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quarta-feira, 25 de maio de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Eu vos chamo, ó meu Deus, porque me ouvis;
inclinai o vosso ouvido e escutai-me!” (Sl 16,6). 
           
            Hoje, especialmente hoje, como todos os domingos, é festa. Grande festa, pois é domingo, dia semanal em que celebramos a Páscoa do Senhor e nossa Páscoa. Como, aliás, diz uma das orações do Missal: “Senhor, Pai santo, é nosso dever e salvação, dar-vos graças e bendizer-vos, porque, neste domingo festivo, nos acolhestes em vossa casa. Hoje, vossa família, reunida para escutar vossa Palavra e repartir o Pão consagrado, recorda a ressurreição do Senhor, na esperança de ver o dia sem ocaso, quando a humanidade inteira repousará junto de vós. Então, contemplaremos vossa face e louvaremos sem fim vossa misericórdia”.
            O Senhor nos fala, quando são proclamadas as Escrituras. Somos convidados a alimentarmo-nos dela, comungando-a como comungamos o pão consagrado, que é Seu próprio Corpo dado a nós, tornando nosso coração seu “Porta-Jóias”, seu “Sacrário” ou seu “Tabernáculo” Que tal comunhão da Palavra e da Eucaristia continue ressoando aos nossos ouvidos e aquecendo nosso coração.
            Contemplamos neste Nono Domingo do Tempo Comum o exemplo de fé deixado pelo oficial romano. Seu testemunho nos anima a celebrar e fortalece nossa caminhada. Segundo o Papa Emérito Bento XVI, “a fé vivida abre o coração à graça de Deus, que liberta do pessimismo”, e o Ano Santo pode ser compreendido como “uma peregrinação nos desertos do mundo contemporâneo, em que se deve levar apenas o que é essencial: o evangelho e a fé da Igreja”.
            A nos une na escuta da palavra de Deus. Ela reconhece fronteiras e faz de muitos povos e grupos um só povo comprometido com o evangelho de Jesus.
            Somos convidados a rezar por todas as pessoas, e todas podem ter acesso à casa que é de todos, a Igreja. A fé não conhece fronteiras nem grupos étnicos ou religiosos. Para ser fiel a Jesus Cristo, é preciso fidelidade ao evangelho em sua essência.
            A Palavra nos coloca hoje frente a uma admirada e elogiada por Jesus. Que ? “A fé que não conhece fronteiras nem raças. Jesus Cristo e o Pai que ele veio revelar são os mesmos em qualquer parte do mundo. Pode acontecer que, como aconteceu com Jesus, encontremos mais fé fora que dentro de ambientes religiosos. Isso nos deve manter em atitude humilde e respeitosa. O respeito é devido também a quem não crê ou professa a nossa mesma fé. Temos em comum a mesma fé no Senhor morto e ressuscitado por nós, mas cada povo deve expressar a própria fé a partir de sua cultura e realidade”.
            Os que moram mais perto da Igreja não são necessariamente os que têm mais fé. Muitos cristãos tratam a religião como tradição de família ou forma de aparecer; mas no fundo do seu coração não acreditam, não dão crédito a Deus. Dirigem-se por seu próprio nariz, sem deixar Deus se intrometer nos seus negócios... Decidem por conta própria o que lhes convêm, Deus e religião à parte. E mesmo quando estão em apuros por interesse próprios. Diferente é a fé do oficial romano pagão, que usa a magnífica imagem tirada da vida militar para reconhecer o poder de Jesus e lhe pedir pela vida de seu empregado. Este pagão reconheceu em Jesus a presença do Deus da vida.
            Então poderíamos perguntar e nos questionar: Será que também hoje se encontra tamanha fé entre os que não pertencem oficialmente à Igreja, mas talvez no coração estejam mais próximos de Jesus do que nós? Não apenas os pagãos que ainda não ouviram o Evangelho..., mas os pagãos de nossas selvas de pedra, de nossa sociedade, que abafou o Evangelho a tal ponto que, apesar dos muitos templos, ela já não chega ao ouvido das pessoas. Tal que se diz ateu, talvez porque nunca encontrou verdadeiro cristianismo, ou tal que vive dissoluto, por ter sido educado assim; ou então, tal que busca Deus com o coração irrequieto de Santo Agostinho... todos esses não receberão maior elogio de Deus do que os cristãos acomodados?
            Graças a Deus que sua Palavra hoje nos faz tomar consciência disso. É muito bom para todos nós, cristãos, discípulos e discípulas de um Mestre muito especial, Jesus Cristo. É bom e libertador, porque nos ajuda a descobrir a riqueza dos outros, o modo como Deus se manifesta em todo o universo humano. É bom e libertador, porque aprendemos a dar mais valor a esse modo único no qual Deus se dá a conhecer em Jesus Cristo.
            Que o Espírito Santo de Deus e seu santo modo de operar nos ilumine, para sermos humildes e termos a admirável fé que teve o oficial romano, não judeu, portanto pagão, que generoso e solidário com os outros, foi capaz de ver, no ser divinamente humano, Jesus de Nazaré, a presença perfeita do Deus solidário, o Deus da vida.
            Insisto sempre comigo mesmo e com meus interlocutores, que nossa fé só amadurecerá na medida em que for comprometida com os valores essenciais ao cristão: amor gratuito, verdade, justiça, liberdade e paz. A vivência em nossas Comunidades, Pastorais e Movimentos de uma madura, logo comprometida, só será verdadeira, na medida em que tivermos coragem de profunda conversão, coerência entre o que cremos e vivemos e bom senso, que nos incentive ao zelo e sensibilidade pastorais sempre!
Sejam sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 8,41-43; Sl 116(117); Gl 1,1-2.6-10 e Lc 7,1-10).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2016, pp. 100-102 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Maio de 2016), pp. 21-24.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - FESTA DE CORPUS CHRISTI

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo recorda o mistério da encarnação de Jesus, que veio ser nosso companheiro e alimento em nossa caminhada de peregrinos. Ele mesmo nos diz: Quem come minha carne e bebe meu sangue possui a vida eterna.
O alimento é necessário para a vida da pessoa, o pão eucarístico é fundamental para a vida do cristão. O pão alimenta e une as pessoas. Cristo, o verdadeiro alimento descido do céu, fortalece-nos na busca da eternidade.
A dureza do deserto mostra que o ser humano não é autossuficiente. Comer a carne e beber o sangue de Cristo é assimilá-lo e assumir seu projeto. Na Eucaristia participamos da vida (corpo) e da morte (sangue) de Cristo. A Eucaristia é o banquete sagrado no qual a assembleia participa dos bens do sacrifício pascal e renova a aliança feita por Deus com toda a humanidade, uma vez para sempre, no sangue de Cristo.
Comer a carne de Cristo feito pão e beber o sangue feito vinho, significa assimilar em nossos corpos essa Palavra viva que Ele é. Não é só uma questão piedosa de receber Jesus no coração. Trata-se de, na ação de comer e beber, assimilar em nós a fala maior, a saber, o nutriente maior que é a doação total do Senhor Jesus, para sermos também nós uma entrega a serviço dos irmãos. Comer deste Pão quer dizer aceitar identificar-se com esse Cristo, tornar-se como Ele, e com Ele formar um só corpo. Comungar o corpo de Cristo quer dizer aceitar, identificar-se com esta Palavra viva do Pai que é Ele mesmo, Jesus Cristo. Caso contrário, não temos vida, tudo desmorona, a sociedade vira um caos.
Assimilar o Corpo-Palavra de Cristo e identificar-se com Ele significa, ao mesmo tempo, comungar o corpo de Cristo eclesial, comprometer-se com ele. Não dá para separá-los. Não se comunga o corpo de Cristo sem comungar o corpo do irmão, sobretudo o fraco, pelo qual Cristo morreu. Caso contrário, fazemos da Eucaristia uma idolatria e nos tornamos cúmplices da morte. É bom pensar nisso!
Fortalecidos pela comunhão com o Corpo de Cristo e, consequentemente, com todos os membros deste Corpo, partimos para a missão em favor de uma sociedade sempre mais fraterna e solidária: em favor da vida!
Celebrar a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo pretende amadurecer nossa consciência, de que devemos amar apaixonadamente a Eucaristia sempre, porém, tornando-nos o sacrário, tabernáculo, ostensório, custódia do Cristo Eucarístico, que sacia a fome e a sede de amor, ternura, justiça, liberdade, verdade e paz da humanidade toda. As pessoas, olhando para nós, devem enxergar o próprio Cristo contemplado em nossas atitudes. Isso nem sempre é fácil. Muitas vezes adoramos Jesus na Hóstia Consagrada e o ignoramos no outro. Nossa insensibilidade para com os irmãos contradiz qualquer homenagem que fazemos diante do Sacrário.
É bom expressar nossa alegria em reconhecer, a partir de nossa fé, a presença eucarística na Hóstia Consagrada desfilando entre nós. Desde que essa festa produza atitudes concretas de amor maior entre nós. Havia um homem muito simples, que diariamente entrava na Igreja, por volta do meio-dia. Sentava-se no último banco e ali permanecia quieto, sem nada dizer, rezar, falar, permanecia em silêncio. As senhoras piedosas que zelavam pela Igreja Matriz, pediram ao Padre que averiguasse as intenções daquele homem. Poderia ser um ladrão, alguém que estaria estudando um modo de roubar alguma imagem da Igreja ou assaltar o cofre. Ao ser perguntado pelo Padre o que fazia, diariamente, sentado no último banco da Igreja sem nada dizer, o homem, apontando para o Sacrário respondeu: “Senhor Padre! Venho aqui no horário do meu almoço. Trabalho aqui perto. Não tenho como almoçar em casa. Então venho aqui e fico olhando para Ele e Ele olha para mim!” O Padre perguntou de quem falava? O homem respondeu: “Padre, eu olho para Jesus e Jesus lá do sacrário olha para mim...” O Padre, um tanto constrangido, acalmou as senhoras e passou a imitar o pobre homem, dedicando mais tempo de silêncio diante do Sacrário, todos os dias!
A filha do sacristão de determinada Igreja, foi surpreendida pelo pai, beijando a hóstia grande já preparada na patena, para a Missa. O pai lhe disse: “Sua bobinha. Por que beija esta hóstia aí, que ainda nem foi consagrada? Jesus nem aí está!” A menina respondeu imediatamente: “Papai, bobinho é você. Eu sei que Jesus ainda não está nesta hóstia grande. Mas quando o Padre a erguer e Ele chegar nela, encontrará meu beijo, está bem?”
Que a Eucaristia cure, como um antibiótico, as infecções de nossos pecados e, como vacina, nos impermeabilize das tentações. Seja eficaz em nossas relações mais humanas e dignas entre nós.

