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terça-feira, 31 de dezembro de 2024

VIVAMOS O DIA MUNDIAL DA PAZ COM ESPERANÇA!

 

VIVAMOS O DIA MUNDIAL DA PAZ COM ESPERANÇA!

 

A vida pode ser uma sucessão de coincidências felizes, de encontros prazerosos, de união entre as pessoas. Mas nem sempre é isso o que vemos ao nosso redor. Na correria diária, são muitos os “ruídos” que tiram o nosso sossego e atrapalham a nossa convivência.

          Por vezes nos tornamos porta-vozes da difamação ao invés de instrumentos da Paz. Como então celebramos no último final de semana a Festa da Sagrada Família, Jesus, Maria e José, se desfiguramos nossas próprias famílias por causa de ideologias tantas vezes nefastas? E a Oitava de Natal que celebra a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, juntamente com o Dia Mundial da Paz no primeiro dia do Novo Ano? Que tipo de paz promovemos entre nós? A paz de cemitério, que nos silencia por medo de criarmos “encrencas”, ou a verdadeira paz trazida desde a manjedoura que tanto decantamos no recente Natal celebrado? Essa última exige de nós posturas e respostas proféticas de amor, verdade, justiça e liberdade em todos os sentidos. Não somente naquilo que nos convém! Celebrando o Jubileu Ordinário do Nascimento do Salvador, o convite é de que sejamos “Peregrinos de Esperança” e, portanto, vivamos o dia mundial da paz com esperança!

          Na era da Internet, toda e qualquer mensagem se propaga num piscar de olhos. Fatos que ocorrem num canto do planeta atravessam fronteiras, chegando a outras cidades, outros países e continentes com a rapidez de um clique. Alimentadas pela fofoca, histórias que envolvem a intimidade das pessoas tomam proporções inimagináveis e invadem nossos lares como se fossem verdades absolutas. E essas histórias fomentam antipatias, preconceitos e desprezo.

          Outro agente semeador de discórdia é a necessidade que alguns têm de impor suas idéias e sua maneira de ser. Parecem querer provar a si mesmos que são superiores aos outros. Muitas pessoas gostam de recitar a Oração de São Francisco, como um poema em homenagem à Paz. É fundamental que todos compreendam que a construção desta Paz, em nível mundial ou dentro de casa, depende de cada um de nós. Depende de uma mudança de conduta pessoal. Nas palavras de São João Paulo II num discurso que fez em Assis, a Paz é descrita como um canteiro de obras aberto a todos: “A paz é uma responsabilidade universal: passa através de milhares de pequenos atos da vida cotidiana. Por seu modo cotidiano de viver com os outros, as pessoas optam pela Paz ou a descartam”.

          Sempre que deparamos com a tentação da discórdia, é bom lembrar o exemplo da Família de Nazaré. Foram muitas as apreensões vividas por Maria, José e o Menino Jesus enquanto buscavam um lugar seguro para morar, mas em nenhum momento perderam o sentido da união. Mantiveram-se juntos para o que desse e viesse.

          Assim também deve ser a nossa vida. Não podemos nos perder uns dos outros. E, mais importante ainda, não podemos nos perder de Deus, que é a fonte de toda união. Não nos afastemos de sua Palavra em nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. A fé em Deus nos ensina a contribuir para a união entre os seres humanos.

          Esse discernimento nos leva a refletir antes de realizarmos toda e qualquer ação. A reflexão é o exercício dos sábios. Quando desenvolvemos o hábito de refletir, conseguimos criar um equilíbrio entre razão e emoção, atuando com mais cordialidade e gentileza. Nossas palavras serão mais adequadas, nossas conversas mais oportunas e positivas. Nossas decisões serão mais justas. Nosso comportamento dará aos outros a certeza de que somos, de verdade, protagonistas da paz que vem do Salvador, nascido entre nós há 2024 anos, convidando-nos a viver e conviver esse grande Jubileu Ordinário, como verdadeiros “Peregrinos de Esperança”!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

NATAL DA SINODALIDADE COM SABOR DE JUBILEU

 NATAL DA SINODALIDADE COM SABOR DE JUBILEU!


O Natal é a celebração de Deus que, em Jesus Menino, assume a fragilidade humana. A pessoa humana, tão sensível e pequena, se torna roupagem da manifestação de Deus. Desce o divino que eleva o humano.



 O Natal manifesta a determinação de Deus em querer encontrar-se conosco, propondo uma forma de acolher e cuidar de cada pessoa em sua peculiar dignidade. Torna-se por isso visível e palpável! O Natal é a “Sinodalidade” pura, porque o Senhor da Vida vem para “Caminhar Junto” de seu povo Há 2024 anos; daí a celebração do Jubileu dos 2025 anos de Jesus Cristo! Caminhemos juntos na comunhão, participação e missão sempre!


 Natal é comunhão! Deus não desiste dos homens e por isso sempre encontra meios de bater a nossa porta. “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa” (Ap 3,21). Em tempos de insegurança temos medo de abrir as portas e isto pode impedir de acolher o Senhor que quer habitar em nossa casa, fazer refeição conosco e oferecer a salvação. São tantas as batidas em nossas portas: telefonemas, e-mails, mensagens de Whats App, carteiros trazendo cartões, vendedores… abrir a porta requer atitudes de discernimento, comunhão e hospitalidade.


 Natal é participação! Deus, para realizar o seu projeto de amor, recebeu a acolhida de Maria. Inicia um diálogo com ela que termina com as palavras de Maria “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). A participação requer escuta, argumentação, proposição e respeito entre os dialogantes. A participação possibilita conhecer as pessoas e criar laços de solidariedade e amizade. O contrário da participação são os fundamentalismos. Que aprendamos a participar com os planos de Deus e das pessoas.


 Natal é missão! Todas as criaturas necessitam de cuidado. O ser humano com a sua criatividade e inteligência tem uma imensa capacidade de desenvolver meios de cuidado e de destruição. Ao mesmo tempo em que assistimos imensos avanços na medicina para cuidar da vida, assistimos o desenvolvimento de tecnologias que geram a morte. “Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa” (Mt 1,24). Deus restabelece a confiança de José em Maria e ele passa a cuidar de Maria e de Jesus. Cuidar uns dos outros é nossa missão diante de Deus.


          “Encontrarão um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Os pastores, em sua simplicidade, acolheram a mensagem do anjo e foram ao encontro do Deus Menino, deitado na manjedoura. Só o encontraram por que abriram a porta da sua vida e assim estabeleceram um diálogo.


O Natal é a “Sinodalidade” concreta, porque o Senhor da Vida vem para “Caminhar Junto” de seu povo há 2024 anos! Caminhemos juntos na comunhão, participação e missão em mais este aniversário de Jesus com sabor de Jubileu!


Feliz, santo e abençoado Natal repleto de toda minha ternura!


Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

ADVENTO: TEMPO DE MUITA LUZ!

 ADVENTO: TEMPO DE MUITA LUZ!


Aproxima-se o Natal e vimos muita luz. São luzes enfeitando Árvores de Natal, Presépios, Praças, Ruas e Shopping Centers. Milhares de luzinhas piscando para alegrar os corações humanos e aquecer a “Cultura do Consumo”. Há mais Papai Noel do que a Imagem do Aniversariante verdadeiro: o Menino Jesus. Esse sempre aparece ofuscado num presépio, quando montado. Fica escondido entre imagens de animais e arranjos, os mais diversificados. 

 A luz veio ao mundo e os homens preferiram as trevas à luz. Porque suas obras eram más. De fato, quem faz o mal odeia a luz e dela não se aproxima, para que suas obras não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz para que transpareça que suas obras são feitas em Deus.

 O mentiroso é escravo da trama que tem de armar e manter para conservar a aparência de verdade em sua vida. O homem amigo da verdade nada tem a temer. Ela liberta o espírito, deixa-o livre em si mesmo e em relação a todos.

 Verdade e mentira significam no Evangelho de São João o modo de viver conforme ou desconforme a vontade de Deus. Realizar a verdade é agir sincera, fiel e honestamente diante de Deus, diante dos irmãos e diante da própria consciência.

 O amor à verdade facilita o desenvolvimento de todas as nossas capacidades, pois caminha sem obstáculos. O espírito fingido e enganador vive em sobressalto, armado, temeroso e desconfiado, preso a tudo o que o obriga a reter sua posição como verdadeira.

