Meus
queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Neste Oitavo Domingo do Tempo
Comum, que neste ano antecede o início da Quaresma, ainda no contexto das bem
aventuranças, o Senhor nos propõe romper com o culto ao dinheiro, que é uma
idolatria, e ter confiança em Deus Pai, sempre solícito amorosamente às nossas
necessidades e preocupações, para que, disponíveis, concentremos todas as
energias na busca de seu Reino.
Em quase todas as regiões do Brasil,
acontecem, nestes dias, as festas de carnaval que revela a carência de festa
que existe nas pessoas. Para nós, um convite a dar às nossas celebrações um
sabor pascal, um clima de festa, de convívio alegre de irmãos que, na liberdade
de filhos e filhas entram na intimidade amorosa do Pai.
Neste domingo, Jesus nos pede para
escolhermos entre os bens econômicos, o dinheiro e Deus. A nossa resposta
fundamental ao chamado de Deus é a confiança total no Pai. Viver a justiça do
reinado de Deus é deixar-se guiar pela palavra de Jesus. Ele não ensina uma
vida de “sombra e água fresca”, mas a
luta pela justiça, que é o bem para toda a humanidade e toda a criação.
A palavra de Jesus é muito atual
para esse tempo de desrespeito às matas, às águas, à natureza. Viver em concordância
com as regras naturais está mais de acordo com o projeto de Deus. O que a
ganância humana criou não se compara com a sabedoria da natureza, criada e
mantida por Deus.
Como mãe que jamais abandona seus
filhos, Deus acompanha, abençoa e ama seu povo que sofre debaixo da ganância
dos opressores. Sempre haverá uma saída, esperança de que a justiça reinará. A
construção de um mundo novo, de uma sociedade na qual existam menos
desigualdades é possível e o dia de amanhã não custará preocupações, mas haverá
possibilidades e alternativas de a humanidade se aproximar da vida sábia das
aves e dos lírios, mantendo confiança ilimitada em nosso Deus e Pai. A justiça
torna-se sinônimo de amor misericordioso, de solidariedade fraterna, de perdão
reconciliador, de igualdade respeitosa.
Quem vive calculando como ganhar e
enriquecer mais não pode viver confiante na generosidade e cuidado de Deus. A
confiança na providência divina não é alienante, mas libertadora e formadora de
uma solidariedade comprometida especialmente com os mais necessitados. Quanto
maior a confiança, maior a responsabilidade e o engajamento na luta contra o
consumismo, a submissão ao mercado e o endeusamento das coisas materiais.
O que sustenta nossa confiança é a
certeza da fidelidade de Deus à sua aliança.
Na próxima quarta-feira, iniciamos,
com a celebração de bênção e a imposição das cinzas, o santo tempo da Quaresma,
preparando-nos, mais intensamente, pela escuta da Palavra e prática da oração
para a celebração festiva da Páscoa (cf. SC, n. 109). A Campanha da
Fraternidade, que realizamos neste período, ilumina de modo particular os
gestos fundamentais desse tempo litúrgico: a oração, o jejum e a misericórdia.
Neste ano, o tema da Campanha é: “Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da
Vida” e o lema: “Cultivar e guardar a criação” (cf.
Gn 2,15).
Experimentamos a presença viva do
Senhor na reunião de irmãos e na Palavra proclamada, saciando nossa fome e sede
de justiça.
Nossa participação na Eucaristia
manifesta nossa confiança em estabelecer com o Pai uma aliança de amor e
compromisso, fazendo uma escolha irrestrita por seu Reino. A Eucaristia nos
impõe a opção radical por ele.
O Evangelho deste domingo é
belíssimo pelas duas comparações que o Senhor faz com a pessoa: os pássaros que não semeiam,
nem colhem nem ajuntam em armazéns. Mesmo assim o Pai os alimenta, gratuitamente;
os lírios que crescem no campo: não trabalham nem fiam, no entanto Deus
os veste, mais suntuosamente do que o rei Salomão, também gratuitamente. Assim nos
convida a renovarmos nossa maior confiança em Deus para nossas necessidades. Mas essa confiança implica num
exercício: buscar
em primeiro lugar o Reino de Deus! Todo resto Deus proverá!
O Reino de Deus é um Reino de Justiça, perdão, partilha e misericórdia! Muitas pessoas,
mesmo confiando em Deus, são privadas do necessário para uma vida digna! Alguém os
vitima a isso: o desemprego, a falta de moradia, a saúde em crise, a economia
avassaladora de impostos absurdos, a insensibilidade com os mais pobres, que
não poucas vezes são tratados como “coisinhas difíceis e feias de serem
ajudadas”.
O Papa Francisco, conforme José
Marins vem insistindo: “Temos que sair às
periferias. Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e manchada por sair à rua,
que uma Igreja doente por se fechar e pela comodidade de se agarrar às suas
próprias seguranças”. Uma Igreja
assim não confia em Deus, mas em si mesma apenas! “Não quero uma Igreja preocupada por ser o centro e que acaba
enclausurada num emaranhado de obsessões e procedimentos... Não podemos ficar
tranqüilos na espera dos nossos templos. Os Evangelhos convidam-nos sempre a
correr o risco do encontro com o rosto do outro”.
O Papa quer introduzir na Igreja o que ele chama “a
cultura do encontro” e “da proximidade”. Está convencido de
que “o que necessita hoje a Igreja é a
capacidade de curar as feridas e dar calor aos corações para ajudar-se
reciprocamente”. A meta da evangelização é o Reino, a vida plena de todos e
para todos!
Sejam todos muito abençoados. Com
ternura e gratidão, meu abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 49,14-15; Sl 61(62); 1 Cor 4,1-5 e Mt 6,24-34).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de
Fevereiro de 2017, pp. 79-81 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum
(Fevereiro de 2017), pp. 98-101.