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Gn 14,18-20; Sl 109(110); 1 Cor 11,23-26 e Lc 9,11-17).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2016, 92-95 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Maio de 2016), pp. 14-20.

FESTA DE CORPUS CHRISTI E CEM ANOS DA CATEDRAL!

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.


A Festa de Corpus Christi é a celebração em que solenemente a Igreja comemora a instituição do Santíssimo Sacramento da Eucaristia; sendo o único dia do ano que o Santíssimo Sacramento sai em procissão às nossas ruas; em
que os fiéis agradecem e louvam a Deus pelo inestimável dom de Eucaristia, na qual o próprio Senhor se faz presente como alimento e remédio de nossa vida.

 Neste ano a Solenidade de Corpus Christi será marcada pela Abertura dos Cem Anos da Catedral de São Sebastião. A grande Concelebração Eucarística, presidida por nosso Arcebispo Metropolitano, Dom Moacir Silva, será às 17h30 na Escadaria Principal da Catedral e Alameda da Praça das Bandeiras. Comemoraremos dia 19 de Junho o 160º Aniversário de Fundação e o 145º de Emancipação Político-administrativa de nossa amada Cidade de Ribeirão Preto, igualmente, motivo de ação de graças por tudo de bom que somos e temos, bem como refletir sobre o exercício da cidadania de nosso povo e o que lhe impede a promoção de sua verdadeira dignidade humana. Igreja e Governo poderiam aproveitar este momento solene, abraçando-se em torno da preservação da Catedral Metropolitana de São Sebastião: Sinal de Fé, de Cultura e de História!
           
