Como reagimos
diante de ligações inconvenientes? Quem ainda não as recebeu? Refiro-me às
ligações de telemarketings, que se tornaram uma espécie de “cultura de
sobrevivência” para milhares de brasileiros e que há muitos anos vem ocorrendo,
especialmente remetidas às pessoas aposentadas. Eu me irrito profundamente com
tais ligações, que insistentemente oferecem produtos, os mais diversos. Trata-se
de uma avalanche de ofertas supérfluas, incitando ao consumismo exacerbado.
Fui
orientado a bloquear os números dos telefones que insistentemente ligam,
geralmente nas horas mais impróprias. Já bloqueei uma centena de números, mesmo
assim novos números ligam com as mesmas ofertas. São operadoras de
telemarketing, de telefonia, de financeiras oferecendo empréstimos consignados,
entre outros.
Conhecemos,
também, ligações provenientes de Casas de Detenção. O Sistema Judiciário e
Penitenciário de nosso País continua vulnerável, não conseguindo conter a
entrada de celulares nas Penitenciárias, de onde vêm incontáveis ligações,
algumas delas ameaçadoras, outras tentando clonar os celulares das pessoas de
boa índole.
Outros
tipos de ligações inconvenientes são as que simulam sequestros de filhos, de
pais, avós ou amigos. Conheço inúmeras pessoas que já receberam ligações
afirmando que em seu poder se encontrariam pessoas que sequer existem. Mães de
filhos apenas do sexo masculino recebendo ligações mentirosas, de que uma de
suas filhas fora sequestrada, com o intuito de bandidos querendo o pagamento de
resgates. Tentativas de outros golpes similares são tão frequentes, a ponto de
não atendermos mais ligações não identificadas, e por isso, deixarmos não
poucas vezes, de atender pessoas que buscam auxílio espiritual, que desejam
agendar um atendimento ou outro compromisso de real importância para ambos, de
acordo com nosso ministério sacerdotal.
Algumas
dessas ligações pretendem preencher o isolamento social, que também proporcionam
inconveniências. Esse isolamento social
descortina uma carência afetiva na sociedade, ainda mais aguda, ou antes,
velada, de pessoas especialmente muito ativas, e que de repente são
condicionadas a uma certa ociosidade, bem como de pessoas já antes isoladas por
pura exclusão tanto familiar como social. Aumentam notoriamente os casos de
depressão, fruto da mesma exclusão. Passamos a utilizar em demasia as novas
tecnologias: Celulares, Notebooks, Internet, Whatsapp e Links para nos
comunicarmos o quanto possível, sem o calor humano do abraço, do aperto de mão,
da presença física, porém, para afirmar e reafirmar a todo o momento, de que
estamos juntos, unidos, respirando a esperança de tempos melhores.
Não
obstante as ligações inconvenientes, concluímos de que precisamos bem menos do
que pensávamos para não simplesmente sobreviver, mas viver uma vida saudável,
feliz, onde não se esgota a esperança de que sendo Anjos uns dos outros,
seremos também verdadeiros protagonistas da paz entre as pessoas, onde ainda
cheiramos o odor horroroso da mentira, da disputa, da busca desenfreada de
poder e prestígio. Exalemos o perfume da paz, só então seremos felizes de
verdade!
Que as
ligações inconvenientes não nos robotizem, porque mais do que nunca,
necessitamos humanizar-nos!
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo