A IGREJA NÃO É SUPERMERCADO DE SACRAMENTOS!
No próximo domingo celebraremos o Batismo do Senhor. Muitas pessoas queridas me enviam mensagens por WhatsApp, E-mail ou ligam pedindo informações sobre o que é necessário para batizarem seus filhos. Com muita ternura respondo que não trato a celebração de batizados, a não ser pessoalmente. Mesmo assim pergunto à qual Comunidade Paroquial pertencem e qual Igreja frequentam. Impõem-se de pronto um silêncio do outro lado da linha. Depois de repetir a pergunta, as respostas são as mais estranhas possíveis: uns dizem que não participam de nenhuma Paróquia, outros afirmam participar de Missas em Paróquias diversas de acordo com sua disponibilidade, e outros ainda dizem que na Paróquia que frequentam ou não há horários disponíveis ou não foram aprovados para batizar seus filhos.
Alguns aceitam uma conversa preliminar presencial, já outros desligam o telefone com a impressão de descontentamento, e ainda outros somem porque não participam de nenhuma Comunidade. O Batizado, a não ser em casos emergenciais, deve sempre ser celebrado juntamente com a Comunidade de Fé, Oração e Amor. O Batismo, sendo o primeiro Sacramento da Iniciação Cristã, é a porta de entrada para a grande Família de Deus. A criaturinha batizada, mergulhada na Pia ou Bacia Batismal, celebra seu segundo parto, nascendo do útero da Igreja. Pais, Padrinhos e Familiares renovam naquela ocasião suas próprias Promessas Batismais, prometendo educar na mesma fé, que eles um dia receberam, a criança, agora adotada como filhinha de Deus!
Quando, nas celebrações dos Batizados pergunto aos pais e padrinhos, se sabem o dia em que foram batizados, a maioria diz “não”. Fico triste, porque se não sabem o dia do batismo, como podem afirmar que o celebram e que o vivem, conscientemente, inseridos e comprometidos numa Comunidade?
Gosto de comparar a fé recebida no Batismo, contando uma pequena estória: Um moço pretende noivar com a menina por quem se sente apaixonado. Vai à casa dos pais dela para pedi-la em noivado. Antes passa numa joalheria para comprar o anel de noivado. A atendente que lhe vende um belíssimo anel de brilhantes, embrulha-o num lindo estojo aveludado e faz um bonito pacotinho de presentes, com fitinha e o selo da joalheria. Já na casa da menina, o rapaz faz o pedido e entrega-lhe o pacote com o anel de noivado. A moça fica encantada com o embrulho. Nem se dá o trabalho de abrir o lacinho e desembrulhar o estojo que contém o anel de brilhantes. Recebe o pacote e corre para escondê-lo na última gaveta de sua camiseira, a fim de que ninguém o encontre. Fica lá escondido e somente ela sabe onde o guardou. É exatamente o que muitos fazem com a fé (aqui comparada ao anel de brilhantes) recebida no dia do seu batismo. Escondem-na e ninguém mais verá, como o anel que deveria brilhar no dedo da moça, a fé não é demonstrada a mais ninguém. Fé que não brilha é fé sem obras. É fé ensimesmada!
Ao final de cada batizado costumo entregar uma Bíblia aos pais, lembrando que eles são os primeiros catequistas de seus filhos. A maioria terceiriza a catequese dos filhos, como terceirizam o aprendizado da alfabetização, da natação e de tantas outras atividades, quando a criança já aprendeu a andar, falar e até a cantar as músicas de cantoras famosas.
É na Comunidade de Fé, Oração e Amor que as Famílias encontram suporte para acolher, inserir e transmitir os valores religiosos aos seus filhos. Numa das Comunidades em que sirvo, um menino de um aninho de idade acompanha os pais às celebrações todos os sábados. O pai toca violão e serve a Comunidade através do Ministério da Música. Já a mãe participa cuidando do filhinho, que corre de um lado a outro expressando uma alegria imensa e gesticulando as mãozinhas, como que rezando e cantando com a Comunidade. Logo esse menino, a exemplo dos pais, estará servindo sua Comunidade, porque se sente acolhido e amado por ela. Já os que depois dos batizados “sumiram”, talvez continuem compreendendo a Igreja como supermercado de sacramentos, e isso precisa mudar!
Pe. Gilberto Kasper
Teólogo