MALANDRAGEM BRASILEIRA!
Pe.
Gilberto Kasper
Mestre
em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em
Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente no CEARP – Centro
de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Assistente Eclesiástico do Centro
do Professorado Católico, Assessor da Pastoral da Comunicação, Pároco da
Paróquia Santa Tereza de Ávila, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres
da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Na noite do último dia 9
de agosto, na Rodovia Anhanguera em Orlândia, conforme amplamente divulgado
pela Imprensa, aconteceu um acidente entre três caminhões, vitimando fatalmente
dois dos três motoristas. Houve incêndio depois de um dos caminhões explodirem.
No canteiro central mercadorias ficaram espalhadas. A Rodovia ficou interditada
por mais de oito horas. Já no dia seguinte várias pessoas, arriscando a própria
vida, atravessavam de um lado a outro da Rodovia para buscar aquela mercadoria
espalhada no canteiro central. Corriam para buscar pacotes de amaciante.
Certamente pensaram que uma vez extraviado o amaciante, já não mais pertencia
ao dono originário e se sentiram no direito de encher carrocerias de caminhonetas
e porta-malas de carros do produto espalhado após o sinistro.
A Polícia Rodoviária
afirmou em entrevista, que multaria somente os motoristas que estacionaram
irregularmente às margens da Rodovia e do canteiro central, sem aquela
necessária emergência. Afirmou ainda, que não lhe competia punir os transeuntes
que levaram os amaciantes lá espalhados. Eu, tampouco, pretendo emitir juízo de
valores. Penso que as pessoas que se beneficiam com acidentes alheios não
tiveram educação de berço, se encontram em situações desafiadoras de
sobrevivência ou continuam nossa já conhecida malandragem brasileira.
Ao assistir esse cenário,
lembrei-me de uma viagem que fiz de carona com uma Madre Religiosa na Alemanha,
em 1986. Durante a viagem por uma larga rodovia, ela me ofereceu um lanche, que
saboreei enquanto ela dirigia o automóvel. Depois de ter comido o lanche, abri
o vidro do carro e joguei a embalagem pela janela. A Freira nada me disse,
apenas olhou pelo retrovisor. Na primeira saída da rodovia ela retornou, sem nada
dizer. Voltou ao local onde eu jogara a embalagem do lanche; encostou o veículo
e descendo a recolheu numa sacolinha. Voltou ao volante e na primeira lixeira à
beira da rodovia, tornou a parar, desceu do carro e jogou a embalagem na
lixeira. Tudo isso, sem nada dizer. Só me olhava com um leve sorriso nos
lábios. Já eu fiquei vermelho de tanta vergonha. Ao pedir desculpas, ela me
respondeu que a natureza me agradeceria se eu tivesse aprendido a lição. Ao
tentar me explicar, ela mudou de assunto, concluindo que sou fruto de uma
cultura bem conhecida por ela, e que com o tempo eu poderia me libertar da malandragem
brasileira sem deixar de ser brasileiro. Concluímos a viagem com um novo aprendizado.
Em outra ocasião, a
propósito de multar ou não as pessoas, lembrei-me que certo dia, também na
década de 1985, atravessei uma faixa de pedestre em sinal vermelho.
Imediatamente o Guarda Municipal de Nuremberg, também na Alemanha, apitou e me pediu
documentos. Perguntei o que fizera de errado e ele me disse que atravessei a
Faixa de Pedestre, enquanto o sinal para mim estava vermelho. Retruquei de que
não vinha carro de nenhum lado e que a rua estava livre. Ele me disse que
precisaria me multar porque, mesmo a rua estando livre, a Faixa de Pedestre me
impedia de atravessar, por estar com sinal vermelho. Fui multado na época em 40
Marcos Alemães.
Como seria bom se
renovássemos nossa civilidade, deixando de lado a malandragem brasileira e nos
tornássemos mais humanos e Anjos uns para com os outros!