Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Somos peregrinos com Jesus rumo à Páscoa. Eis que chegamos ao
terceiro domingo da Quaresma. Jesus intensifica o convite à conversão.
Após termos celebrado os domingos
das “tentações” e “da transfiguração” de Jesus, a liturgia da palavra
ressalta a urgência da conversão pela renovação batismal. A conversão se traduz na resposta de fé à paciência de
Deus.
A Quaresma é o tempo da paciência de Deus, é o tempo que ele nos dá para que
possamos produzir os frutos da justiça e da fraternidade.
A fé se revela com a mudança de
atitudes, com a mudança do coração por meio do árduo processo de conversão. Converter-se implica
voltar para Deus e produzir os frutos do amor, da solidariedade e da paz. Que a
caminhada quaresmal suscite “em todos uma
sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai,
que vem ao encontro de todos” (cf. Carta Apostólica Porta Fidei de BENTO XVI, n. 13).
As leituras revelam que Deus caminha
conosco e não se conforma com a situação do seu povo sofrido. Nutridos pela sua
palavra, seremos capazes de produzir frutos abundantes de fraternidade.
Deus não suporta ver o povo sendo manipulado e mantido no
sofrimento e convoca líderes para libertá-lo. Deus é paciente e nos dá sempre
novas chances, mas exige também atitudes de nossa parte. É preciso saber ler os
fatos históricos para melhorar o hoje da história.
A Quaresma é um tempo para avaliarmos a qualidade de nossas respostas aos
projetos da vontade de Deus. Será que elas correspondem à expectativa de quem
confiou em nós? Pode ocorrer que os frutos não estejam à altura do esperado.
Quem planta e cultiva determinada árvore frutífera, é natural que almeje colher
bons frutos. “Foi lá procurar figos e não
encontrou. Então disse ao agricultor: Já faz três anos que venho procurando
figos nesta figueira e nada encontro”. Desilusão! A paciência parece estar
se esgotando. O impulso humano é dar um basta: “corta-a!”.
Apesar de nossas dificuldades, Deus
não age assim. Mesmo que sua paciência esteja no limite, “o Senhor é piedade e compaixão, lento na cólera e cheio de amor” (Sl
145,8). Cristo, por sua vez, intercede
constantemente por nós junto ao Pai, dilatando e ampliando sua paciência. O
amor misericordioso torna possível o êxito dos projetos de Deus. Converter-se a Deus é voltar-se para Deus, é caminhar rumo a ele.
A urgência da conversão quaresmal não se apresenta aqui como uma ameaça, mas como um convite
libertador que suscita alegria, pois nos libertamos de algo que impede de
crescermos como pessoas fiéis. O apelo à conversão requer mudança (metánoia) de nossa maneira de pensar,
para assimilarmos os critérios de Jesus e seu estilo de vida. A conversão, como êxodo, é uma atitude
do coração que exige manifestação externa no cotidiano pela dedicação às obras
de caridade, à promoção da fraternidade e à defesa da vida.
“A
conversão e a fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um
sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se
mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho” (cf. Carta Apostólica
Porta Fidei de BENTO XVI, n. 14).
O chamado à conversão, que nos transforma em novas criaturas, começa pela fé e no
batismo, exige esforço contínuo para que, renunciando a nós mesmos, assimilemos
a vontade de Deus, estabelecendo novos relacionamentos com as pessoas e com o
mundo que nos cerca. A conversão apoia-se no crescimento da
fé e nas relações pautadas pela Boa Nova do Reino.
No caminho da conversão, iluminados pela “sarça
ardente”, percebemos sempre que algo poderia ser melhor, no que fazemos e
somos, mesmo em nossas ações e atitudes dignas de aplausos, descobrimos
resquícios de egoísmo e falta de amor. Mais do que nos penalizar, estas
descobertas nos alegram. Pois pela confissão da nossa fraqueza e a humilhação
pela consciência de nossas faltas, somos reconfortados pela misericórdia de
Deus. Contudo, não abusemos da paciência de Deus, não tomemos como desculpa a
sua misericórdia para retardar nossa conversão. A paciência de Deus não é
uma atitude passiva, mas uma solicitude para que o homem viva. Deus crê no
homem, crê que ele pode mudar a sua conduta passada, para se voltar para Aquele
de quem se afastou.
Conversão é convite à vida. Mais do que anúncio de
ameaças, é proclamação de uma boa nova. Jesus apela “à conversão, anunciando a proximidade do Pai amoroso e
misericordioso”.
Esta terceira semana da Quaresma insistindo em nossa conversão, isto é, voltar nosso coração novamente para Deus, a quem
deixamos falando sozinho ou lhe viramos as costas por conta de nossas
infidelidades e pecados, nos convida a aproximar-nos do riquíssimo Sacramento da Reconciliação. Lamentavelmente ainda muitos bons católicos têm suas
dificuldades com a confissão auricular (individual), por inúmeras razões, algumas delas, compreensíveis, outras não.
Para mim, o mais rico sacramento depois da Eucaristia, de que dispomos sempre, é
o da Reconciliação. Os Sacerdotes se reúnem em Mutirão de
Confissões neste tempo rico, que a Igreja
nos concede. Procuremos informar-nos com nossas Comunidades, onde estão
acontecendo os Mutirões de Confissões ou onde
poderemos adentrar nosso “sacrário pessoal”, os porões de
nossa intimidade ou nossa consciência, celebrando o perdão,
libertando-nos de tudo que nos aprisiona. Os Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia nos devolvem a verdadeira PAZ que o pecado nos rouba! Só
então produziremos frutos saborosos em nossas relações pessoais, sociais, eclesiais e políticas, como
pessoas de boa fé!
Desejando-lhes muitas bênçãos e
eficaz reconciliação
com Deus, com o próximo e consigo mesmo, com ternura meu abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ex
3,1-8.13-15; Sl 102(103); 1Cor 10,1-6.10-12 e Lc 13,1-9)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus
de Fevereiro de 2016, pp. 91-94 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma
(Fevereiro de 2016), pp. 38-44.