Pe. Gilberto Kasper - Teólogo
A vida pode ser uma sucessão de coincidências felizes, de
encontros prazerosos, de união entre as pessoas. Mas nem sempre é isso o que
vemos ao nosso redor. Na correria diária, são muitos os “ruídos” que tiram o nosso sossego e atrapalham a nossa
convivência.
Por vezes nos tornamos porta-vozes da
difamação ao invés de instrumentos da Paz. Como então celebramos no último
final de semana a Festa da Sagrada Família, Jesus, Maria e José, se desfiguramos
nossas próprias famílias por causa de ideologias tantas vezes nefastas? E a
Oitava de Natal que celebrou a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus,
juntamente com o Dia Mundial da Paz? Que tipo de paz promovemos entre nós? A
paz de cemitério, que nos silencia por medo de criarmos “encrencas”, ou a
verdadeira paz trazida desde a manjedoura que tanto decantamos no recente Natal
celebrado? Essa última exige de nós posturas e respostas proféticas de amor,
verdade, justiça e liberdade em todos os sentidos. Não somente naquilo que nos
convém!
Na era da Internet, toda e qualquer
mensagem se propaga num piscar de olhos. Fatos que ocorrem num canto do planeta
atravessam fronteiras, chegando a outras cidades, outros países e continentes
com a rapidez de um clique. Alimentadas pela fofoca, histórias que envolvem a
intimidade das pessoas tomam proporções inimagináveis e invadem nossos lares
como se fossem verdades absolutas. E essas histórias fomentam antipatias,
preconceitos e desprezo.
Outro agente semeador de discórdia é
a necessidade que alguns têm de impor suas idéias e sua maneira de ser. Parecem
querer provar a si mesmos que são superiores aos outros. Muitas pessoas gostam
de recitar a Oração de São Francisco, como um poema em homenagem à Paz. É
fundamental que todos compreendam que a construção desta Paz, em nível mundial
ou dentro de casa, depende de cada um de nós. Depende de uma mudança de conduta
pessoal. Nas palavras de São João Paulo II num discurso que fez em Assis, a Paz
é descrita como um canteiro de obras aberto a todos: “A paz é uma responsabilidade universal: passa através de milhares de
pequenos atos da vida cotidiana. Por seu modo cotidiano de viver com os outros,
as pessoas optam pela Paz ou a descartam”.
Sempre que deparamos com a tentação
da discórdia, é bom lembrar o exemplo da Família de Nazaré. Foram muitas as
apreensões vividas por Maria, José e o Menino Jesus enquanto buscavam um lugar
seguro para morar, mas em nenhum momento perderam o sentido da união.
Mantiveram-se juntos para o que desse e viesse.
Assim também deve ser a nossa vida.
Não podemos nos perder uns dos outros. E, mais importante ainda, não podemos
nos perder de Deus, que é a fonte de toda união. Não nos afastemos de sua
Palavra em nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. A fé em Deus
nos ensina a contribuir para a união entre os seres humanos.
Esse discernimento nos leva a
refletir antes de realizarmos toda e qualquer ação. A reflexão é o exercício
dos sábios. Quando desenvolvemos o hábito de refletir, conseguimos criar um
equilíbrio entre razão e emoção, atuando com mais cordialidade e gentileza.
Nossas palavras serão mais adequadas, nossas conversas mais oportunas e
positivas. Nossas decisões serão mais justas. Nosso comportamento dará aos
outros a certeza de que é Possível Viver e Conviver em Paz!