O Papa Urbano IV (1262-1264), que residia em Orvieto, cidade próxima de Bolsena, onde vivia São Tomás de Aquino, informado do milagre eucarístico: da hóstia consagrada começaram a cair gotas de sangue sobre o corporal após a consagração. Alguns dizem que isto ocorreu porque o Padre Pedro de Praga, da Boêmia, Itália, teria duvidado da presença real de Cristo na Eucaristia, então, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse as relíquias de Bolsena a Orvieto. Isso foi feito em procissão. Quando o Papa encontrou a Procissão na entrada de Orvieto, teria então pronunciado diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi”.
Em 11 de agosto de 1264 o Papa emitiu a bula "Transiturus de mundo", onde prescreveu que na quinta-feira após a oitava de Pentecostes, fosse oficialmente celebrada a festa em honra do Corpo do Senhor.

Em 1290 foi construída a belíssima Catedral de Orvieto, em pedras pretas e
brancas, chamada de "Lírio das Catedrais". Antes disso, em 1247, realizou-se a primeira procissão eucarística pelas ruas de Liège, como festa diocesana, tornando-se depois uma festa litúrgica celebrada em toda a Bélgica, e mais tarde,  em todo o mundo no séc. XIV, quando o Papa Clemente V confirmou a Bula de Urbano IV, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial.
           
Em 1317, o Papa João XXII publicou na Constituição Clementina o dever de se levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas. A partir da oficialização, a Festa de Corpus Christi passou a ser celebrada todos os anos na primeira quinta-feira após o domingo da Santíssima Trindade. A celebração normalmente tem início com a missa, seguida pela procissão pelas ruas da cidade, que se encerra com a bênção do Santíssimo.


É uma ocasião ímpar de testemunhar nossa fé, de que a Eucaristia é a alma da Igreja. Não existe Igreja sem Eucaristia. É, também, oportunidade de invocar bênçãos sobre as famílias, os enfermos, os surrados pela vida de nossa rica cidade. Que a Festa de Corpus Christi deste ano tenha um sabor de menos violência, menos mentiras maquiadas de verdades, menos corrupção, menos inveja, menos competição na busca de poder e prestígio. Que a Festa de Corpus Christi impulsione todos os cristãos e cidadãos da aniversariante cidade de Ribeirão Preto a melhorarem sua qualidade de vida, sendo Anjos uns dos outros!

Paróquia Santa Ângela de Ribeirão Preto recebe a Relíquia de Santa Rita de Cássia

Em 22/05/2016, dia de Santa Rita de Cássia, houve uma missa presidida pelo Bispo de Ribeirão Preto, Dom Moacir, e que foi iniciada às 10 horas na Paróquia Santa Ângela na cidade de Ribeirão Preto, celebrando a recepção e consagração ao altar da Relíquia de Santa Rita de Cássia.

Meses atrás uma comitiva foi até Cássia e Roma, na Itália, e recebeu esta Relíquia autêntica das mãos da Igreja, trazendo para Ribeirão Preto, deixando sua apresentação aos fiéis para o dia de Santa Rita.

Foram momento muito emocionantes. Meus pais, Demetrio e Cleusa, que são devotos de Santa Rita e muito ativos na Igreja Santa Ângela, que fizeram parte da comitiva acima comentada, ficaram encarregados de entrar na Igreja, logo no início da celebração, com a Relíquia em mãos.

Esta Relíquia, que é um fragmento do osso da Tíbia de Santa Rita, pode ser vista na Igreja citada, localizada ao centro do altar. Lembro que a Santa Rita de Cássia é das causas impossíveis e que seu corpo se encontra incorruptível até os dias de hoje.

Seguem algumas fotos que marcaram este dia de Graça e Fé:






quarta-feira, 18 de maio de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE - COMUNIDADE DE AMOR E MISERICÓRDIA


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações
o Espírito do seu Filho, que clama: Abba, Pai” (Gl 4,6).
  
            Domingo passado, celebramos o dom do Espírito Santo sobre cada um de nós. Assim concluímos os cinquenta dias das solenidades pascais. Na Páscoa de Jesus e em nossa páscoa na dele, pudemos experimentar como Deus foi – e continua sendo – extremamente bom para conosco.
            Hoje, como que buscando vivenciar ainda mais intensamente a beleza de Deus, celebramos sua própria intimidade de amor e vida a se expandir para dentro da história da humanidade.
            Que bom estarmos reunidos, na Solenidade da Santíssima Trindade. Deus nos fala, pelas leituras bíblicas proclamadas. Deixemos que o Senhor nos explique o que ele nos disse: primeiro recordando, brevemente, o que Ele nos falou para, depois, mergulharmos mais fundo no mistério da festa deste domingo e, enfim, celebrá-lo bem na liturgia e no nosso próprio viver cristão do dia a dia.
            Bendito seja o Pai, bendito seja o Filho unigênito e bendito o Espírito santificador. Somos todos acolhidos, amados e convidados a fazer parte da Família de Deus.
            O Espírito da verdade nos fala através da Palavra proclamada. Prometido por Jesus, ele nos leva a experimentar o amor de Deus, que nos conhece e nos ama desde toda a eternidade.
            A verdadeira sabedoria procede de Deus e precede a humanidade, é posterior a Deus e anterior ao universo, é inferior a Deus e superior ao mundo. O Espírito nos faz conhecer os planos do Pai celeste revelados em Jesus. Deus derramou seu amor sobre cada um de nós.
            Na Eucaristia damos graças ao Pai, por Cristo, no Espírito, pelas maravilhas da criação e principalmente por seu plano de salvação que continuamente nos reúne e atua em nossa vida.
            Santíssima Trindade! Eis a riqueza inesgotável que a Igreja nos aponta para que saibamos onde Deus abre seu íntimo para nós: em seu Filho Jesus e no Espírito de Jesus que nos anima. Lá encontramos Deus, o encontramos não como bloco de granito, monolítico, fechado, mas como pessoas que se relacionam, tendo cada uma sua própria atuação: o Pai que nos ama e nos chama à vida; o Filho Jesus que, sendo bom e fiel até o dom da própria vida na morte de cruz, nos mostra de que jeito é o Pai; e o Espírito Santo, que ainda de outro jeito, fica sempre conosco. O Espírito atualiza em nós a memória da vida e das palavras de Jesus e anima a Igreja. Todos os três estão unidos e formam uma unidade naquilo que Deus essencialmente é: amor.
            Que bom seria se toda a humanidade tomasse consciência desta riqueza de vida e se conectasse com ela!... A saber, que somos, juntamente com todas as criaturas, totalmente permeados pela presença do amor criativo, ativo e unitivo da Trindade santa. Para além (ou aquém) das couraças e armaduras de nosso corpo pessoal e social, este amor trinitário está presente, fez de nós sua morada, seu espaço predileto. O problema é que nos identificamos facilmente com o efêmero de nossas couraças e armaduras, nosso ego, de tal modo que nos desconectamos da nossa essência, com tristes consequências: perdemos a unidade, nos fragilizamos, nos fragmentamos, nos tornamos inseguros, medrosos, desesperados, estressados, agressivos, amargurados, sem qualidade de vida pessoal e social.
            Sobretudo em nossos tempos, quando a humanidade tende a isso mesmo, à falta de qualidade de vida, decorrente do endeusamento do efêmero e transitório, temos que aprender a nos conectarmos sempre mais à essência de nós mesmos, isto é, à Trindade santa que nos habita. Então o mundo será melhor, com certeza.
            A Santíssima Trindade é a melhor comunidade, feita união, comunhão e partilha. A partir dela, em conexão permanente com ela, é que seremos bons colaboradores dela para uma sociedade humana mais sadia.
            Como é interessante que haja tanta disparidade, desunião, inveja e competição entre cristãos, que se sentem filhos de Deus, irmãos de Jesus Cristo, animados pelo Espírito Santo. Não causaria tamanha contrariedade uma tristeza profunda no coração do Senhor? Gosto de pensar a Santíssima Trindade como Comunidade Perfeita a ser acolhida, imitada, vivida e anunciada com a vida relacional dos cristãos, especialmente das Comunidades que celebram um mesmo mistério, cada um a seu modo, mas que nem sempre conseguem viver o mesmo mistério com a disponibilidade da conversão, da coerência entre fé e ação e, finalmente o bom senso.
            O amor com sabor divino que somente a pessoa é capaz de experimentar é o “ingrediente” principal da Santíssima Trindade: o Pai é o amante; o Filho é o amado e o Espírito Santo é o amor com o qual o Pai ama o Filho e no Filho, cada um de nós, criaturas prediletas feitas à Sua imagem e semelhança.
            Saibamos amar as pessoas com amor de sabor divino, e só assim transformaremos o mundo do desamor!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5 e Jo 16,12-15).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2016, pp. 82-84 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum I (Maio de 2016), pp. 9-13.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE PENTECOSTES


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            O Domingo de Pentecostes (no qual desemboca todo o tempo pascal) recorda o Espírito Santo, dom do Pai, Amor de Deus derramado sobre nós, condição de nossa comunhão no Cristo Ressuscitado, fonte da transformação pascal de toda a realidade. Esta festa ativa em cada um de nós a vocação e a capacidade para o encontro, para o amor, para a união, para a doação, como pede a aclamação ao Evangelho: Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”.
            No Pentecostes, o mistério pascal é celebrado como um todo (morte, ressurreição, ascensão, envio do Espírito).
            Neste dia, o mistério pascal atinge a sua plenitude no dom do Espírito derramado em nossos corações. Imbuídos deste mesmo Espírito somos capacitados para o anúncio da Boa Notícia, sem temer perseguições, nem morte.
            Devido à importância da Solenidade de Pentecostes, celebramos sua Vigília. A Palavra de Deus da Vigília de Pentecostes, é uma mensagem que nos ajuda a superar as divisões e nos convida a saciar com a água viva oferecida por Jesus.
            As três grandes e permanentes tentações da humanidade acabam em desastre: a pretensão da subida acaba em queda; a concentração, em dispersão; o nome famoso, em infâmia (Ler Gn 11,1-9). Jesus é a fonte de água viva que sacia a sede da humanidade (Ler Jo 7,37-39). Temos os primeiros frutos do Espírito, que vem em socorro de nossa fraqueza (Ler Rm 8,22-27).
            Na Solenidade de Pentecostes o Espírito do Senhor desceu sobre nós e nos congregou na mesma fé e numa só família. O universo todo se rejubila conosco pela presença do Espírito criador e unificador.
            O Espírito de Deus, recebido no batismo, desafia-nos a falar a linguagem do amor, compreensível a todos, e assumir o compromisso proposto por Jesus.
            A comunidade santificada pelo Espírito fala de modo que todos entendem. A linguagem que todos entendem é a do amor com sabor divino. Quem descobre a capacidade do amor gratuito, nem precisa de palavras: basta amar e todo o resto acontece naturalmente. Isto é, falar a linguagem do amor divino significa esforçar-se por promover, quer bem, perdoar e ser sempre querido e terno nas relações humanas, como nos convida o Jubileu da Misericórdia!
            A presença do Espírito, prometido por Jesus, torna a comunidade acolhedora e reconciliadora. Uma comunidade que não dá espaço para a ação do Espírito Santo torna-se estéril, fechada e incapaz de acolher, amar o diferente e muito menos perdoar. A comunidade que acolhe os dons do Espírito do Senhor, não é mera instituição engessada em normas, regimentos, funções e cargos, mas se gasta, consome-se por amar as pessoas com o amor proposto pelo próprio Cristo Senhor.
            Os dons recebidos do Espírito são para a edificação da comunidade. Não poucas vezes tentamos apropriar-nos do Espírito Santo ou considerar-nos plenos de todos os dons. Sabemos que o próprio Espírito Santo sopra onde quer. Nem todos somos portadores de todos os dons do Espírito Santo. Cada um recebe os dons de acordo com as suas qualidades que colocados a serviço da Comunidade, é que a edificam e não sacrificam como muitas vezes acontece. Há frequentemente pessoas nas Comunidades, que se sentem insubstituíveis, ou ainda aquelas que pensam que sem elas a Comunidade não sobreviverá. Uns querem fazer tudo, outros se comprometem muito pouco, o que empobrece a Igreja. Cada um deve saber o que faz melhor e enriquecer a Comunidade, consumindo-se por ela, gratuitamente. 
            A ação do Espírito manifesta no mundo a salvação de Deus, destinada a todo ser humano. O Espírito nos fortalece e anima a formar comunidades comprometidas em viver a unidade na diversidade. Ele nos conduz a permanecer em comunhão com o Senhor ressuscitado, deixando-nos envolver pela presença de amor e vida nova.
            O Espírito do Senhor nos liberta de todas as formas de opressões, de pecado, para vivermos fraternalmente como irmãos e irmãs. Como os discípulos, o Espírito nos plenifica da presença de Deus, capacitando-nos para sermos anunciadores da Boa Nova de Jesus. O Espírito age em nós e em toda a criação, que geme em dores de parto (Rm 8,22), aguardando a manifestação plena da salvação.
            As palavras do Papa Emérito Bento XVI nos ajudam a entender a ação perene do Espírito na Igreja e no mundo: “Pudemos assim constatar, com alegria e gratidão, que ela fala em muitas línguas; e isto não só no sentido externo de estarem representadas todas as línguas do mundo, mas também, e mais profundamente, no sentido de que nela estão presentes os mais variados modos de experiência de Deus e do mundo, a riqueza das culturas, e só assim se manifesta a vastidão da existência humana e, a partir dela, a vastidão da Palavra de Deus. Além disso, pudemos constatar também um Pentecostes ainda a caminho; vários povos aguardam ainda que seja anunciada a Palavra de Deus na sua própria língua e cultura” (Exortação apostólica pós-sinodal, Verbum Domini, Brasília: Edições CNBB, 2010, p.12).
            Renascidos pela água e pelo Espírito, nos tornamos comunidade de fé, presença e prolongamento do Cristo ressuscitado na realidade bem concreta, sobretudo lá onde se faz mais necessário, pois assim como em Jesus, o Espírito é derramado sobre nós e nos envia para anunciar a Boa-nova aos pobres; para proclamar a liberdade aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor.
            Que nesta Solenidade de Pentecostes se cumpra em nós esta palavra de Escritura e nos faça missionários sem-fronteiras.
            A Festa de Pentecostes anima a Igreja a experimentar a presença e a ação do Espírito depois da ressurreição de Jesus até os dias presentes. É um (re) viver atual, pois aquilo que aconteceu com Jesus, no início de sua atividade messiânica, repete-se agora através da Igreja, na missão. O Pentecostes está para os Atos dos Apóstolos, como o batismo de Jesus está para os Evangelhos. O batismo de Jesus foi o Pentecostes de Jesus, o Pentecostes foi o batismo de Jesus.
            Com a força do Espírito Santo, buscamos descobrir as convergências necessárias para o anúncio e o testemunho do único Evangelho que é Cristo Senhor, como autênticos missionários e profetas, ungidos pelo Espírito.
            Com esta celebração, culmina a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, sentindo a verdadeira prática de um único Evangelho e um único Pastor.
Que a Solenidade de Pentecostes nos anime a sermos verdadeiros discípulos e missionários de Jesus Cristo, Senhor de nossa vida!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler At 2,1-11; Sl 103(104); 1Cor 12,3-7.12-13 e Jo 20,19-23.

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Maio de 2016, pp. 61-67 e Roteiros Homiléticos da CNBB para o Tempo Pascal (Maio de 2016), pp. 82-86.