Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia
Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário,
Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP,
Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja
Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do
Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.
A
Quaresma nos conclama ao perdão e à misericórdia em relação aos outros. Nem
sempre conseguimos perdoar. Alguns dizem que: "Perdoar é esquecer!".
Prefiro pensar que perdoar é lembrar sem rancor! Nem sempre é possível
esquecer, mas o perdão e a misericórdia são essenciais, se quisermos que os
exercícios quaresmais nos edifiquem e nos conduzam à verdadeira libertação que
a Páscoa do Senhor nos propõe. Um coração cheio de rancor, bolor, mágoas,
rusgas e incapacidade de perdoar, é um coração amargo e infeliz.
Na parábola do Pai Misericordioso,
temos além do mais novo, o filho mais velho. O Evangelho de São Lucas no
capítulo 15, versículos 25 a 32, descreve a dificuldade que o irmão mais velho
tem, de perdoar o mais novo. Sempre fez tudo certinho, foi o filho obediente e
o peralta agora é homenageado? Isso é inconcebível, quando não se conhece a
capacidade de perdoar e nem a misericórdia que Deus tem para com o pecador
arrependido.
Em nossa sociedade temos muitos
"irmãos mais velhos", incapazes de perdoar. Isso é muito comum nas
famílias, nas instituições eclesiais e políticas, quando selamos a testa das
pessoas, determinando-as "pecadoras". Esquecemos o que rezamos na
oração que o próprio Cristo nos ensinou: "... perdoai-nos assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido...". Se Deus ouvisse este pedido, estaríamos
perdidos. Há muitos entre nós, que se atribuem o direito de julgar, condenar e
determinar a sentença, como se não tivessem nenhum pecado. Tenho dó de quem é
assim! Quantos pecados mais "fedidos" tal pessoa não estará tentando
esconder atrás de quem foi descoberto? Ninguém é melhor do que ninguém. Só Deus
não decepciona, já que não existe criatura humana sem defeitos, erros,
deslizes, enfim pecados a serem perdoados.
O Evangelho de São João, capítulo 8,
versículos 1 a 11 narra o episódio da mulher surpreendida em adultério. Os
mesmos "prostitutos" que utilizaram de seus serviços pedem sua
condenação. Quiseram colocar Jesus numa armadilha. Armadilhas semelhantes às que
nós tramamos uns contra os outros, sobretudo quando a inveja nos aguça por
dentro, para "tirar de campo" ou "puxar o tapete" de quem
nos faz sombra e aparece mais do que nós.
"Quem dentre vós não tiver pecado
seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra" (Jo 8, 7). Penso que o jeito é
mesmo responder aos apelos da Quaresma, para celebrarmos uma Páscoa verdadeira:
sejamos os protagonistas do perdão e da misericórdia de Deus! É preferível
enganar-se por perdoar e exercer a misericórdia, do que acertar por uma justiça
despida de amor!
Com a Beata Madre Teresa de Calcutá
podemos concluir: “Devemos amar a pessoa boa, porque merece e a pessoa má,
porque precisa de nosso amor”!