Meus queridos
Amigos e Irmãos na Fé!
O Mês da Bíblia que estamos
trilhando, instituído em 1971, tem como meta instruir os fiéis sobre a Palavra de Deus e difundir o
conhecimento das Sagradas Escrituras. Já dizia São Jerônimo que ignorar as Escrituras é ignorar o próprio Cristo. A implantação desse mês temático colaborou na aproximação do Povo de Deus com a Bíblia. Cresce a consciência e o
esforço para a necessária animação bíblica de toda a pastoral. Propondo o
estudo e a reflexão do Evangelho de Marcos para este mês, a Igreja deseja reforçar a formação e a
espiritualidade de seus agentes e fiéis, no seguimento de Jesus Cristo.
Na caminhada litúrgica que fazemos
nos reunimos para celebrar o Vigésimo Quarto Domingo do
Tempo Comum, em que os
discípulos de Jesus são interrogados pelo Mestre sobre quem dizem que ele é.
Pedro responde categoricamente: “Tu és o Messias!”. A partir do contato que estamos tendo com o Evangelho de Marcos, o que podemos
afirmar da identidade de Jesus? Certamente já temos respostas
muito oportunas.
Pensem comigo, se a situação não se parece?
Seguramente nossos políticos, a cada momento, diariamente, buscam saber de seus
assessores, como estão as pesquisas oficiais e oficiosas. Imagino que a
pergunta deles aos assessores deva ser muito parecida com a de Jesus aos
discípulos: “O que diz o povo a meu respeito? Vocês acham que temos chance
de ganhar as próximas eleições? Que pensa a sociedade que eu sou?” A resposta dos discípulos é muito precisa quanto ao que pensa o
povo sobre a identidade de Jesus: totalmente equivocada! Ainda o
povo não conhece bem a Jesus. A impressão que o evangelista
passa, que isso para Jesus não é o que mais interessa. O
interessante mesmo para Jesus é a opinião, a noção, o
conhecimento dos mais próximos; daqueles escolhidos a dedo, em que Ele colocou
toda sua confiança e a quem prepara para se tornarem um seguimento Seu: discípulos e
missionários, outros cristos num mundo ingrato, violento, vazio de valores e oco
de Deus! É onde entra a profissão de Pedro, que
deverá ser sempre a de qualquer cristão autêntico, sem medo de perder sua vida,
sua posição social, seu emprego, sua honra, seu prestígio por nada: “Tu és o Messias!”. Resposta que
implica uma compreensão clara da cruz, do calvário, da zombaria, dos açoites
daqueles que pretendem comprar nossa consciência (nosso caráter a qualquer
preço). Só reconhece Jesus como o próprio Deus conosco quem faz a
experiência de ser livre para amar, falar sempre a verdade, ser coerente,
transparente, não decepciona, vive a justiça, promove o bom senso e a
verdadeira paz.
No dia 14 de Setembro, celebramos a Festa da Exaltação da Santa Cruz e a Festa de Nossa Senhora das
Dores no dia 15. Dor, sofrimento são coisas que os
homens e mulheres de nosso tempo procuram, de muitos modos, diminuir, abreviar
e até eliminar. O que dizer então do luto? Abreviam-se, em geral, cada vez mais
o tempo dos velórios, misturam-se elementos diversos para tornar esses momentos
o menos traumático possível. Por que temos tanto medo da morte, quando é uma
das raras certezas que temos? Não seria melhor olhar a morte com mais
humanidade, melhorando, cada vez, que ela passa por perto e leva de nosso
convívio alguém que amamos nossa qualidade de vida? Cada vez que me encontro
num velório, imagino-me confinado naquele pedacinho de madeira... E se fosse
eu? O que seria de mim? Por que corremos tanto atrás de bens materiais,
prestígio, poder, cargos, funções, quando todos, sem escapar ninguém, um dia
teremos de responder à eternidade, quando de lá ecoar nosso nome? Não consigo
compreender, como nossas pretensões, ganâncias, egoísmos, mesquinharias e
desamores possam conduzir nossas relações, se um dia tudo acabará na
eternidade, diante de Deus, d’Aquele que Pedro chama de Messias? Nem por último: não levamos nada conosco. Estaremos despidos de
qualquer posse, mas vestidos de valores que procuramos cultivar como: humildade, mansidão, ternura e tantas outras belezas
humanas! Por isso, ter medo da morte é desconhecer Jesus, estar equivocado quanto à sua identidade. É fé imatura,
esclerosada, ressequida, murcha, inútil, já que nossa verdadeira fé se debruça
sobre a esperança de que morrendo, veremos Deus como Deus é. E isso basta!
O salmo 114(115) expressa a
confiança em Deus que é amor-compaixão. O Senhor
liberta a vida da morte, enxuga dos olhos os prantos e os pés do tropeço. Qual
o limite de nossa confiança em Deus? Além das palavras do salmista, a liturgia
deste domingo nos apresenta as palavras do “servo de Javé” e o primeiro anúncio da Paixão feito por Jesus.
O evangelho deste domingo constitui
a parte central do Evangelho de Marcos. Jesus, no caminho, interroga os
discípulos para saber o que o povo e eles mesmos conseguiram entender a seu
respeito. Depois de ouvir aquilo que é opinião do povo, dirige-se diretamente a
eles. Pouco antes, Jesus os repreendera porque estavam
como que cegos, “têm olhos, mas não vêem”
(Mc 8,18), e seus corações endurecidos não lhes permitem entender sua
verdadeira identidade. Pedro é muito exato em sua resposta: “Tu és o Messias”. A imposição do
silêncio por parte de Jesus se deve, certamente, à ideia
distorcida que Pedro e os demais discípulos têm a seu respeito, o que se
comprova mais adiante na outra reação de Pedro.
Jesus, anunciando sua Paixão, o modo como o Pai realizará nele sua obra salvífica, deseja
eliminar todo mal-entendido. Vejamos se também nós, ao basearmos o crescimento
do Reino de Deus em fama, triunfo, aplausos alcançados, templos cheios, não
estamos seguindo os critérios dos homens...
Quais seriam as palavras de Jesus para nós, seus discípulos hoje?
Hoje, torna-se cada vez mais pesada
a cruz do testemunho autêntico de fé e do seguimento. Em muitos ambientes
sociais, é pesada a cruz da identidade da fé católica; a cruz dos conflitos
familiares; a cruz das intrigas entre lideranças (também entre políticos que ao
invés de apresentarem suas propostas e capacidades, gastam seu tempo atirando
pedras no telhado dos outros, mesmo tendo a maioria deles seu telhado de vidro,
de alguma maneira); a cruz da incerteza e da carência de dignas
condições de vida; a cruz da fome, do desemprego, da falta de saúde, da
educação, da exclusão, das promessas não cumpridas...
Finalmente, somos convidados a
colocar-nos no lugar de Jesus sempre: calçar suas sandálias, pensar seus pensamentos, falar suas
palavras, agir seu imensurável amor por todos,
indistintamente!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com
ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Is
50,5-9; Sl 114(115); Tg 2,14-18 e Mc 8,27-35)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus
de Setembro de 2015, pp. 44-46 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum
(Setembro de 2015), pp. 21-26.