Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Seduziste-me,
Senhor, e deixei-me seduzir;
foste mais forte, tiveste mais poder...” (Jr 29,7ª).
O Vigésimo-Segundo Domingo do Tempo Comum, último do Mês Vocacional, reflete, contempla e
agradece a Vocação dos Ministérios e Serviços não
ordenados, especialmente os Catequistas,
que tanto enriquecem a Igreja de Jesus Cristo, sempre ministerial, discípula e missionária!
“Não é fácil
renunciar a bens e privilégios, mas é fundamental abandonar maneiras velhas de
pensar e agir, para poder seguir o evangelho. Convocados a esse seguimento,
celebramos a páscoa de Jesus, a qual se manifesta em todos os que perdem a vida
por amor ao reino. Celebremos em comunhão com os vocacionados aos vários ministérios e serviços, com atenção especial aos catequistas.
A palavra de Deus cativa e
compromete as pessoas. Quem busca assumir o projeto de Jesus experimenta
pessoalmente a verdade de que os sistemas do mundo não combinam com o evangelho
de Jesus Cristo.
A palavra de Deus nos seduz e nos
compromete com seu projeto. O seguimento de Jesus exige renúncia e
comprometimento. O verdadeiro culto que agrada a Deus é fazer sua vontade.
‘Ó Deus do universo, reunidos em
vosso nome, refletimos e rezamos como irmãos e irmãs. Vossa palavra é exigente;
para seguir vosso Filho, Jesus, ela nos diz que devemos renunciar a tudo o que
não condiz com seu projeto e tomar a cruz de cada dia. Ajudai-nos a ser fortes
diante das exigências e das dificuldades para não esmorecermos no caminho.’” (cf. Liturgia Diária de Agosto de 2014 da Paulus, pp. 99-101).
Nós podemos desconfiar de uma Igreja que não conhece o
martírio. Por quê? Porque o caminho dos cristãos não é diferente do caminho de
Jesus. É feito de incertezas, mas também de coragem e esperanças; de lutas, mas
também de vitórias; de cruz, mas também de ressurreição e vida; de
não-conformismo, mas também de compromisso com o projeto de Deus. Disso nos
falam Jeremias, Jesus e Paulo. Pedro, no evangelho deste domingo, representa o
medo que temos das consequências do cristianismo que enfrenta as forças
contrárias à vida; Jeremias é a voz dos que sofrem fortemente os apelos da
Palavra irresistível; Jesus nos mostra o caminho da vitória; Paulo nos fala do
verdadeiro culto agradável a Deus. A Palavra deste domingo, em síntese, nos
encoraja no testemunho cristão, evitando que a mediocridade nos conduza a um
beco sem saída.
Todos nós, como Jeremias e como Pedro, passamos pela
tentação de querer apossar-nos apenas do aspecto glorioso do mistério pascal,
negando sua dimensão de renúncia à própria vida. A tentação do ser humano
moderno é a realização humana através das próprias forças. Esquece-se de que a
pessoa humana transcende-se a si mesma a partir de Deus. É só perdendo-se a si
mesmo pela doação da própria vida ao próximo por causa de Cristo que ele se
realiza de verdade.
O destino do cristão, discípulo de Jesus, não pode ser
diferente do destino do mestre. O evangelho deste domingo é claro: ‘Para
estar com ele são exigidas duas condições: Renunciar a
si mesmo é deixar de lado toda ambição
pessoal. Em outros termos, temos aqui a repetição da primeira
bem-aventurança: ser pobre (cf. Mt 5,3). Carregar a própria cruz é enfrentar, com as mesmas disposições de Jesus, o
sofrimento, perseguição e morte por causa da justiça que provoca o surgimento
do Reino... É a última bem-aventurança, a dos perseguidos por causa da
justiça (cf. Mt 5,11). Ser discípulo de Jesus, portanto, é reviver a
síntese das bem-aventuranças.
