Padre Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com
A preparação
da minha primeira comunhão ocorreu
durante a primeira série do Primário cursada no Colégio Sagrado Coração de
Jesus em Novo Hamburgo (RS). A Irmã Neófita da Congregação das Irmãs de Santa
Catarina de Alexandria, proprietárias da Escola, foi minha Catequista. Os pais
inscreviam seus filhos na Catequese no ato da matrícula. Foram meses de intensa
preparação até um dos dias mais felizes de minha vida, que coincidiu com a
Memória de São Francisco de Assis, omitida naquele ano de 1964 por ser o dia 4 de
outubro um domingo.
Em
pleno Concílio Ecumênico Vaticano II a Irmã Neófita nos preparou com zelo e
profunda dedicação. Muito séria e enérgica teve o cuidado de orientar-nos bem
para nossa primeira confissão. Insistia de que o Sacramento da Reconciliação
não poderia passar despercebido durante a semana de ensaios para a Missa da
Primeira Comunhão, essa última, geralmente mais solene em relação à Primeira
Confissão. Agendou a tomada do Ato de Contrição individualmente. Deixou-me de
recuperação porque entre o mais longo e o mais breve, decorei o mais breve. Em
três dias fui obrigado a decorar o Ato de Contrição mais longo. Graças a Deus
fui então aprovado!
Outro
problema carecia de solução. Os meninos se vestiam de terno azul marinho,
camisa branca com gravatinha “borboleta”, sapatos pretos e meias brancas. As
meninas mais pareciam pequenas “noivinhas” com véu e tudo. Meu irmão mais velho
tinha suas vestes garantidas. Já eu não. Nunca vestira terno e nem sapatos
pretos. Minha avó paterna jogava no Bicho. Rezamos e ela ganhou um premio na
cabeça. Conseguiu comprar-me um terno, só que cinza. Tingindo-o com anil ficou
aproximadamente azul marinho.
Os
dias que antecederam o domingo da minha
primeira comunhão pareciam demasiados longos. Contava as horas e nem dormia
direito, tamanha era minha alegria. A continência sugerida pelo Pároco após a
primeira confissão era tão séria, que não pensava em outra coisa, a não ser
como seria receber pela primeira vez Jesus Sacramentado, fazendo de meu
coração, o porta-joias do Senhor. Não obstante a imposição de uma disciplina
muito rígida, por parte das Irmãs envolvidas na preparação da minha primeira comunhão, desde o modo
de andar na fila indiana juntamente com 122 coleguinhas, até a afinação dos
cantos da Sagrada Liturgia, que foi um primor, minha alegria era indescritível.
Nem a pobreza material de minha família impediu que todos participassem de um
dos dias mais felizes de minha vida.
Após
a minha primeira comunhão a Irmã
Neófita andando de um lado a outro no corredor central da Igreja Matriz Sagrado
Coração de Jesus no Bairro Santo Afonso de Novo Hamburgo (RS) incentivava-nos a
fechar os olhos e a vivermos aquele momento único e tão feliz. Ela sugeriu que
sentíssemos Jesus Sacramento em nós com as seguintes palavras: “Queridas
crianças, procurem sentir Jesus na Hóstia Consagrada agora na vida de vocês.
Procurem sentir para onde Jesus foi? Ele foi para o coração ou para o estômago?
Se a Hóstia foi direto ao coraçãozinho de vocês, é porque o receberam pela
primeira vez em estado de graça. Mas se foi ao estômago, é porque depois da
primeira confissão, vocês cometeram ainda algum pecadinho. Sintam, crianças,
para onde Jesus foi!”
É
bem verdade que procuro saber até hoje para onde Jesus na Hóstia Santa foi:
para meu coração ou para meu estômago. Independentemente à pedagogia da época,
fica a certeza indiscutível: o dia da minha
primeira comunhão foi o primeiro mais feliz de minha vida!