Pe. Gilberto Kasper
Mestre em Teologia
Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário,
Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da
UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro Professorado Católico, Reitor da
Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto,
Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.
A Quaresma é um dos mais ricos
tempos de conversão. Converter-se espiritualmente, significa mudar o que não
está bem interiormente. As pessoas perderam a noção de pecado. Já na década de
50 do século passado, o Papa Pio XII afirmava que um dos maiores males de nossa
geração, seria a perda da noção de pecado. Parece que o pecado foi extinto,
perdeu seu sentido de existir, só porque determinados comportamentos
tornaram-se frequentes entre as pessoas e suas relações. Diz-se: "Isso já
não é mais pecado, pois todo mundo faz...". Mas não é bem assim. O sentido
de pecado não perdeu suas características, e existe tanto hoje como no tempo de
Jesus. Talvez não se faça mais uma determinada listinha de pecados como
antigamente. O importante é remetermo-nos à própria consciência, e esta
sinalizará se cometemos ou não pecado.
Gosto de pensar que pecado é tudo
aquilo que nos tira a paz interior, causa-nos medo, angústia ou vergonha por
termos feito algo contra Deus, contra nós mesmos ou contra alguém. Pecado é o
afastamento do amor de Deus. É deixar Deus falando sozinho, virando-lhe as
costas. Assim como muitas vezes nossos adolescentes agem com os pais, pensando
que seus princípios estejam ultrapassados. Logo a arrogância, a prepotência, a
ganância e a auto-suficiência gritam mais alto.
A conversão é voltar-se novamente para
Deus, a quem damos as costas, deixando-O falar sozinho. É olhar nos olhos de
Deus. É estar diante de Deus rosto a rosto e sentir-se envolvido pelo amor com
o qual nos criou à sua imagem e semelhança. Isso nem sempre é fácil. Muitas
vezes nosso orgulho é maior do que nossa humildade. Aqui está uma grande
dificuldade de nossos tempos: o auto-perdão. Não é fácil admitir que erramos,
que nos enganamos, o que se torna uma grande dificuldade de perdoar-nos a nós
mesmos e, consequentemente aos outros.
Com facilidade nos atribuímos o
direito de julgar os outros, até mesmo negando-lhes o perdão. Isso significa
que temos a pretensão de sermos "deuses" sobre os outros. Outras
vezes, escondemos nossos erros atrás dos erros dos outros, a fim de não sermos
descobertos. Esse tipo de atitude é um desastre nas relações humanas, sobretudo
em determinados grupos de pessoas, que desempenham algum serviço na sociedade,
que os coloque em evidência, como nas esferas sociais, econômicas, políticas,
familiares e nem por último, eclesiais. Esse
esconderijo
é o principal ingrediente do pecado da inveja, que antes parece um câncer que
embora se manifeste, ninguém aceite.
A conversão implica uma
"reconciliaterapia". Isto é: admitir as próprias fraquezas,
aceitá-las e com a ajuda do perdão que vem de Deus convertê-las em virtudes. Só
então produziremos frutos saborosos e contribuiremos por uma sociedade mais
humana, justa e fraterna!