Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da
UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da
Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto,
Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.
O
Papa Francisco nos convoca a viver um “Ano Santo Extraordinário” no qual coloca
em destaque a Misericórdia Divina. Ser misericordiosos como o Pai é um desafio
e ao mesmo tempo é nossa vocação, pois fomos criados para ser “imagem e
semelhança de Deus”. Como dizia meu falecido pai, a imagem está em nosso rosto,
a semelhança está em nossas atitudes. O Ano Santo comemora também os cinquenta
anos da conclusão do Concílio Ecumênico Vaticano II, um marco importantíssimo
na vida da Igreja.
A
Misericórdia é um sentimento nobre, suscita compaixão e perdão; lembra a nossa
miséria (miseri) e o coração (cordis) bondoso de Deus. Contudo, no pensamento
hebraico, misericórdia também significa aquele sentimento que tem origem nas
entranhas maternas (rahamin), semelhante
àquele amor do pai que acolhe ao filho pecador e tem carinho com o filho mais
velho que não perdoa o irmão. Ser misericordiosos como o Pai é também viver a
fidelidade ao seu amor quando amamos e nos preocupamos com nossos irmãos.
Ser
misericordiosos como o Pai num mundo violento e intolerante é um desafio que
nos oferece a chance de apagar as chamas de violência e desrespeito que a vida
e dignidade humanas têm sofrido ultimamente. Fanatismo, terrorismo,
discriminação, intolerância são sintomas de uma sociedade sem inteligência que não
sabe conviver com o diferente e com quem tem opiniões diferentes das que a
mídia apresenta. Ser misericordiosos significa apresentar as condições para um
diálogo franco e fraterno apontando soluções mediadas pela compreensão e por
uma visão abrangente do mundo e da pessoa humana.
Misericórdia
não gera resignação, apatia, desmotivação. Ao contrário, suscita esperança num
modo de agir que não alimenta violência. A misericórdia alimenta o sentimento
da bondade, da nova oportunidade ao passo que a violência mata as possíveis
soluções para uma convivência pacífica. Misericórdia é o sentimento que cresce
no coração dos que têm certeza que o outro é uma pessoa que merece outra
chance, que precisa ser ajudada a se libertar das próprias escravidões e sentir-se
novamente amparada por aquele sentimento amoroso que o pai dedicou ao filho
mais novo que errou muito longe de casa. (cf. Lc 15).
Ser
misericordiosos não é o mesmo que ficar sentados de braços cruzados e esperar a
banda passar, mas trabalhar em favor do bem, da verdade, da justiça e da
fraternidade. Ser misericordiosos é também gritar em defesa da vida, é
desmascarar as mentiras travestidas em propagandas enganosas que desrespeitam o
direito do povo ser religioso e ter suas manifestações de fé; é também orientar
para o bem os que andam iludidos pelo mal.
Ser
misericordiosos é colaborar com a paz e torná-la realidade no meio onde
vivemos; é praticar a caridade não por meio de discursos e sim pela atitude não
discriminatória nem racista; é também entender Jesus Cristo quando diz “quero a
misericórdia, não o sacrifício” (cf. Mt 9,13).
Tomo
a liberdade de parafrasear Dostoievki, e escrevo que “a misericórdia salvará o mundo”.
(Fonte: Pe. João Paulo Ferreira Ielo,
Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu, Diocese de São João da
Boa Vista)