Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
A vida é uma caixinha de surpresas. A toda hora somos
surpreendidos pelo inesperado, porém nem sempre estamos suficientemente
preparados, sobretudo para as situações desagradáveis ou, eventualmente, até
dramáticas da vida. Por isso nos reunimos todos os domingos com nosso melhor
mestre, o Senhor Jesus, para ouvir e
assimilar dele a verdadeira sabedoria para viver a vida com perene sentido.
O espírito da liturgia deste domingo
quer suscitar em nós o espírito de constante vigilância e serviço, tendo o
coração voltado para Deus. O reino que ele nos oferece por meio de seu Filho é
o verdadeiro tesouro que os ladrões não roubam nem a traça corrói. Com confiança
e fé celebramos em comunhão com os pais, no dia a eles especialmente dedicado.
Com os olhos da fé, a palavra de
Deus nos convida a avaliar nossa caminhada e a nos manter sempre vigilantes e
preparados para acolher o Senhor, buscando em tudo a sua vontade.
A vigilância de Israel na noite da
libertação é modelo para todo cristão até a libertação final. A comunidade,
pequeno rebanho, precisa estar sempre vigilante e pronta para o seu Senhor. A
fé é a força dinâmica que projeta ao futuro a vida do cristão.
A Eucaristia nos leva a partir o pão
juntos. Neste dia oferecemos, com o pão e o vinho, a vida e a missão dos pais,
responsáveis por manter a família unida e fraterna.
É bom nos conscientizarmos de que o fim para o qual vivemos
reflete-se em cada uma de nossas ações. A cada momento pode chegar o fim de
nossa vida. Seja este fim aquilo que vigilantes esperamos, como a noite da
libertação encontrou os israelitas preparados para saírem – como lemos na
página do Livro da Sabedoria -, e não como uma noite de morte e condenação,
como o empregado malandro que é pego de surpresa pela volta inesperada de seu
patrão – como lemos no Evangelho de Lucas.
Devemos preparar-nos para o
definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo depois da morte. Mensagem
difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem querem pensar no que vem
depois; contudo, a perspectiva do fim é inevitável. Já outros vêem o sentido da
vida na construção de um mundo novo, ainda que não seja para eles mesmos, mas
para seus filhos ou para as gerações futuras, se não tem filhos. Assim como os
antigos judeus colocavam sua esperança de sobrevivência nos seus filhos, estas
pessoas a colocaram na sociedade do futuro. É nobre. Mas será suficiente?
Jesus abre outra perspectiva: um tesouro no céu, junto a Deus. Ali a
desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não desvia nosso olhar da terra?
Não leva à negação da realidade histórica, desta terra, da nova sociedade que
construímos? Ou será, pelo contrário, uma valorização de tudo isso? Pois, mostrando
como é provisória a vida e a história, Jesus nos ensina a usá-las bem, para produzir o que ultrapassa a vida e
a história: o amor que nos torna semelhantes a Deus. Este é o tesouro do céu, mas ele precisa ser granjeado aqui na
terra.
Para a cultura judaica, quanto maior
o número de filhos, maior significava a graça de Deus. Em nossos dias, quanto
maior o número de filhos, maior parece ser a desgraça. Tenta-se a todo custo controlar a natalidade, ao invés de planejá-la. Como não se
investe o suficiente em educação, saúde, sanidade básica, oferecendo oportunidades aos cidadãos,
jogam-se “migalhas” para que sobrevivam. Refiro-me às tais bolsas família, escola entre
outras. Para o tal controle da natalidade, aprovam-se leis e medidas que castram
a sociedade, ao invés de educá-la a ser gente!
A visão cristã acompanha os que se
empenham pela construção de um mundo novo, solidário e igualitário, para
suplantar a atual sociedade baseada no lucro individual. Mas não basta ficar
simplesmente neste nível material, por mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da justiça. A visão cristã acredita
que a solidariedade exercida aqui na História é confirmada para além da
História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa de Deus mesmo, confirmada
por quem nos chamou à vida e nos fez existir. À utopia histórica, a visão
cristã acrescenta a fé, prova de
realidade que não se vêem. A fé, baseada na realidade definitiva que se
revelou na ressurreição de Cristo, nos dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol da
realização última – razão do nosso existir.
Lembro, que na minha infância, falar
na morte era bem mais natural do que
nos dias atuais. Hoje virou tabu falar em morte, como se as pessoas fossem
imortais. Só nos damos conta de que morreremos, quando a morte passa perto de nós,
levando-nos pessoas que amamos. Antigamente as pessoas morriam no aconchego
familiar e hoje, na frieza e solidão de Hospitais, especialmente quando
adormecem para a eternidade na geladeira de Unidades de Terapia Intensiva. Precisamos retomar
a naturalidade da morte, que gosto de comparar ao nosso “terceiro e definitivo parto”. Nós cristãos, partimos primeiro do útero materno; depois do
útero da Igreja, a Pia Batismal e, finalmente, do útero da terra (vida
terrena), em direção à vida definitiva, acostando-nos ao
amoroso colo de Deus, nosso Pai! Devemos
amadurecer nossa certeza de que morrendo, veremos Deus como Ele é. Nossa fé se
debruça sobre a esperança, de que vendo como Deus é, seremos santos!
Na busca que fazemos do verdadeiro
tesouro como forma de vivermos em estado de serena vigilância para o que der e vier. Jesus vem ao nosso encontro com
suas sábias palavras.
Não deixemos para amar amanhã. Pode ser que hoje seremos
chamados a prestar contas de nossa vida, passando pela temível morte, diante do
Pai que nos amou primeiro, mas nos medirá pelo amor amado a cada dia de nossa
vida!
Sejam todos muito abençoados,
especialmente nossos Pais vivos. Rezemos, também, pelos que já nos precedem no
colo do Pai!
Com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb 18,6-9; Sl 32(33);
Hb 11,1-19 e Lc 12,32-40).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Agosto de 2019,
pp. 46-50 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Agosto de 2019) da,
pp. 58-61.