Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Senhor, ensina-nos a rezar,
como também João ensinou a seus discípulos” (Lc 11,1b).
“Temos todos um Pai comum. Foi Jesus
que nos ensinou a chamar Deus de Pai, nosso Pai, o que foi ousado e
escandalizou muitos religiosos de então. Aparentava ser verdadeira blasfêmia.
Afinal de contas ‘pai’ tem a ver com ‘parente’, e parente mais próximo.
Portanto, a ousadia de Jesus de chamar a Deus de pai soava como se ele dissesse
que Deus é nosso ‘parente’ mais próximo e que nós somos seus filhos e filhas:
existe um ‘parentesco’ entre Deus e nós. E não é assim? Fomos, de fato, criados
‘à imagem e semelhança de Deus’ (Gn 1,27) e agora somos renascidos em Cristo.
Gosto de pensar: queremos uma noção
mais próxima de como Deus é? Basta olhar para o rosto do nosso semelhante.
Somos semelhantes ao nosso Criador. Não somos deuses, mas parecidos com Deus!
Muitas vezes agimos uns sobre os outros, como se fôssemos seus deuses, ou seus
donos. O namorado diz para sua namorada: ‘eu
te adoro!’ e vice-versa. Nós nos adoramos não como deuses, mas como
semelhantes e isso nos torna ainda mais lindos. Isso nos torna Anjos uns dos outros! Por conta disso, também penso que não existem pessoas feias. As
pessoas foram criadas lindas, porque à imagem e semelhança de Deus. Mas elas se
fazem feias, na medida em que se distanciam desse ‘evento’ ou ‘parentesco’,
cuja novidade nos é trazida pela Palavra proclamada neste Décimo-Sétimo Domingo Comum do Ano Litúrgico!
Jesus resgatou a dignidade que havíamos perdido e voltamos a ser
família de Deus, povo de Deus. É nesta experiência de vida nova que nos unimos,
de maneira especial, aos milhares de jovens na Jornada Mundial da Juventude,
que neste domingo está se encerrando. Que o Espírito Santo de Deus ilumine a
juventude de hoje para que, iluminada pela Palavra de Deus, sinta-se
fortalecida para o testemunho da fé em Cristo.
‘Na
eucaristia descobrimos o rosto de Deus nosso Pai, que sempre se mostra
favorável quando o invocamos em nossas necessidades. O tema da Jornada Mundial
da Juventude que reuniu desde o dia 23 de julho milhares de jovens no Rio de
Janeiro, com a presença de nosso amado Papa Francisco, é: ‘Ide e fazei discípulos entre todas as nações’ (Mt 28,19)’ e nos motiva a ser
discípulos e missionários de Jesus Cristo, a serviço do evangelho e do reino de
Deus.
Da mesma forma
que Abraão, vamos nos pôr na presença de Deus, que quer nos comunicar sua
palavra de salvação. Ele, que deu vida nova no batismo, agora nos dá a conhecer
seu rosto e seu amor.
A oração
insistente e sincera do justo em favor do povo chega ao coração de Deus. Jesus
nos ensina a pedir com insistência o que é fundamental na vida. Pelo batismo
morremos e ressuscitamos com Cristo e nos tornamos novas criaturas. Já a oração
eucarística, como ação de graças, súplica e intercessão universal, possui os
múltiplos aspectos da oração perfeita de Cristo na cruz’ (cf. Liturgia Diária de
Julho de 2013 da Paulus, pp. 83-86).
Existem cristãos que, julgando-se
esclarecidos, afirmam que as orações do nosso povo são muito egoístas, pois são
quase sempre orações de pedido. Geralmente somos mais pidões do que agradecidos, também em
nosso modo de rezar, até quando o fazemos conscientemente, como diálogo com Deus! Interessante
que a Palavra deste Domingo acentua o contrário: é importante pedir, e até
insistir no pedido. Abraão com seus incansáveis
pedidos quase salvou as cidades de Sodoma e Gomorra. Infelizmente, as cidades
eram ruins demais. Jesus, por seu turno, ensina aos discípulos o Pai-nosso, uma oração de pedido. O Pai-nosso pede
inicialmente que a vontade de Deus seja feita. Ora, uma vez que rezamos em
harmonia com a vontade e o desejo de Deus, podemos pedir bastante. O que não me
parece justo é rezarmos para que a vontade seja feita, desde que coincida com a
nossa. Precisamos antes, discernir qual é a
vontade de Deus para conosco. Gostei muito, quando na sua homilia de posse,
nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, pediu-nos que rezássemos por ele. ‘Rezem por mim. Rezem para que eu não atrapalhe a graça de Deus em
meu ministério...’. Quanta coragem e ousadia a de
nosso amado Pastor! Mostrou-se um Homem de Deus, que quer sempre discernir a vontade e a graça divinas de Deus em
sua vida.
Será a oração em forma de pedido uma
forma de oração mais egoísta que a meditação, a louvação, o agradecimento, a
adoração? Parece que não! Na verdade, agradecer é a outra face do pedir. Quem
agradece, gostou. Por que não pedir então? É reconhecer a bondade do doador!
Como o frei que, depois de laudo almoço na casa de uma benfeitora, testemunhou
sua gratidão com estas palavras: ‘Senhora, não sei como agradecer... será que posso repetir
aquela gostosa sobremesa?’.
De acordo com o espírito do Pai-nosso, devemos pedir
antes de tudo a realização daquilo que Deus deseja: sua vontade, seu Reino.
Ora, uma vez assentada esta base, pode-se pedir – com toda a simplicidade – o
pão de cada dia, saúde, vida e todos os demais dons que Deus nos prepara.
Inclusive, o perdão de nossas faltas. Só não se deve pedir a Deus o que Deus
não pode desejar: a satisfação de nosso egoísmo. E sempre se deve lembrar que
Deus sabe melhor do que nós o que nos convém. Podemos insistir naquilo que
achamos sinceramente nosso bem... mas Deus sabe melhor.
É importante pedir, pois pedir
também compromete! Depois de ter pedido, a gente já não pode dizer: ‘Não pedi!’. Comprometer-nos com Deus e com aquilo que pedimos. Não é como
no supermercado, onde você entra, olha e sai sem comprar. Assim as preces dos
fiéis, na celebração da comunidade, devem ter sentido de compromisso: devemos
querer mesmo que elas se realizem, e nos oferecemos a Deus para colaborar na
realização daquilo que pedimos. Pedir é comprometer-se. Imaginemos Deus ouvindo
nossas preces, como esta: ‘Perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido...’ Se não perdoar o meu irmão, como
peço a Deus que me perdoe? Se pedimos a Deus saúde, não é para gozar
egoisticamente a vida, mas para servir melhor. ‘Quem não vive
para servir, não serve para viver!’. Se pedimos
paz, não é para sermos deixados em paz, mas para nos dedicarmos à comunhão
fraterna. Se pedimos por nossos irmãos e irmãs mais pobres, é porque queremos
ajudá-los efetivamente. Importa saber como pedimos (cf. Tg 4,3) (cf. Roteiros Homiléticos
do Tempo Comum I de 2013 da CNBB, pp. 86-92).
Saibamos rezar com mais consciência
e fé madura, a oração que o Senhor nos ensinou, ao pedido de seus discípulos: O Pai-nosso! São sete
pedidos. Será que nós, ao rezamos esta belíssima oração, temos plena consciência
do que nela estamos pedindo? E se Deus realmente ouvisse nossos pedidos, como
seria nossa vida, nossas relações com nossos semelhantes, aqueles que nos
permitem “uma noção do rosto de Deus”?
Sejam todos sempre abençoados. Com
ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Gn 18,20-32; Sl
137(138); Cl 2,12-14 e Lc 11,1-13).