Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Sua mãe disse aos que
estavam servindo:
‘Fazei o que ele vos
disser’!” (Jo 2,5).
“Por
ser uma solenidade, a festa deste dia 12 de outubro ocupa o lugar da nossa
páscoa semanal, dia do Senhor. Não perdemos o sentido maior da Páscoa de Cristo
por causa disso. Pelo contrário, no caminho espiritual do Tempo Comum estas
solenidades de Nossa Senhora e dos santos e santas contribuem para voltarmo-nos
para a centralidade da nossa fé em Cristo Jesus, nosso salvador. Ele é o mestre
que um dia puderam servir e que nós hoje nos esforçamos no caminho do seu
discipulado.
O
texto do Evangelho é rico em detalhes, próprio do evangelista João. Acontece em
uma festa de casamento, onde Jesus é apresentado como o esposo da humanidade. A
mãe de Jesus, que durante toda a narrativa não é chamada pelo seu nome, é a
figura da primeira Aliança, ainda vivida através do cumprimento de prescrições
puramente rituais, representada pela presença das seis talhas de pedra, usadas
para os rituais de purificação entre os judeus (cf. Jo 2,6).
Desde
o Antigo Testamento o vinho, sobretudo em abundância, além de simbolizar a
alegria, neste caso a alegria do amor matrimonial, é visto como sinal da
presença ou vinda do Messias esperado. Ele já veio em Jesus e quer agora selar
uma nova relação com seu povo pelo dom total, pela entrega amorosa, pelo ‘dom de si’ que revela Deus no escândalo
e força da Cruz – a ‘hora’ de Jesus,
que ainda não tinha chegado.
A
mãe de Jesus exerce, assim, uma dupla função nesta história de amor divino que
salva. Em primeiro lugar, porque se mantém, como o povo da primeira Aliança,
fiel e esperançosa na intervenção de Deus sobre a história. Como veio a faltar
o vinho – constatação que ela faz ao filho -, amor necessário na relação entre
a humanidade e Deus, é urgente que o mesmo seja ‘recriado’, seja reencontrado. Isso somente será possível em Jesus,
o esposo da nova e eterna Aliança. Para isso, é importante superar uma relação
com Deus meramente cumpridora de preceitos, ‘transformando’
aquilo que era objetivo dessa relação (talhas vazias), em verdadeira adesão a
Jesus (vinho novo).
A
segunda função da mãe de Jesus na história da salvação revelada pela narrativa
bíblica, é o seu comando aos servidores: ‘Fazei o que ele vos disser’ (Jo
2,5b). O antigo Israel é chamado agora a aderir ao seu novo esposo,
colocando-se a serviço, pela esperança de sua intervenção na história (a mãe de
Jesus, mulher), pela obediência à sua palavra (os serventes enchem as talhas
sem qualquer questionamento) e pela fé em Jesus (os discípulos creram nele),
aquele que manifestou a sua glória pela entrega amorosa de sua vida por sua
esposa.
Os
católicos brasileiros têm uma grande relação religiosa com Maria, a mãe de
Jesus. Essa relação de piedade e devoção pode ser mais aprofundada e adquirir
um sentido evangélico bem mais intenso pela solenidade que vamos celebrar, pois
todos nós que aderimos ao projeto de Jesus somos chamados a realizar sempre a
sua vontade, mantendo a nossa esperança em suas intervenções na história,
transformando, por nossas ações, as realidades de morte em vida, de trevas em
luz, de miséria e pobreza em abundância.
A
imagem de Nossa Senhora que apareceu no rio Paraíba é uma imagem de Nossa
Senhora da Conceição. Festa que remete à figura de Maria como plenificação e
destino da Igreja, imagem da Igreja triunfante. Uma Igreja que, como mãe e
esposa peregrina, é chamada a sermos fazer a vontade do seu esposo, Cristo, o
Messias.
O
aparecimento da pequena imagem foi o grande sinal do alto, sinal de Deus e de
sua intervenção em favor das súplicas dos simples e pobres. A festa aconteceu,
e a abundância foi readquirida.
Neste
dia, no Brasil, também comemora-se o dia das crianças. Elas aguardam de todos
nós um sinal de um país mais justo, humano, solidário e que saiba cuidar do seu
povo com carinho e proteção. Aguardam sinais de vida, que devem ser cultivados
e promovidos já agora, para que o seu futuro seja de abundância e paz” (cf. Roteiros Homiléticos
do Tempo Comum II de 2014 da CNBB, pp. 36-42).
Gosto
sempre de imaginar a cena daquele casamento. Deve ter sido um casamento de
pessoas simples, pobres, como humilde e pobre era Maria. Para que Maria, Jesus
e seus Discípulos fossem convidados, o casal nubente só poderia ser pobre, já
que a disparidade entre as pessoas era tamanha, que ricos e pobres jamais se
misturavam, especialmente em festas. Hoje não é muito diferente, embora tenhamos
os chamados “ricos emergentes” ou
ainda, aqueles que mesmo não sendo economicamente privilegiados, tenham “panca de ricos”, se juntem aos
verdadeiramente ricos!
Maria,
que é mãe, perspicaz e atenta, percebe que seu filho, Jesus e seus
companheiros, os Discípulos (que eram bons de copo), estavam exagerando, e os
noivos pobres poderiam passar vergonha, já que o vinho começava a faltar. A mãe
chama o filho e o adverte que já não tem mais vinho, pedindo que avise aos
amigos “maneirarem no copo”. Jesus parece dar uma resposta ríspida, chamando
sua mãe de “Mulher”. Em outras
palavras, poderia pensar que não era problema seu. Maria, entretanto vai aos
serventes e lhes diz: “Fazei o que ele vos disser!” A
confiança no filho é maior que sua preocupação. O milagre acontece justamente
pela fé de Maria em Jesus. Da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, também
nós, todos nós, podemos aprender do povo simples, de Sul a Norte de nosso
Brasil, tamanha confiança na Mãe Aparecida. Ela não nos deixa esperando, não nos
faz passar vergonha, mas intercede por nós. Porém é preciso seguir seu pedido
feito aos serventes e também a nós hoje: Fazer o que Jesus nos pede! E o que Jesus nos pede? Que nos amemos uns aos outros, sempre! Se nos
amarmos, o mundo será muito mais bonito, do jeito como Deus o criou e pensou
para nós!
Sejam
todos sempre muito abençoados, sob a intercessão de Nossa Senhora Aparecida! Com
ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Es 5,1-2; 7,2-3; Sl 44(45); Ap
12,1.5.13.15-16 e Jo 2,1-11).