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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE SANTA MARIA, MÃE DE DEUS

DIA MUNDIAL DA PAZ

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!




            Estamos vivenciando as festas natalinas, com a celebração da manifestação do Senhor em nossa vida e história. Nossa atenção se volta ao mistério da Mãe do Senhor sob o título de “Mãe de Deus”.
            Ao afirmar que o Menino, nascido de Maria, é Deus, em decorrência disso, a Igreja proclamou que Maria é Mãe de Deus. E isso não é de agora. Desde muito, nós cristãos honramos “... Maria sempre Virgem, solenemente proclamada Mãe de Deus pelo Concílio de Éfeso, para que Cristo fosse reconhecido, em sentido verdadeiro e próprio, Filho de Deus e Filho do homem, segundo as Escrituras” (UR, n. 15: Decreto conciliar sobre a reintegração da Unidade dos cristãos).
            Neste Dia Mundial da Paz, iniciando um novo ano, a paz é desejada, suplicada como sinal da bênção e da proteção permanente de Deus. É em nome de Jesus, a plenitude da bênção, que invocamos bênçãos de paz sobre nós e sobre os povos em conflito.
            A alegria deverá orientar nossa primeira celebração religiosa do novo ano civil.  As festas e os brindes da Passagem do Ano, geralmente, impedem as pessoas de participarem desta significante celebração. Muitos dormem sua ressaca, outros nem conhecem a profundidade de tão linda celebração, que deveria ter maior prioridade entre os cristãos, especialmente neste ANO  SANTO DA MISERICÓRDIA!  Acolhidos por Maria, Mãe de Deus e nossa, desperdiçamos a oportunidade de pedir a ela que nos acompanhe ao longo dos próximos 365 dias. Neste Dia Mundial da Paz, somos conclamados a fazer nossa a proposta do Papa Francisco: Vence a indiferença e conquista a paz”. O Deus da bênção e da paz nos congregue numa só família.
            O povo pode contar sempre com as bênçãos de Deus. A maior delas é a vinda do seu Filho, graças ao sim de Maria. A exemplo dos pastores, vamos abrir o coração e nos dispor para o encontro com Jesus.
            Deus quer nos abençoar ao longo de todo este ano. Os pastores, gente pobre e desprezada, são os primeiros a ir ao encontro de Jesus. Deus conta com a colaboração humana para realizar seus projetos. Os pastores cheiram mal, pois cuidavam de ovelhas e viviam ao relento. Poderíamos compará-los, em nossos dias, aos irmãos coletores de lixo. Imaginem que eles correm mais de trinta quilômetros por noite, em nossa metrópole rica e privilegiada, recolhendo nosso lixo depositado nas calçadas. Enquanto as autoridades eclesiásticas, políticas, civis e a nata da elite de uma sociedade economicamente privilegiada pensam anunciar o Salvador do mundo, este se revela, através da Corte Celestial dos Anjos, aos preteridos e “fedidos” entre todos: na época os Pastores; hoje, talvez, nossos Coletores de Lixo. Se não estivermos abertos ao diferente, ao simples, e não fizermos a experiência da humildade, deixando de lado nossa prepotência, arrogância, auto-suficiências, corremos o risco de desencontrar-nos com o Senhor que só nasce mesmo em manjedouras simples, humildes, puras e livres para acolhê-lo.
            A exemplo de Maria, humilde serva do Senhor e bendita entre as mulheres, cantemos um hino de ação de graças ao Pai, que nos cumulou de bens por meio de seu Filho.
            A palavra de hoje ressalta a imposição do nome de Jesus, sua inserção na sociedade humana. Como o Filho de Deus, nós também recebemos um nome ligado à nossa existência e à nossa missão. A atitude dos pastores nos ensina a acolher e anunciar a Boa Notícia da presença do Salvador em nosso meio. Com Jesus, nos tornamos herdeiros da salvação e podemos clamar: Abba, Pai, vivendo fraternalmente como irmãos e irmãs.
            Maria, a mãe de Jesus, é imagem da comunidade fiel e comprometida com o plano da salvação.
            Com o exemplo de Maria no seu sim incondicional, assumimos “de boa vontade” a proposta de Jesus de sermos promotores da paz em nossos lares e na sociedade em que vivemos.
            Invoquemos com confiança a bênção do Senhor, o Deus de bondade, sobre todos os povos e nações, neste Dia Mundial da Paz. Que ele guarde, ilumine, mostre a sua face de Pai e dê a paz a todos. Com Jesus, o Filho de Maria, a maior bênção da salvação para toda a humanidade, nos comprometemos a trabalhar alegremente na construção da paz.
            Saibamos rezar por nossos Governantes: os Prefeitos e Vereadores que iniciam o último ano de seus mandatos e os que elegeremos nas eleições de outubro, para promover, além da paz, a maior dignidade de todos os Filhos de Deus. Estejamos atentos e tenhamos a coragem e ousadia proféticas de “cobrar” melhores condições de vida em todos os setores que garantam uma vida digna a cada cidadão, sem nenhuma acepção ou discriminização.
Sejam todos muito abençoados neste Novo Ano que se inicia. Sejamos protagonistas da paz por onde passarmos, exalando o perfume da ternura em nossas relações em todos os níveis: familiar, social, eclesial e político!

