MÊS DA
BÍBLIA
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Vós sois justo, Senhor, e justa é a vossa sentença;
tratai o vosso servo segundo a vossa misericórdia” (Sl
118,137.124).
O
Mês de Setembro é, especialmente, dedicado à Bíblia,
incentivando-nos À Prioridade do Anúncio da Palavra de Deus.
E o Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum nos apresenta o “Evangelho, em que Jesus nos convida ao
diálogo para superar os conflitos e garante sua presença na comunidade reunida.
Além disso, mostra que a correção fraterna, apesar de difícil, é belo gesto de
ajuda entre irmãos que se amam e se respeitam.
Neste dia da Pátria, queremos
estender nosso olhar e nossa prece sobre todo o povo brasileiro e sobre os
dirigentes da nação, especialmente os
que serão eleitos daqui há menos de um mês, para que vigiem com carinho
pelos pobres e sofredores.
A Palavra de Deus nos diz que todos somos responsáveis uns pelos outros. O amor faz que
nos preocupemos com as pessoas e nos impulsiona a dialogar com quem se desviou
do caminho do bem.
Somos responsáveis pela violência
que faz tantas vítimas na sociedade. A correção fraterna deve ser realizada em
clima de amor e de oração. O amor pelo próximo é a plenitude da lei.
A Eucaristia é o sinal da comunhão
fraterna. Participando do Corpo e Sangue do Senhor, tornamo-nos solidários no
bem e afastamos de nós o egoísmo” (cf.
Liturgia Diária de Setembro de 2014 da Paulus, pp. 30-32).
Estamos na Semana da Pátria
e entramos no mês dedicado à Bíblia.
No Evangelho encontramos Jesus, o mestre da justiça, oferecendo ensinamentos e
práticas geradores de novas relações e inspiradores de novas posturas na
construção da sociedade justa e fraterna. A sua Palavra nos educa para o
diálogo e a correção fraterna: única dívida que devemos ter uns com os outros.
Que fatos e acontecimentos precisam ser lembrados na
celebração deste final de semana e que nos ajudem a perceber e celebrar os
sinais do Reino de Deus entre nós? Que avanços e sinais de vida digna para o
povo brasileiro podemos constatar e celebrar na Semana
da Pátria de 2014?
Assumimos
o grito ainda abafado de uma multidão incontável de excluídos, que lutam por
respeito, dignidade, igualdade e cidadania, valores que o sistema social,
político e econômico lhes tem negado em nosso país. Toda essa realidade, que
ainda clama por reconciliação, ganha sentido e força no mistério da Páscoa do Senhor que celebramos.
Pelo profeta Ezequiel somos convidados a sermos sentinelas
do bem e da justiça na noite das injustiças que existem e que ceifam a vida de
milhões. Garantir e cultivar a justiça é um compromisso inerente que temos com
o Deus da vida e da liberdade. Até que ponto a profecia de Ezequiel não deveria
ser acordada hoje na missão da Igreja, promotora da vida e solidária com os
excluídos?
O
salmista nos pergunta se não abandonamos a aliança, não esquecemos o nosso Deus
e nos instalamos numa religião fácil, sem compromissos com a criação e os
mandamentos de Deus?
Na Carta aos Romanos, Paulo nos dá a entender que há uma
só maneira de amarmos a Deus que é amando o próximo, a cada pessoa, do jeito
que ela é, e ninguém escolhe o próximo para amá-lo. Ele simplesmente se
apresenta como dom de Deus e também como desafio à nossa capacidade de amar.
Temos muita consciência que somos devedores diante de Deus de uma dívida
impagável, a não ser que sejamos capazes de gestos gratuitos como os de Jesus,
que se entregou radicalmente por amor.
Quem ofendeu um membro da Comunidade rompeu com a
Comunidade toda. O Evangelho nos convida a fazer de tudo, apelar a toda a
criatividade para que reine entre nós o jeito de ser de Jesus. Mas, se não lhe
der ouvidos, convide uma ou duas pessoas para ajudar no diálogo. Se mesmo assim
não houver reconciliação, só depois de muitas tentativas é que se recorre à
Comunidade, que age em nome de Jesus, ajudando nos conflitos e nas necessidades
dos irmãos. Parece até que estamos pressionando o irmão, mas como se trata da
justiça do Reino, precisamos fazer de tudo para que o irmão não se perca, não
saia da caminhada da Comunidade, do seguimento fiel a Jesus e volte-se para as
exigências evangélicas. E se nada der resultado satisfatório? Só aí a
Comunidade tomará conhecimento do erro e será chamada a tomar uma decisão: Caso
não der ouvidos, comunique à Igreja.
Antes de denunciar, denegrir ou excluir é necessário
acolher, perdoar, aconselhar e colocar em contato com o bem, inserir na
Comunidade fraterna e fazer de tudo para que as pessoas não se afastem do bem e
da prática da justiça. O Papa Francisco insiste tanto nisso em suas alocuções,
sobretudo em seu primeiro livro: A Igreja da Misericórdia! Mas em nossas Comunidades acontece, frequentemente, o contrário:
quantos líderes conhecemos que
simplesmente se sentem no direito de excluir e mandar embora os filhos que
ajudaram a escrever a história de suas Paróquias. Em minha opinião isso é
diabólico e precisa urgentemente mudar! Nenhum Padre tem o direito de
exigir que sua comunidade se adapte aos seus caprichos e não poucas vezes aos
seus desequilíbrios afetivos e emocionais. Tais pastores não são configurados a
Jesus, mas fazem da Igreja um trampolim para a própria sobrevivência. Não
faltam casos concretos entre nós, que me parece gritar por uma séria conversão pastoral da Paróquia!
Do começo ao fim dos Evangelhos, Jesus prega ser o Reino de Deus
um Reino de Justiça. Logo onde não há Justiça, também não se sentirá o sabor do Reino de Deus! Ao lado da Justiça soma-se a Misericórdia,
cujo resultado é o verdadeiro Amor com sabor
divino!
Tive,
na Alemanha, um Reitor no Seminário, que detestava Dedo-Duro.
Costumava dizer que, geralmente atrás de alguém que denuncia o erro do outro,
gratuitamente, esconde o próprio erro atrás do erro desse outro. É o contrário
da mensagem da Palavra deste domingo, que sugere a correção
fraterna. Em nossas Comunidades, mas principalmente entre os
próprios Ministros Ordenados, é muito frequente o caminho inverso do sugerido
pelo Evangelho. Primeiro espalha-se o erro do irmão na Comunidade, difamando-o
o quanto possível, para abastecer-se de argumentos a serem levados à autoridade
eclesial: no caso da Comunidade, o Padre; no caso do Clero, o Bispo, e
geralmente o último, a saber, que errou, é o irmão já totalmente difamado,
triturado, esmagado pelos demais. Como isso é feio. Quem não tem a capacidade
de corrigir fraternalmente o irmão, é também incapaz de perdoar e amar. Muitos
se sentem tão “perfeitos e corretos” que não aceitam correção. A prepotência e
a arrogância não permitem e não dão espaço nem mesmo a um exame da própria
consciência. Esses geralmente se alegram em “pisar naqueles que erram” e na
maioria das vezes os excluem de suas Comunidades que não têm espaço para
pessoas que não agradam, não pensam como nós, ou questionam determinadas
hipocrisias nossas. É mais fácil mandar embora do que dialogar com o
“diferente” ou o “difícil”. Existe algo mais anti- evangélico do que dizer: “Em minha Paróquia eu fiz uma limpeza de pessoas
insuportáveis... Quem não aceita dançar a
música que eu tocar, sinta-se desconvidado...” Pior do que isso
é aquele Sacerdote ou Agente de Pastoral, que além de não ter a capacidade de
perdoar, talvez porque nunca tenha feito a experiência do verdadeiro amor de
Cristo Misericordioso, sentir-se vitorioso por ter esvaziado sua Comunidade,
desrespeitando a história da mesma, que certamente não começou com a chegada
dele; ter o apoio de seus Superiores para surrar e machucar suas ovelhas, como
se fossem inúteis. Este tipo de endeusamento clerical seguramente lhe garantirá
aquele estado de vida descrito pelo próprio Cristo, como “Lugar do fogo do inferno, onde
haverá choro e ranger de dentes...”.
Rezemos pela conversão de
nossa Igreja, a começar de nós Presbíteros, a fim de que
prevaleça o Amor! Quem realmente se
sente configurado com Cristo, o Bom Pastor, ama e acolhe quem lhe é confiado
para tornar-se a verdadeira Igreja de Jesus Cristo e não desse ou daquele
ministro, seja ele ordenado ou não.
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler Ez 33,7-9; Sl
94(95); Rm 13,8-10 e Mt 18,15-20).