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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

A IGREJA NÃO É SUPERMERCADO DE SACRAMENTOS!

A IGREJA NÃO É SUPERMERCADO DE SACRAMENTOS!

No próximo domingo celebraremos o Batismo do Senhor. Muitas pessoas queridas me enviam mensagens por WhatsApp, E-mail ou ligam pedindo informações sobre o que é necessário para batizarem seus filhos. Com muita ternura respondo que não trato a celebração de batizados, a não ser pessoalmente. Mesmo assim pergunto à qual Comunidade Paroquial pertencem e qual Igreja frequentam. Impõem-se de pronto um silêncio do outro lado da linha. Depois de repetir a pergunta, as respostas são as mais estranhas possíveis: uns dizem que não participam de nenhuma Paróquia, outros afirmam participar de Missas em Paróquias diversas de acordo com sua disponibilidade, e outros ainda dizem que na Paróquia que frequentam ou não há horários disponíveis ou não foram aprovados para batizar seus filhos.

Alguns aceitam uma conversa preliminar presencial, já outros desligam o telefone com a impressão de descontentamento, e ainda outros somem porque não participam de nenhuma Comunidade. O Batizado, a não ser em casos emergenciais, deve sempre ser celebrado juntamente com a Comunidade de Fé, Oração e Amor. O Batismo, sendo o primeiro Sacramento da Iniciação Cristã, é a porta de entrada para a grande Família de Deus. A criaturinha batizada, mergulhada na Pia ou Bacia Batismal, celebra seu segundo parto, nascendo do útero da Igreja. Pais, Padrinhos e Familiares renovam naquela ocasião suas próprias Promessas Batismais, prometendo educar na mesma fé, que eles um dia receberam, a criança, agora adotada como filhinha de Deus!

Quando, nas celebrações dos Batizados pergunto aos pais e padrinhos, se sabem o dia em que foram batizados, a maioria diz “não”. Fico triste, porque se não sabem o dia do batismo, como podem afirmar que o celebram e que o vivem, conscientemente, inseridos e comprometidos numa Comunidade?

Gosto de comparar a fé recebida no Batismo, contando uma pequena estória: Um moço pretende noivar com a menina por quem se sente apaixonado. Vai à casa dos pais dela para pedi-la em noivado. Antes passa numa joalheria para comprar o anel de noivado. A atendente que lhe vende um belíssimo anel de brilhantes, embrulha-o num lindo estojo aveludado e faz um bonito pacotinho de presentes, com fitinha e o selo da joalheria. Já na casa da menina, o rapaz faz o pedido e entrega-lhe o pacote com o anel de noivado. A moça fica encantada com o embrulho. Nem se dá o trabalho de abrir o lacinho e desembrulhar o estojo que contém o anel de brilhantes. Recebe o pacote e corre para escondê-lo na última gaveta de sua camiseira, a fim de que ninguém o encontre. Fica lá escondido e somente ela sabe onde o guardou. É exatamente o que muitos fazem com a fé (aqui comparada ao anel de brilhantes) recebida no dia do seu batismo. Escondem-na e ninguém mais verá, como o anel que deveria brilhar no dedo da moça, a fé não é demonstrada a mais ninguém. Fé que não brilha é fé sem obras. É fé ensimesmada!

Ao final de cada batizado costumo entregar uma Bíblia aos pais, lembrando que eles são os primeiros catequistas de seus filhos. A maioria terceiriza a catequese dos filhos, como terceirizam o aprendizado da alfabetização, da natação e de tantas outras atividades, quando a criança já aprendeu a andar, falar e até a cantar as músicas de cantoras famosas.

É na Comunidade de Fé, Oração e Amor que as Famílias encontram suporte para acolher, inserir e transmitir os valores religiosos aos seus filhos. Numa das Comunidades em que sirvo, um menino de um aninho de idade acompanha os pais às celebrações todos os sábados. O pai toca violão e serve a Comunidade através do Ministério da Música. Já a mãe participa cuidando do filhinho, que corre de um lado a outro expressando uma alegria imensa e gesticulando as mãozinhas, como que rezando e cantando com a Comunidade. Logo esse menino, a exemplo dos pais, estará servindo sua Comunidade, porque se sente acolhido e amado por ela. Já os que depois dos batizados “sumiram”, talvez continuem compreendendo a Igreja como supermercado de sacramentos, e isso precisa mudar!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

VIVAMOS O DIA MUNDIAL DA PAZ COM ESPERANÇA!

 

VIVAMOS O DIA MUNDIAL DA PAZ COM ESPERANÇA!

 

A vida pode ser uma sucessão de coincidências felizes, de encontros prazerosos, de união entre as pessoas. Mas nem sempre é isso o que vemos ao nosso redor. Na correria diária, são muitos os “ruídos” que tiram o nosso sossego e atrapalham a nossa convivência.

          Por vezes nos tornamos porta-vozes da difamação ao invés de instrumentos da Paz. Como então celebramos no último final de semana a Festa da Sagrada Família, Jesus, Maria e José, se desfiguramos nossas próprias famílias por causa de ideologias tantas vezes nefastas? E a Oitava de Natal que celebra a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, juntamente com o Dia Mundial da Paz no primeiro dia do Novo Ano? Que tipo de paz promovemos entre nós? A paz de cemitério, que nos silencia por medo de criarmos “encrencas”, ou a verdadeira paz trazida desde a manjedoura que tanto decantamos no recente Natal celebrado? Essa última exige de nós posturas e respostas proféticas de amor, verdade, justiça e liberdade em todos os sentidos. Não somente naquilo que nos convém! Celebrando o Jubileu Ordinário do Nascimento do Salvador, o convite é de que sejamos “Peregrinos de Esperança” e, portanto, vivamos o dia mundial da paz com esperança!

          Na era da Internet, toda e qualquer mensagem se propaga num piscar de olhos. Fatos que ocorrem num canto do planeta atravessam fronteiras, chegando a outras cidades, outros países e continentes com a rapidez de um clique. Alimentadas pela fofoca, histórias que envolvem a intimidade das pessoas tomam proporções inimagináveis e invadem nossos lares como se fossem verdades absolutas. E essas histórias fomentam antipatias, preconceitos e desprezo.

          Outro agente semeador de discórdia é a necessidade que alguns têm de impor suas idéias e sua maneira de ser. Parecem querer provar a si mesmos que são superiores aos outros. Muitas pessoas gostam de recitar a Oração de São Francisco, como um poema em homenagem à Paz. É fundamental que todos compreendam que a construção desta Paz, em nível mundial ou dentro de casa, depende de cada um de nós. Depende de uma mudança de conduta pessoal. Nas palavras de São João Paulo II num discurso que fez em Assis, a Paz é descrita como um canteiro de obras aberto a todos: “A paz é uma responsabilidade universal: passa através de milhares de pequenos atos da vida cotidiana. Por seu modo cotidiano de viver com os outros, as pessoas optam pela Paz ou a descartam”.

          Sempre que deparamos com a tentação da discórdia, é bom lembrar o exemplo da Família de Nazaré. Foram muitas as apreensões vividas por Maria, José e o Menino Jesus enquanto buscavam um lugar seguro para morar, mas em nenhum momento perderam o sentido da união. Mantiveram-se juntos para o que desse e viesse.

          Assim também deve ser a nossa vida. Não podemos nos perder uns dos outros. E, mais importante ainda, não podemos nos perder de Deus, que é a fonte de toda união. Não nos afastemos de sua Palavra em nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. A fé em Deus nos ensina a contribuir para a união entre os seres humanos.

          Esse discernimento nos leva a refletir antes de realizarmos toda e qualquer ação. A reflexão é o exercício dos sábios. Quando desenvolvemos o hábito de refletir, conseguimos criar um equilíbrio entre razão e emoção, atuando com mais cordialidade e gentileza. Nossas palavras serão mais adequadas, nossas conversas mais oportunas e positivas. Nossas decisões serão mais justas. Nosso comportamento dará aos outros a certeza de que somos, de verdade, protagonistas da paz que vem do Salvador, nascido entre nós há 2024 anos, convidando-nos a viver e conviver esse grande Jubileu Ordinário, como verdadeiros “Peregrinos de Esperança”!

Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo

terça-feira, 24 de dezembro de 2024

NATAL DA SINODALIDADE COM SABOR DE JUBILEU

 NATAL DA SINODALIDADE COM SABOR DE JUBILEU!


O Natal é a celebração de Deus que, em Jesus Menino, assume a fragilidade humana. A pessoa humana, tão sensível e pequena, se torna roupagem da manifestação de Deus. Desce o divino que eleva o humano.



 O Natal manifesta a determinação de Deus em querer encontrar-se conosco, propondo uma forma de acolher e cuidar de cada pessoa em sua peculiar dignidade. Torna-se por isso visível e palpável! O Natal é a “Sinodalidade” pura, porque o Senhor da Vida vem para “Caminhar Junto” de seu povo Há 2024 anos; daí a celebração do Jubileu dos 2025 anos de Jesus Cristo! Caminhemos juntos na comunhão, participação e missão sempre!


 Natal é comunhão! Deus não desiste dos homens e por isso sempre encontra meios de bater a nossa porta. “Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa” (Ap 3,21). Em tempos de insegurança temos medo de abrir as portas e isto pode impedir de acolher o Senhor que quer habitar em nossa casa, fazer refeição conosco e oferecer a salvação. São tantas as batidas em nossas portas: telefonemas, e-mails, mensagens de Whats App, carteiros trazendo cartões, vendedores… abrir a porta requer atitudes de discernimento, comunhão e hospitalidade.


 Natal é participação! Deus, para realizar o seu projeto de amor, recebeu a acolhida de Maria. Inicia um diálogo com ela que termina com as palavras de Maria “Eis a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38). A participação requer escuta, argumentação, proposição e respeito entre os dialogantes. A participação possibilita conhecer as pessoas e criar laços de solidariedade e amizade. O contrário da participação são os fundamentalismos. Que aprendamos a participar com os planos de Deus e das pessoas.


 Natal é missão! Todas as criaturas necessitam de cuidado. O ser humano com a sua criatividade e inteligência tem uma imensa capacidade de desenvolver meios de cuidado e de destruição. Ao mesmo tempo em que assistimos imensos avanços na medicina para cuidar da vida, assistimos o desenvolvimento de tecnologias que geram a morte. “Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa” (Mt 1,24). Deus restabelece a confiança de José em Maria e ele passa a cuidar de Maria e de Jesus. Cuidar uns dos outros é nossa missão diante de Deus.


          “Encontrarão um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura” (Lc 2,12). Os pastores, em sua simplicidade, acolheram a mensagem do anjo e foram ao encontro do Deus Menino, deitado na manjedoura. Só o encontraram por que abriram a porta da sua vida e assim estabeleceram um diálogo.


O Natal é a “Sinodalidade” concreta, porque o Senhor da Vida vem para “Caminhar Junto” de seu povo há 2024 anos! Caminhemos juntos na comunhão, participação e missão em mais este aniversário de Jesus com sabor de Jubileu!


Feliz, santo e abençoado Natal repleto de toda minha ternura!


Pe. Gilberto Kasper

          Teólogo