Nas visitas aos Postos de Saúde Pública tenho conversado muito com
nossos servidores e servidoras. Sinto um esforço sobrenatural para um bom
atendimento. Encontro homens e mulheres vocacionados ao serviço “sacerdotal” da
saúde, embora entre esses, se encontre também pessoas cansadas, exaustas e por
conseguinte mal-humoradas. Em minhas observações percebo não raras vezes cidadãos
mal educados e sem paciência, quando não grosseiros e agressivos. Costumamos
criticar nossos servidores e, com razão em alguns casos. Mas somos o “País das
Filas” e nem por último campeões em “furar filas”. A pior das enfermidades
de nosso povo é a falta de educação básica. Tratamos mal por conta de inúmeros
escândalos na Saúde Pública, muitas pessoas que não têm culpa de mais um dos
nossos Sistemas Corruptos, principalmente o desvio de verbas destinadas à Saúde
e que acabam em contas bancárias fantasmas sabe Deus de quem!
Sinto-me profundamente envergonhado
quando solicitado a usar de meu prestígio junto às autoridades competentes,
para resolver o que deveria ocorrer normalmente. Dezenas de vezes fui procurado
para interceder junto a pessoas mal atendidas, e que talvez sofressem mais,
caso não tivessem o adequado atendimento: pessoas em pé durante quatro horas,
sem serem atendidas; pessoas com derrame cerebral aguardando leito adequado em
algum Hospital, atendidas em macas nos corredores de Postos de Saúde, tendo
também eu que esperar mais de duas horas para atender sacramentalmente pacientes
esquecidos em salas de Raio X. Essa é nossa realidade. Mesmo assim, penso que
todo cidadão é chamado a colaborar com educação e paciência exercendo sua
cidadania sem agressividade. Não poucas vezes atribuímos a culpa às pessoas que
sofrem tanto como nós, porque submetidos a um Sistema Único de Saúde – SUS mal
administrado e menos ainda preparado para atender O Mundo que está enfermo!
Nos Hospitais Particulares e que atendem
por conta de elevados Convênios, a situação não é muito diferente. Assisto a
cada situação que me leva a pergunta ao coração: “Será que este e aquele
Hospital tem noção clara de que está tratando de gente? Animais têm tratamentos
mais humanos e humanos estão sendo animalizados!”
Ao invés de tentar resolver nossas necessidades com o tal “jeitinho brasileiro”, que
nos torna egoístas, porque resolvido nosso problema, viramos as costas sem
pensar nos outros, saibamos exercer uma cidadania comum, onde todos, sem
excluir ninguém, tenham atendimento digno de seres humanos! Haja uma prestação de
contas mais transparente, demonstrando onde são realmente aplicados os recursos
destinados à Saúde Pública. Dinheiro temos, até para socorrer o Fundo Monetário
Internacional. Em anos de eleições, corremos o risco de ver recursos da Saúde
se transformar em asfalto de péssima qualidade ou em pinturas com tintas que
não duram mais do que quatro anos.
Mas nem tudo está perdido. Tenho sido
atendido como um “príncipe” no nosso renomado Hospital da Clínicas da Faculdade
de Medicina de Ribeirão Preto. A primeira impressão assusta. É uma multidão de
gente enferma de todos os cantos do País. Porém, desde a recepção, até receber
os diagnósticos dos médicos especializados e seus médicos residentes, passando
pelos mais complexos exames de diversas naturezas, cria-se uma confiança tão
bonita, que grande parte dos sintomas de enfermidades já desaparecem antes
mesmo de deixar o maior e o melhor Hospital de nossa cidade e região. Agradeço,
de coração, a todos, especialmente aos médicos do Hospital da Clínicas que
demonstram serem de verdade, vocacionados ao exercício da medicina, até porque
são os médicos mais mal pagos desse sistema, ainda tão injusto em nosso País,
cuja disparidade entre ricos e pobres continua gritando vergonhosamente por
justiça e dignidade!
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo