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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - COMEMORAÇÃO DOS FALECIDOS

Queridos Irmãos e Amigos na Fé!
“Como Jesus morreu e ressuscitou,
Deus ressuscitará os que nele morreram.
E como todos morrem em Adão,
todos em Cristo terão a vida” (1Ts 4,14; 1Cor 15,22).

            A Igreja convida-nos a entrar em comunhão com o Deus da vida e rezar pelos nossos falecidos. O dia nos lembra que nossa existência terrena é passageira, mas nem por isso deve ser desvalorizada; lembra-nos também que não podemos perder a fé na ressurreição. Por isso nos unimos ao salmista e proclamamos: “O Senhor é minha luz e salvação”.
            Nossa vida não se resume nos poucos anos de existência neste mundo. Fomos criados para a eternidade. Assim como o Senhor vive para sempre, na ressurreição viveremos eternamente junto a ele.
            Muitos nos precederam no tempo; deixaram-nos uma herança de vida construída no amor e na fé, no sacrifício e no trabalho. Apresentamos ao coração de Deus todos os nossos falecidos.
A palavra da Sabedoria gira em torno do conflito justos versus injustos, chamados de insensatos. No Sermão da Montanha (cf. Mt 5,7-27), Mateus reúne a nova justiça trazida por Jesus. As bem-aventuranças abrem esse sermão, anunciando a felicidade verdadeira de ser merecedor do Reino. São  proclamações de salvação para aqueles que aderem à comunidade dos seguidores de Jesus Cristo. Quando tudo parecer acabado, novas coisas surgirão, e quem se manteve fiel receberá sua herança. Será tudo novo, sem dor, sem choro, sem luto. Nem morte haverá.
            A Palavra de Deus é um apelo para sermos pobres em espírito e nos propõe o aspecto dinâmico do ser humano, de buscar a incerteza do ser. Expressa muita exigência e não apenas desprendimento dos bens materiais. Ser pobre “em espírito” nos leva a transformar a referência de uma situação econômica e social em uma atitude para aceitar a Palavra de Deus. Este é um tema central das Sagradas Escrituras que nos convida a viver em total disponibilidade à vontade de Deus e fazer dela nosso alimento. É uma atitude de filhos e filhas, irmãos e irmãs dos demais filhos de Deus; ser pobre em espírito é ser discípulo de Cristo. O discipulado exige abertura ao dom do amor de Deus e solidariedade preferencial com os pobres e oprimidos.
            As demais bem-aventuranças referem-se a outras atitudes do discípulo, do pobre: bom trato, aflição pela ausência do Senhor, fome e sede de justiça, misericórdia, coerência de vida, construção da paz, perseguição por causa da justiça. Elas enriquecem e aprofundam a primeira bem-aventurança.
            Neste dia de esperança, de comunhão com quem amamos e continuamos amando, mesmo sem a presença física, a Ressurreição de Jesus é uma luz cintilante para nossa fé na vida. Temos certeza que todo mal já foi vencido e nos aguarda um futuro onde a morte não existirá mais. É essa também a certeza que temos quanto a nossos pais, irmãos, amigos e a todos os que adormeceram no Senhor.
            Temos que construir o novo céu e a nova terra durante o tempo de nossa história, mas temos a confiança que quem morreu, tendo guardado a fidelidade a Jesus Cristo, já pode usufruir do novo céu e da nova terra sem fim.
            Com Santo Agostinho de Hipona, gosto de pensar que “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser!” Nossa fé se debruça sobre a esperança de que, morrendo, veremos Deus como Deus é, e isto nos basta. “Nascemos para morrer e morremos para viver de verdade...”, mesmo na incerteza de que “O passado já não é mais e o futuro não é ainda...”, questionando “Que é, pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pede, não sei”. Finalmente fazemos a experiência, neste dia, que “A angústia de ter perdido, não supera a alegria de ter um dia possuído!” É por isso que prefiro pensar que não perdermos, mas devolvemos a quem de direito, o Criador, aqueles que nos foram emprestados para a experiência inexplicável do amor com sabor divino!
            Desejando-lhes a esperança na ressurreição, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Sb 3,1-9; Sl 41(42); Ap 21,1-7 e Mt 5,1-12).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2015, pp. 20-29 e Roteiros Homiléticos da CNBB de Novembro de 2015, pp. 75-79.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

Queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Alegremo-nos todos no Senhor,
celebrando a festa de Todos os Santos.
Conosco alegram-se os anjos e glorificam o Filho de Deus”.

            Celebrando a Solenidade de Todos os Santos de Deus, comungamos com aqueles que já se encontram na casa do Pai e vivem em plenitude as bem-aventuranças. Nós também somos proclamados felizes, porque formamos a grande família de Deus e procuramos seguir a multidão dos que nos deixaram exemplo de fidelidade e amor.
            A multidão dos fiéis seguidores de Jesus, filhos e filhas amados pelo Pai, reúne-se numa celebração celestial. Ainda em vida são proclamados felizes porque depositaram sua confiança em Deus.
            Todos os que se mantêm fiéis a Cristo serão vitoriosos. As bem-aventuranças são o caminho da santidade proposto por Jesus. Somos filhos e filhas de Deus, pois ele é nosso Pai, e seremos semelhantes a ele.
            A Eucaristia transforma-nos, lenta e progressivamente, em seres capazes de contemplar o Pai, unidos a todos os que são salvos.
            A celebração de Todos os Santos é a festa da santidade anônima. Da santidade entendida, em primeiro lugar, como dom de Deus e resposta fiel da criatura humana. Torna-se impossível enumerar todos os santos, tido como sinais da manifestação maravilhosa da ação de Deus. A santidade pode ser comparada a um grande mosaico que reflete a grandeza da única santidade de Deus.
            Cada santo é um exemplar único e exclusivo. Não podemos pensar a santidade como um produto em série. A comemoração de todos os santos nos abre à imprevisibilidade do Espírito Santo.
            A multiplicidade de santos faz deles um modelo perfeito para a vivência dos carismas pessoais e para a diversidade de opções no seguimento de Jesus e no serviço à Igreja e à sociedade.
            Quando veneramos ou falamos de um santo de nossa devoção, somos tentados a contemplá-lo (a) pela ótica perfeccionista. “Ele foi perfeito”, “Um super-humano’” Não! Os santos, antes de tudo, foram pessoas comuns. Eles fizeram sua caminhada de vida seguindo os passos de Jesus. Participaram da realidade do povo santo e pecador. Contudo, eles se destacaram na vivência radical do ideal proposto pelas bem-aventuranças. Foram pessoas que, por seu modo de viver a Boa-Nova, marcaram significativamente a sociedade de seu tempo e se transformaram em referenciais atualizados para a história.
            O convite evangélico à santidade é proposto a todos. Não é uma realidade impossível de alcançar. Tudo depende do vigor com que se vive o ideal das bem-aventuranças na relação com Cristo e nos compromissos inerentes à vida. Eu e você podemos ser santos. Não importa se somos pessoas de muitas qualidades ou não. O que conta é que sejamos pessoas extraordinárias pela vivência do programa de Jesus resumido nas bem-aventuranças.
            Fica mais uma vez entre nós a pergunta crucial: como ser santo? O que significa ser santo? A liturgia vai nos conduzir para mais perto da santidade de Deus.    
Ouvem-se frequentemente de bons lábios cristãos algumas frases em relação à santidade, como: “Eu não nasci para ser santo...”. “Não sirvo para ser santo...”. “Não sou santo, logo não tenho culpa...” Gosto de pensar que tais cristãos não compreendem o próprio Batismo. O Batismo torna-nos seres divinizados, ou seja, candidatos à santidade! Não creio que sejam as coisas boas que conseguimos realizar, nem as coisas más que praticamos, por vezes, involuntariamente, que nos conduzem à santidade, porém o esforço empreendido por fazer de tudo para ser bondoso, humilde, servo e anjo para os irmãos, vivendo uma relação de ternura constante. Quem sabe, fazendo uma listinha de esforços diários nos ajude a conquistar a santidade proposta a todos os filhos e filhas de Deus, nascidos do “útero da Igreja, a Pia Batismal!” Já paramos para pensar, com quantos santos convivemos ao longo de nossa vida, mesmo que não reconhecidos, oficialmente, por decretos de beatificações ou canonizações?
            Não deixemos para amanhã, nem mesmo para daqui há pouco: comecemos já nosso esforço por sermos santos, sendo anjos uns dos outros. Só quem é simples e bondoso, sabe o quanto é magnífica a ante-sala da santidade!
                        Desejando-lhes, por intercessão de Todos os Santos, muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1 Jo 3,1-3 e Mt 5,1-12).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Novembro de 2015, pp. 16-19 e Roteiros Homiléticos da CNBB de Novembro de 2015, pp. 68-74.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

A CULTURA DO ENCONTRO!

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Licenciado em Filosofia e Pedagogia, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.

Tudo aquilo que quereis que as pessoas vos façam, fazei-o vós a elas, pois esta é a Lei e os Profetas.” (cf. Mt 7,12)

            A visita do Papa Francisco a Cuba e aos Estados Unidos, a meu ver, ficou marcada pela palavra por ele proferida ao desembarcar na Ilha centro-americana: “a cultura do encontro”. O encontro sugere disposição para o diálogo, para o entendimento e para a reconciliação. Encontro que vê as pessoas como irmãos, semelhantes, companheiros e não adversários nem inimigos.

            A cultura do encontro propõe para hoje, a superação daquela visão utilitarista que nega direitos aos idosos, aos portadores de deficiência, aos doentes; rechaça o mito da superioridade de uns contra a inferioridade de outros, pois o valor de cada pessoa não depende do seu saldo bancário nem da classe social. A dinâmica do “encontro” chama todas as pessoas a um processo de conversão, supõe uma mentalidade nova, através da qual o ser humano se deixa encontrar por Deus e começa a construir a sociedade sobre o alicerce da misericórdia, da compaixão e da fraternidade. Neste novo modo de ver e viver não tem lugar a cultura do “descartável”, ou de considerar alguém inativo, inútil, pois os filhos e filhas de Deus carregam durante a sua existência a Imagem do Pai Criador e misericordioso.

            Há uma crise financeira que é preocupante porque nós a sentimos no bolso, mas esta é consequência de outra crise pior, mais perigosa e com efeitos mais destruidores que a bomba atômica: a crise moral! Por causa da esperteza, do “jeitinho” aqui e ali, do apego desenfreado ao dinheiro, da busca de lucro e da ganância por ter mais e ficar sossegados quanto ao amanhã, surgiram pessoas implacáveis que não aceitam partilhar, que não devolvem o troco que recebem a mais e reclamam aquele “um centavo” que lhes falta, que não têm sentimentos de compaixão pelos seus semelhantes, e que abrem mão de valores morais e religiosos para justificar sua avareza.

            De modo muito simples, entusiasmado e envolvente o Papa Francisco falou ao mundo inteiro desde Cuba e dos Estados Unidos chamando-nos todos a “convertermo-nos à cultura do encontro” e a vencer o individualismo egoísta, as intrigas, os rancores e ódios que são as origens de tantas guerras. As diferenças econômicas entre os países não pedem uma “luta de classes” e sim uma globalização de solidariedade e de fraternidade. A distribuição de riquezas será satisfatória quando soubermos lutar contra a sedução idolátrica do dinheiro.

            O mundo, a economia, a política, sistemas de governo podem se aperfeiçoar se promovermos esta “cultura do encontro” e aprendermos a ser “misericordiosos como o Pai”. Precisamos cuidar melhor de nossa casa comum, a irmã e mãe terra, a fim de que a vida, dom divino, aconteça como foi pensada por Deus. Política e economia devem privilegiar o ser humano, eliminar a espiral de violência e agir em favor da vida humana desde a concepção até seu fim natural.

            A cultura do encontro supõe espaço dentro de nós para o amor, a compaixão, o perdão incondicional. Muitas perdoamos, mas reabrimos “cicatrizes” e machucamos as pessoas através da exclusão, principalmente quando representam ameaça ao nosso prestígio pessoal. A conversão, a reconciliação e o amor devem superar qualquer rusga e remeter-nos ao recomeço, sem mágoas ou rancor. Eis aí um novo modo de viver, conviver e reconstruir a sociedade que está à beira de um colapso.

Fonte: (Baseado nas reflexões do Pe. João Paulo Ferreira Ielo, Pároco da Paróquia Imaculada Conceição de Mogi Guaçu – SP).


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - TRIGÉSIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM

DIA NACIONAL DA JUVENTUDE
“Construindo uma nova sociedade”
“Estou no meio de vós como aquele que serve” (Lc 22,27).


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            Estamos no último domingo do mês de outubro, Dia Nacional da Juventude, que tanto se prepara para a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá em julho de 2016, em Cracóvia na Polônia, com a presença do Papa Francisco, que também neste domingo encerra o Sínodo dos Bispos sobre a FAMÍLIA! A Igreja propõe aos fiéis uma reflexão sobre sua tarefa missionária. Ela nos fala da missão evangelizadora ad intra e ad extra, isto é, seus destinatários são aqueles que, junto a nós, deixaram de participar ou que se afastaram da Igreja, bem como a missão que acontece em regiões onde existem grandes desafios devido à pobreza, à perseguição ou mesmo indiferença aos valores do evangelho.
            A liturgia do domingo passado apresentou a passagem dos filhos de Zebedeu. Jesus alertou os discípulos sobre a tentação da ambição, dentro da comunidade, e sobre as dificuldades próprias da missão que ele veio cumprir.
            Continuamos hoje a leitura do Evangelho de Marcos, com a cura do cego Bartimeu, que nos apresenta um modelo de fé. Neste modelo, vemos uma ligação entre o cego e a libertação de todo o povo de Deus, a partir da vida de nossas Comunidades!
            Podemos verificar que o conhecimento da Palavra de Deus e das promessas que alimentam a vida do povo de Israel leva o cego a reconhecer Jesus. Este fato deve também nos mover a buscar não só conhecer a palavra de Deus, mas a fazer dela um alimento para a fé, para podermos reconhecer a presença e a ação de Jesus hoje, entre os homens e na comunidade dos fiéis.
            Podemos verificar que a situação adversa do cego não foi empecilho para seu crescimento na fé. A “desgraça” na qual estava mergulhado é a condição para que alimente a esperança e cresça na fé. A fé, portanto, nos é mostrada como capaz de trazer respostas ou desprezada pelo mundo.
            A liturgia nos apresenta o conteúdo de fé em Jesus como Messias. Facilmente, chamamos Jesus, o Cristo (=messias), porém, cabe perguntar se, na prática, aceitamos o fato de que a fé em Jesus inclui esta restauração da vida do povo, como a cura do cego, a saúde ao doente, a liberdade ao oprimido...
            A cura do cego mostra a estreita relação entre a fé por ele professada e a história e as esperanças da comunidade, povo de Deus. Isto permite perguntar se nossa fé também está fundada na esperança e na vida do povo, se nossa fé compartilha as esperanças da comunidade, da Igreja.
            Deus nos chama e reúne para agradecermos o seu amor, manifestado na pessoa de Jesus, que cura nossas cegueiras. O Senhor vence as trevas que impedem nossa caminhada rumo à sociedade fraterna e solidária.
            O sonho de Deus deve ser o nosso também: uma sociedade sem cegos e coxos mendigando. Somos chamados a extirpar a cegueira do povo para que não se torne vítima de interesses escusos. Jesus, sacerdote por excelência, participa de nossa condição, santificando-a.
            A partir de Jesus, que caminha para Jerusalém com a missão de restaurar o povo de Deus, somos desafiados a promover a ação restauradora e redentora de Deus e a vencer a acomodação da comunidade, preocupada em repetir ritos ou salvaguardar as leis.
            Bartimeu nos mostra que a fé cristã não combina com acomodação e individualismo. A fé cristã é essencialmente comunitária. Ela nasce da ação de Deus em favor da vida de seu povo. O lugar do cristão é o caminho da comunidade dos fiéis conduzida por Jesus, lugar onde a presença de Jesus continua a agir, transformando sinais de morte e descrença em sinais de vida e de fé e de esperança real.
            A Palavra de Deus, neste domingo, pelo relato da cura do cego, nos mostra a fé em Deus como abertura a um projeto, um plano, uma ação de Deus, presente na história. O fiel reconhece, em Jesus, Deus que o acolhe. Pela fé em Jesus, percebe-se alguém participante e testemunha da ação de Deus, agindo na comunidade em favor da vida do povo.
            A liturgia da Palavra indica renovação e vida nova não somente para as pessoas, mas também para as estruturas e a sociedade.
            “O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus”. O manto era o único bem de Bartimeu. O cego se aquecia com o manto, dormia sobre ele e fazia de seu único bem material, o manto, uma espécie de guia. É interessante observar que ao ouvir Jesus chamá-lo e deferir-lhe acolhida e atenção, o cego já não necessita mais o manto, dá um pulo não no escuro, mas em direção de Jesus, que doravante será seu guia, seu tudo, especialmente sua liberdade! E nós? Ainda continuamos presos aos nossos mantos, nossas falsas seguranças, ou já encontramos Jesus, nosso único bem necessário para ser felizes e livres de verdade?
 A liberdade é o bem maior de cada cristão. Ninguém tem o direito de obrigar, nem de seduzir com promessas particulares a ninguém. Mas todos terão o direito de reivindicar seus direitos e tudo aquilo que lhes foi proposto. Não aceitaremos nada imposto. Não sejamos promíscuos, individualistas, passivos e nem nos deixemos subestimar. Utilizemos da liberdade que Jesus nos oferece para nos valorizar. Não nos coloquemos à venda. Saibamos confiar em quem realmente deseja servir. Pois “Quem não vive para servir, não serve para viver...”.
            Desejando-lhes muita luz e bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel!

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Jr 31,7-9; Sl 125(126); Hb 5,1-6 e Mc 10,46-52)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2015, pp. 79-81 e Roteiros Homiléticos da CNBB do tempo Comum de Outubro de 2015, pp.62-67.

Divulgação Seminário Paulus de Educação


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

DIA MUNDIAL DAS MISSÕES,
DA OBRA PONTÍFICIA DA INFÂNCIA MISSIONÁRIA

Missão é servir”.

“Quem quiser ser o primeiro seja o servo de todos” (Mc 10,44).
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
            Estamos no penúltimo domingo de outubro, Dia Mundial das Missões, da Obra Pontifícia da Infância Missionária, quando fazemos a coleta para as missões. É importante relembrar a participação e o compromisso missionário de todos os membros da Igreja. “Na Igreja de Cristo, todo batizado é missionário”. Em conformidade com o lema de Aparecida, todo discípulo é necessariamente missionário: “Discípulos missionários em Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida”.
            Nossa coleta seja generosa, signifique sim, a partilha de nossa pobreza, porém doação consciente e não aquilo que nos sobra. Nossa oferta só agradará a Deus, se for parte de nós mesmos em favor dos que necessitam de nossa benevolência para a evangelização. Pensemos em nossos Padres Missionários em Manaus (AM), bem como de todos aqueles que usufruírem de nossa pequena parcela, mas que somada será um alívio na nobre Missão de todos que se despem do conforto para anunciar Jesus Cristo além-fronteiras. Abramos mão de algo em favor de nossos irmãos corajosos, o que será agradável aos olhos de Deus e recompensa provinda de Seu Coração misericordioso.
                        Na Liturgia deste Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum, vemos novamente um anúncio da Paixão e celebramos o verdadeiro significado do poder e do reinado de Cristo, que se traduz em serviço. Jesus inverte a lógica humana e explicita a lógica de Deus, pela qual os últimos são os primeiros; os que se elevam são humilhados; quem se humilha é exaltado; os que querem ser grandes devem se tornar servidores de todos.
            O serviço generoso e gratuito é o norte do cristão, mas há sempre o risco de preferirmos o prestígio e escolhermos ser servidos. Esta liturgia nos convida ao compromisso com o projeto de Jesus, que nos dá lição de doação e nos revela sua missão. Neste domingo das missões, celebremos em comunhão com todo o Brasil missionário, chamado a partilhar o dom da fé.
            Jesus veio para servir a humanidade e por ela dar a vida. Apresentando o exemplo do servo sofredor, a palavra de Deus nos convida a permanecer firmes na fé e no serviço fraterno e humilde ao povo necessitado.
            O servo de Javé é pessoa justa que ofereceu a vida em expiação. Mesmo glorificado, Jesus continua nosso intercessor. Jesus nos propõe algo difícil: servir, e não buscar ser servidos.
            Com o pão e o vinho (deste domingo), apresentemos a Deus a vida e os desafios dos missionários (nossa oferta generosa, a Coleta das Missões), que atuam nas mais diversas realidades em nosso país e no mundo.
            A Palavra deste domingo questiona diretamente a lógica humana do poder e reprova, tenazmente, toda forma de soberba, opressão ou carreirismo discriminatório. Provoca as instâncias que exercem poder sobre o significado de sua existência: existem para o serviço a ser prestado ou para si mesmas?
            Para o cristão, ser grande significa colocar-se a serviço; trabalhar em prol dos outros. A autoridade provém da humildade.
            Diante de toda concepção mundana de poder, a Liturgia nos propõe pelo menos duas dimensões do exemplo de Jesus. A primeira: a do Servo de Javé, que carrega a culpa de outros para torná-los justos. Isso reporta ao evangelho, quando Jesus afirma que o “Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate para muitos(cf. v. 45). A segunda: o que motiva a atitude desse servo. Ela aparece na segunda leitura, na qual Cristo é o sumo sacerdote que se compadece das fraquezas dos seres humanos e se permite ser um de nós, provado como nós.
            Não são, portanto, o poder e o destaque que tornam alguém grande aos olhos de Deus, mas o quanto cada um é capaz de compadecer-se do outro e colocar-se a serviço dele.
            A Palavra de Deus deste domingo nos orienta claramente e destina-se a pessoas públicas, que se colocam a serviço por livre vontade, escolhidas, nomeadas ou eleitas. O certo é que tais pessoas aceitam servir, o que implica que saibam o que significa de verdade ser SERVO!
            O serviço a que se refere o Evangelho deste domingo é endereçado a grupos de pessoas no nível familiar, social, eclesial e político. Elegemos 22 Vereadores para nossa cidade de Ribeirão Preto que tem hoje quase 700 mil habitantes. Oxalá saibamos estar atentos, exercendo nossa cidadania em relação à Câmara de Vereadores. A Casa de Leis, não é a Casa dos Vereadores, antes é a Casa do Povo. Uma vez eleitos, são obrigados a tratar o povo com respeito, dignidade, transparência, verdade e justiça. Nenhum Vereador tem o direito de virar as costas a quem quer que procure a Câmara. E os que já o fizeram, legislando apenas para os que consideram seus “eleitores”, tratem de mudar e converterem-se em SERVORES DO POVO TODO, abominando a ideia de que sua autoridade lhes dá o direito de sentirem-se os donos da verdade, da vontade e do próprio Povo. É urgente que o povo seja mais politizado, participativo, atento e usufrua de sua dignidade e cidadania não poucas vezes subestimada, surrada e ferida. Ninguém seja excluído da mesa començal dos direitos de um cidadão, filho de uma cidade que se diz a Capital da Cultura, do Agronegócio, mas que descuida da maioria de seus cidadãos em suas necessidades básicas. Nosso povo não precisa de honrarias, privilégios, nomes de ruas e praças: precisa urgentemente de cuidados básicos, que lhe devolvam a dignidade, o orgulho e a esperança de dias melhores.
            Tivemos um Segundo Turno para eleger o Executivo de nossa cidade. Não continuemos “desencantados” como nas Campanhas em que ouvimos promessas até hoje não cumpridas. Já surgem em diversos cenários, Candidatos para as eleições de 2016. Não nos deixemos iludir, muito menos subestimar em nossa capacidade de discernir. Estejamos atentos às propostas mais contundentes, reais, concretas e justas para os próximos anos de nossa cidade. Costumo pensar que a capacidade de alguém que se dispõe a servir não se mede pelos ataques ao adversário. Quem perde saliva e tempo falando mal do outro, é incapaz de propostas concretas e reais de governo. Isso serve também para nós, ministros ordenados: não existe atitude mais feia, do que assumir a liderança de uma comunidade e rasgar sua história que lá encontra. Falar mal do colega que sucede é mais feio ainda. Quem chega, deve ter a capacidade de amar e acolher quem e o que encontra já em andamento. Do contrário não passa de alguém em busca de poder, prestígio e honra. Isso não é nada humano, é antes feio. Daí meu exercício comigo mesmo e diário


Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,

Padre Gilberto Kasper

(Ler Is 53,10-11; Sl 32(33); Hb 4,14-16 e Mc 10,35-45)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2015, pp. 60-63 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Outubro de 2015, pp. 56-61.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

SOLENIDADE DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA

MÃE, RAINHA E PADROEIRA DO BRASIL

Com Maria, em Jesus, chegamos à Glória!”


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Sua mãe disse aos que estavam servindo:
‘Fazei o que ele vos disser’!”(Jo 2,5).

            Por ser uma solenidade, a festa deste dia 12 de outubro ocupa lugar especial da nossa páscoa, ressurreição do Senhor. Não perdemos o sentido maior da Páscoa de Cristo por causa disso. Pelo contrário, no caminho espiritual do Tempo Comum estas solenidades de Nossa Senhora e dos santos e santas contribuem para voltarmo-nos para a centralidade da nossa fé em Cristo Jesus, nosso salvador. Ele é o mestre que um dia puderam servir e que nós hoje nos esforçamos no caminho do seu discipulado.

            O texto do Evangelho é rico em detalhes, próprio do evangelista João. Acontece em uma festa de casamento, onde Jesus é apresentado como o esposo da humanidade. A mãe de Jesus, que durante toda a narrativa não é chamada pelo seu nome, é a figura da primeira Aliança, ainda vivida através do cumprimento de prescrições puramente rituais, representada pela presença das seis talhas de pedra, usadas para os rituais de purificação entre os judeus (cf. Jo 2,6).

            Desde o Antigo Testamento o vinho, sobretudo em abundância, além de simbolizar a alegria, neste caso a alegria do amor matrimonial, é visto como sinal da presença ou vinda do Messias esperado. Ele já veio em Jesus e quer agora selar uma nova relação com seu povo pelo dom total, pela entrega amorosa, pelo “dom de si” que revela Deus no escândalo e força da Cruz – a “hora’” de Jesus, que ainda não tinha chegado.

            A mãe de Jesus exerce, assim, uma dupla função nesta história de amor divino que salva. Em primeiro lugar, porque se mantém, como o povo da primeira Aliança, fiel e esperançosa na intervenção de Deus sobre a história. Como veio a faltar o vinho – constatação que ela faz ao filho -, amor necessário na relação entre a humanidade e Deus, é urgente que o mesmo seja “recriado”, seja reencontrado. Isso somente será possível em Jesus, o esposo da nova e eterna Aliança. Para isso, é importante superar uma relação com Deus meramente cumpridora de preceitos, “transformando” aquilo que era objetivo dessa relação (talhas vazias), em verdadeira adesão a Jesus (vinho novo).

            A segunda função da mãe de Jesus na história da salvação revelada pela narrativa bíblica é o seu comando aos servidores: “Fazei o que ele vos disser” (Jo 2,5b). O antigo Israel é chamado agora a aderir ao seu novo esposo, colocando-se a serviço, pela esperança de sua intervenção na história (a mãe de Jesus, mulher), pela obediência à sua palavra (os serventes enchem as talhas sem qualquer questionamento) e pela fé em Jesus (os discípulos creram nele), aquele que manifestou a sua glória pela entrega amorosa de sua vida por sua esposa.

            Os católicos brasileiros têm uma grande relação religiosa com Maria, a mãe de Jesus. Essa relação de piedade e devoção pode ser mais aprofundada e adquirir um sentido evangélico bem mais intenso pela solenidade que vamos celebrar, pois todos nós que aderimos ao projeto de Jesus somos chamados a realizar sempre a sua vontade, mantendo a nossa esperança em suas intervenções na história, transformando, por nossas ações, as realidades de morte em vida, de trevas em luz, de miséria e pobreza em abundância.

            A imagem de Nossa Senhora que apareceu no rio Paraíba é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Festa que remete à figura de Maria como plenificação e destino da Igreja, imagem da Igreja triunfante. Uma Igreja que, como mãe e esposa peregrina, é chamada a fazer a vontade do seu esposo, Cristo, o Messias.

            O aparecimento da pequena imagem foi o grande sinal do alto, sinal de Deus e de sua intervenção em favor das súplicas dos simples e pobres. A festa aconteceu, e a abundância foi readquirida. Vivemos intensamente a preparação dos 300 anos da Aparição da Imagem da Imaculada Conceição, Mãe, Rainha e Padroeira do Brasil! Aguardamos ansiosamente a vinda do amado Papa Francisco para as celebrações de Nossa Senhora Aparecida em 2017.

            Neste dia, no Brasil, também comemora-se o dia das crianças. Elas aguardam de todos nós um sinal de um país mais justo, humano, solidário e que saiba cuidar do seu povo com carinho e proteção. Aguardam sinais de vida, que devem ser cultivados e promovidos já agora, para que o seu futuro seja de abundância e paz.

            Gosto sempre de imaginar a cena daquele casamento. Deve ter sido um casamento de pessoas simples, pobres, como humilde e pobre era Maria. Para que Maria, Jesus e seus Discípulos fossem convidados, o casal nubente só poderia ser pobre, já que a disparidade entre as pessoas era tamanha, que ricos e pobres jamais se misturavam, especialmente em festas. Hoje não é muito diferente, embora tenhamos os chamados “ricos emergentes” ou ainda, aqueles que mesmo não sendo economicamente privilegiados, tenham “panca de ricos”, se juntem aos verdadeiramente ricos!

            Maria, que é mãe, perspicaz e atenta, percebe que seu filho, Jesus e seus companheiros, os Discípulos (que eram bons de copo), estavam exagerando, e os noivos pobres poderiam passar vergonha, já que o vinho começava a faltar. A mãe chama o filho e o adverte que já não tem mais vinho, pedindo que avise aos amigos “maneirarem no copo”. Jesus parece dar uma resposta ríspida, chamando sua mãe de “Mulher”. Em outras palavras, poderia pensar que não era problema seu. Maria, entretanto vai aos serventes e lhes diz: “Fazei o que ele vos disser!” A confiança no filho é maior que sua preocupação. O milagre acontece justamente pela fé de Maria em Jesus. Da Solenidade de Nossa Senhora Aparecida, também nós, todos nós, podemos aprender do povo simples, de Sul a Norte de nosso Brasil, tamanha confiança na Mãe Aparecida. Ela não nos deixa esperando, não nos faz passar vergonha, mas intercede por nós. Porém é preciso seguir seu pedido feito aos serventes e também a nós hoje: Fazer o que Jesus nos pede! E o que Jesus nos pede? Que nos amemos uns aos outros, sempre! Se nos amarmos, o mundo será muito mais bonito, do jeito como Deus o criou e pensou para nós!

            Sejam todos sempre muito abençoados, sob a intercessão de Nossa Senhora Aparecida! Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Es 5,1-2; 7,2-3; Sl 44(45); Ap 12,1.5.13.15-16 e Jo 2,1-11)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2015, pp. 46-49 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Outubro de 2015, pp. 50-55.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - VIGÉSIMO OITAVO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Mês Missionário

“MISSÃO É SERVIR!”

“Quem quiser ser o primeiro seja o servo de todos” (Mc 10,44).

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!     

Estamos no segundo final de semana do mês de outubro, Mês dedicado às Missões e ao Rosário, Nossa Senhora Aparecida e Dia das Crianças!

            A leitura do evangelho deste domingo traz presente a dimensão vocacional.
            Quem pode ser salvo? Perguntam, com espanto, os discípulos. Todos aqueles que aderem a Deus e a seu Reino, o considerando como sua verdadeira e maior riqueza. “Em comparação com ele (a sabedoria a que se refere a 1ª leitura), julguei sem valor a riqueza” (cf. Sb 7,8), pois “uma riqueza incalculável está nas suas mãos” (v. 11b).
            Na segunda leitura, continuamos a ouvir a Carta aos Hebreus, iniciada no domingo passado, a qual se estenderá até a Solenidade de Cristo Rei do Universo. Neste domingo, refletimos sobre a profundidade da Palavra.
            Assim como fez o homem rico, Jesus nos dirige sua palavra viva, que nos convida a abandonar tudo o que não condiz com o evangelho a fim de sermos seguidores dele. Nem a todos o Senhor pede o abandono de tudo para segui-lo, mas a todos mostra que o acúmulo e o enriquecimento ilícito não combinam com os valores do reino por ele pregado.
            Deixemo-nos tocar e julgar pela palavra de Deus, a qual não se reduz a leis e regras a serem cumpridas. Ela nos fornece sabedoria para discernirmos o que é importante e o que deve ser deixado de lado, no seguimento de Jesus.
            Precisamos da sabedoria divina para discernir os valores importantes. Os passos do discipulado cristão são: viver os mandamentos de Deus, partilhar os bens e seguir Jesus. A Carta aos Hebreus nos mostra a importância e o valor da palavra de Deus para as comunidades.
            Embora não se esgote nisso, três ideias podem nortear a reflexão deste domingo: 1º) o seguimento de Jesus (quer na vocação de todo batizado, quer na vocação específica) requer desapego e disponibilidade (isto é, colocá-lo em primeiro lugar); 2º) sábio é aquele que prefere a sabedoria de Deus em lugar de todos os bens e promessas humanas; 3º) a consequência do desprendimento dos bens é a partilha.
            Penso que há uma grande diferença entre ser sábio e ser sabido. O sabido é quem possui grande quantidade de informações, títulos, diplomas, bens perecíveis, prestígios, funções e cargos, sem saber administrá-los ou achando que é a pessoa mais feliz e reconhecida do mundo por isso. Pobre coitado!  Esvazia-se de Deus, para endeusar-se sobre os outros. Como isso é frequente em nossas Comunidades Eclesiais, Políticas e Sociais. É vazio e oco do essencial. Julga os outros sem piedade, pensando ser o melhor, porque demonstra ser “certinho” e cumpridor das regras, pelo menos aquelas que o determinam melhor sobre os demais. Coisa feia, quando percebemos tais atitudes, sobretudo em ministros ordenados, políticos, artistas e representantes do Povo. Confinado num pedaço de madeira no dia em que seu nome ecoar na eternidade, deixará tudo para trás. E vazio de Deus não terá como transcender à eternidade feliz, o fim último de todas as criaturas humanas! Já o sábio, tendo ou não “muitas coisas”, pede sua participação na sabedoria divina. Sabe administrar todos os dons e qualidades que lhe são concedidos, gratuitamente, pelo Criador de tudo. Não se importa com elogios, não necessita de reconhecimentos e nem de títulos e prestígio. Há maior prestígio do que o elogio vindo do coração misericordioso do Senhor? Façamos a Leitura Orante da página do Livro da Sabedoria deste domingo, que nos orienta tão claramente sobre esta questão. Quem não mergulhar nas profundezas do apelo de Deus nesta página, ainda está longe do Reino. E tudo aquilo ou aquele que não é de Deus cai. Um dia cai.
            “Que se deve fazer para receber a vida eterna?”. Eis uma pergunta que cada um de nós também faz, em seu coração, com estas ou outras palavras semelhantes.
            Jesus responde que, inicialmente, se deve viver conforme os mandamentos, porém, o simples cumprimento das obrigações não é suficiente, é exigida do coração uma opção que assuma o Reino de Deus e o seguimento como a maior riqueza da vida; exatamente como ilustra a parábola do tesouro encontrado no campo (cf. Mt 13,44-46). Cabe-nos o questionamento a respeito da importância que atribuímos ao Reino e ao seguimento. A “fórmula” para calcularmos essa importância é através do desapego. O que seríamos capazes de renunciar, em função do Reino?
            O ensinamento de Jesus aqui não é tanto sobre o desprezo dos bens, como se eles não tivessem valor em si mesmos, mas o de que o Reino deve ser colocado em primeiro lugar por todo aquele que quiser ganhar a vida eterna.
            Quais as coisas que se antepõem ao Reino, na sociedade de hoje? Quais delas se fazem presentes em minha vida pessoal e se antepõem ao Reino?
            Na dimensão da partilha, destacada nos textos deste domingo, vê-se a certeza de que o desapego, em nome do seguimento de Jesus, não é em vão, mas produz “cem vezes mais(cf. v.30). A partilha garante “um tesouro no céu” (cf. v.21).
            Diante dessa Palavra, nos confrontamos com o egoísmo e materialismo do mundo de hoje, misturados ao individualismo, ao acúmulo de bens e ao vazio da laicização (um mundo que nega o valor, como palavra digna de crédito, da religião institucionalizada).
            Cabe aos cristãos de hoje reassumirem, com coragem, a prioridade do Reino sobre todos os desvalores egoístas e apegados do mundo atual. Cabe-lhes testemunharem a Sabedoria da Palavra de Deus que é “viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes” (cf. Hb 4,12). Seremos perseguidos (cf. Mc 10,30), mas receberemos a vida eterna e cem vezes mais felicidade do que a recebida na lógica do mundo do egoísmo e do apego.
            “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Existe uma diferença entre ser Pobre em espírito e Pobre de espírito. O pobre em espírito sempre tem espaço para o amor de Deus em seu coração, e faz a experiência de Sua Sabedoria e Misericórdia em suas relações. Já o pobre de espírito é aquele autossuficiente, arrogante, prepotente, que pensa bastar-se a si mesmo. Para muitos de nós sermos os ricos fadados à miséria eterna, porque vazios de Deus, só nos falta mesmo o dinheiro, pois até pose de ricos já temos. Quem não sonha em ser rico, tendo sempre mais coisas do que possui? Eis o convite à nossa conversão: “estarmos nus e descobertos aos olhos de Deus; sendo do jeito que somos de verdade” (cf. Hb 4,13b).
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço sempre fiel e amigo,

Padre Gilberto Kasper
(Ler Sb 7,7-11; Sl 89(90); Hb 4,12-13 e Mc 10,17-30)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Outubro de 2015, pp. 42-45 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Outubro de 2015, pp. 44-49.