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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

FRASQUEIRA DE PARTEIRA!

FRASQUEIRA DE PARTEIRA!

Iluminado por uma colocação de Dom Angélico Sândalo Bernardino, gosto de comparar nossa existência a três partos. O primeiro parto é quando nascemos do útero materno. Nenhuma criança quer nascer. Mas ao nono mês não tem jeito, ela precisa nascer. Partir do útero da mãe, onde se sente segura, aconchegada e amada, especialmente quando planejada e desejada.

Eu nunca acreditei em cegonha. Mas acreditava em frasqueira de parteira. No bairro Liberdade na cidade de Novo Hamburgo (RS) onde cresci, havia uma parteira, a Dona Avelina. Ela levava consigo uma frasqueira. E de onde saída com sua frasqueira, nascia uma criança. Minha dedução: Dona Avelina levava as crianças às mães em sua frasqueira. Quando nasceu minha prima, lembro-me como se fosse ontem, a Dona Avelina deixou sua frasqueira sobre uma coluna na entrada da casa de minha avó e a chamou para o nascimento da criança. Até me aproximei, coloquei meu ouvido sobre a frasqueira para tentar ouvir algum balbuciar do bebê. Ainda não havia ultrassom e não se sabia o sexo da criança que estava por nascer. Num quarto escuro, junto à parturiente, somente as avós com a parteira participavam do parto. Os demais esperavam na sala da casa. A criança nem chorava. Mas a parteira lhe dava um tapinha na bunda, para constatar que nascera viva. Quando então a criança começava a chorar, todos na sala comemoravam a nova vida que acabara de nascer. E eu tinha convicção de que minha prima fora levada na frasqueira da parteira. Já hoje as crianças nascem chorando de susto da forte iluminação e dos obstetras e enfermeiras com máscaras nas sofisticadas maternidades.

Nosso segundo parto é quando nascemos do útero da Igreja, a Pia ou Bacia Batismal. Neste primeiro Sacramento da Iniciação Cristã, somos adotados como filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo e nos tornamos seres divinizados, isto é, candidatos à santidade. Sim, porque santo é todo aquele que morrendo vê Deus como Ele é.

O terceiro e definitivo parto será quando nosso nome ecoar na eternidade e partirmos do útero da terra (vida terrena) à eternidade. É um parto dolorido aos que ficam e entregam a quem de direito, pessoas que amam, o próprio Criador. Este parto chamado de morte dói demais, mas é imprescindível para irmos diante de Deus que nos amou primeiro e nos quer em seu colo, acariciados por Nossa Senhora. Só o tempo ameniza a dor dos que devolvem a Deus seus entes queridos, que na gestação do útero da terra se lhes foram emprestados por algum tempo: para alguns mais e para outros menos! O importante é estarmos preparados para que o terceiro e definitivo parto seja o mais natural possível. E o que nos prepara para aquele derradeiro momento é amor que amamos!

Retomo essa narração, para demonstrar minha indignação em relação aos que tentam trocar de lugar com o Criador, autodenominando-se “deuses” sobre a vida dos seres humanos, ainda indefesos, que nem mesmo um “ai” podem gritar ao serem abortados. Como é possível aceitar que uma pessoa humana, ainda em gestação, à décima-segunda semana, não é gente e não tem seu direito de nascer preservado?

Uma amiga, grande evangelizadora e testemunha fiel do amor de Deus na vida dos seres humanos, contou-me que certa vez uma moça, mãe de um adolescente de quinze anos de idade, apareceu diante dela reclamando estar grávida por acidente. Entregou-se a um rapaz para um ato sexual, sem amor. Aos gritos essa moça teria dito que abortaria a criança, porque o filho adolescente já lhe dava muito trabalho e lhe custava caro demais.

Minha amiga então ofereceu o revólver do marido à moça em prantos e lhe sugeriu que, ao invés de abortar a nova vida, ainda em seu útero, fosse para casa e desse um tiro certeiro no filho adolescente. A moça reagiu e chamou minha amiga de louca. “Louca é você”, respondeu. “Seu filho de quinze anos já aproveitou muito a vida com viagens e bem-estar que você lhe proporcionou. Já a vida que você leva em seu útero, poderá ser uma pessoa que salve a humanidade”! E a moça desistiu de abortar.

Nenhum cristão tem o direito de abreviar a vida de quem quer que seja. Muito menos uma mãe tem o direito de matar seu próprio filho, abortando-o. Quem é a favor do aborto, deve assumir sua excomunhão da Igreja de Jesus Cristo. Pare de se denominar cristão. Se a mulher é livre para decidir sobre seu corpo, jamais será livre para impedir a vida que traz em seu seio, cujos direitos de viver não são diferentes, como alguns pecaminosamente alardeiam.



Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

OS ÓCULOS DE DEUS!

 OS ÓCULOS DE DEUS!

Ao ler a última Carta Encíclica do Santo Padre Francisco, Dilexit nos – Ele nos amou, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus, lembrei-me de uma estorinha que ouvi ao participar de um curso para formadores de seminários, em Vitória (ES), no ano de 1996, que gostaria novamente de partilhar com os estimados leitores. Quem a contou foi Gaston de Mezerville, psicólogo especializado na formação de formadores de seminários. Livremente a traduzo para nossa reflexão, do espanhol para o português.

Numa pequena cidade, certa vez morreu um agiota. Foi para o céu. Estando diante da porta entreaberta do céu, nem ele acreditou poder estar ali. A porta do céu estava entreaberta, mas não havia ninguém para recebê-lo. Nem mesmo São Pedro, a quem costumamos atribuir a tarefa de acolher as pessoas na porta do céu. Não havia ninguém e não se ouvia nada. Nenhum barulho de anjos, santos, enfim, o céu estava vazio, embora com a porta entreaberta. O agiota entrou. Entrou e sentiu-se como nunca: leveza de alma, serenidade e harmonia indescritíveis. Foi adentrando e conhecendo cada cômodo do céu, mas não via ninguém. Um profundo silêncio pairava no céu.

Chegou diante de outra grande porta, sobre a qual havia um letreiro: Escritório de Deus! Também aquela porta estava entreaberta, mas não havia ninguém. O agiota entrou. Viu uma mesa, atrás dela uma grande cadeira, diante da mesa um banquinho e sobre a mesa os Óculos de Deus!

Imediatamente colocou os Óculos de Deus e passou a ver tudo como Deus certamente vê: o universo inteiro de uma só vez. Minuciosamente procurou sua cidadezinha. Lá viu seu sócio de agiotagem ameaçando uma pobre viúva que não tinha como lhe pagar os altos juros do empréstimo que fizera. Com os Óculos de Deus viu a injustiça que o sócio cometia. Não pensou duas vezes em fazer justiça para com a pobre viúva. Tomou o banquinho diante da mesa, mirou a testa do sócio e a jogou em sua direção. O sócio teve morte instantânea. Feito isso, ouviu barulho de anjos, santos, até de Nossa Senhora no céu. Era toda a corte retornando de um piquenique celestial. Virando-se, viu também Deus, parado na entrada do escritório. Colocou de volta os Óculos de Deus, desculpou-se e tentou justificar sua entrada no céu, porque encontrara a porta entreaberta.

Deus lhe perguntou o que acabara de fazer. O agiota, todo orgulhoso, contou a Deus o que vira com os óculos sobre a mesa e que fizera justiça com uma pobre viúva, que estava sendo ameaçada por seu sócio. E Deus começou a chorar. O agiota, comovido disse: “Por que o Senhor chora? Não agi corretamente fazendo justiça?” E Deus respondeu entre lágrimas: “Que pena, meu filho. Você fez sim justiça com os Óculos de Deus. Mas o que eu esperava mesmo, é que amasse e tivesse misericórdia com o Coração de Deus”!

Eis o que Deus espera de nós: promover a justiça com Seus olhos, mas sem deixar de amar e ser misericordiosos com o Seu coração!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo




sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A SANTO ANTONINHO AGRADECE (II)!

 

A SANTO ANTONINHO AGRADECE (II)!

 


No final de 2023, o CONPPAC (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto), por iniciativa e esmerado empenho de seu Presidente, Dr. Lucas Gabriel Pereira, autorizou três importantes intervenções de preservação e restauro da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres, nossa amada Santo Antoninho: o reforço estrutural das duas colunas que separam o Presbitério da Nave Central, pesando dez toneladas cada uma delas; a rampa de acessibilidade com um segundo portão de entrada e corrimão, que facilita o acesso de nossos fiéis com maiores dificuldades físicas; o completo conserto do telhado e nem por último a humanização da pequena sacristia, removendo infiltrações com mofos e pintando-a provisoriamente.

