Pe. Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Docente na Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente
Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo
Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do
Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.
Com a
Campanha da Fraternidade deste ano, a Igreja do Brasil tenta “identificar as
práticas de tráfico humano em suas várias formas e denunciá-lo como violação da
dignidade e da liberdade humana, mobilizando cristãos e a sociedade brasileira
para erradicar esse mal, com vista ao resgate da vida dos filhos e filhas de
Deus” (Objetivo Geral da
CF/2014).
“O
tráfico humano condiciona as pessoas à escravidão e fere a dignidade da pessoa
humana, a qual perde todos os seus direitos inalienáveis: de estar livre de
toda forma de exploração; de estar de livre de tratamento desumano e cruel; de
estar livre de todas as formas de violências e torturas físicas e psicológicas;
de estar livre de discriminações baseadas em origem, raça, sexo, cor, idade; a
garantia da liberdade de ir e vir, de permanecer e ficar; a garantia de exercer
sua personalidade, sua aptidão legal, para fazer valer seus direitos enquanto
filho e filha de Deus.
No
Brasil, são formas bem conhecidas do tráfico humano: a exploração, que atinge
principalmente mulheres, mas também crianças e adolescentes, no mercado do
sexo, e a exploração de trabalhadores escravizados em atividades produtivas.
É
difícil dimensionar o tráfico humano, pois muitas de suas vítimas não são
identificadas. No entanto, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o
tráfico humano renda, aproximadamente 32 bilhões de dólares anuais, situando-o
entre os crimes organizados mais rentáveis, ao lado do tráfico de drogas e de
armas.
Dados
da Organização Internacional do Trabalho (OIT) referentes às modalidades do
trabalho escravo também contribuem para a percepção das dimensões desse crime
internacional, mesmo considerando que nem todos os casos de trabalho escravo
são resultantes de tráfico humano. No início de junho de 2012, a OIT estimou
que as vítimas do trabalho forçado e exploração sexual chegam a 20,9 milhões de
pessoas em todo o mundo. Essa pesquisa constatou que 4,5 milhões (22%) das
vítimas são exploradas em atividades sexuais forçadas; 14,2 milhões (68%) em
trabalhos forçados em diversas atividades econômicas; e 2,2 milhões (10%) pelo
próprio Estado, sobretudo os militarizados” (cf. Manual da CF/2014 pp. 15-16).
A Campanha da Fraternidade não se sobrepõe ao
rico Tempo da Quaresma, mas o enriquece, a fim de que celebremos com maior
consciência e bem concretamente o mistério da morte e ressurreição de Jesus
Cristo, sensibilizados para a solidariedade e o cuidado às vítimas desse mal.
Afinal, “É para a liberdade que Cristo
nos libertou” (Gl 5,1).