Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Contemplar, justificado, a vossa face;
e serei saciado quando se manifestar a vossa glória” (Sl 16,15).
“Deus se fez próximo de nós. Revelou-se profundamente humano. Misericordioso, isto é: coração totalmente voltado para o mísero (=misericordioso).
Tão próximo de nós que, na pessoa de seu filho Jesus, podemos afirmar: ‘Só Deus é humano’. Porque Deus é
assim, é que nos reunimos no Dia do Senhor, o Domingo: para dele
assimilarmos o verdadeiro espírito de humanidade. Tanto sua Palavra como o exemplo de doação, representado pelo Corpo entregue e pelo Sangue derramado de Jesus – agora sob as espécies de
pão e vinho -, são para nós a principal fonte de aprendizado do que significa
ser humano, profundamente humano, a fim de que todos tenham vida, e vida em
abundância.
‘Imagem
de Deus e revelador do rosto misericordioso do Pai, Jesus neste domingo nos
mostra o caminho da vida eterna: não só conhecer os mandamentos, mas também
vivenciá-los, assumindo as atitudes do bom samaritano. A Eucaristia deste
domingo abra nosso coração à misericórdia e à compaixão para com as pessoas
caídas à beira do caminho.
A Palavra de Deus
está ao nosso alcance: não é proposta muito difícil de ser assumida e vivida,
pois requer apenas o amor para se transformar em gesto de misericórdia. Vamos
acolhê-la no coração, para que nos torne próximos de toda pessoa necessitada.
A vivência do
mandamento de Deus não está fora de nossas possibilidades. O autêntico amor nos
torna próximos dos pobres e sofredores. Jesus Cristo é a plenitude do divino no
humano. Cristo, o bom samaritano, faz-se mais próximo de nós, tornando-se nosso
alimento e revelando o amor misericordioso do Pai celeste” (cf. Liturgia Diária de
Julho de 2013 da Paulus, pp. 49-52).
Quem faz a experiência de estar mais
‘próximo’ de Deus ou,
inversamente, faz a experiência de sentir Deus mais ‘próximo’ de si? Aquele e aquela –
seja lá quem for; não importando raça ou religião – que se faz ‘próximo’ do humano, e do
humano mais arrebentado. O próprio Jesus, por sua vida, morte-ressurreição e dom do Espírito, viveu e vive
esta experiência vital divinamente. E pensar que nós somos discípulos e
discípulas dele!...
Jesus não respondeu diretamente ao mestre da lei, porque a questão não é
descobrir quem é e quem não é próximo. Coração generoso se torna próximo de qualquer um que precisa; a melhor maneira de ter amigos é ser amigo. A questão também não é teórica, mas prática. Na prática
esquecemos a parábola de Jesus e fazemos como o sacerdote e o levita: afastamo-nos do
necessitado, mesmo se pertence à nossa comunidade, e não ‘nos aproximamos’
dele. Tornar-se próximo é ser solidário. Somos solidários com os que vivem na
margem da estrada de nossa sociedade? Mesmo quando damos uma esmola a um
coitado, não é para nos desviarmos dele? ‘Vai e faze a
mesma coisa’... Imitar o samaritano exige
solidariedade, assumir a vida do outro, não se livrar dele. Torná-lo um irmão,
pois este é o sentido verdadeiro da palavra ‘próximo’. Só assim podemos fazer a mais verdadeira ‘experiência de Deus’,
senti-lo ‘próximo’ de nós e sentir-nos ‘próximos’ dele.
Existem Bispos e Padres que, no
final da Missa, costumam dirigir-se à porta da Igreja para cumprimentar
pessoalmente as pessoas que vão saindo, desejando-lhes um bom domingo, uma
ótima semana, bênçãos para a família, para o trabalho, para os estudos etc.
Afinal, a celebração continua também na vida... Assim se estabelecem laços
afetivos e de aproximação entre o pastor e os fiéis, e entre os próprios fiéis
entre si. Se houver possibilidade, é aconselhável e pastoralmente muito
eficiente, que se adote tal procedimento nas comunidades. [...]
[...] A reitoria da Igreja Santo
Antoninho é pequenina. Costumo omitir o Abraço da Paz após a Oração do Pai Nosso.
Sempre achei aquele momento inoportuno e de certa forma, um tanto forçado,
quando não falso. Prefiro deixá-lo para o final da Missa. Até porque valorizo
muito os momentos de “silêncio para interiorização pessoal”: no Rito Penitencial, Após as Leituras Proclamadas, Após a
Homilia, no Momento indicado para o Abraço da Paz e após a Comunhão. Quando
cheguei, há cinco anos e meio, o Povo que frequenta nossa amada Igrejinha,
aproveitava para colocar as novidades em dia. Mais parecia uma feira do que um
Templo. Sugeri que antes das Missas haja silêncio no
interior da Igreja. As saudações de chegada
acontecem fora da Igreja, no Átrio. Colocamos um fundo musical, permitindo a
oportunidade das pessoas prepararem-se bem para a Celebração. Já no canto da
dispersão, ao final das celebrações, todos se abraçam e desejam-se mutuamente a
paz. Este sim parece ser um abraço espontâneo, verdadeiro. Eu fico à porta da
saída e quem deseja passa por mim e também nos abraçamos desejando-nos todo bem
e toda paz. As pessoas gostam e cobram quando isso não é possível. É, também,
compreensível que nem sempre tal gesto é possível. No meu caso funciona bem,
por sermos poucos. Praticamente todos se conhecem, o que enriquece ainda mais a
celebração. Celebramos próximos uns dos outros, quase que “apertando-nos” na pequenina Santo
Antoninho! [...]
Lembramos ainda, de modo muito
especial, toda a movimentação na preparação da Jornada Mundial da Juventude, a
se realizar entre os dias 23 e 28 deste mês, com a maravilhosa presença do
amado Papa Francisco, O Papa da Ternura! Que o Espírito
Santo de Deus e seu santo modo de operar iluminem a todos e todas do nosso
Brasil e do mundo inteiro, a fim de que se abra para a juventude as melhores
possibilidades de um mundo novo, em que brilhe a sabedoria vinda do alto,
produzindo a justiça e a paz do Reino de Deus” (cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum I de
2013 da CNBB, pp. 73-78).
Finalmente, a Palavra de Deus deste Décimo Quinto Domingo
Comum nos propõe o “próximo” à luz da Parábola do Bom Samaritano! Trata-se de um “Próximo machucado, surrado,
enxotado, incompreendido, engolido pelas drogas e alcoolismo, desemprego,
abandono famíliar, envelhecido, enfermo mal servido, proveniente de famílias
desestruturadas”. Nossas comunidades são realmente
configuradas com o Bom Samaritano? Ou nos
identificamos mais com o sacerdote e o levita que olham para o machucado e saem
correndo para o mero cumprimento de seus preceitos e compromissos outros?
Confesso que não consigo entender a presença real de Jesus Cristo no coração de
um presbítero que não cumprimenta seu irmão por bobagens, ou até mesmo questões
mais sérias. Já imaginaram um Sacerdote concelebrando com seu “próximo” virando-lhe a cara? Como um coração desses terá lugar para Jesus, se sua misericórdia não
consegue acolher um simples irmão nem mais e nem menos importante; nem melhor e
muito menos pior do que o próprio arrogante e prepotente “juiz não constituído
pelo Evangelho” deste domingo do Bom Samaritano? E isso se
estende também às nossas Comunidades: Pastorais, Movimentos, Serviços,
Comissões, Conselhos que realizam obras magníficas para serem vistas pelos
outros, mas além de excluir os que vivem em “situações irregulares ou
desumanas”, ainda pisam sobre eles e os difamam? Que não deixemos escorrer
pelas mãos esta rica oportunidade de conversão,
coerência e bom sendo, fazendo em nossas relações
humanas a experiência da mais verdadeira misericórdia!
Desejando-lhes bênçãos e paz, com ternura e gratidão, o abraço
amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Dt 30,10-14; Sl 68(69);
Cl 1,15-20 e Lc 10,25-37).