Pe. Gilberto Kasper
Mestre em Teologia
Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e
Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da
Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do
Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da Paróquia
Santa Teresa D’Ávila e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da
Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
A minha infância não foi nada fácil, mas
não a trocaria por nada deste mundo. Meu pai faleceu aos 27 anos de idade,
quando minha mãe tinha 25, meu irmão mais velho 6, eu 4, o mais novo 2 e minha
irmãzinha que com 5 meses faleceu no dia do enterro de meu pai. Fomos morar com
os avós paternos. Minha mãe optou por educar-nos, e dedicar seus 73 anos de
vida por nossa manutenção sozinha. Com 5 anos de idade, junto com meus irmãos,
dividíamos as tarefas do lar; estudávamos gratuitamente num bom Colégio da
Congregação das Irmãs de Santa Catarina de Alexandria em Novo Hamburgo (RS).
Mais ou menos gratuitamente. Enquanto nossos coleguinhas de escola iam para
suas casas almoçar, meus irmãos e eu limpávamos a Escola. Só depois de tudo em
ordem éramos dispensados para andar 4 km até chegarmos em casa e então
almoçávamos. Limpávamos a casa, cumpríamos as tarefas de escola e só então
íamos brincar. Enquanto meus irmãos juntavam seus amigos para uma “pelada de
futebol” num campinho em frente de nossa casa, eu convidada outro bom grupo de
vizinhos, para brincarmos de “rezar missa” no curral de vacas. Era a estrebaria
mais limpa da vizinhança. Quando uma de nossas “artes” era descoberta,
apanhávamos com relhos de animais, já que nosso avô era veterinário e fazia os
arreios para carroças e animais como cavalos e bois.
À noite, antes do jantar, nos reuníamos
em torno da mesa e rezávamos o terço, em família. Em cada quarto havia uma
estampa emoldurada com a Sagrada Família e em volta um Terço, com a frase: A
FAMÍLIA QUE REZA UNIDA, PERMANECE UNIDA! Aos sábados, juntamente com
nossa avó e nossa mãe, passávamos o dia lavando a Escola das Irmãs, deixando-a
um “brinco”. Assim, segundo a pedagogia das Irmãs, aprenderíamos a dar valor ao
estudo que parecia ser gratuito, mas que pagávamos com nossos serviços braçais,
o que hoje daria um bom processo, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente,
e a proibição de crianças e pré-adolescentes trabalharem.
Imagino que muitos discordarão, mas
confesso que o trabalho só nos edificou. Quando passamos a trabalhar com carteira
registrada, entregávamos o salário todinho para a mãe, que administrava o caixa
comum da família. Depois dos 18 anos de idade, pagávamos uma chamada “pensão”
determinada pela mãe, para ajudar nas despesas da casa. Isso acontece até os
dias de hoje em muitas famílias, até que os filhos deixam a casa dos pais. Nos
dias atuais os filhos nem sabem quanto se gasta para manter uma casa. Quando
trabalham, utilizam o salário para gastos pessoais. Quando não trabalham,
contam com os pais para manterem seus gastos, nem sempre modestos.
Não me contenho em testemunhar que sou
uma pessoa muito feliz, e profundamente agradecida pela educação que recebi,
tanto de minha mãe, uma heroica e corajosa mulher, como de meus avós paternos.
Penso que se tal cultura fosse cultivada, não constataríamos que a família continua
de bruços!