É hora de agradecer. E a Santo Antoninho agradece ao Engº José Roberto Hortêncio Romero, que se responsabilizou com o restauro do Templo, o Arquiteto Anderson Abe, que não mediu esforços para elaborar os projetos e demais documentos históricos e técnicos exigidos pelo CONPPAC. O Anderson e o José Romero se dedicaram até aqui, gratuitamente, sem cobrar nenhum centavo pelos serviços prestados. Além disso, o José Romero formou alguns grupos de “Amigos da Santo Antoninho” que de alguma maneira, doaram suas mãos-de-obra, material e diversas promoções de arrecadações necessárias, para que pudéssemos concluir as etapas autorizadas pelo CONPPAC, sem nada dever a ninguém, sem precisar recorrer, financeiramente, à Cúria Metropolitana, e ainda termos o necessário para a reforma do telhado, a reforma e pintura externa da Igreja e nem por último, iniciarmos a pintura interna, tão logo aprovados os projetos de prospecção elaborados com afinco por nosso Arquiteto Anderson Abe.

Dos grupos de “Amigos da Santo Antoninho”, alguns nos deixaram, mas grande parte deles continua perseverante e fiel ao que se propuseram. Não me compete, e nem seria ético mencionar nomes dos que desistiram, dos que divulgaram Fake News, de que a Igreja Santo Antoninho havia ruído, estava abandonada, condenada e fechada para as celebrações. Realmente ela, a Santo Antoninho ficou bastante isolada devido às demolições da também tombada ex-academia ribeirão-pretana de letras jurídicas e dos dois imóveis que ficavam à direita do Templo. O cenário é deprimente. Porém a Igreja Santo Antoninho nunca ficou abandonada, não obstante roubada 37 vezes ao longo dos quase 16 anos em que lá me encontro. Além dos investimentos de mais de 50 mil reais em segurança, como Internet, Monitoramento diuturno, Câmeras, Alarmes, Concertinas e Cercas Elétricas e mais de 80 mil reais nas obras já concluídas de restauro, as atividades religiosas continuam sendo realizadas e nunca cessaram, como a Santa Missa Dominical às 9 horas, o Estudo Bíblico, a Formação Litúrgica e outras atividades possíveis, uma vez que também, os arredores da Igrejinha, como o Bairro inteiro dos Campos Elíseos tornou-se muito vulnerável e perigoso nesses últimos anos. Um abandono visível, sem falar de que não podemos mais estacionar diante da Igreja, ou seja, ao longo da Avenida Saudade inteira.

A Santo Antoninho agradece a todas as pessoas, que de alguma maneira colaboraram e continuam colaborando com sua preservação e restauro, por meio do Engº José Roberto Hortêncio Romero, o Engenheiro Responsável, o Arquiteto Anderson Abe, responsável pelos Projetos exigidos pelo CONPPAC, os Senhores Ítalo Delarcina Júnior, Darci Faustino e os Engenheiros Hélio da Silveira e Marcelo por tanto que realizam em favor das obras. Agradece ao querido amigo Antônio Carlos Hortêncio Romero, pela doação do Fusca 1977 leiloado no Jantar Beneficente no dia 30 de outubro passado, por seu sobrinho, o Luciano Romero, que cedeu seu Restaurante para a realização do mesmo Jantar, por todos que se dignaram a participar do evento. A Santo Antoninho agradece ainda, especialmente, a Carla e o Eduardo Marcondes da Neomix pela organização das reuniões e também do Jantar. Finalmente, a Santo Antoninho agradece aos que a divulgam com apreço e sem fins lucrativos: o Jarnei César Capareli e o Amir Calil Dib em seus Canais de Comunicação! Sejam todos, grandemente abençoados pela intercessão de Santo Antônio, Pão dos Pobres. Nós os aguardamos para participarem de nossas celebrações todos os domingos às 9 horas, na Avenida Saudade, 202 nos Campos Elíseos em Ribeirão Preto.

   

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A SANTO ANTONINHO AGRADECE (I)!

 A SANTO ANTONINHO AGRADECE (I)!


