Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Neste Quinto Domingo da QUARESMA, somos convidados a reconhecer nossos
pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face de mais uma
manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus, através dos
gestos e palavras de Jesus.
A liturgia de
hoje revela-nos um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a
escravidão da lei e das nossas próprias fragilidades para chegar à vida nova, à
ressurreição.
Na reta final da
caminhada em direção à Páscoa, o domingo de hoje se constitui num
forte apelo à conversão. A conversão do coração significa mudança de
orientação de vida. Ora, exige-se mudança radical quando a pessoa se encontra
desviada do caminho do amor de Deus e aos irmãos, centrada em si mesma e ‘com as mãos repletas de pedras’.
A Quaresma é um tempo para cuidar de nosso
coração, libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do julgamento e
do rancor. E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que necessitam da
misericórdia, por não pertencermos ao grupo oficial dos ‘justos’, resta-nos a bem-aventurança da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e em sua voz
firme e suave que diz: ‘Eu também não te condeno. Vai, e de
agora em diante não peques mais’. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!
Será decisivo
repassar, durante este Ano
da Fé, a história da nossa
fé que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado.
Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e
mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade, com o
testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua
obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai que vem ao encontro de
todos (cf. BENTO XVI. Carta Apostólica Porta Fidei, n. 13).
‘Com o encontro de Jesus com a mulher
pecadora, somos convidados a acolher em nossa vida o amor e a misericórdia de
Deus. Celebramos a eucaristia dispostos a transformar o orgulho em compaixão
para com aqueles que atendem ao apelo à conversão. [...] Se não for assim,
nossas celebrações não passam de disfarce, hipocrisia e enganação. Isso deve
irritar profundamente o coração misericordioso de Deus [...].
As leituras nos revelam a ternura e a
compaixão de Deus para conosco: realiza coisas novas para o povo e supera o
legalismo frio e contraditório. A justiça de Deus, que nos vem por meio da fé
em Cristo, é amor, misericórdia e perdão. [...] Quantas vezes enxotamos
pessoas que não consideramos dignas de celebrar conosco a Eucaristia? Ministros
Ordenados repreendendo aqueles que ainda vêm às nossas celebrações... Agentes
de Pastoral, os que se acham ‘certinhos’ não raras vezes excluem pessoas que
segundo seu juízo não correspondem às exigências legalistas de nossa Pastoral?
Quem, a não ser o próprio Cristo é digno [...]?
Sempre é tempo de deixar o passado e
lançar-se para frente com otimismo, em busca de vida nova. Quem não tiver
pecado seja o primeiro a julgar e atirar uma pedra. Quando aceitamos Cristo
Ressuscitado, tudo se transforma para melhor em nossa
vida’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 54-57).
Em cada Quaresma ressoa o apelo ‘corações ao alto’, convidando-nos a olhar para o futuro
e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de
atitudes no sentido de esquecer os rancores do passado, os pecados, as
tristezas que imobilizam a vida, daquilo que no presente é causa de queda, de
fracasso, de frustração. [...] Tenho uma grande amiga que costuma dizer: ‘O
passado já não me pertence mais. É preciso olhar para frente!’ Não devemos relativizar
as coisas, mas construir
oportunidades novas, ajudando as pessoas a reerguerem-se depois da queda.
Muitas vezes acontece o contrário: quando as pessoas ficam deprimidas por causa
dos pecados, costumamos pisar nelas e afundá-las ainda mais na lama das
consequências de seus pecados. Gosto sempre de pensar que: Perdoar não é esquecer, mas lembrar
sem rancor! [...]
Sempre há um caminho longo pela frente, sempre podemos mudar o curso da nossa
vida, de nossa história, basta que haja o desejo profundo de mudança no
interior de nosso coração. Contudo, a conversão é um caminho em construção. [...] Nem
sempre encontramos o apoio para a construção de uma nova vida. Principalmente
no mundo clerical e de nossas Comunidades, costumamos colar adesivos na testa
das pessoas. Temos ainda muitas dificuldades de perdoar de verdade. Como fica difícil à pessoa que busca a sincera conversão, mudar de vida, quando há tantas
pessoas que se rogam o direito de marcá-las negativamente, até mesmo espalhando mundo a fora os erros do
passado de quem tanto deseja mudar seu presente e futuro. Um dos hábitos que
abomino entre nós, os ministros do Perdão, é falar mal daqueles cujos pecados
vieram à tona. Quase sempre, aqueles que jogam as pedras, têm pecados
semelhantes ou até mais graves. Escondem-nos (seus pecados) atrás de quem foi descoberto e isso é
terrível e diabólico [...].
Olhando para a
nossa sociedade, averiguamos que o fundamentalismo e a intransigência, muitas
vezes, falam mais alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome
de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se
em nome da moral e dos bons costumes. O que fazer para transformar a realidade
em que estamos mergulhados?
Jesus, face à
atitude condenatória dos fariseus e escribas, denuncia a lógica dos que se
julgam ‘perfeitos e autossuficientes’.
O que se considera justo não sabe perdoar [...] Quantas pessoas conhecemos, que
são assim. Quantas experiências já se fizeram, especialmente entre quem busca
cargos, funções, prestígios e poderes, pisando sobre a lama dos que algum dia
erraram? [...]. ‘Devemos perdoar como
pecadores, não como justos’. Todos temos alguma pedra na mão para jogar nos
outros. Estamos todos a caminho e, enquanto caminheiros, somos imperfeitos e
limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos
todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida do Homem
Novo. O mais importante não é acusar, mas
que o amor seja mais forte do que o nosso pecado.
A Eucaristia é
sacramento de unidade, de comunhão. Substituamos as pedras por gestos de
partilha e de perdão. A Eucaristia é sacramento da misericórdia e do perdão divinos.
Não a celebramos porque somos melhores do que os outros, e nem somos perdoados
porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito” (cf.
Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 47-55).
Que nossos
exercícios espirituais de penitência quaresmal se transformem em frutos
saborosos diante de Deus e de nossa Igreja. Não apenas o resultado dos mesmos,
que será a Coleta da Solidariedade a ser entregue com senso de justiça no
próximo domingo, mas nossa disposição e nosso esforço para perdoar àqueles que
ainda esperam por nosso perdão. Nunca esqueçamos que o próprio Cristo
nos adverte: “Não
são sacrifícios, mas misericórdia que agradam o coração do meu Pai”!
Na próxima terça-feira, dia 19 de
Março, celebraremos a Festa de São
José, Esposo de Maria e Padroeiro da
Igreja! Interceda Ele por
nossa Igreja!
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço sempre amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler
Is 43,16-21; Sl 125(126); Fl 3,8-14 e Jo 8,1-11)