Com a mesma ternura, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Nm 6,22-27; Sl 66(67); Gl 4,4-7 e Lc 2,16-21)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2016, pp. 18-20 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo de Natal – Janeiro de 2016, pp. 51-55.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé! 



         A festa da Epifania celebra a manifestação de Jesus Cristo, luz e salvação de Deus, a todos os povos e nações. Jesus é o verdadeiro Messias, o rei justo, o libertador, esperado por todas as pessoas comprometidas em construir o Reino da justiça. Os sábios do Oriente representam os que se deixam guiar pela luz, pelo projeto de Deus a serviço da vida plena. Eles experimentaram uma grande alegria ao encontrarem Jesus, o rei dos judeus, e o adoram, oferecendo-lhe os seus presentes.
            As promessas das Escrituras acerca do Messias são compreendidas à luz da fé na ressurreição. Quem se deixa iluminar pela sabedoria de Deus, acolhe e reconhece Jesus como o Messias prometido, o portador da salvação a toda a humanidade. A ambição, o poder, como os de Herodes, leva a rejeitar a presença do Salvador desde o seu nascimento. A atitude dos reis, que chegam de longe para adorar o Menino, contrasta com a dos chefes de Jerusalém que tramam sua morte.
            Somos convidados a seguir o exemplo dos magos: guiados pela estrela, caminhar ao encontro do salvador da humanidade. A páscoa de Cristo se manifesta como luz na vida de todos nós que esperamos a revelação do Senhor e ansiamos por unidade, justiça e paz.
            Contemplemos nas leituras a glória do Senhor, luz que ilumina e reúne em torno de si toda a humanidade, e acolhamos com fé a manifestação do recém-nascido, nosso salvador.
            Abandonemos o desânimo e olhemos para frente com esperança, pois a glória de Deus já se manifestou sobre a humanidade. Precisamos descobrir a estrela que nos guie de forma segura ao longo do ano. Já não há povo excluído das promessas divinas, manifestadas em Jesus. Deus se manifesta a todos os povos na pessoa frágil do menino Jesus.
            O episódio dos reis magos acentua o acolhimento de Jesus e sua mensagem pelos gentios e prefigura a missão universal dos discípulos de evangelizar “todas as nações”. É um apelo bem atual para a nossa realidade.  O itinerário percorrido pelos magos propõe o caminho para encontrar Jesus. Ao descobrir os sinais (a estrela), eles se colocam no caminho, perguntam aos que conhecem as Escrituras, procuram até encontrá-lo e o adoram, aderindo a ele com a fé e a vida.
            O encontro com o Senhor transforma a nossa vida. Sua presença e palavra nos iluminam e nos convidam a levantar, comprometendo-nos a construir um caminho novo de libertação. Em Cristo nos tornamos discípulos e discípulas, participantes da mesma herança, do mesmo corpo, da mesma promessa de salvação. A “Epifania” do Senhor nos proporciona viver a comunhão e a fraternidade com todos os povos do universo.
            Lá na periferia, longe do palácio real, “os magos viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra” que indicam, respectivamente, a sua realeza, divindade e incorruptibilidade.
            A estrela que leva os cristãos a Jesus nos dias atuais, é a fé recebida, como dom gratuito no dia em que mergulhados no útero da Igreja, a Pia Batismal. Adotados da sabedoria divina, nosso horizonte aponta a “estrela” que nos conduz a Jesus. Além disso, todo cristão é convidado a ser estrela a qualquer pessoa que esteja à procura de Jesus. É interessante que os Magos procuram saber o itinerário com Herodes, porque nem de longe poderiam imaginar que aquele rei não soubesse do acontecido em Belém. Enganados pelo rei invejoso, tomam caminho adverso, depois de encontrar-se com Jesus. Mesmo assim não conseguem evitar que a inveja incontrolável de Herodes mande matar todos os meninos com menos de dois anos de idade. Seria insuportável conceber um rei em seu lugar, ou então, alguém superior a ele.
            Quantas vezes, entre nós, vestimos a inveja de Herodes, degolando (com nossa língua maldosa e “armações diabólicas, porque mentirosas e enganadoras” nossos irmãos por pura inveja?
            Há quem engane o itinerário até Jesus. São aqueles que se rogam o direito de julgar, condenar e despistar, para não dizer, enxotar as pessoas de nossas Comunidades: seja por ignorância, seja por pura inveja, esta que cheira a Herodes!
            Como seria bom e agradável ao Senhor, que a Epifania fosse mais real, sincera, sentida e comprometida em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e Sociais. Ainda há tempo de conversão! Sejamos a Estrela que conduza nossos irmãos a Jesus o Salvador!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Is 60,1-6; Sl 71(72); Ef 3,2-3 a.5-6 e Mt 2,1-12)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Janeiro de 2016, pp. 23-26 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo de Natal – Janeiro de 2016, pp. 56-61.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Pedidos de Beatificação de Antoninho da Rocha Marmo

Todos os anos, nas vésperas do Natal (especialmente no dia 21 de dezembro, data do seu falecimento), a tradicional e querida família Coraucci e o Padre Gilberto Kasper, assim como outros amigos e pessoas abençoadas por este menino, zelam e pedem pela beatificação de Antoninho da Rocha Marmo. As missas geralmente são transmitidas ao vivo por emissoras de rádio, TV e internet.

Colaborando para uma maior divulgação a respeito desta Beatificação, eis abaixo uma pequena Biografia de Antoninho da Rocha Marmo, para conhecimento, reflexão e pedidos.

Antônio da Rocha Marmo (São Paulo, 19 de outubro de 1918 - São Paulo, 21 de dezembro de 1930) foi uma criança católica paulista a quem se atribuía o dom de predizer acontecimentos futuros. Teria inclusive previsto a própria morte.


Antoninho tornou-se objeto de veneração e passou a ser chamado como Santo Antoninho. Hoje em dia, é conhecido como Servo de Deus.

Desde pequeno, Antoninho brincava de fazer altares e simular missas, era um grande amigo da mãe e muito inteligente quanto a assuntos polêmicos. Foi considerado um santo pela população de São Paulo, por agraciar os pedidos de curas. Em São José dos Campos foi construído um Hospital com seu nome.

Faleceu de tuberculose aos 12 anos. Sepultado no Cemitério da Consolação, seu túmulo, localizado na quadra 80, terreno 6 (Q.80, T.6), é constantemente visitado por devotos que lhe pedem auxílio.

O seu processo de Beatificação está em andamento.

Oremos pelo Antoninho! Por sua Vida, Graças e Beatificação! Que no futuro próximo podemos rezar pelo Beato ou, quem sabe e assim esperamos, Santo Antoninho!

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DO NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!



            Natal, festa da luz, das confraternizações e troca de presentes. É festa que desce ao nosso coração e nos move em direção das mãos estendidas que aguardam solidariedade.
            É a festa da encarnação do Verbo, Palavra eterna do Pai, em que seu ato solidário, assumiu nossa condição humana no seio de Maria pela ação do Espírito Santo. Ele mesmo, em pessoa, é o presente a nós doado de forma incondicional. Ele é a luz que brilha nas trevas, assim entendemos, porque Natal é festa de luz! Ele é a luz que vai fulgurar e nos guiar como o Círio fulgurou no coração e na noite pascal, anunciando o Ressuscitado!
            Celebrando a festa do nascimento de Jesus (Mistério da Encarnação), celebramos a realização da promessa de Deus, conforme as Escrituras, de fazer Aliança de paz com a humanidade e de inaugurar o seu reinado no mundo: “Hoje nasceu para nós um Salvador, que é o Cristo Senhor, na cidade de Davi” (Lc 2,11). “Hoje” entoamos o anúncio dos anjos “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens de boa vontade”.
            Vamos tornar célebre o nascimento de Jesus em nossas vidas, em nossas famílias, em nossa comunidade eclesial, com Maria e José, com o empenho de cultivarmos relações solidárias entre nós, com gestos concretos de solidariedade com os irmãos necessitados e a natureza inteira.
            Somos convidados a formar coro com os anjos: glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra às pessoas de boa vontade. Jesus chegou até nós, trazendo-nos a salvação.
            Com o nascimento do príncipe da paz, chegou a salvação dos pobres e oprimidos. Por meio de Jesus, Deus entra na história da humanidade para dela fazer parte. A graça de Deus traz salvação a toda a humanidade.
            A luz se manifestou para iluminar os caminhos da humanidade, que anseia por paz e fraternidade. Acolhamos com alegria a palavra de Deus, fonte de vida e salvação.
            Os anunciadores da paz trazem grande alegria ao povo. A palavra de Deus se fez carne e habitou entre nós. Em Jesus, todas as manifestações de Deus foram plenificadas.
            A chegada do Messias Salvador é a Boa Notícia, pois ele traz a vida em plenitude, a paz – shalom” como a plenitude de bens para todos os povos. Sua manifestação na história humana, no seio de um povo sofrido e dominado, nos compromete a seguir seu projeto com fidelidade, cooperando na nova criação, sonhada por Deus. O anúncio aos pobres, tornando-os testemunhas, revela a gratuidade do seu amor.
            Jesus é a luz que brilha no meio da escuridão, o Salvador que ilumina a vida dos pobres e discriminados pastores, atentos aos sinais de Deus. Ele é a Palavra do Pai que se faz carne no meio dos pequenos para ser o Emanuel, o Deus conosco. Em sua vida solidária revela-se o amor e a ternura de Deus, a graça da salvação oferecida a toda a humanidade. Seu exemplo nos impele a viver a solidariedade com os mais desamparados, a fim de que todos participem da alegria e da felicidade em Deus.
            Vamos render graças ao Pai por ter trazido, em Cristo Jesus, a aliança definitiva conosco. Ele, Jesus, que nasce pobre entre os pobres, em Belém, está entre nós com os sinais pobres e simples do pão que compartilhamos, dando graças ao Pai por tal mistério.
            Gosto de resumir o mistério do Natal naquela frase que se pronuncia, durante a Celebração Eucarística, enquanto, na Preparação das Oferendas, se coloca uma gotinha de água no vinho a ser transubstanciado no precioso sangue do Senhor: “Pelo mistério desta água e deste vinho, possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Aí está descrita a profundidade do mistério de Deus que nasce igual a nós em tudo, menos no pecado. Nossa participação neste mesmo mistério da Encarnação é apenas uma mínima gotinha de água. Todo o resto é por conta de Deus, que oferece seu Filho amado em holocausto. Jesus derrama todo seu sangue, lavando-nos de nossos limites e tornando-nos seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade. Basta seguirmos suas instruções evangélicas.
            Portanto, viver o Natal do Senhor em nossos dias, nos pede que acolhamos Sua proposta de vida e vida em plenitude. Quando nasceu há mais de dois milênios, precisou cheirar a feno, porque só encontrou lugar entre animais, numa manjedoura que até hoje nos comove, ao contemplarmos os lindos presépios montados em nossos Templos e Lares. Hoje Jesus já não mais meigo Menino, mas o Senhor de nossa vida, quer nascer cheirando a Pessoas. Quer acostar-se na manjedoura de cada coração humano. Oxalá, a manjedoura de nosso coração cheire a amor, paz, justiça, liberdade, verdade e solidariedade. Eis o perfume que agradará ao Senhor, ao procurar acolhida nas entranhas de nossa intimidade. Não corramos o risco de Jesus passar adiante, já que não se deitará em manjedoura mal cheirosa de egoísmo, individualismo, carreirismo, busca de poder e prestígio, mentira, hipocrisia e falsidade.
            Seja, enfim este Natal do ANO DA PAZ, Um Natal em que a Misericórdia seja maior que nossos pecados! O Rosto da Misericórdia seja beijado nos presépios de corações humanos que se encontram diante do Natal do Senhor!
            Desejando-lhes um abençoado, santo e feliz Natal, meu abraço com a ternura de meu coração,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler para a Missa da Noite: Is 9,1-6; Sl 95(96); Tt 2,11-14 e Lc 2,1-14)
(Ler para a Missa do Dia: Is, 52,7-10; Sl 97(98); Hb 1,1-6 e Jo 1,1-18)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2015, pp. 78-88 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo de Natal de 2015, pp. 39-44.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA E JOSÉ

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé
            A Festa da Sagrada Família se insere no Tempo do Natal, ou seja, “tempo de manifestação” do Senhor. Quer dizer, o Verbo eterno do Pai se torna humano, vem morar entre nós.
            Celebrando a Sagrada Família, valorizamos a vida de nossas famílias como santuário da vida, lugar da vivência da gratuidade, do amor e do perdão, sacramento do mundo novo, apesar dos seus inevitáveis contratempos. É Ano Santo da Misericórdia! O rosto da Misericórdia se faz sensível, especialmente no seio de nossas Famílias!
            Nesta celebração, o Pai nos convida a entrar no mistério sempre atual da encarnação do Filho, na realidade de uma família que, independente de seus limites, é convidada a assumir o caminho de Jesus como Maria e José que foram fiéis a Deus, apesar das vicissitudes da época.
            Na festa da Sagrada Família, celebramos em comunhão com todas as nossas famílias. Elas são convidadas a praticar hoje os valores vividos pela família de Jesus, Maria e José. A Sagrada Família é exemplo de amor e cuidado mútuos e de obediência à vontade de Deus.
            A liturgia da Palavra nos mostra o projeto de Deus para nossas famílias. Acolher a Palavra significa deixar-nos iluminar por ela e traçar nossos caminhos segundo sua proposta.
            A família é uma pequena Igreja em que se partilham valores humanos e cristãos. A família é o lugar privilegiado em que se favorece o amadurecimento dos filhos. A comunidade cristã é a família de Deus em que se partilha a bondade e o amor.
            A Sagrada Família de Nazaré cumpre seus compromissos religiosos e ilumina as relações entre pais e filhos, sendo modelo para todos os lares. Mas Jesus revela que sua família, mais do que nos laços de sangue, está centrada na obediência a Deus, Pai comum de todas as pessoas que creem e realizam a sua vontade.
            Compreender a vontade do Pai, seus desígnios, seu projeto de amor, exige meditação, oração e contemplação constante de sua palavra. Maria conservava no coração a palavra, os acontecimentos da salvação, acolhendo com fé o plano de amor do Pai, que se revela no Filho. Sua atitude de discípula ilumina a nossa caminhada a serviço do Evangelho de Cristo.
            O Filho de Deus vindo a terra numa família humana, oferece a ocasião para refletir sobre a família como ambiente vital e social, onde cada ser humano se insere ao nascer. Ele ensina a viver o amor filial, a comunhão, a solidariedade, a partilha. O amor é o elemento essencial que faz reinar a paz e a harmonia nas famílias. É o critério para viver a felicidade em Deus e a fonte da unidade familiar.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que a “família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Sua atividade procriadora e educadora é o reflexo da obra criadora do Pai. Ela é chamada a partilhar da oração e do sacrifício de Cristo. A oração cotidiana e a leitura da Palavra de Deus fortificam nela a caridade. A família cristã é evangelizadora e missionária. As relações dentro da família acarretam uma afinidade de sentimentos, de afetos e de interesses, afinidade essa que provém, sobretudo, do respeito mútuo entre as pessoas. A família é uma comunidade privilegiada, chamada a realizar uma carinhosa abertura recíproca de alma entre os cônjuges e, também, uma atenta cooperação dos pais na educação dos filhos” (Catecismo da Igreja Católica, p. 576).
             Tenho um primo, Padre Jesuíta que ao chegar, costuma perguntar: “E a Família, como vai?” Também nós somos nesta Festa da Sagrada Família, perguntados pela Palavra e pela Eucaristia que celebramos: “E nossa Família Arquidiocesana, como vai?” Temos nos esforçado para zelar e cuidar bem de nossas famílias, especialmente daquelas que foram colocadas de bruços por conta do capitalismo selvagem, da cultura de sobrevivência e nem por último de nossos caprichos cheios de rubricas pastorais?
            A nossa reunião dominical na casa do Senhor (Igreja) é expressão, sinal de nossa caminhada com o Senhor e do desejo de vivermos como irmãos, numa família sagrada, unidos pelos laços da fé e da solidariedade. Mas nossas Igrejas lotaram nas celebrações natalinas? E se lotaram, quem veio? A família inteira ou alguns de seus membros? Trocou-se a Igreja pelo Shopping (muito mais confortável, elegante e tentador) do que nossas celebrações tantas vezes mal preparadas. As pessoas não se importam esperar muitas horas, enfrentando longas filas nos congestionamentos das estradas que as conduzem ao lazer, nem nos caixas, onde pagam exacerbadamente por presentes tantas vezes supérfluos. Mas não suportam que a “Missa do Galo” ultrapasse uma hora contadinha no relógio. O que percebo, é que nossas celebrações, por maior que sejam nossos esforços, já não contam mais com multidões de famílias que buscam celebrar “em família” o sentido de sua existência.
            Um desejo, uma busca essencial em relação à vida da família hoje, com certeza, deve ser procurado no exercício da caridade que é a fonte da unidade familiar (caridade entendida como vivência da gratuidade, do perdão e do amor, do exercício de relações verdadeiras, da prática da misericórdia, da partilha e da solidariedade).
            A Palavra de Deus neste domingo nos introduz no mistério desta Família. Estejamos com olhar atento para ver o quanto de bom existe na nossa pequena família também.
            Sempre gosto de pensar, que Deus gostou tanto de ver a nossa Família, que também quis uma para Si. Não decepcionemos este Deus de amor, que não se contentou em ser nosso Pai, mas providenciou-nos também uma Mãe e um Irmão tão seletos! Oxalá reanimemos nossas Famílias, reerguendo-as das depressões e dos vazios de sentido de vida em Família. E então poderemos responder a quem perguntar: Nossa Família vai muito bem, sim Senhor!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ecl 3,3-7.14-17; Sl 127(128); Cl 3,12-21 e Lc 2,41-52).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2015, pp. 90-93 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo de Natal de 2015, pp. 45-50.

PAZ E MISERICÓRDIA: AS ALÇAS DA MANJEDOURA!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.

            Ao declinarmos diante da Manjedoura, sentimos não cheiro de feno, mas de paz e misericórdia, incensadas de puro amor gratuito. Paz e Misericórdia são como as alças da manjedoura! Já na mesma manjedoura, reclina-se “O Verbo que se abreviou”!“A tradição patrística e medieval utilizou essa sugestiva expressão: ‘O Senhor compendiou a sua Palavra, abreviou-a. O próprio Filho é a Palavra, é o Logos: a Palavra eterna fez-Se pequena; tão pequena que cabe numa manjedoura. Fez-Se criança, para que a Palavra possa ser compreendida por nós. Desde então a Palavra já não é apenas audível, não possui somente uma voz; agora a Palavra tem um rosto, que por isso mesmo podemos ver: Jesus de Nazaré’” (Cf. Bento XVI, Verbum Domini, n. 12).
            Em cada Natal a humanidade faz a experiência da paz. Até porque o Menino que nasce da humildade de uma Pequenina de Nazaré e é reclinado numa pobrezinha manjedoura, é reconhecido pelas Nações como o Príncipe da Paz! A misericórdia é a roupagem que veste as pessoas com a capacidade de perdoar, recomeçar e reconciliar-se com quem está em dívida. A sensibilidade da Paz e da Misericórdia que revestem a humanidade no clima do Natal produzem solidariedade e fraternidade com sabor de amor divino.
            “A espiritualidade natalina cristã propõe uma forma de entender a qualidade de vida, encorajando um novo estilo de vida profético e contemplativo, capaz de gerar profunda alegria sem estar obcecado pelo consumo. Tornar-se serenamente presente diante do Presépio, abre-nos muitas mais possibilidades de compreensão e realização pessoal. A espiritualidade cristã do Natal propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco. É um regresso à simplicidade que nos permite parar diante da manjedoura e, a partir da paz e misericórdia saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem nos entristecermos por aquilo que não possuímos” (Cf. Papa Francisco, Laudato Si’, n. 222). Antes de darmos presentes, sermos presença na vida dos outros!
             O Natal alarga nossa compreensão de paz e misericórdia, já que a paz não significa simples ausência de guerra. A paz interior das pessoas, especialmente neste tempo de tamanha ternura humana, tem muito a ver com o cuidado com a ecologia e com o bem comum; reflete-se num equilibrado estilo de vida aliado com a capacidade de perdoar incondicionalmente, devolvendo a paz que o pecado nos “rouba” (Ibid. 225).

            Concluindo o Ano da Paz e iniciando o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, possamos viver um Natal com verdadeiro sabor de amor gratuito, sendo uns para ou outros os Anjos que decantem ao longo de todos os dias do Novo Ano, Deus-Menino, reclinado na Manjedoura e palpitando em cada coração humano!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTO DOMINGO DO ADVENTO

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            No último domingo do Advento, olhamos para a figura de Maria que é plenamente a Virgem do Advento. Ela é a bendita entre as mulheres, é a cheia de graça, a serva do Senhor, a nova mulher. Ela carrega no ventre o Bendito, o Esperado das nações. É a filha de Sião que representa o antigo e o novo Israel. O seu sim na anunciação se converte em sim da nova aliança. Maria resume em si as esperanças de seu povo. Hoje, esperança da Igreja.
            A assembleia de fé, reunida neste domingo, é convocada a escutar e a acolher a boa nova anunciada, na certeza da fidelidade de Deus que cumpre suas promessas de salvação para o seu povo.
            Exultemos de alegria como João Batista e, inspirados pelo Espírito, a exemplo de Isabel, proclamemos que é Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor prometeu: Deus virá morar no meio de nós.
            Graças ao sim de Maria, a Comunidade de Fé se reúne para celebrar a Eucaristia, memorial da paixão, morte e ressurreição do Senhor. De modo muito especial nesta liturgia, acompanhemos os passos da mãe de Jesus: ela, a bendita entre as mulheres, se dirige solidária e apressadamente a Isabel para saudá-la e auxiliá-la.
            Aquele que aguardamos e nos santifica vem até nós e nos traz a paz. Maria soube acolhê-lo em seu seio e o ofertou à humanidade para que esta se alegre com o dom da salvação.
            Há valores que brotam do que é considerado pequeno e insignificante aos olhos da sociedade. A solidariedade leva alegria e esperança aos necessitados. Aprendemos com Jesus a realizar a vontade do Pai.
            Apresentemos a Deus o sacrifício de obediência e amor que Cristo ofereceu uma vez por todas. Tornemo-nos nós também uma agradável oferenda viva e, a exemplo de Maria, estejamos disponíveis para levar Cristo aos outros.
            Deus manifesta a plenitude da vida e da salvação no meio dos pobres e excluídos, como Maria, Isabel, Zacarias, João, que exultam de alegria. Ele visita o seu povo e faz resplandecer a luz para toda a humanidade, através do Messias Salvador que há de nascer da pequena Belém.
            Jesus vem para realizar a vontade do Pai até a oferta total da vida. A disposição em doar-se pela nossa salvação e santificação é apelo para uma adesão profunda ao seu plano de amor. A resposta à gratuidade da salvação deve ser manifestada, através de nossa entrega amorosa: Estamos aqui para fazer a vossa vontade.
            O nascimento de Jesus se aproxima e a figura de Maria, sua mãe, é ressaltada, pois ela encarnou a espera e a fé de Isabel. Maria confiou plenamente no Senhor ao dizer: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). A sua docilidade, em acolher a bondade de Deus, faz ressoar como um eco a atitude do Filho Jesus ao entrar na história humana: “Eis que venho para fazer a tua vontade”.
            Maria manifestou a fé na disponibilidade para o Senhor, no serviço pleno ao Filho de Deus e à sua obra redentora, na solicitude maternal com toda a humanidade como demonstrou, através da visita à sua prima Isabel. A sua fé foi crescendo, progressivamente, com o decorrer dos acontecimentos da salvação que ela “guardava em seu coração” (Lc 2,51). Por isso, a Lumen Gentium, n. 58 afirma que “Maria avançou pelo caminho da fé”.
            A exemplo de Jesus, façamos da nossa vida uma oferta agradável a Deus que se oferece sem reservas.
            Maria dirigiu-se apressadamente à região montanhosa da Judeia. Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou sua prima Isabel. O encontro destas duas mulheres sempre me encanta ao mesmo tempo em que fico intrigado com a expressão “apressadamente”. Dá a impressão de que Maria se apressou em fugir das más línguas da pequena cidade de Nazaré. Ainda hoje, quando a filha da vizinha engravida do namorado, “fica mal falada”. Geralmente os bons cumpridores dos preceitos de nossas Comunidades, como também muitos de nós, clérigos, discriminamos tais pessoas, e depois, chamamos a menina de “mãe solteira”. Nunca ouvi ninguém chamar uma mãe, de “mãe casada”. À parte da Teologia Moral, “mãe é mãe, e pronto!”. Imaginemos a situação de Maria, em seu tempo, numa minúscula e escrupulosa cidade, Nazaré: grávida sem antes ter-se casado com José. Do ponto de vista humano, ela poderia ter fugido para a casa de sua prima, a fim de ficar longe de qualquer comentário maldoso. Isso me parece muito comum e normal.
            Por outro lado, também do ponto de vista humano, ela poderia ter ficado em Nazaré, de pernas para o alto, nariz empinado, afirmando ser a Mulher mais importante da face da terra, uma vez escolhido o seu útero, para tornar-se o “porta-jóias do Salvador”. Poderia existir Mulher mais importante do que a Mãe do próprio Deus feito Menino?
            Ainda, ela poderia ter calado, disfarçado a gravidez, guardando só para si mesma, a gravidez de Deus! Geralmente é esta a escolha de nossa sociedade. De alguns anos para cá, a maioria das crianças, afirma-se, nascem de sete meses. Será mesmo? Não estaríamos escondendo os dois primeiros meses de gestação? E a correria para casar, disfarçadamente, de branco? Guardamos somente para nós mesmos, a presença amorosa de Deus em nossa vida. Engessados, tímidos, envergonhados ou até mesmo ignorantes, não declaramos nossa “gravidez divina” à sociedade oca e vazia de um Deus louco de amor pela criatura humana. O Sínodo dos Bispos, sobre a Nova evangelização para manifestar nossa fé ao mundo, neste Ano da Paz, espera dos cristãos, justamente o que Maria fez: “levar Jesus, ainda nas entranhas da intimidade pessoal, a todos que encontramos pela frente!”, sem vergonha e timidez, mas ousados e corajosos. Trata-se da Fé, recebida como dom, anunciada como conduta, e vivida como valor essencial!
            Já do ponto de vista teológico, Maria torna-se a primeira missionária. Segundo Paulo VI, Beato “A estrela da Evangelização”, porque não  guarda para si o fruto de seu ventre, Jesus, mas o leva adiante, chegando à região montanhosa de Judá. Põe-se a serviço da esterilidade e velhice. Sim, porque soube que sua prima já estava no sexto mês de gravidez, justamente aquela que era considerada estéril e já de idade avançada. Maria torna-se também, modelo de , confiando que o Senhor pode tudo; até mesmo produzir vida da esterilidade e velhice. Quantas vezes nos sentimos estéreis e velhos, cansados e desanimados diante dos desafios da vida: confiemos, de que para Deus, nada é impossível!
            As duas crianças pulam de alegria no ventre de suas mães. Oxalá, também nós sintamos Jesus pular de alegria em nossa intimidade, em nossas relações e saudações, que esperam de nós um pouco mais de humanidade, dignidade e divindade neste Natal, que já aponta em nossa vida cristã!
            Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço sempre amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper

(Ler Mq 5,1-4; Sl 79(80); Hb 10,5-10 e Lc 1,39-45).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Dezembro de 2015, pp. 64-67 e Roteiros Homiléticos do Tempo do Advento – Dezembro de 2015, pp. 30-38.