 Nenhum ser humano sobre a face da terra tem toda a verdade. Cada um de nós tem apenas uma pequena parte dela; mas se estivermos dispostos a compartilhar nossos fragmentos, nossos pedacinhos da verdade, teremos todos uma parte muito maior, muito mais completa da realidade total.

 A verdade é ter a luz de Deus em nossa mente e em nosso coração iluminando nossas vidas, e, indicando caminhos de entendimento para todos.

 A figura de Maria do Advento nos ajuda a encontrarmos a verdade, que é Jesus feito meigo Menino reclinado numa manjedoura. A gravidez de Maria nos convida a engravidarmo-nos também do Senhor, tornando-nos seu porta-jóias. Deixemo-nos iluminar porque o Advento é Tempo de Muita Luz!

  No domingo passado, o Gaudete, Domingo da Alegria, que antecipa as alegrias natalinas preparadas durante o rico tempo do Advento. Levamos para nossas Comunidades Paroquiais, a partilha de nossa pobreza em favor da Evangelização no Brasil. É a Coleta da Evangelização, fruto daquilo de que abrimos mão em favor da importante evangelização nesse nosso país com dimensões continentais, especialmente favorecendo as Comunidades muito pobres nos longínquos rincões com dificuldades até mesmo de se alimentarem descentemente nas ceias de Natal e Final de Ano. Quem ainda não partilhou de sua pobreza, poderá fazê-lo até o dia santo do Natal de Jesus Cristo!

A coroa do Advento, feita com ramos verdes, fita vermelha, com quatro velas que progressivamente se acendem, com um rito apropriado, nos quatro domingos do Advento, retoma o costume judaico de celebrar a vinda da luz à humanidade dispersa pelos quatro pontos cardeais, expressa nossa prontidão e abertura ao Senhor que vem e quer nos encontrar acordados e com nossas lâmpadas acesas.

Na Paróquia Santa Tereza de Ávila no Jardim Recreio, teremos a Missa da Vigília do Natal, no dia 24 de dezembro, às 19 horas e a Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo, no dia 25 de dezembro às 18 horas. Já na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, teremos apenas a Missa da Solenidade do Natal, na quarta-feira, dia 25 de dezembro às 9 horas. Estaremos esperando todos com muita alegria e ternura!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

ADVENTO É TEMPO DE ALEGRIA!

 ADVENTO É TEMPO DE ALEGRIA!

A maior de todas as alegrias emana do nosso encontro com Deus. Esse é o grande tesouro que devemos procurar e ao mesmo tempo distribuir entre os outros. A Alegria do Gaudete, terceiro domingo do Advento, neste ano dia 15 de dezembro, nos remete à manjedoura onde reclina na meiguice de uma criança o Deus em pessoa!

 Mas essa alegria sobrenatural não se opõe às alegrias cotidianas, pelas quais também devemos agradecer a Deus. Essas podem ter causas diversas: uma promoção profissional, a possibilidade de realizar a viagem dos sonhos, o gesto carinhoso da pessoa amada, o sorriso de uma criança ou a sabedoria de uma pessoa idosa. A alegria é sempre um bálsamo que faz bem à alma. Quando a experimentamos, devemos nos aproximar ainda mais de Deus, que se faz humano como um de nós.

 Assim como as alegrias terrenas, as tristezas possuem diversas origens, desde uma simples contrariedade até uma grande decepção ou perda. Podemos nos entristecer quando sofremos uma desilusão amorosa, quando deparamos com a conduta inadequada de um amigo ou até mesmo quando ouvimos um comentário indesejado de algum familiar. Isso e muitos outros contratempos podem fazer a tristeza entrar em nossa alma.

 Embora nos faça sofrer, a tristeza tem uma característica ímpar de tornar nosso coração mais compassivo. Quando estamos tristes, mergulhados em nossos sentimentos, realizamos reflexões mais profundas. Por isso, podemos afirmar que a tristeza ensina, e muito. Ela desperta a voz do silêncio que vem e toca nosso espírito para que possamos aprender com a experiência e nos tornar melhores, crescendo em nossa fé.

 Ajustar nossa forma de lidar com os problemas equivale a encontrar a chave da alegria, aquela que abre a mente e a alma para a luz de Deus, fazendo com que encontremos as soluções mais interessantes para a nossa vida. Além disso, amplia nossa consciência para identificarmos o que realmente importa.

 A vida está cheia de possibilidades, e você pode descobrir novos sentidos, aprofundando-se no entendimento das suas inquietações, com a firme esperança de que dias melhores virão. Haja o que houver, não podemos esquecer: “Se de tarde sobrevém o pranto, de manhã vem a alegria” (Sl 30,6).

 Por isso, encha seu coração de amor e diga para si mesmo: “Eu quero ser feliz agora”. Não tenha dúvida, você é muito mais forte e poderá ser muito mais feliz do que é capaz de imaginar.

 A alegria verdadeira massageia a alma. Ela nasce dos valores de Deus e conforta nosso espírito. Esse é o estado que devemos buscar para nós e desejar para os outros. A alegria verdadeira fica impregnada em nossa alma para todo o sempre. Por isso, esteja aberto para que ela possa brotar em sua alma. Que a felicidade seja o pão nosso de cada dia.

Meu jeito de ser e de lidar com as pessoas com quem convivo, não poucas vezes é de rigidez, é de seriedade pelo simples fato de minha origem alemã. Geralmente as pessoas me fitam desconfiadas e amedrontadas pelo simples tom de minha voz forte. Mas nem todos que convivem comigo sabem o quanto me esforço para alegrá-las, fazendo-as rir, dando gargalhadas por minhas “palhaçadas”, até porque meu sobrenome traduzido literalmente do alemão para o português significa “palhaço”. Mas Deus que sabe tudo, sabe o quanto amo cada pessoinha que me rodeia, com quem convivo na simplicidade hodierna. Eis o sentido do Domingo da Alegria, o Gaudete. O terceiro domingo deste rico tempo em preparação ao Natal do Senhor, antecipa tudo que celebraremos, porque o Advento é Tempo de Alegria!



Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo


quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

ADVENTO: TEMPO DE NOVA ESPERANÇA!

 ADVENTO: TEMPO DE NOVA ESPERANÇA!


Reunindo desejos, sonhos e utopias da humanidade por profundas transformações e dias melhores, manifestadas em veementes clamores em nossos dias, iniciamos o Advento, tempo de nova esperança, que alarga nossa vida para acolher o grande mistério da encarnação. Na perspectiva do Natal e Epifania do Senhor, como acontecimentos sempre novos e atuais, vislumbramos vigilantes e esperançosos, a lenta e paciente chegada de seu Reino e sua manifestação em nossa vida e na história. O Senhor nos garante que, nesta espera, não seremos desiludidos.

A Novena de Natal, preparada carinhosamente pelo Seminário Maria Imaculada da Arquidiocese de Ribeirão Preto e alguns padres colaboradores, é um instrumento muito importante para ajudar-nos viver, em família e em comunidade, este tempo de piedosa e alegre expectativa, este tempo de preparação para o Natal do Senhor. Neste ano, especialmente, voltada à preparação ao grande Jubileu dos 2025 anos do nascimento do Salvador. Basta encomendá-la pelo Site: www.arquidioceserp.org.br.

Advento é também tempo especial de escuta e atenção à Palavra de Deus. Tempo de nos “engravidar” da Palavra, gestando em nós e entre nós o Verbo, como Maria, figura que tem especial destaque neste tempo.

Esperança tem muito a ver com perseverança. Perseverar em Deus. Não se trata de esquecer o que vivemos e seguirmos como se nada tivesse acontecido. Podemos viver calejados, com cicatrizes na alma, algumas vezes com momentos de dor, mas nunca perder a Esperança de que dias melhores virão.

A Esperança não nos ilude, mas nos faz caminhar com serenidade, acreditando que novas possibilidades surgirão, como nos fazia ver o Papa Francisco quando ainda era Arcebispo de Buenos Aires: “Caminhar, de certo modo, já é entrar numa Esperança viva. Assim como a verdade, a Esperança é um dom que nos faz seguir adiante e nos convida a acreditar que cada novo dia trará consigo o pão necessário para a nossa subsistência”.

