A preparação
da minha primeira comunhão
ocorreu durante a primeira série do Primário cursada no Colégio Sagrado Coração
de Jesus em Novo Hamburgo (RS). A Irmã Neófita da Congregação das Irmãs de
Santa Catarina de Alexandria, proprietárias da Escola, foi minha Catequista. Os
pais inscreviam seus filhos na Catequese no ato da matrícula. Foram meses de
intensa preparação até um dos dias mais felizes de minha vida, que coincidiu
com a Memória de São Francisco de Assis, omitida naquele ano de 1964 por ser o
dia 4 de outubro um domingo. Portanto, hoje é o 59º aniversário de minha
Primeira Comunhão. E hoje em Roma também acontece a Abertura do XVIº Sínodo dos
Bispos com o tema: “Por uma Igreja Sinodal de Comunhão, Participação e Missão”!
Um forte apelo de nosso amado Papa Francisco para “caminhar juntos” como essa
tão sonhada “Igreja em Saída”!
Em
pleno Concílio Ecumênico Vaticano II a Irmã Neófita nos preparou com zelo e
profunda dedicação. Muito séria e enérgica teve o cuidado de orientar-nos bem
para nossa primeira confissão. Insistia de que o Sacramento da Reconciliação
não poderia passar despercebido durante a semana de ensaios para a Missa da
Primeira Comunhão, essa última, geralmente mais solene em relação à Primeira Confissão.
Agendou a tomada do Ato de Contrição individualmente. Deixou-me de recuperação
porque entre o mais longo e o mais breve, decorei o mais breve. Em três dias
fui obrigado a decorar o Ato de Contrição mais longo. Graças a Deus fui então
aprovado!
Outro
problema carecia de solução. Os meninos se vestiam de terno azul marinho,
camisa branca com gravatinha “borboleta”, sapatos pretos e meias brancas. As
meninas mais pareciam pequenas “noivinhas” com véu e tudo. Meu irmão mais velho
tinha suas vestes garantidas. Já eu não. Nunca vestira terno e nem sapatos
pretos. Minha avó paterna jogava no Bicho. Rezamos e ela ganhou um prêmio na
cabeça. Conseguiu comprar-me um terno, só que cinza. Tingindo-o com anil ficou
aproximadamente azul marinho.
Os
dias que antecederam o domingo da minha
primeira comunhão pareciam demasiados longos. Contava as horas e nem
dormia direito, tamanha era minha alegria. A continência sugerida pelo Pároco
após a primeira confissão era tão séria, que não pensava em outra coisa, a não
ser como seria receber pela primeira vez Jesus Sacramentado, fazendo de meu
coração, o porta-joias do Senhor. Não obstante a imposição de uma disciplina
muito rígida, por parte das Irmãs envolvidas na preparação da minha primeira comunhão, desde o
modo de andar na fila indiana juntamente com 122 coleguinhas, até a afinação
dos cantos da Sagrada Liturgia, que foi um primor, minha alegria era
indescritível. Nem a pobreza material de minha família impediu que todos
participassem de um dos dias mais felizes de minha vida.
Após a
minha primeira comunhão a Irmã
Neófita andando de um lado a outro no corredor central da Igreja Matriz Sagrado
Coração de Jesus no Bairro Santo Afonso de Novo Hamburgo (RS) incentivava-nos a
fechar os olhos e a vivermos aquele momento único e tão feliz. Ela sugeriu que
sentíssemos Jesus Sacramento em nós com as seguintes palavras: “Queridas
crianças, procurem sentir Jesus na Hóstia Consagrada agora na vida de vocês.
Procurem sentir para onde Jesus foi? Ele foi para o coração ou para o estômago?
Se a Hóstia foi direto ao coraçãozinho de vocês, é porque o receberam pela
primeira vez em estado de graça. Mas se foi ao estômago, é porque depois da
primeira confissão, vocês cometeram ainda algum pecadinho. Sintam, crianças,
para onde Jesus foi!”
É bem
verdade que procuro saber até hoje para onde Jesus na Hóstia Santa foi: para
meu coração ou para meu estômago. Independentemente à pedagogia da época, fica
a certeza indiscutível: o dia da minha
primeira comunhão foi o primeiro mais feliz de
minha vida!
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo