Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Na caminhada rumo à Páscoa, atingimos o quarto estágio de nosso
grande retiro. À medida que os dias passam, e as festas pascais se aproximam, aumenta nossa alegria. ‘Alegra-te,
Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de
alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações’.
O Senhor nos
acolhe e convida a tomarmos parte no banquete do seu amor misericordioso,
deixar o nosso coração transbordar de alegria com a música da festa, com as
coisas boas que aconteceram na convivência com as pessoas e a buscar no
interior de nossa vida motivos para bendizer o Senhor.
Neste Quarto
Domingo da Quaresma ressoa o convite de participarmos na
alegria do Pai que, agora, por meio de Jesus Cristo,
acolhe e salva os pecadores. O amor e a bondade de Deus libertam as pessoas de
suas misérias, da solidão e do desespero. Para que isto aconteça, se faz
necessário entrar na lógica do amor e da bondade do Pai que se revelam em Jesus.
Como filhos pródigos
reconduzidos ao aconchego familiar pelo abraço amoroso do Pai, começamos a
experienciar o amor de Deus que, na Páscoa de seu Filho Jesus, nos perdoa e nos acolhe com carinho
em sua casa. À luz do gesto do Pai misericordioso entendemos melhor que a ‘fé, que atua pelo amor’ (Gl 5,6),
torna-se um novo critério de entendimento e de ação que muda toda a vida do
homem. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso
missionário dos crentes que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando
é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência
de graça e de alegria.
‘Assim como o povo de Deus celebrou a Páscoa
e se alimentou dos frutos da terra após entrar na terra prometida, vamos nos
nutrir da palavra da vida, que nos torna novas criaturas em Cristo e nos faz
experimentar a acolhida carinhosa do Pai celeste.
O
povo se liberta à medida que consegue o sustento com o próprio trabalho.
Elementos básicos da boa convivência familiar são a reconciliação, a alegria e
o diálogo. A encarnação de Jesus reconciliou-nos com Deus e nos tornou novas
criaturas” (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 38-40).
Celebrando hoje o
mistério do amor misericordioso de Deus, vemos que a parábola põe em cena três
personagens: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho. Três figuras que se
transformam em referenciais para o nosso modo de ser e agir.
O pai é o
protagonista da parábola. É apresentado como uma figura excepcional, que
conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos, com um amor
gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na comoção com que abraça o
filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude de orgulho e
de autossuficiência em relação ao pai e a casa. Trata-se de um amor que
permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho. Um pai que continuou
amando, apesar da ausência e da infidelidade do filho.
O filho mais novo
é ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo a
que tem direito. Da perda dos bens materiais brota a consciência da dignidade
perdida e da condição de filho desperdiçada. Aqui emerge a grandeza da relação
filial com o pai. Decididamente, o jovem filho empreende o caminho de retorno à
casa do pai. É o apelo do tempo quaresmal: ‘Deixai-vos
reconciliar com Deus’! O abraço reconciliador do pai faz o pecador
experienciar a alegria do perdão.
Na cena há alguém
que não entende a festa e nem a suporta: o filho mais velho. Ele é o ‘certinho’ que sempre fez o que o pai
mandou, que cumpriu as normas e que nunca passou por sua cabeça abandonar a
casa do pai. No entanto, seu modo de proceder se pauta mais pela lógica da ‘justiça’ do que da ‘misericórdia’. Este filho está satisfeito em servir um pai-patrão
e incomodado diante do ‘pai cuja alegria
é perdoar’.
A Quaresma ao mesmo tempo em que nos convida ao
retorno à casa do Pai, ‘deixando-nos
reconciliar por ele’, apela à misericórdia solidária: ‘Jesus Cristo ensinou que o homem não só recebe e experimenta a
misericórdia de Deus, mas é também chamado a ter misericórdia
para com os demais. O ser
humano alcança o amor misericordioso de Deus e a sua misericórdia, na medida em
que ele próprio se transforma interiormente, segundo o espírito de amor para
com o próximo.
A liturgia deste domingo convida-nos a experimentar a alegria
da Páscoa que se aproxima, porque já não há mais
lugar para tristezas, pois o amor misericordioso do Pai por nós seus filhos nos
torna participantes de seu banquete” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma
da CNBB, pp. 41-48).
A parábola do Pai
Misericordioso nos sugere os passos do Sacramento da Reconciliação: exigimos a parte da herança que nos
pertence, saímos da casa do pai, cuja convivência virou “mesmice”, nem olhamos para trás, deixando o pai falando sozinho.
Viramos as costas para ele e nos desvencilhamos dele. Fazemos de nossa vida o
que bem queremos. Perdemos a noção de valores e nos afogamos no consumismo,
atraindo para nós mesmos um razoável grupo de amigos, que nos ajudam a gastar
descabidamente nossa vida. Quando acaba nosso dinheiro, acabam também a fama, o
prestígio e os que pensávamos nossos amigos, mas que eram meros interesseiros.
Fazemos a experiência da exclusão, da difamação e até da calúnia. Entramos em “depressão profunda”, chegando ao fundo
do poço. É neste estágio de nossa vida que nos lembramos do Pai. Numa rápida
retrospectiva de vida, fazemos um profundo exame de consciência. Eis os passos
da boa confissão.
Reconhecemo-nos
sujos, cheios de pecados. Isso exige humildade!
Fazemos nosso Ato
de Arrependimento ou contrição. Enchemo-nos de coragem para a volta. Aqui é
interessante perceber que o Pai não corre atrás do filho. Deixa que vá. Mas
fica, cheio de esperança, de olhos fixos na volta do pródigo. E quando o
avista, nem deixa que chegue, mas sai correndo ao encontro do filho que
resolveu voltar. A alegria do Pai, em avistar a volta do filho é maior do que
qualquer pretensão de castigo.
O filho se diz
arrependido e pede o perdão. Também aí o pai nem deixa o filho terminar sua
confissão. Abraça-o, sinal de acolhida. Beija-o, sinal de ósculo da paz. O
beijo no rosto do filho garante que lhe será restituído a paz que o pecado lhe
roubou. Túnica nova: o passado já passou; daqui para frente é vida nova, como
nova é a túnica. Quem uma vez foi perdoado pelo Pai, não tem mais o direito de
culpar-se de nada. Sandálias para os pés, já que somente filhos de escravos
andavam descalços. Os filhos dos Senhores calçavam sandálias. Anel no dedo:
volta à condição de príncipe e herdeiro. Mesmo que tenha esbanjado a parte de
sua herança, continua sendo herdeiro de tudo o que é do Pai. Novilho gordo,
música e festa: A Eucaristia que celebra sempre de novo a Páscoa do Senhor! É lindo demais este riquíssimo Sacramento
da Reconciliação!
Já o filho mais
velho não aceita a volta do irmão. Sente inveja porque o Pai acolhe aquele que
abandonara a Família. É duro no julgamento, pois ele sempre observou tudo
direitinho. Não conhece a dimensão da misericórdia do Pai. Prefere condenar a
acolher. Um pouco daquilo que acontece frequentemente em nossas Comunidades.
Acontece, também, no Presbitério, na Política e na Sociedade! Somos muito
rígidos em nossos julgamentos e nos colocamos no lugar de Deus, já emitindo
nossa condenação, geralmente expressa na exclusão do que consideramos mais
pecador do que nós.
Que a Quarta
Semana da Quaresma nos ajude na profunda conversão. A qual dos personagens nos
identificamos mais: ambos merecem o amor misericordioso do Pai. Porém, o Pai
não impõe, mas dispõe da graça do perdão! É necessário que sintamos e queiramos
a necessidade do perdão de Deus. Concluo com o que gosto de pensar: justiça + misericórdia = amor com sabor divino!
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço sempre fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler
Js 5,9-12; Sl 33(34); 2Cor 5,17-21 e Lc 15,1-3.11-32)