 Como alpinistas da graça divina, precisamos seguir em frente. Do meio das sombras nascerá a luz. Na hora da dor, brotará a verdadeira Esperança.

 O Advento, tempo de nova esperança, pede de cada um de nós atitudes concretas de mudança de comportamento. Somos convidados a preparar um Natal de Jesus diferente, bem diferente, que implica no cuidado com as pessoas, no zelo para com o meio ambiente que “geme em dores de parto” por maior respeito e menos ganância. Precisamos adotar uma urgente Eco teologia, uma Teologia que trate com seriedade as questões que ferem o meio-ambiente, que surram e judiam do Planeta. Quantos sustos mundo afora temos levado somente neste ano que se encaminha para o final. Há quem pergunte se seria o final dos tempos. É a natureza que reclama por espaço, respeito e cuidado, desde as mais pequenas atitudes pessoais, bem como as decisões governamentais, que medem seus países como desenvolvidos pela mera economia, mesmo que isso custe a vida ceifada por ciclones, enchentes e secas jamais vistas por nossas recentes gerações. Um país é desenvolvido pelas riquezas da cultura de seu povo, que tem o direito de viver dignamente!

 Bem por isso, iniciamos o rico tempo em preparação ao Natal do Senhor, a Luz que veio iluminar os corações aquecidos pelo Príncipe da paz, num Advento, tempo de nova esperança!


Pe. Gilberto Kasper

          Teólogso

quarta-feira, 27 de novembro de 2024

FRASQUEIRA DE PARTEIRA!

FRASQUEIRA DE PARTEIRA!

Iluminado por uma colocação de Dom Angélico Sândalo Bernardino, gosto de comparar nossa existência a três partos. O primeiro parto é quando nascemos do útero materno. Nenhuma criança quer nascer. Mas ao nono mês não tem jeito, ela precisa nascer. Partir do útero da mãe, onde se sente segura, aconchegada e amada, especialmente quando planejada e desejada.

Eu nunca acreditei em cegonha. Mas acreditava em frasqueira de parteira. No bairro Liberdade na cidade de Novo Hamburgo (RS) onde cresci, havia uma parteira, a Dona Avelina. Ela levava consigo uma frasqueira. E de onde saída com sua frasqueira, nascia uma criança. Minha dedução: Dona Avelina levava as crianças às mães em sua frasqueira. Quando nasceu minha prima, lembro-me como se fosse ontem, a Dona Avelina deixou sua frasqueira sobre uma coluna na entrada da casa de minha avó e a chamou para o nascimento da criança. Até me aproximei, coloquei meu ouvido sobre a frasqueira para tentar ouvir algum balbuciar do bebê. Ainda não havia ultrassom e não se sabia o sexo da criança que estava por nascer. Num quarto escuro, junto à parturiente, somente as avós com a parteira participavam do parto. Os demais esperavam na sala da casa. A criança nem chorava. Mas a parteira lhe dava um tapinha na bunda, para constatar que nascera viva. Quando então a criança começava a chorar, todos na sala comemoravam a nova vida que acabara de nascer. E eu tinha convicção de que minha prima fora levada na frasqueira da parteira. Já hoje as crianças nascem chorando de susto da forte iluminação e dos obstetras e enfermeiras com máscaras nas sofisticadas maternidades.

Nosso segundo parto é quando nascemos do útero da Igreja, a Pia ou Bacia Batismal. Neste primeiro Sacramento da Iniciação Cristã, somos adotados como filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo e nos tornamos seres divinizados, isto é, candidatos à santidade. Sim, porque santo é todo aquele que morrendo vê Deus como Ele é.

O terceiro e definitivo parto será quando nosso nome ecoar na eternidade e partirmos do útero da terra (vida terrena) à eternidade. É um parto dolorido aos que ficam e entregam a quem de direito, pessoas que amam, o próprio Criador. Este parto chamado de morte dói demais, mas é imprescindível para irmos diante de Deus que nos amou primeiro e nos quer em seu colo, acariciados por Nossa Senhora. Só o tempo ameniza a dor dos que devolvem a Deus seus entes queridos, que na gestação do útero da terra se lhes foram emprestados por algum tempo: para alguns mais e para outros menos! O importante é estarmos preparados para que o terceiro e definitivo parto seja o mais natural possível. E o que nos prepara para aquele derradeiro momento é amor que amamos!

Retomo essa narração, para demonstrar minha indignação em relação aos que tentam trocar de lugar com o Criador, autodenominando-se “deuses” sobre a vida dos seres humanos, ainda indefesos, que nem mesmo um “ai” podem gritar ao serem abortados. Como é possível aceitar que uma pessoa humana, ainda em gestação, à décima-segunda semana, não é gente e não tem seu direito de nascer preservado?

Uma amiga, grande evangelizadora e testemunha fiel do amor de Deus na vida dos seres humanos, contou-me que certa vez uma moça, mãe de um adolescente de quinze anos de idade, apareceu diante dela reclamando estar grávida por acidente. Entregou-se a um rapaz para um ato sexual, sem amor. Aos gritos essa moça teria dito que abortaria a criança, porque o filho adolescente já lhe dava muito trabalho e lhe custava caro demais.

Minha amiga então ofereceu o revólver do marido à moça em prantos e lhe sugeriu que, ao invés de abortar a nova vida, ainda em seu útero, fosse para casa e desse um tiro certeiro no filho adolescente. A moça reagiu e chamou minha amiga de louca. “Louca é você”, respondeu. “Seu filho de quinze anos já aproveitou muito a vida com viagens e bem-estar que você lhe proporcionou. Já a vida que você leva em seu útero, poderá ser uma pessoa que salve a humanidade”! E a moça desistiu de abortar.

Nenhum cristão tem o direito de abreviar a vida de quem quer que seja. Muito menos uma mãe tem o direito de matar seu próprio filho, abortando-o. Quem é a favor do aborto, deve assumir sua excomunhão da Igreja de Jesus Cristo. Pare de se denominar cristão. Se a mulher é livre para decidir sobre seu corpo, jamais será livre para impedir a vida que traz em seu seio, cujos direitos de viver não são diferentes, como alguns pecaminosamente alardeiam.



Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo


quarta-feira, 20 de novembro de 2024

OS ÓCULOS DE DEUS!

 OS ÓCULOS DE DEUS!

Ao ler a última Carta Encíclica do Santo Padre Francisco, Dilexit nos – Ele nos amou, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus, lembrei-me de uma estorinha que ouvi ao participar de um curso para formadores de seminários, em Vitória (ES), no ano de 1996, que gostaria novamente de partilhar com os estimados leitores. Quem a contou foi Gaston de Mezerville, psicólogo especializado na formação de formadores de seminários. Livremente a traduzo para nossa reflexão, do espanhol para o português.

Numa pequena cidade, certa vez morreu um agiota. Foi para o céu. Estando diante da porta entreaberta do céu, nem ele acreditou poder estar ali. A porta do céu estava entreaberta, mas não havia ninguém para recebê-lo. Nem mesmo São Pedro, a quem costumamos atribuir a tarefa de acolher as pessoas na porta do céu. Não havia ninguém e não se ouvia nada. Nenhum barulho de anjos, santos, enfim, o céu estava vazio, embora com a porta entreaberta. O agiota entrou. Entrou e sentiu-se como nunca: leveza de alma, serenidade e harmonia indescritíveis. Foi adentrando e conhecendo cada cômodo do céu, mas não via ninguém. Um profundo silêncio pairava no céu.

Chegou diante de outra grande porta, sobre a qual havia um letreiro: Escritório de Deus! Também aquela porta estava entreaberta, mas não havia ninguém. O agiota entrou. Viu uma mesa, atrás dela uma grande cadeira, diante da mesa um banquinho e sobre a mesa os Óculos de Deus!

Imediatamente colocou os Óculos de Deus e passou a ver tudo como Deus certamente vê: o universo inteiro de uma só vez. Minuciosamente procurou sua cidadezinha. Lá viu seu sócio de agiotagem ameaçando uma pobre viúva que não tinha como lhe pagar os altos juros do empréstimo que fizera. Com os Óculos de Deus viu a injustiça que o sócio cometia. Não pensou duas vezes em fazer justiça para com a pobre viúva. Tomou o banquinho diante da mesa, mirou a testa do sócio e a jogou em sua direção. O sócio teve morte instantânea. Feito isso, ouviu barulho de anjos, santos, até de Nossa Senhora no céu. Era toda a corte retornando de um piquenique celestial. Virando-se, viu também Deus, parado na entrada do escritório. Colocou de volta os Óculos de Deus, desculpou-se e tentou justificar sua entrada no céu, porque encontrara a porta entreaberta.

Deus lhe perguntou o que acabara de fazer. O agiota, todo orgulhoso, contou a Deus o que vira com os óculos sobre a mesa e que fizera justiça com uma pobre viúva, que estava sendo ameaçada por seu sócio. E Deus começou a chorar. O agiota, comovido disse: “Por que o Senhor chora? Não agi corretamente fazendo justiça?” E Deus respondeu entre lágrimas: “Que pena, meu filho. Você fez sim justiça com os Óculos de Deus. Mas o que eu esperava mesmo, é que amasse e tivesse misericórdia com o Coração de Deus”!

Eis o que Deus espera de nós: promover a justiça com Seus olhos, mas sem deixar de amar e ser misericordiosos com o Seu coração!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo




sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A SANTO ANTONINHO AGRADECE (II)!

 

A SANTO ANTONINHO AGRADECE (II)!

 


No final de 2023, o CONPPAC (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto), por iniciativa e esmerado empenho de seu Presidente, Dr. Lucas Gabriel Pereira, autorizou três importantes intervenções de preservação e restauro da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres, nossa amada Santo Antoninho: o reforço estrutural das duas colunas que separam o Presbitério da Nave Central, pesando dez toneladas cada uma delas; a rampa de acessibilidade com um segundo portão de entrada e corrimão, que facilita o acesso de nossos fiéis com maiores dificuldades físicas; o completo conserto do telhado e nem por último a humanização da pequena sacristia, removendo infiltrações com mofos e pintando-a provisoriamente.

É hora de agradecer. E a Santo Antoninho agradece ao Engº José Roberto Hortêncio Romero, que se responsabilizou com o restauro do Templo, o Arquiteto Anderson Abe, que não mediu esforços para elaborar os projetos e demais documentos históricos e técnicos exigidos pelo CONPPAC. O Anderson e o José Romero se dedicaram até aqui, gratuitamente, sem cobrar nenhum centavo pelos serviços prestados. Além disso, o José Romero formou alguns grupos de “Amigos da Santo Antoninho” que de alguma maneira, doaram suas mãos-de-obra, material e diversas promoções de arrecadações necessárias, para que pudéssemos concluir as etapas autorizadas pelo CONPPAC, sem nada dever a ninguém, sem precisar recorrer, financeiramente, à Cúria Metropolitana, e ainda termos o necessário para a reforma do telhado, a reforma e pintura externa da Igreja e nem por último, iniciarmos a pintura interna, tão logo aprovados os projetos de prospecção elaborados com afinco por nosso Arquiteto Anderson Abe.

Dos grupos de “Amigos da Santo Antoninho”, alguns nos deixaram, mas grande parte deles continua perseverante e fiel ao que se propuseram. Não me compete, e nem seria ético mencionar nomes dos que desistiram, dos que divulgaram Fake News, de que a Igreja Santo Antoninho havia ruído, estava abandonada, condenada e fechada para as celebrações. Realmente ela, a Santo Antoninho ficou bastante isolada devido às demolições da também tombada ex-academia ribeirão-pretana de letras jurídicas e dos dois imóveis que ficavam à direita do Templo. O cenário é deprimente. Porém a Igreja Santo Antoninho nunca ficou abandonada, não obstante roubada 37 vezes ao longo dos quase 16 anos em que lá me encontro. Além dos investimentos de mais de 50 mil reais em segurança, como Internet, Monitoramento diuturno, Câmeras, Alarmes, Concertinas e Cercas Elétricas e mais de 80 mil reais nas obras já concluídas de restauro, as atividades religiosas continuam sendo realizadas e nunca cessaram, como a Santa Missa Dominical às 9 horas, o Estudo Bíblico, a Formação Litúrgica e outras atividades possíveis, uma vez que também, os arredores da Igrejinha, como o Bairro inteiro dos Campos Elíseos tornou-se muito vulnerável e perigoso nesses últimos anos. Um abandono visível, sem falar de que não podemos mais estacionar diante da Igreja, ou seja, ao longo da Avenida Saudade inteira.

A Santo Antoninho agradece a todas as pessoas, que de alguma maneira colaboraram e continuam colaborando com sua preservação e restauro, por meio do Engº José Roberto Hortêncio Romero, o Engenheiro Responsável, o Arquiteto Anderson Abe, responsável pelos Projetos exigidos pelo CONPPAC, os Senhores Ítalo Delarcina Júnior, Darci Faustino e os Engenheiros Hélio da Silveira e Marcelo por tanto que realizam em favor das obras. Agradece ao querido amigo Antônio Carlos Hortêncio Romero, pela doação do Fusca 1977 leiloado no Jantar Beneficente no dia 30 de outubro passado, por seu sobrinho, o Luciano Romero, que cedeu seu Restaurante para a realização do mesmo Jantar, por todos que se dignaram a participar do evento. A Santo Antoninho agradece ainda, especialmente, a Carla e o Eduardo Marcondes da Neomix pela organização das reuniões e também do Jantar. Finalmente, a Santo Antoninho agradece aos que a divulgam com apreço e sem fins lucrativos: o Jarnei César Capareli e o Amir Calil Dib em seus Canais de Comunicação! Sejam todos, grandemente abençoados pela intercessão de Santo Antônio, Pão dos Pobres. Nós os aguardamos para participarem de nossas celebrações todos os domingos às 9 horas, na Avenida Saudade, 202 nos Campos Elíseos em Ribeirão Preto.

   

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A SANTO ANTONINHO AGRADECE (I)!

 A SANTO ANTONINHO AGRADECE (I)!


No dia 30 de outubro passado aconteceu um Jantar Beneficente em prol da restauração da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres, carinhosamente chamada de Santo Antoninho. É a Igreja mais antiga em pé de Ribeirão Preto, tendo sua pedra fundamental plantada em agosto de 1892, aberta para o povo de Ribeirão Preto, em maio de 1903. Capela particular da Família Proença da Fonseca, as queridas Irmãs Portuguesas, que ao lado da Igrejinha mantinham sua residência, como a “Casa da Amizade”, foi doada através de Inventário à Arquidiocese de Ribeirão Preto, em 1989. A Igreja, além de acolher os Padres Scalabrinianos e os Monges Beneditinos Olivetanos por muitos anos, teve a assistência religiosa, espiritual e pastoral do Padre Euclides Carneiro, do Monsenhor João Laureano e do Cônego Arnaldo Álvaro Padovani, este último por mais de 40 anos. Em 17 de abril de 2008, o então Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, Dom Joviano de Lima Júnior, nomeou Padre Gilberto Kasper, como Reitor daquela Igrejinha, pedindo-lhe que, além de restaurá-la, a transformasse num Espaço Cultural de Espiritualidade.

Chegamos a realizar inúmeros eventos culturais e espirituais, como Concertos de Natal com vários Corais da Cidade e Região de Ribeirão Preto, Exposições de Fotografias, Concertos de Acordeom, Formações com a Pastoral da Pessoa Idosa, Estudos Bíblicos, Formação Litúrgica, Catequese Batismal, entre tantos outros eventos. Desde que lá chegamos, no dia 20 de abril de 2008, a Santo Antoninho nunca ficou sem a Celebração Eucarística, dominical e semanal. As Missas durante a semana passaram a ser celebradas nas residências dos fiéis afetiva ou efetivamente ligados ao Templo. É um projeto missionário da “Igreja do Ir para quem já não pode mais vir”, uma vez que a média de idade das pessoas nesses quase 16 anos, passou dos 90 anos. Muitos já não conseguem mais participar na Igreja, pela idade, limites físicos e mais de 600 pessoas faleceram nesse tempo. Por isso agendamos as Missas Semanais nas residências das pessoas que o desejam. Celebramos mais de 250 Missas por ano nas casas, com a presença dos enfermos, idosos seus familiares, amigos e vizinhos.