A lição que Pedro recebe ensina-nos a olhar para Cristo,
para ver nele a lógica de Deus; a olhar para os pobres, para ver neles o
resultado da estratégia do Adversário... Pois o sucesso e a ganância produzem
os porões de miséria. Devemos analisar o sistema de Deus e o sistema do
Adversário hoje. O sistema de Deus proíbe ao homem dominar seu irmão, porque
Deus é o único dono; os sistemas contrários
são baseados na dominação do homem pelo homem. Quem quiser ser mensageiro do
Reino de Deus experimentará na pele a incompatibilidade com os sistemas deste
mundo. O mensageiro de Deus, seguidor de Jesus, será rejeitado pela sociedade
como corpo
alheio. Tomando consciência disso, vamos rever nossa escala de
valores e critérios de decisão. A mania do sucesso, o prazer de dominar, de
aparecer, de mandar... já não valem. Vale agora o amor fiel, que assume a cruz,
até o fim (cf. Homilias
do Papa Francisco em sua Visita Pastoral à Coréia do Sul em 16 e 17 de agosto
de 2014).
Embora muitas pessoas não gostem de pensar e muito menos
de falar no assunto, procuro sempre imaginar-me, quando vou a algum velório, no
lugar daquela pessoa confinada num pedaço de madeira: “E se fosse eu que estivesse no lugar da
pessoa falecida? Estaria preparado para encontrar-me diante de Deus? E como
estaria? De mãos cheias ou vazias de boas obras e gestos de caridade? Renunciar a própria vida e consumir-se
pelo anúncio do Reino de Deus é parecer como uma vela de cera, que quanto mais
se derrete, maior e mais bela é a chama que ilumina e encanta o olhar de quem a
contempla. Temos deixado o fogo abrasador de o Espírito Santo acender-nos como
velas, luzes que iluminem e encantem a vida de nossos irmãos?
É gratificante e enriquecedor a presença de tantos Leigos e Leigas, comprometidos com a
dinâmica pastoral que edifica nossas Comunidades de Fé, Oração e Amor. Somos
profundamente agradecidos a todos eles.
A Palavra nos convida à docilidade daquilo que o Mestre
espera de cada um: tanto dos ministros ordenados, como daqueles que não são ordenados,
mas também Sacerdotes,
por conta do Batismo que os adotou como herdeiros da Vocação
ao Amor!
Consigamos
transformar em nossa vida pessoal e também pastoral: O
Poder em Serviço; Os Bens (materiais e intelectuais) em Partilha; O
Prestígio em Humildade,
buscando viver nosso ministério, configurados com o Mestre, a partir da Conversão, Coerência
e Bom Senso sempre mais conscientes!
Superemos os “Pecados Paroquiais: Saudosismo, Milindrismo e Estrelismo”,
abrindo-nos ao diferente, ao novo, como tanto nos sugere e pede nosso Projeto Missionário SIM
– Ser Igreja em Missão,
juntamente ao nosso Plano Arquidiocesano de Pastoral, e não por último os tão claros e insistentes apelos do
Santo Padre o Papa Francisco!
Ainda tem-se a sensação clara, de que tais apelos do Papa ainda
não chegaram às bases de nossas Comunidades. Sua insistência numa Igreja mais simples, mais
pobre, menos hipócrita e descomplicada, ao invés ainda
demonstra muitas ostentações, arrogâncias, abusos de poder sejam eles
eclesiais, políticos e comunitários. Não sei se o Papa ficaria feliz ao saber
de nossas relações inter-eclesiais, entre pastores e rebanho. Ainda há muitos
que surram suas ovelhas sem a tão insistente Igreja da Misericórdia sonhada pelo
Papa. Outro fator muito evidente e feio é a desobediência reinante entre nós. Descuidar das orientações do Papa, reiteradas pelos Bispos e
Superiores é mera hipocrisia. Quem sabe assumir nossa cruz, renunciar a nós
mesmo, não seria uma conversão para valer, como lemos tão claramente no Documento nº 100 da CNBB: Comunidade de Comunidades:
Uma Nova Paróquia – A Conversão Pastoral da Paróquia?
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler Jr 20,7-9; Sl
62(63); Rm 12,1-2 e Mt 16,21-27).