O primeiro bispo diocesano de Apucarana (PR), Dom Romeu Alberti,
nomeado por São Paulo VI em 22 de fevereiro de 1965, ainda em sessões do
Concílio Ecumênico Vaticano II, com apenas 38 anos de idade, rabiscava seu
plano diocesano de pastoral. Enquanto Padre Conciliar, não tinha como não
pensar no Diaconado Permanente e na importante participação dos Leigos na
evangelização da recém criada Diocese, que contava com um número de presbíteros
muito aquém das necessidades pastorais. Havia comunidades que passavam de um a
dois anos sem celebrar uma Santa Missa, por falta de padres. As distâncias e a
falta de locomoção, a não ser carroças, bois e cavalos, da Diocese praticamente,
toda ela rural, dificultava maior participação do povo. Mas o jovem e primeiro
Bispo Diocesano queria uma “Igreja Conciliar”, mesmo que alguns diocesanos, no
início, chamavam-na de “Igreja Circular”! Então Dom Romeu começou a formar
homens, líderes de Comunidades, para o Diaconado Permanente, já que para a
formação de um Sacerdote, demoraria em demasia para um Bispo tão afoito para
evangelizar o povo que lhe fora confiado em meio ao Concílio, ou melhor
dizendo, em seu último ano de trabalhos. O desafio da aplicabilidade de todas
as riquezas de uma Igreja arejada e bem mais configurada às primeiras
Comunidades descritas em Atos do Apóstolos, balançava o coração do generoso pastor,
não poucas vezes chamado de “Bom Romeu”!
A prioridade do Diaconado Permanente não descartava a preocupação
de Dom Romeu Alberti para com as Vocações Sacerdotais. Muito pelo contrário.
Sempre zelou de modo ímpar sobre a Liturgia, tanto que foi o Presidente da Comissão
para a Liturgia no CELAM (Conselho Episcopal Latino Americano), que traduziu o
Missal Romano para a língua espanhola, do qual Missal fui agraciado com um exemplar,
enquanto estudava em Bogotá na Colômbia, onde Dom Romeu era muito respeitado e
ainda mais amado.
Nas visitas pastorais, Dom Romeu percebia que o povo não fazia
ideia do que significava uma Diocese. Ele costumava chama-la de “Família
Diocesana”! Numa dessas visitas, depois de celebrar e jantar na casa de uma
família da Comunidade (sem padre), o senhor da família insistia que Dom Romeu pernoitasse
com eles, porque já era tarde e a estrada perigosa. Dom Romeu estava sozinho e
ele mesmo dirigia seu automóvel. Dom Romeu dizia que precisava voltar à cidade
porque a Diocese o aguardava. O pai de família com muita simplicidade disse: “Então
senhor Bispo, da próxima vez que o senhor vier celebrar para nós, traga a Dona
Diocese consigo, assim não viajará sozinho”!
Em outra visita a uma Comunidade também vacante de pároco, Dom
Romeu aceitou pernoitar na casa de uma família. Casa muito simples de madeira e
o banheiro ficava atrás da casa no quintal sobre uma fossa, em forma de uma
casinha, até meio parecida com um confessionário. Ao se aproximar do banheiro, o
jovem Bispo encontrou um corredor iluminado por seis castiçais, três de cada
lado da casinha. Ao contar sobre o episódio, ria muito e dizia, que se
apaixonava cada dia mais pelo povo tão puro e simples que Deus lhe confiara, a
fim de buscar sua própria santidade a partir da humildade!
Numa das primeiras procissões de Corpus Christi, que sairia de uma
Paróquia em direção à Catedral de Apucarana, Dom Romeu perguntou onde estava a
Custódia. Referia-se ao Ostensório para levar o Santíssimo Sacramento em procissão.
O motorista não teve dúvidas. Entrou no carro e foi em direção à Catedral
buscar a Irmã Custódia, que ensaiava o povo na porta da Catedral dizendo: “Dom
Romeu está lhe chamando. Disse que sem a senhora ele não sairia em procissão.
Falou que precisa da Custódia”! Nem me perguntem o que disse Dom Romeu, ao ver
a Irma Custódia ao invés do Ostensório, na já atrasada saída da procissão de
Corpus Christi daquele ano!
Tantas outras histórias recheadas de pureza, santidade e beleza
espiritual poderiam ser descritas, mas penso que já prestamos nossa homenagem
ao Bispo, que ao longo dos 17 anos de pastoreio, tornou Apucarana, a Diocese do
Diaconado Permanente do Brasil.
Pe.
Gilberto Kasper
Teólogo