Desde que chegamos, percebemos grande interesse de “reformar” a Igreja. A última reforma acontecera em 1995, quando o então Arcebispo Metropolitano, Dom Arnaldo Ribeiro, nomeou o Cônego Arnaldo Álvaro Padovani Reitor da mesma, durante a celebração dos 800 anos do nascimento de Santo Antônio de Pádua. Por isso passou-se a chamar a Santo Antoninho de Reitoria. Porém, em dezembro de 2009, fomos informados por acaso, (porque nunca recebemos uma notificação oficial) do tombamento do Conjunto da Igreja, Casa da Amizade (onde estava instalada a Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas, incendiada em 7 de setembro de 2019 e totalmente demolida em 2022) e o Mosteirinho atrás da Igreja, pelo CONPPAC (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto). O então Vereador Rodrigo Simões, amigo pessoal e da Santo Antoninho, nos apresentou à Presidente do CONPPAC na época, Dra. Cláudia Morroni a fim de obtermos a autorização para a restauração do Templo. Pasmem! Iniciava-se um “Calvário” de 15 anos de “Idas e Vindas”, reuniões intermináveis, quando não desmarcadas, visitas dos Membros do CONPPAC, até mesmo da então Secretária da Cultura, Adriana Silva, que em coro afirmavam de que o restauro teria de ser no conjunto e não da Igreja isoladamente. Em 2012, quando a Profª Dulce Palladini foi a Presidente do CONPPAC, adjudicada dos dois outros imóveis, conseguimos a Escritura da Igreja para a Arquidiocese de Ribeirão Preto, pensando que finalmente aceitariam os inúmeros projetos de restauro apresentados ao CONPPAC para sua restauração, projetos esses elaborados pelos alunos da própria então Presidente Profª Dulce Palladini. Depois de cinco anos e meio, o que conseguimos, foi a autorização para a construção de dois banheiros e a instalação de água e esgoto.

Graças ao Dr. Lucas Gabriel Pereira, enquanto Presidente do CONPPAC, o Engº José Roberto Hortêncio Romero, responsável pelo Restauro, cujos Projetos aprovados do Arquiteto Anderson Abe, obtivemos a autorização para iniciarmos as obras de preservação e restauro de nossa amada Santo Antoninho, Pão dos Pobres, por etapas que respeitem as normas próprias dos técnicos do Conselho.

(Na próxima edição continuaremos o presente artigo)

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo


quarta-feira, 30 de outubro de 2024

QUEM NÃO TEM MEDO DA MORTE?

 QUEM NÃO TEM MEDO DA MORTE?


No dia 2 de novembro celebramos o Dia de Finados, lembrando e celebrando por todos os nossos fiéis falecidos. 

Se há alguns poucos anos falar de sexo abertamente era tabu, hoje é tabu falar em "morte". Quem não tem medo da morte? A grande certeza que vivemos, é que um dia morreremos, no entanto "morremos de medo de morrer...". Cada vez que a morte passa por perto, ou me encontro diante dela através do exercício de meu ministério, encomendando alguma pessoa falecida, meu questionamento é em relação à vida que levo! A morte é uma excelente oportunidade de melhorar minha qualidade de vida. Geralmente deixamos para depois, as mudanças que talvez tivessem de ser revistas logo. É bom não sabermos o dia e a hora de nossa morte, mas quando vier, e nosso nome ecoar na eternidade, não terá outro jeito, a não ser morrer! Há quem chama a morte de segundo parto. O primeiro acontece quando deixamos o útero materno, que geralmente é aconchegante e delicioso. Talvez por isso a criança, ao nascer chora. O segundo parto, é deixar o "útero da terra". Por mais difícil que seja viver, ninguém quer partir. A morte dói, nos faz chorar e traz vazio com sabor de saudade inexplicável.

Nossa vida poderia ser comparada a uma viagem de ônibus. Quem ainda não andou de ônibus? Quando nascemos, entramos num ônibus, que é a vida terrena. A única certeza que temos é que há um lugar reservado para nós. Uma poltrona. Não sabemos quem serão nossos companheiros de viagem. Apenas sabemos que a poltrona reservada para nós deverá ser ocupada. Às vezes, ocupamos a poltrona do outro, e isso nos traz constrangimentos. Já assisti muitos "barracos" em ônibus cuja mesma poltrona estava reservada para duas pessoas. Não sabemos quem serão nossos pais, irmãos, amigos, parentes, enfim...

Nossa única missão é tornar a viagem a mais agradável possível. Às vezes há pessoas que tornam a viagem insuportável; outras vezes a viagem é agradável!

Há também o bagageiro. Nossas coisas não podem ocupar o lugar dos outros, mas devem caber em nosso próprio bagageiro do ônibus, a vida!

O ônibus, de vez em quando pára na rodoviária. Se a viagem de ônibus é a vida terrena, a rodoviária é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: há cheiro de banheiros, de óleo diesel, barulho de ônibus chegando e saindo, ninguém se conhece, muita gente se esbarrando ou até se derrubando. Há sempre uma incerteza, um friozinho na rodoviária que arrepia nossa espinha, que é a morte. Ninguém gosta da rodoviária: todos passam por ela porque precisam, mas não porque gostam. Haverá um momento em que nosso nome será chamado no alto-falante da rodoviária. Então precisaremos descer do ônibus da vida. Se tivermos enviado algum bilhete, uma carta, feito um telefonema ou até mesmo enviado um e-mail, uma mensagem por WhatsApp para a eternidade, avisando nossa chegada, não precisaremos ter medo, porque Deus estará esperando por nós. O bilhete, a carta, o telefonema, o e-mail são nossa maneira de viver a fé, a esperança e a caridade através de nossa relação conosco, com Deus e com os outros!

Assim Deus estará esperando-nos na rodoviária da morte. Seremos identificados e acolhidos por Ele, de acordo com o que fomos e fizemos, nunca com o que tivemos. Se Deus não tiver tempo, pedirá ao Seu Filho Jesus para buscar-nos e conduzir-nos à morada eterna. Se de tudo Jesus também não tiver tempo, Nossa Senhora nunca nos deixará perdidos ou esperando na rodoviária da morte. Ela estará lá, de braços abertos, para receber-nos e levar-nos à presença de Deus, colocando-nos em Seu Eterno Colo de Amor. É o que rezamos sempre: "...rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém!"

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

LIGAÇÕES INCONVENIENTES?

 LIGAÇÕES INCONVENIENTES?

Como reagimos diante de ligações inconvenientes? Quem ainda não as recebeu? Refiro-me às ligações de telemarketings, que se tornaram uma espécie de “cultura de sobrevivência” para milhares de brasileiros e que há muitos anos vem ocorrendo, especialmente remetidas às pessoas aposentadas. Eu me irrito profundamente com tais ligações, que insistentemente oferecem produtos, os mais diversos. Trata-se de uma avalanche de ofertas supérfluas, incitando ao consumismo exacerbado.

Fui orientado a bloquear os números dos telefones que insistentemente ligam, geralmente nas horas mais impróprias. Já bloqueei uma centena de números, mesmo assim novos números ligam com as mesmas ofertas. São operadoras de telemarketing, de telefonia, de financeiras oferecendo empréstimos consignados, entre outros.

Conhecemos, também, ligações provenientes de Casas de Detenção. O Sistema Judiciário e Penitenciário de nosso País continua vulnerável, não conseguindo conter a entrada de celulares nas Penitenciárias, de onde vêm incontáveis ligações, algumas delas ameaçadoras, outras tentando clonar os celulares das pessoas de boa índole.

Outros tipos de ligações inconvenientes são as que simulam sequestros de filhos, de pais, avós ou amigos. Conheço inúmeras pessoas que já receberam ligações afirmando que em seu poder se encontrariam pessoas que sequer existem. Mães de filhos apenas do sexo masculino recebendo ligações mentirosas, de que uma de suas filhas fora sequestrada, com o intuito de bandidos querendo o pagamento de resgates. Tentativas de outros golpes similares são tão frequentes, a ponto de não atendermos mais ligações não identificadas, e por isso, deixarmos não poucas vezes, de atender pessoas que buscam auxílio espiritual, que desejam agendar um atendimento ou outro compromisso de real importância para ambos, de acordo com nosso ministério sacerdotal.

Algumas dessas ligações pretendem preencher o isolamento social, que também proporcionam inconveniências. Esse isolamento social descortina uma carência afetiva na sociedade, ainda mais aguda, ou antes, velada, de pessoas especialmente muito ativas, e que de repente são condicionadas a uma certa ociosidade, bem como de pessoas já antes isoladas por pura exclusão tanto familiar como social. Aumentam notoriamente os casos de depressão, fruto da mesma exclusão. Passamos a utilizar em demasia as novas tecnologias: Celulares, Notebooks, Internet, Whatsapp e Links para nos comunicarmos o quanto possível, sem o calor humano do abraço, do aperto de mão, da presença física, porém, para afirmar e reafirmar a todo o momento, de que estamos juntos, unidos, respirando a esperança de tempos melhores.

Não obstante as ligações inconvenientes, concluímos de que precisamos bem menos do que pensávamos para não simplesmente sobreviver, mas viver uma vida saudável, feliz, onde não se esgota a esperança de que sendo Anjos uns dos outros, seremos também verdadeiros protagonistas da paz entre as pessoas, onde ainda cheiramos o odor horroroso da mentira, da disputa, da busca desenfreada de poder e prestígio. Exalemos o perfume da paz, só então seremos felizes de verdade!

Que as ligações inconvenientes não nos robotizem, porque mais do que nunca, necessitamos humanizar-nos!


Pe. Gilberto Kasper

         Teólogo


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

A COLETA DAS MISSÕES!

 A COLETA DAS MISSÕES!

No Brasil a Igreja realiza durante o ano cinco grandes coletas. Essas coletas devem ser remetidas aos seus destinos e jamais retidas nas Comunidades que as realizam.

 A primeira coleta é a da solidariedade, realizada no domingo de ramos, frutos saborosos das campanhas da fraternidade e dos exercícios quaresmais, destinada aos incontáveis projetos de ação social das comunidades tanto diocesanas, como nacionais; a segunda é para os lugares santos, tão bem cuidados por nossos irmãos franciscanos na Terra Santa, realizada na sexta-feira santa da paixão do Senhor; a terceira é o Óbolo de São Pedro, realizada no dia do papa, com a qual o Santo Padre socorre, em nome dos católicos do mundo inteiro, povos em extrema situação de vulnerabilidade, consequentes de enchentes, terremotos, guerras, fome, cataclismas diversos, etc.; a quarta é a das missões, realizada no Dia Mundial das Missões, que ajuda nossos missionários no anúncio do Reino de Deus mundo afora, e a quinta coleta é para a evangelização, destinada à manutenção das dezenas de projetos pastorais em nosso Brasil com dimensões continentais, realizada no terceiro domingo do Advento.

 Costumo sugerir ao amado povo de Deus presente nas Comunidades que sirvo, que as coletas devem ser a partilha de nossa pobreza. Não devemos colaborar por mero desencargo de consciência. A coleta deve ser o resultado ou os frutos de algo que gostamos muito e, que abrimos mão em favor dos que se beneficiarão com nosso sacrifício, abstinência ou penitência. Alguma guloseima, algo supérfluo, gasto não poucas vezes em tantas coisas desnecessárias. Por um mês ou certo período fazer o bom propósito de deixar de consumir algo que não será necessário para nossa saudável sobrevivência, e depositar tal valor não gasto, mas economizado, no envelope ou na cestinha no dia de determinada coleta em nossa comunidade de fé, oração e amor. Não tenho dúvidas de que é essa coleta, proveniente de tal exercício de abstinência, que mais agrada o coração de Deus, e mais servirá para quem necessita da partilha de nossa pobreza.

 Nas celebrações do próximo final de semana (dias 19 e 20 de outubro), em todas as Comunidades do mundo realizar-se-á a Coleta das Missões! Domingo será o Dia Mundial das Missões, neste ano com o tema: “Ide, convidai a todos para o banquete” (Mt 22,9) e o lema: “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo” Ao longo das primeiras semanas de outubro, distribuímos envelopes para serem devolvidos numa dessas celebrações, contendo a partilha de nossa pobreza. As Cúrias destinarão o resultado de nossa doação, e não simples esmola, às Pontifícias Obras Missionárias!

Também nossa Arquidiocese de Ribeirão Preto mantém projetos missionários com Sacerdotes presentes em campos missionários: Padre Acássio Ferreira Rocha no Quênia (África), o Padre Aparecido Donizeti Maciel na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Careiro da Várzea (AM), o Padre Rodrigo Barcelos na Paróquia Nossa Senhora Consoladora dos Aflitos em Manaus (AM), e nem por último, o Padre Gabriel Balan Leme na Paróquia Nossa Senhora Desatadora dos Nós no Parque Cristo Redentor, no Jardim das Oliveiras, a Paróquia Missionária criada por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, no Ano Missionário de 2019.

Que os padroeiros das missões, São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Jesus, Doutora, nos inspirem a sermos testemunhas missionárias até os confins do mundo, todos os dias de nossa vida!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo


quarta-feira, 9 de outubro de 2024

FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA!

 FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA!


Os católicos brasileiros têm uma grande relação religiosa com Maria, a mãe de Jesus. Essa relação de piedade e devoção pode ser mais aprofundada e adquirir um sentido evangélico bem mais intenso pela solenidade que celebramos neste dia 12 de outubro, pois todos nós que aderimos ao projeto de Jesus somos chamados a realizar sempre a sua vontade, mantendo a nossa esperança em suas intervenções na história, transformando, por nossas ações, as realidades de morte em vida, de trevas em luz, de miséria e pobreza em abundância.

 A imagem de Nossa Senhora que há 307 anos apareceu no rio Paraíba do Sul é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Festa que remete à figura de Maria como plenificação e destino da Igreja, imagem da Igreja triunfante. Uma Igreja que, como mãe e esposa peregrina, é chamada a fazer a vontade do seu esposo, Cristo, o Messias.

 O aparecimento da pequena imagem foi o grande sinal do alto, sinal de Deus e de sua intervenção em favor das súplicas dos simples e pobres. A festa aconteceu, e a abundância foi readquirida.

 Neste dia, no Brasil, também se comemora o dia das crianças. Elas aguardam de todos nós um sinal de um país mais justo, humano, solidário e que saiba cuidar do seu povo com carinho e proteção. Aguardam sinais de vida, que devem ser cultivados e promovidos já agora, para que o seu futuro seja de abundância e paz. Que a honestidade espane do cenário de nossa rica Nação a tão sistêmica corrupção.

 Gosto sempre de imaginar a cena daquele casamento em Caná da Galileia. Deve ter sido um casamento de pessoas simples, pobres, como humilde e pobre era Maria. Para que Maria, Jesus e seus Discípulos fossem convidados, o casal nubente só poderia ser pobre, já que a disparidade entre as pessoas era tamanha, que ricos e pobres jamais se misturavam, especialmente em festas. Hoje não é muito diferente, embora tenhamos os chamados “ricos emergentes” ou ainda, aqueles que mesmo não sendo economicamente privilegiados, tenham “panca de ricos”, se juntem aos verdadeiramente ricos!

 Maria, que é mãe, perspicaz e atenta, percebe que seu filho, Jesus e seus companheiros, os Discípulos (que eram bons de copo), estavam exagerando, e os noivos pobres poderiam passar vergonha, já que o vinho começava a faltar. A mãe chama o filho e o adverte que já não tem mais vinho, pedindo que avise aos amigos “maneirarem no copo”. Jesus parece dar uma resposta ríspida, chamando sua mãe de “Mulher”. Em outras palavras, poderia pensar que não era problema seu. Maria, entretanto, vai aos serventes e lhes diz: “Fazei o que ele vos disser!” A confiança no filho é maior que sua preocupação. O milagre acontece justamente pela fé de Maria em Jesus. Da Festa de Nossa Senhora Aparecida, também nós, todos nós, podemos aprender do povo simples, de Sul a Norte de nosso Brasil, tamanha confiança na Mãe Aparecida. Ela não nos deixa esperando, não nos faz passar vergonha, mas intercede por nós. Porém é preciso seguir seu pedido feito aos serventes e também a nós hoje: Fazer o que Jesus nos pede! E o que Jesus nos pede? Que nos amemos uns aos outros, sempre! Se nos amarmos, o mundo será muito mais bonito, do jeito como Deus o criou e pensou para nós!

 Celebraremos a Festa de Nossa Senhora Aparecida no próximo sábado, dia 12 de outubro, às 9 horas na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, na Avenida Saudade, 202 nos Campos Elíseos e às 18 horas na Igreja Santa Tereza de Ávila, na Praça das Rosas, s/n no Jardim Recreio. Sintam-se convidados a celebrar conosco!


Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo


quarta-feira, 2 de outubro de 2024

SANTA TEREZA DE ÁVILA E OS EDUCADORES!

    SANTA TEREZA DE ÁVILA E OS EDUCADORES!


O mês de outubro é marcado pelo Dia da Criança (Educando) e do Professor (Educador). O que costumamos chamar de “Educação de Berço” já não existe mais. Se até mesmo o leite materno é terceirizado no quarto mês de vida da criança, imaginem a educação! Os Educadores acolhem que tipo de Educandos? Crianças repletas de estímulos que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridas na era digital. Pais de famílias oriundas da pobreza, que trabalham tanto, que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida. Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas.

 Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os educandos de hoje repletos de estímulos. Estímulos de que? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador e celular, alguns até altas horas da noite, brincando no Orkut e Whats App ou o que é ainda pior, envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

 O que tínhamos nós, os mais velhos, há anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria! E como afirma o Papa Francisco, éramos movidos pelas expressões e atitudes: com licença, por favor e muito obrigado!

 Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para que o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir a piqueniques, subir em árvores?

 E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria. Cantávamos o Hino Nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos, ao contrário de hoje, ler, escrever e fazer contas com fluência, sem brincar com celulares durante as aulas. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª série – não havia aprovação progressiva. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso. Não nos prometiam recompensas para passarmos de ano. A recompensa era o sabor da conquista pessoal.

 Sintam-se convidados, especialmente os Professores, para a Celebração da Padroeira de nossa Paróquia Santa Tereza de Ávila, a Protetora dos Professores, presidida por nosso Mestre Maior, Dom Moacir Silva, Arcebispo Metropolitano de Ribeirão Preto, no dia 15 de outubro, terça-feira, às 19 horas, na Praça das Rosas no Jardim Recreio em Ribeirão Preto.

 Na quarta-feira, dia 16 de outubro, às 20 horas, teremos o privilégio e a alegria de um Concerto com a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, em nossa Igreja Matriz de Santa Tereza de Ávila, no Jardim Recreio.

 Já no dia 19 de outubro, sábado, a partir das 19 horas no salão paroquial da Paróquia Santa Tereza de Ávila, todos estão convidados para a grandiosa Quermesse da Padroeira!

 Santa Tereza de Ávila, Doutora, abençoe e incentive nossos Professores!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo


quarta-feira, 25 de setembro de 2024

CELEBRAÇÕES DE OUTUBRO!

 

CELEBRAÇÕES DE OUTUBRO!  

          

           Iniciamos o mês de outubro com a abertura da segunda sessão do XVI Sínodo dos Bispos em Roma, que trata do tema: “Por uma Igreja Sinodal de Comunhão, Participação e Missão”! É um convite do Santo Padre o Papa Francisco a “caminhar juntos” como Igreja de Jesus Cristo, todinha ela conduzida pelo Espírito Santo, que é o protagonista dessa Igreja à qual pertencemos. E pertencemos dela, como filhos amados do mesmo Pai, irmãos de Jesus Cristo.

 

 Outubro também é marcado pelo Dia da Criança (Educando) e do Professor (Educador). O que costumamos chamar de “Educação de Berço” já não existe mais. Se até mesmo o leite materno é terceirizado no quarto mês de vida da criança, imaginem a educação! Os Educadores acolhem que tipo de Educandos? Crianças repletas de estímulos que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridas na era digital. Pais de famílias oriundas da pobreza, que trabalham tanto, que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida. Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas.

           Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os educandos de hoje repletos de estímulos. Estímulos de que? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, brincando no Orkut e Whats App ou o que é ainda pior, envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

           O que tínhamos nós, os mais velhos, há anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria! E como afirma o Papa Francisco, éramos movidos pelas expressões e atitudes: com licença, por favor e muito obrigado!

           Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para que o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir a piqueniques, subir em árvores?

           E, nas aulas, havia respeito, amor pela Pátria. Cantávamos o Hino Nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos, ao contrário de hoje, ler, escrever e fazer contas com fluência, sem brincar com celulares durante as aulas. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª série – não havia aprovação progressiva. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso. Não nos prometiam recompensas para passarmos de ano. A recompensa era o sabor da conquista pessoal.

           A Missa de Nossa Senhora Aparecida na Igreja Santa Teresa D’Ávila no Jardim Recreio será dia 12 de outubro, sábado, às 18 horas.



           Sintam-se convidados, especialmente os Professores, para a Celebração da Padroeira de nossa Paróquia Santa Teresa D’Ávila, a Protetora dos Professores, presidida por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, no dia 15 de outubro, terça-feira, às 19 horas, na Praça das Rosas no Jardim Recreio. E no dia 16, quarta-feira, às 20 horas, teremos um magnífico Concerto em homenagem à nossa Padroeira, pela Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto.

           Dia 19 de outubro a partir das 19 horas teremos a Grandiosa Quermesse da Padroeira, no Salão Paroquial da Paróquia Santa Teresa D’Ávila no Jardim Recreio. Será uma confraternização familiar e muito linda, que expressará nossa comunhão, participação e missão!



           Nossa Senhora Aparecida, Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil proteja nossas crianças e Santa Teresa de Jesus, Doutora, incentive nossos Professores!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

SINTO VERGONHA DO CONGRESSO NACIONAL!

 SINTO VERGONHA DO CONGRESSO NACIONAL!


Já não consigo mais assistir às sessões da Câmara dos Deputados da República sem provocar nos porões de minha intimidade um sentimento de vergonha, temperado com raiva e indignação. O Brasil pegando fogo literalmente, e a Comissão de Ética e Justiça da Câmara de Deputados colocando “fogo cruzado” na Constituição, em busca, por “moeda de troca”, de cargos e poder, como por exemplo, a próxima presidência da casa, que “não está nem aí” com os verdadeiros problemas do povo brasileiro que no final é o que “paga a conta”! Onde estão os projetos de lei que devolvam a dignidade ao povo que elegeu esse número expressivo de demagogos e políticos viciados?

Já perguntei a centenas de pessoas em qual Deputada ou Deputado Federal votou. Para meu espanto, de cada dez pessoas apenas três lembram. Logo colhemos os frutos (votos) que plantamos (votamos) nas últimas eleições. Alguns ainda insistem em votar em políticos de ficha suja, desde que lhes sejam simpáticos, “bons de lábia”, mesmo que não pensem no País e muito menos no Povo, o mais surrado tanto pelos altíssimos impostos que paga todos os dias, seja pela indigência à qual é obrigado a sobreviver. Enquanto não exercermos nossa cidadania, enquanto não formos verdadeiros políticos (não penso em politiqueiros) que pensem no Bem Comum e não individual, assistiremos aos embates que envergonham profundamente nosso Congresso Nacional. Lá estão Mulheres e Homens que só sabem gritar, não sabem perder, que só pensam no próprio “metro quadrado” no qual se movem, ou seja, seu partido, suas ideologias e porque não dizer teimosia em continuar “colado” numa cadeira que lhes garanta impunidade, prestígio e que não servem para representar e muito menos servir aqueles que os elegeram.

A incoerência da maioria dos Congressistas é o que os move para garantirem os votos necessários nas próximas eleições. A maioria é promíscua ao querer perpetuar-se no poder, nem que para isso tenham de vender a própria honra, a palavra empenhada e o respeito pelo diferente, desrespeitando escancaradamente o Povo, especialmente, ingênuo e que vota por ser obrigado a votar simplesmente. Algumas sessões em meio à crise política, ética e moral, são movidas de tamanho desrespeito, que mais parecem “bandidos engravatados” querendo dar lições de moral, quando eles próprios são tão corruptos quanto aos que acusam.

A falta de decoro parlamentar de nossos Deputados Federais e Senadores mostra exatamente ao que vieram: enriquecer com propinas, barganhas, cargos e corrupção sistêmica e institucionalizada. Nossa Classe Política carece de voltar às origens para readquirirem a verdadeira Educação de Berço. Já cada um de nós, eleitores, deveríamos discernir o “joio do trigo” e varrer do Congresso Nacional todos envolvidos em algum comportamento ilícito, desde o mais simples deslize ao mais grave crime cometido. Estejamos atentos ao que afirmam juristas e cientistas políticos sérios e que pensam num Brasil mais justo e fraterno, excluindo através do voto, o que chamam de “Organização Criminosa”. Através do voto, do diálogo e do respeito pelos que pensam diferente de nós. Sejam as manifestações civilizadas e não violentas e criminosas, como temos assistido em tempos recentes.  Quem grita e ofende o próximo, não é menos “bandido” dos que os motivam às manifestações violentas e não pacíficas. É possível dialogar em paz. Tenho a esperança de um dia voltar a respeitar e nunca mais sentir vergonha do nosso Congresso Nacional.


Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

SÃO JERÔNIMO, PATRONO DOS BIBLISTAS!

 

Embora todo mês de setembro seja dedicado à Bíblia, o Dia da Bíblia é celebrado na memória de São Jerônimo a 30 de setembro, que além de presbítero e doutor da Igreja, é o Patrono dos Biblistas, os que se debruçam sobre o aprofundamento do estudo da Bíblia. O século IV depois de Cristo, que teve o seu momento culminante no ano de 380 com o edito do imperador Teodósio no qual se estabelecia que a fé cristã devesse ser adotada por todas as populações do império, está repleto de grandes figuras de santos: Atanásio, Hilário, Ambrósio, Agostinho, João Crisóstomo, Basílio e Jerônimo, dálmata, nascido entre 340 e 350 na cidadezinha de Strido. Romano de formação, Jerônimo é um espírito enciclopédico. Sua obra literária nos revela a cada instante o filósofo, o retórico, o gramático, o dialético, capaz de escrever e pensar em latim, em grego, em hebraico, escritor de estilo rico, puro e robusto ao mesmo tempo. A ele devemos a tradução em latim do Antigo e Novo Testamentos, que se tornou, com o título de Vulgata, a Bíblia oficial do cristianismo.

          Jerônimo é uma personalidade fortíssima: em toda parte por onde vai suscita entusiasmos ou polêmicas. Em Roma ataca os vícios e hipocrisias e preconiza também novas formas de vida religiosa, atraindo para elas algumas influentes damas patrícias (de Roma), que o seguiram depois na vida eremítica de Belém. A fuga da sociedade deste exilado voluntário era um gesto ditado por um sincero desejo de paz interior, não sempre duradouro, uma vez que, para não ser esquecido, reaparecia, de vez em quando com algum novo livro. Os "rugidos deste leão no deserto" eram ouvidos tanto no Ocidente como no Oriente. Suas violências verbais não perdoavam ninguém.

          Este homem extraordinário estava consciente de suas próprias culpas e de seus limites (batia-se no peito com pedras por causa dos seus pecados), mas estava consciente também dos seus merecimentos. No livro Homens Ilustres, onde apresenta um perfil biográfico dos homens ilustres, conclui com um capítulo dedicado a ele mesmo. Morreu aos 72 anos, em 420, em Belém, como Patrono dos Biblistas “O mundo atual apresenta inúmeras características novas, que desafiam o sacerdote em sua missão de anunciar a Palavra de Deus” (Cf. Subsídios Doutrinais da CNBB nº 5).

          Todos os anos a CNBB escolhe um dos livros da Bíblia a ser aprofundado. Em 2024 o livro escolhido é o de Ezequiel com a inspiração: “Porei em vós meu espírito e vivereis” (Ez 37,14).

Por isso, em nossa Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, realizamos, mensalmente, um Estudo Bíblico, coordenado por Amália Terezinha Balbo Di Sicco, com a colaboração da Nilza Marchetti, sob a assessoria de seu reitor. No quarto sábado de cada mês, das 09 às 11 horas, procuramos aprofundar para melhor conhecer a Bíblia: A Palavra de Deus Revelada, e assim amá-la mais e vivê-la melhor. Procuramos, em nosso Estudo Bíblico, aprimorar “A Ação Querigmática em seu conteúdo: ‘Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo’, e em sua forma: ‘oração, acolhida, diálogo assertivo e anúncio’ com o esforço da conversão, bom senso e coerência” (Cf. Pe. Luís Henrique Eloy e Silva). Sintam-se convidados a participar; assim estaremos colocando em prática um dos pilares de nosso Plano Arquidiocesano de Pastoral: O pilar da Palavra! Neste mês de setembro distribuímos exemplares da Bíblia em todas as celebrações na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres como também na Igreja Santa Teresa D’Ávila no Jardim Recreio em Ribeirão Preto!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

VIDA PÚBLICA!

 

VIDA PÚBLICA!

 

Nosso primeiro Bispo Diocesano, Dom Alberto José Gonçalves, foi Deputado Estadual do Paraná, Deputado Federal e Senador. Diremos que isso foi no século passado. Ouve-se de bons lábios cristãos católicos, que Religião e Política não se misturam. Não obstante no século XXI e Terceiro Milênio da Era Cristã, muitos de nossos bons Cristãos Católicos ainda são da opinião de que o lugar do Padre é na Sacristia e que não deve se “meter na política”.

          Antes do Concílio Ecumênico Vaticano II, havia três autoridades nas cidades de nosso imenso País, especialmente no Interior: O Vigário, o Prefeito e o Juiz, não necessariamente nessa ordem. A partir do mesmo Concílio a Igreja Católica vem incentivando seus fiéis, através do Magistério, das Conferências Episcopais, especialmente “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil sempre se manifestou sobre questões políticas”. Como Mãe e Mestra, a Igreja não tem medido esforços na formação de consciência política, consciência cidadã e consciência crítica, resgatando através do diálogo respeitoso a dignidade do povo, buscando à luz do Evangelho, o resgate do Reino de Deus, que é um reino de justiça.

          É bem verdade que não devemos confundir Homilias com Discursos Políticos e muito menos sermos partidários políticos. Mas nossa Igreja se declina sobre a afirmação do Documento de Aparecida, n. 395: “A Igreja se sente chamada a ser ‘advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu’. Para cumprir essa missão, a Igreja incentiva os fiéis a interagir com a política”.

          Já o Papa Francisco na Evangelii Gaudium, n. 183 afirma que não podemos ficar indiferentes diante dos desafios que se nos impõem os Poderes Constituídos, e que “Uma fé autêntica – que nunca é cômoda nem individualista – (passiva ou intimista, mera cumpridora de preceitos, sem que a fé seja confrontada com obras e compromisso de mudança daquilo que não vai bem) comporta sempre um desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela”.

          São inevitáveis determinadas expressões como poder e cargos, embora confesse tais denominações inconvenientes seja na política, como na sociedade, uma vez que qualquer detenção de poder, ou deferimento de qualquer cargo, tanto na política, e mais ainda em nossas atividades pastorais, se não for convertido em serviço, certamente será de dimensões desastrosas tanto para quem os detém, quanto para quem deles deveria ser beneficiado. Aqui prevalece o mandamento dado pelo próprio Cristo naquela noite em que instituiu a Eucaristia, a alma da Igreja: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Deixei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13,14). “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35). “Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mc 10,43-44).

          Me parece vergonhoso o que temos assistido em nosso Congresso Nacional – Câmara de Deputados e Senado: leis que anistiam os partidos e congressistas que cometeram crimes eleitorais, ignorando a Lei da Ficha Limpa; o inconformismo com a exigência de mínima transparência em relação às emendas parlamentares, especialmente as tais “Emendas PIX”; leis que visam somente a “zona de conforto dos legisladores” em detrimento de quem os elegeu; a infiltração de milícias e PCCs nos partidos antes sérios e nem por último a ganância da impunidade parlamentar, deixando os congressistas à vontade de crimes, desde os mais medíocres aos mais graves. Há quem diga: “Quer roubar, matar, cometer os mais diversos delitos, sem ser condenado, seja deputado”! Nem todos são assim, mas poucos escapam de sê-lo lamentavelmente. Por isso, precisamos estar sempre muito atentos em quem votaremos, até nas próximas eleições a Prefeitos e Vereadores!

          Poder e cargos na vida pública, se não convertidos em serviço desinteressado, adoece nossas Instituições e impõem pesados fardos sobre o povo de uma Nação!



Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo