Padre
Gilberto Kasper é Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e
Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor
Universitário, Docente no CEARP – Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeirão
Preto, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Assessor da
Pastoral da Comunicação e Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da
Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. Contato: pe.kasper@gmail.com
“No vale das sombras, o mal é vão temer. Se
vos tenho a meu lado, por que desfalecer”? Esse verso era muito cantado nas
liturgias de uns anos passados e o salmista comprova a presença divina sempre a
socorrer o povo em situações delicadas e de extrema dificuldade. Essas sombras
e dificuldades parecem permanecer em nossos ambientes, principalmente na
política. Sombras de insegurança, violência, corrupção, desrespeito, falta de
educação.
Ao mesmo tempo precisamos constatar
que soluções mágicas não existem e que se queremos chegar a algum lugar
precisamos caminhar, nos desinstalar, nos desacomodar e colaborar para que
mudanças aconteçam. Bater panelas, fazer passeatas, podem ajudar se não ficar
só no oba-oba das ruas e passar da gritaria para um processo de assumir
responsabilidades comunitárias e sociais. Nossa cidade, nossa comunidade
dependem de nossa participação para crescer, se modernizar e se transformar em
casa de todos, mas, sem a colaboração de cada um, nada se transforma. Talvez
não tenhamos ainda atentado para o fato de que somos “seres políticos” e que a
não participação na política é uma omissão que interessa aos que fazem da
politicagem o seu meio de vida. Quando falo de política não me refiro à
política partidária e sim aos nossos esforços por empreender diversas maneiras
de construir cidadania e respeito aos seres humanos e fazer respeitar seus
direitos. Esse tipo de participação nos foi sugerido durante a Campanha da
Fraternidade a fim de que quanto mais soubermos e participarmos dos diversos conselhos
e também entidades, mais poderemos colaborar com políticas publicas que elevam
a qualidade de vida do nosso povo. Não
se trata de “pisar em ovos”, mas de levar “luz” para esses vales tenebrosos de
praticas políticas desastrosas para as cidades e para o país.
Quando o povo participa muitas
estruturas estremecem, pois o povo paga pela estrutura, por vezes ineficiente,
de certos setores governamentais. Por exemplo, gastamos demais com gabinetes
parlamentares e arcamos com o absurdo caos no sistema de saúde pública; bilhões
são gastos em propinas e desvios de verbas públicas, enquanto escolas e
professores não têm o mínimo necessário para formar os governantes de nosso
amanhã. Questionar essas situações não nos coloca contra esse ou aquele, querer
saber tais respostas nos põe a favor de nosso povo, da vida que
maravilhosamente insiste em viver.
É por isso que nosso Senhor nos
ensina a fazer sempre o bem, buscar a justiça do seu reino e viver na verdade
que liberta. Perseverar no bem e na verdade nos faz caminhar em meio a tantas
situações de escuridão e de incertezas. É certo que Deus caminha conosco, é
certo que a nossa responsabilidade é inquestionável e que os políticos não
podem receber de nós uma “carta branca” para fazer o que bem ou mal entendem.
Se não nos interessarmos mais pela política, os espertos vão continuar se
interessando.
Cuidemos de nossa “casa comum”, o
lugar em que vivemos, nossa cidade, nossa comunidade e da natureza que
generosamente proporciona o essencial para nosso viver. Não temos o que temer,
pois “o Senhor vai conosco. Seu amor nos sustenta” (cf. Sl 23).