade, à
disponibilidade à dependência de Deus, e estes se opõem por natureza à
riqueza/grandeza como sinônimo de autossuficiência, que é uma espécie de
orgulho que consiste na recusa de toda dependência e na reivindicação de uma
autonomia absoluta com relação ao próximo e a Deus.
O convite de Jesus é feito a todos
nós, mas especialmente àqueles que entre nós estão cansados e afadigados sob o
jugo da superfluidade que nasce da busca desenfreada por essa ‘pobre riqueza’: o poder, o cargo, o
prestígio, o querer ser melhor sobre os demais... (cf. Roteiros Homiléticos
do Tempo Comum I de Junho/Julho de 2014 da CNBB, pp. 45-50).
Para muitos sermos ricos,
só nos falta o dinheiro, porque até “panca de ricos” já temos em nossos
hábitos e comportamentos com relação aos que são ainda mais pobrezinhos do que
nós. Gosto sempre de pensar que existe um abismo entre ser sábio e sabido: sábio é aquele que sempre está aberto à graça de Deus, vivendo-a
exaustivamente na relação com os irmãos. Já sabido
é aquele que pensa saber de tudo, mas fechado à graça de Deus, deixa a
prepotência e arrogância fazer com que se sinta superior em relação aos outros.
Endeusa-se sobre os mais fracos, fazendo-os sofrer. Cuidemos disso em nós.
Rezemos para que nos configuremos sempre mais com Cristo!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com
ternura e gratidão, o abraço fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Zc 9,9-10; Sl 144(145);
Rm 8,9.11-13 e Mt 11,25-30).