Padre Gilberto Kasper
é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista
em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP –
Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do
Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com
Nos Evangelhos, Jesus insiste em afirmar,
que o Reino de Deus é um Reino de Justiça e de Paz. Portanto, onde não há
justiça, não há reino. O Papa Francisco insiste em superarmos a Cultura do
Descartável na Cultura do Encontro e da Paz, da Fraternidade e da Ternura!
A Segurança Pública não garante mais
“segurança” ao cidadão. Produz medo. E o medo nos rouba a paz, porque cresce, em
nossas relações interpessoais, a incredulidade. As fobias, os traumas, as
crises de medo em geral e sobre o futuro, e as indecisões do presente, nos
fecham para todas as experiências que deveríamos ter com Jesus Cristo. O medo é
uma das fortalezas que mais está presente em nossa mente. As pessoas têm medo
umas das outras. Inverteu-se o espaço da liberdade. Há medo na família, na
escola, no trânsito e em todos os lugares.
Falar em Segurança Pública neste
contexto nos questiona seriamente. Houve uma inclusão do crime organizado que
aprisiona os cidadãos de boa vontade. As tantas casas de detenção construídas
nos últimos anos, inclusive as de segurança máxima, oferecem mais liberdade –
incutindo medo – do que os inúmeros – centenas de condomínios fechados, que
viraram, por sua vez, prisões de seus habitantes.
O tráfico de drogas, de armas e as
tantas corrupções de agentes de segurança, questionam e colocam em risco a vida
de pessoas inocentes, que sentem medo de ir e vir, de dormir e não acordar. Até
mesmo o Poder Judiciário em sua Suprema Corte está em descrédito, por um fio da
banalização.
Entre tantas tragédias que a mídia
nos elenca diariamente, vivi uma experiência ímpar, que passou bem perto de
mim. Uma senhora trabalhadora, honesta e sofredora, mãe de quatro filhos,
perdeu numa mesma tarde de domingo o marido e o filho mais velho, que nadando
embriagados num rio, morreram afogados. Ela não suportou a perda e sofreu um
derrame cerebral. Seis meses depois, inerte à mesa, o filho alimentava-a, dando-lhe
o almoço na boca. Ela não se mexia. A filha mais nova, de apenas 16 anos,
envolvida com um traficante de drogas, apareceu com o namorado. Este matou o
jovem de 27 anos, que alimentava a mãe, com três tiros, e, o rapaz caiu morto
sobre o colo da mãe. O outro irmão, de 19 anos, reagiu e também foi morto,
caindo sobre o irmão. Dona Zulmira, com dois filhos mortos sobre o colo, só
conseguia olhar para eles, pois já não se mexia, nem para um último abraço,
devido ao derrame. Uma verdadeira “Pietà” – Nossa Senhora da Piedade – de
nossos tempos.
Enquanto não investirmos na
educação, a injustiça e a insegurança públicas, geradoras de medo, ao invés de
encontros que gerem paz, o medo de viver dentro da própria casa, ou de ser alvo
de balas perdidas, continuarão.
Todos os dias são noticiados furtos,
latrocínios e invasões até de condomínios guardados por segurança sofisticada.
Sei do esforço das Polícias em proteger os cidadãos de bem, mas sempre me
pergunto, como os receptadores dos furtos continuam dando a última palavra
nesse mundo do crime, que gera uma segurança pública que dá medo?