Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da
UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da
Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto,
Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.
Aos
sete anos de idade, quando cursava o primeiro ano do Ensino Fundamental, nem
bem falava o português, já que em casa falávamos o dialeto alemão Hünsrick. A
Escola Sagrado Coração de Jesus da Congregação alemã das Irmãs de Santa
Catarina de Alexandria me alfabetizou utilizando-se desse dialeto para aprender
o português, bem como me preparou naquele mesmo ano de 1964 para minha Primeira
Comunhão, cujo Cinquentenário celebrei no dia 4 de outubro. Minha primeira
professora, coincidentemente minha prima, Irmã Fátima Kasper e a Irmã Neófita
foram minhas primeiras catequistas. Sou profundamente agradecido, também, ao
Padre Urbano José Hansen que fez de meu coração, pela primeira vez, o sacrário
de Jesus Eucarístico. Jamais esqueci aquele dia, um dos primeiros mais lindos
de minha vida. Já sentia muita vontade de ser padre. Prestava atenção no Pároco
e dizia a mim mesmo, que um dia seria como ele. Maior ainda foi minha alegria,
porque depois da Primeira Comunhão, pude também, ser instituído Coroinha.
Quanta gratidão!
Reconheço
que desde a infância fui um moleque muito arteiro, curioso e questionador.
Sempre queria saber o “por que” das
coisas. Quis entender como a Irmã Fátima conseguia desenhar em trinta folhas
brancas, frutinhas, florzinhas, animais, casas e árvores, todas iguais. Éramos
trinta alunos. Imaginei mil maneiras de como ela fazia aquilo. Devia passar a
noite desenhando as trinta folhas, a fim de que no dia seguinte nós pudéssemos
pintar aquelas figurinhas todas. Assim começávamos a conhecer e distinguir
pedagogicamente formas, cores, nomes etc.
Certo
dia fiquei escondido na sala de aula, durante o intervalo sem ser percebido. Fui
à mesa da Irmã Fátima e abri um estojo de carimbos e almofada. Experimentei
todos eles na capa e nas primeiras páginas da Cartilha do Mestre que se
encontrava também sobre a mesa da professora. Foi quando entendi porque os
desenhos de todas as folhas eram iguais. Senti grande alegria de curiosidade
satisfeita.
Na
volta do intervalo, os alunos todos em suas carteiras, a Irmã Fátima entrou na
sala e quase desmaiou ao ver sua cartilha. Em voz severa e forte perguntou: Quem
sujou minha cartilha de mestre? Um silêncio profundo se impôs e ninguém
nem imaginava que teria sido eu, a experimentar os carimbos na cartilha da
Professora. Ela pegou uma régua de mais de um metro, daquelas de aço que fazem
um ruído e causam um ventinho ao ouvido, quando balançada, e foi de carteira em
carteira perguntando se havia sido aquela ou aquele aluno. Alguns levaram uma
boa “bordoada”. Ainda não existia o Código da Criança e do Adolescente! Eu
sentia a dor de cada colega que apanhava por minha culpa, mas não tive a
coragem de dizer que havia sido eu. Ao chegar próxima de mim, me fitou e disse:
“Tu
não podes ter feito isso, porque será padre!” Eu senti um alívio meio
estranho, não tanto por não apanhar, mas pela profecia da minha primeira
professora, que eu seria padre! Passadas algumas semanas,
arrependido pedi desculpas à professora e aos meus colegas.
É na
pessoa de minha primeira professora, a
Irmã Fátima Kasper, que agradeço e presto minha mais sincera homenagem a
todos os meus professores. Lembro-me de todos com profunda gratidão! Sintam-se
acariciados todos os Professores no dia que lhes é
dedicado e em todos os dias do entardecer de suas vidas! Abençoada a vocação de
ensinar e educar!