No dia 30 de outubro passado aconteceu um Jantar Beneficente em prol da restauração da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres, carinhosamente chamada de Santo Antoninho. É a Igreja mais antiga em pé de Ribeirão Preto, tendo sua pedra fundamental plantada em agosto de 1892, aberta para o povo de Ribeirão Preto, em maio de 1903. Capela particular da Família Proença da Fonseca, as queridas Irmãs Portuguesas, que ao lado da Igrejinha mantinham sua residência, como a “Casa da Amizade”, foi doada através de Inventário à Arquidiocese de Ribeirão Preto, em 1989. A Igreja, além de acolher os Padres Scalabrinianos e os Monges Beneditinos Olivetanos por muitos anos, teve a assistência religiosa, espiritual e pastoral do Padre Euclides Carneiro, do Monsenhor João Laureano e do Cônego Arnaldo Álvaro Padovani, este último por mais de 40 anos. Em 17 de abril de 2008, o então Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, Dom Joviano de Lima Júnior, nomeou Padre Gilberto Kasper, como Reitor daquela Igrejinha, pedindo-lhe que, além de restaurá-la, a transformasse num Espaço Cultural de Espiritualidade.

Chegamos a realizar inúmeros eventos culturais e espirituais, como Concertos de Natal com vários Corais da Cidade e Região de Ribeirão Preto, Exposições de Fotografias, Concertos de Acordeom, Formações com a Pastoral da Pessoa Idosa, Estudos Bíblicos, Formação Litúrgica, Catequese Batismal, entre tantos outros eventos. Desde que lá chegamos, no dia 20 de abril de 2008, a Santo Antoninho nunca ficou sem a Celebração Eucarística, dominical e semanal. As Missas durante a semana passaram a ser celebradas nas residências dos fiéis afetiva ou efetivamente ligados ao Templo. É um projeto missionário da “Igreja do Ir para quem já não pode mais vir”, uma vez que a média de idade das pessoas nesses quase 16 anos, passou dos 90 anos. Muitos já não conseguem mais participar na Igreja, pela idade, limites físicos e mais de 600 pessoas faleceram nesse tempo. Por isso agendamos as Missas Semanais nas residências das pessoas que o desejam. Celebramos mais de 250 Missas por ano nas casas, com a presença dos enfermos, idosos seus familiares, amigos e vizinhos.

Desde que chegamos, percebemos grande interesse de “reformar” a Igreja. A última reforma acontecera em 1995, quando o então Arcebispo Metropolitano, Dom Arnaldo Ribeiro, nomeou o Cônego Arnaldo Álvaro Padovani Reitor da mesma, durante a celebração dos 800 anos do nascimento de Santo Antônio de Pádua. Por isso passou-se a chamar a Santo Antoninho de Reitoria. Porém, em dezembro de 2009, fomos informados por acaso, (porque nunca recebemos uma notificação oficial) do tombamento do Conjunto da Igreja, Casa da Amizade (onde estava instalada a Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas, incendiada em 7 de setembro de 2019 e totalmente demolida em 2022) e o Mosteirinho atrás da Igreja, pelo CONPPAC (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto). O então Vereador Rodrigo Simões, amigo pessoal e da Santo Antoninho, nos apresentou à Presidente do CONPPAC na época, Dra. Cláudia Morroni a fim de obtermos a autorização para a restauração do Templo. Pasmem! Iniciava-se um “Calvário” de 15 anos de “Idas e Vindas”, reuniões intermináveis, quando não desmarcadas, visitas dos Membros do CONPPAC, até mesmo da então Secretária da Cultura, Adriana Silva, que em coro afirmavam de que o restauro teria de ser no conjunto e não da Igreja isoladamente. Em 2012, quando a Profª Dulce Palladini foi a Presidente do CONPPAC, adjudicada dos dois outros imóveis, conseguimos a Escritura da Igreja para a Arquidiocese de Ribeirão Preto, pensando que finalmente aceitariam os inúmeros projetos de restauro apresentados ao CONPPAC para sua restauração, projetos esses elaborados pelos alunos da própria então Presidente Profª Dulce Palladini. Depois de cinco anos e meio, o que conseguimos, foi a autorização para a construção de dois banheiros e a instalação de água e esgoto.

Graças ao Dr. Lucas Gabriel Pereira, enquanto Presidente do CONPPAC, o Engº José Roberto Hortêncio Romero, responsável pelo Restauro, cujos Projetos aprovados do Arquiteto Anderson Abe, obtivemos a autorização para iniciarmos as obras de preservação e restauro de nossa amada Santo Antoninho, Pão dos Pobres, por etapas que respeitem as normas próprias dos técnicos do Conselho.

(Na próxima edição continuaremos o presente artigo)

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo