O Décimo Segundo Domingo
do Tempo Comum cede lugar à Solenidade da Natividade de São João Batista, tamanha sua importância
na História da Salvação. Além de Jesus Cristo e Maria Santíssima, João Batista é o único santo que tem celebrado no Calendário Litúrgico, seu nascimento,
enquanto os demais são lembrados no dia de sua páscoa
natural ou
na data de seu martírio! A Igreja celebra também
sua Vigília, preparando-se para
celebrar o precursor, a luz que haverá de preparar os caminhos e abrir as
cortinas para a estreia do verdadeiro Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo, Jesus, o Messias! Com João, o que batiza um Batismo de Conversão, nos deparamos com o encontro do Antigo com
Novo Testamento. Com João Batista, o último e principal dos Profetas acontece o enlace da Antiga com a Nova Aliança; a maior compreensão do pacto de Fidelidade de Deus para com a
Humanidade! Ressalta a “teimosia” de Deus em amar, apaixonadamente, sua
Criatura predileta: a Pessoa!
“São João Batista é importante para os
cristãos. Santo muito querido e estimado pelo povo brasileiro. Em todas as
regiões, principalmente do norte e nordeste, existem as festas tradicionais de São João, celebradas com alegria,
muita comida e bebida, danças e trajes típicos, à luz da tradicional fogueira
de São João. Estas festas ocupam
lugar de destaque no calendário popular.
A
Igreja, já no século VI, reservou o dia 24 de junho para comemorar o nascimento
de São João
Batista. Santo Agostinho escreve: ‘A
Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os nossos
antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente.
Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo: tal fato tem, sem dúvida,
uma explicação... João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois
Testamentos, o Antigo e o Novo. O próprio Senhor diz: ‘A lei e os profetas até João Batista’ (Lc 16,16)... Antes
mesmo de nascer, já é designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de
ser visto por ele’ (Ofício das Leituras, in Liturgia das Horas).
Jesus
o declara o maior de todos os profetas. Homem simples, austero, corajoso,
apontou o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo (cf.
Jo 1,29-36). Deu testemunho da luz, aplainou os caminhos e preparou o povo para
acolher o Salvador. Antes que Jesus chegasse, pregou um batismo de conversão.
A
celebração do seu nascimento nos associa à alegria de Isabel, de Zacarias e dos
vizinhos, porque Deus se lembra de nós, indica os caminhos da salvação e aponta
os horizontes da liberdade.
A
Palavra anunciada nos conduz para dentro da verdadeira Luz de todos os povos, o
Salvador, do qual nem merecemos desamarrar as sandálias. Celebramos, acima de
tudo, o mistério daquele que se fez o menor no reino de Deus, e, por isso, é o
maior: Jesus.
As
leituras bíblicas apresentam a vida e a missão de João Batista à luz dos grandes
profetas antigos e de Jesus Cristo, o Messias esperado. Como diz Santo Agostinho, João representa a passagem do
Primeiro para o Segundo Testamento. Ele recebe a missão de profeta, assume a
vida de asceta, e é chamado de batista. Pelo batismo, nós
também recebemos a missão de profetizar e de denunciar, como João, a injustiça, a mentira
e a opressão.
Celebrar
o nascimento de João é experimentar, como Isabel, Zacarias e os
vizinhos, a manifestação da bondade de Deus, que transforma e fecunda a vida. É
fazer a experiência da fé e da esperança no Deus misericordioso e compassivo,
que ouve nosso clamor e nos socorre em meio aos sofrimentos e às aflições. É
sentir que Deus continua soltando nossa língua para que tenhamos a coragem de
vencer o medo e proclamar a justiça e a libertação. Como João Batista, possamos ser sinais
proféticos de esperança, para anunciar o caminho da salvação e testemunhar Jesus Cristo, a luz que ilumina e liberta
todos os povos.
O
jeito despojado de João Batista viver, entregue ao serviço de Deus, na
gratuidade, é testemunho de vida, apelo à conversão. Jesus o elogia, dizendo
que ‘entre os nascidos de mulher, não há
ninguém maior do que João. No entanto, o menor no Reino de Deus é maior do que ele’ (7,28). [...] Eis um dos maiores
elogios aos cristãos comprometidos com o Reino de Deus, que é um Reino de Amor,
Justiça, Verdade, Liberdade e Paz. Envolve-nos na esperança de sermos reconhecidos no Reino de Deus pelo esforço que
empreendermos por promover desde já maior dignidade humana, começando ainda
hoje o céu na terra... Como mostra também o Servo, na primeira leitura deste
domingo, João é modelo de vida por
causa de sua entrega total ao Reino. Que o Senhor nos dê a graça de viver
conforme sua Palavra e testemunhar a Boa Notícia do Reino, o ‘Sol nascente que vem nos visitar’ (1,78).
Precisamos de testemunhos proféticos, como João Batista, capazes de denunciar a
corrupção, as injustiças e de conduzir o povo para Deus para criar um mundo
melhor, mais justo e mais fraterno” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB n. 22,
pp. 45-50).
O
grande convite da Solenidade da Natividade de João Batista a todos nós, é à humildade vivida por ele. Saber dar lugar, retirar-se e
deixar Cristo aparecer. Nem sempre é
fácil tal atitude. Costumamos, devido nossas carências e limites, plantar com
entusiasmo, regar e cultivar com zelo, mas queremos também saborear os frutos.
Não parece ser assim na Igreja de Jesus Cristo. Nela, uns plantam, outros regam, ainda outros
deveriam cultivar e zelar o plantado pelos que passaram e somente outros que
virão posteriormente, é que usufruirão dos frutos. Tal Igreja, discípula e
missionária do Senhor, só é configurada com Cristo, se conseguir agir assim. Do
contrário corremos o risco de desfigurá-la, apossar-nos dela e isso,
geralmente, termina em desastre eclesiológico e pastoral.
Sejamos
a exemplo de São João
Batista, Comunidades simples, descomplicadas, acolhedoras, amorosas e
cheias de ternura, porém sem ter medo de corajosa e ousadamente perdemos nossa
cabeça = a própria vida por conta da coerência
do Evangelho anunciado e vivido no hodierno de nossas relações, sobretudo nos
serviços que prestamos, sempre gratuitamente neste mundo tão vazio de Deus!
Sejam todos sempre
abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço,
Padre
Gilberto Kasper
(Ler Is 49,1-6; Sl 138(139); At 13,22-26 e
Lc 1,57-66.80)