“E Jesus disse: ‘Teus pecados
estão perdoados’.
Tua fé te salvou. Vai em
paz!’” (cf. Lc 7,48.50).
“Para entender a Palavra deste domingo, imaginemos ver
em Jesus um ser humano perfeitamente
integrado. Homem totalmente simples, humilde, transparente, livre, sem
armaduras, sem couraças, sem preconceitos, sem complicações... Decididamente
centrado apenas na essência de nossos corpos, para além dos nossos padrões
egoicos, limitados, transitórios, perecíveis, cujas absolutizações ameaçam
sempre comprometer a qualidade da vida das pessoas... Humano assim, só Deus
mesmo! Jesus é divinamente humano.
Não estranha, pois, que esse Jesus aceita tranquilamente tomar
a refeição na casa de um ‘crítico’ fariseu. Na mesma casa, tranquilamente se
deixa perfumar, banhar e beijar por uma prostituta aos prantos. Por que esta
mulher estigmatizada como pecadora agiu assim? Porque sentiu em Jesus o único homem capaz de
‘tocá-la’ como ela – talvez inconscientemente – sonhava que alguém a tocasse.
Tocá-la em profundidade, para além do corpo dela, em sua essência, em sua alma.
No corpo de Jesus, em seu olhar, em seus
gestos, ela vislumbrou aquilo que mais buscava: o verdadeiro amor, divino amor, compreensivo, acolhedor,
todo perdão, fonte de paz imorredoura. De fato, neste Jesus misericordioso, que ali se
deixa ‘tocar’ pelos perfumes, pelo banho das lágrimas e beijos dela, ela mesma
se encontrou: experimentou-se conectada à sua própria essência, à sua ‘imagem e
semelhança’ com o mistério que nos transcende, conectou-se ‘consigo’ mesma e
desmoronou aos prantos...
O fariseu, fechado em seus padrões
egoístas, rigidamente identificado apenas com seu ‘papel’ religioso, portanto
cego para o mistério de Deus no mistério do humano, não consegue entender a
atitude da mulher. Muito menos consegue entender a de Jesus. Não percebe em Jesus o divinamente humano, a presença do amor misericordioso do próprio Deus. Por isso, no
fundo, nem lhe dava muita importância, o que se traduziu no modo um tanto
displicente como o acolheu em sua casa. Bem outra foi a atitude daquela
prostituta, porque intuiu quem de
fato era Jesus, sua atitude foi de franca,
confiante e emocionante acolhida do divino amor ali presente, que não a condena, mas a perdoa totalmente e lhe
resgata a verdadeira paz.
Quantos de nós, clérigos e bons
leigos, em nossas Comunidades nos revestimos do anfitrião fariseu, julgando os
outros com pressa, pensando-nos “deuses” sobre aqueles que consideramos “os prostitutos e as prostitutas” de
nosso tempo? Como nossa capacidade de perdoar ainda está aquém do que o Cristo
espera de nós, Comunidade de Comunidades: uma
nova Paróquia! Cheios de regras, normas,
exigências complicadas, preconceituosos nos achamos os ‘certinhos’, só porque nossos defeitos e pecados talvez mais mal
cheirosos do que os das ‘prostitutas’ de hoje continuam anônimos. Não tenho dúvida de que isso é
abominável a Jesus, cheio de amor e misericórdia, que não
cansa de exalar sua ternura junto aos que se arrependem e se voltam, mesmo que aos prantos
diante dele.
‘A
Eucaristia é o memorial do amor de Deus, que a todos estende seu perdão e a
todos acolhe. Dispostos a deixar Cristo viver em nós, somos convidados a
celebrar em comunhão com aqueles que são discriminados por motivos diversos e
rezarmos por todos os sofredores de nossa comunidade.
Diante do
arrependimento e do amor que a pessoa demonstra, Deus mostra-se compassivo e
disposto a perdoar o pecador. Animados pela fé em Jesus Cristo, acolhamos a
palavra que nos salva.
O amor de Deus
supera nossos pecados. O amor e o perdão andam de mãos dadas. A fé em Cristo
nos salva e nos leva a agir como ele” (cf. Liturgia Diária de Junho de 2013 da Paulus, pp. 54-57).
Como vemos, pois, ‘protagonista da
liturgia deste domingo é o amor de Deus que, na pessoa de Jesus, se doa como perdão para todos nós pecadores, homens e
mulheres... Experimentar a misericórdia de Deus, encontrar o seu perdão, significa para o ser humano viver
a alegria profunda do ‘retorno à casa do Pai’, encontrando
aquela dimensão essencial de paz, de serenidade, de comunhão com Deus e de
harmonia interior consigo mesmo e com as outras pessoas.
A grande lição que hoje podemos
tirar é esta: ‘São amigos de Deus (‘justos’) aqueles que reconhecem diante de
Deus sua dívida de amor e dele recebem remissão. Então, abrir-se-ão em gestos
de gratidão, semelhante ao gesto da pecadora’” (cf. Roteiros Homiléticos
do Tempo Comum I de 2013 da CNBB, pp. 43-48).
Feliz daquele que tem a capacidade
de perdoar sempre. Mesmo que a pessoa a ser perdoada não o mereça segundo
nossos critérios. Mas perdoar para que eu experimente a recompensa da paz
interior. Logo, perdoar não significa esquecer, mas lembrar sem rancor, nem
raiva e muito menos ódio.
Sejam todos sempre muito abençoados.
Com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 2Sm
12,7-10.13; Sl 31(32); Gl 2,16.19-21 e Lc 7,36-50-8,1-3).