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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

A Palavra de Deus do Segundo Domingo da Quaresma nos permite uma espiadinha no céu, através do evento da Transfiguração do Senhor diante de três discípulos: Pedro, Tiago e João na Montanha Sagrada.
A página do Livro de Gênesis nos leva a pensar que, de quando em vez, Deus brinca conosco. Não é possível à nossa razão, um Deus de Amor pedir a Abraão, que sacrifique seu próprio filho. Mas não é brincadeira de Deus, e sim uma pedagógica provação da maturidade da fé. Será que somos realmente fiéis à Aliança que Deus selou conosco? É lógico que Ele não quer sacrifícios, muito menos de vidas, mas fidelidade. O holocausto Ele já tem preparado; é Seu Filho Amado. Por isso, o episódio narrado em Gênesis de hoje, remete-nos à Paixão e Morte de Jesus na cruz.
            As provações que a vida nos impõe, ou amadurecem nossa fé em Deus, ou nos revoltam e afastam d’Ele. Sempre dependerá de nossa eleição pessoal.
            Ao nosso redor, tantas coisas mexem com o coração e desafiam a nossa fé. Tantas pessoas que se afastaram das nossas comunidades. Milhões de crianças que moram nas ruas, na mais triste pobreza. Tantos jovens entregues às drogas. 
É incontável a fila de irmãos e irmãs que passam fome e não tem casa para morar. Entre os poderosos e donos do dinheiro imperam o egoísmo, a concentração de poder, os privilégios. São milhões os sobrantes e excluídos da mesa da vida, no dizer dos Bispos em Aparecida.
            O que essa situação tem a ver com a nossa preparação para a festa da Páscoa e com o evangelho da Transfiguração de Jesus.
            Como a narrativa da Transfiguração está no centro do Evangelho de Marcos, o evangelista quer responder a uma pergunta bem concreta: Quem é Jesus? O povo vai descobrindo que ele é o Messias. Mas não um Messias milagreiro, rei glorioso, vencedor, rico, poderoso, capaz de mudar rapidamente a condição da humanidade e fazer acontecer num rito mágico a presença do Reino. Pedro, na montanha, tem essa idéia e acredita que o reino, simbolizado nas três tendas, pode acontecer sem a doação, sem os sacrifícios, sem a morte e a entrega da vida.
Hoje, nas filosofias do mundo, somos contaminados por falsas expectativas como as presentes na conversa de Pedro na montanha. Ter fé significa entrar nos desígnios de Deus que frutifica na solidariedade com os irmãos. A doação na força da páscoa de Jesus nos transfigura por dentro e por fora. Transforma a situação e a realidade dos abandonados e dos privados do necessário para viver e cantar a vida: saúde, pão, terra, casa, salário digno, respeito e amor pela vida...
            A fome do irmão, as crianças abandonadas nas ruas, as violências ao ser humano são chamadas de Jesus para subirmos com ele a um monte alto e entrarmos nos desígnios de Deus Pai, depois descermos da montanha e fazermos a nossa parte. Páscoa é isso: passagem de situações de menos vida para situações de mais vida, de situações de pobreza e miséria para uma vida digna, bonita, feliz e realizada para todos.
            Na leitura da carta aos Romanos, aprendemos que o amor de Deus Pai é imenso, gratuito, generoso, infinito e que não pode ser destruído por nenhuma quebra da aliança ou infidelidade por parte do ser humano.
            Acolhamos o convite deste Segundo Domingo da Quaresma, deixando-nos transfigurar com Jesus e, também transfigurarmos a vida desfigurada de nossos irmãos cuja dignidade lhes foi tirada por conta do consumismo, do hedonismo e do egoísta individualismo.
            Debrucemos nossa esperança sobre a possibilidade de dias melhores. Uma das mais edificantes visitas que fiz, nos meus 25 anos de ministério ordenado, foi há algum tempo: entrando no quarto de um irmão enfermo pensei: Este moço é um santo!... A santidade dele se fazia sentir naquele quarto. Nem bem terminara de pensar, a irmã que cuida dele, disse em voz alta: “Padre, este meu irmão é um santo. E tem mais: ele me ensina a santidade... faz 57 anos que ele se encontra acamado e sempre sorridente e agradecido a Deus. Nunca meu irmão reclamou de nada...” 

Diante daquela realidade, do semblante sereno e agradecido do moço, senti muita vergonha pelas vezes em que reclamei da vida. Isso não significa que devamos ficar passivos à precária Saúde Pública, que não raras vezes trata das pessoas como se fossem bichinhos. Todos somos conclamados a promover a dignidade e rezar com a Campanha da Fraternidade “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45).
Desejando-lhes muitas bênçãos e saúde, com ternura e gratidão o abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto kasper

(Ler Gn 22,1-2.9-13.15-18; Sl 115(116B); Rm 8,31-34 e Mc 9,2-10)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2015, pp. 17-20 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma de 2015, pp. 27-35.

QUARESMA: TEMPO DE CONVERSÃO

Pe. Gilberto Kasper
           
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.


               A Quaresma é um dos mais ricos tempos de conversão. Converter-se espiritualmente, significa mudar o que não está bem interiormente. As pessoas perderam a noção de pecado. Já na década de 50 do século passado, o Papa Pio XII afirmava que um dos maiores males de nossa geração, seria a perda da noção de pecado. Parece que o pecado foi extinto, perdeu seu sentido de existir, só porque determinados comportamentos tornaram-se frequentes entre as pessoas e suas relações. Diz-se: "Isso já não é mais pecado, pois todo mundo faz...". Mas não é bem assim. O sentido de pecado não perdeu suas características, e existe tanto hoje como no tempo de Jesus. Talvez não se faça mais uma determinada listinha de pecados como antigamente. O importante é remetermo-nos à própria consciência, e esta sinalizará se cometemos ou não pecado.
               
Gosto de pensar que pecado é tudo aquilo que nos tira a paz interior, causa-nos medo, angústia ou vergonha por termos feito algo contra Deus, contra nós mesmos ou contra alguém. Pecado é o afastamento do amor de Deus. É deixar Deus falando sozinho, virando-lhe as costas. Assim como muitas vezes nossos adolescentes agem com os pais, pensando que seus princípios estejam ultrapassados. Logo a arrogância, a prepotência, a ganância e a auto-suficiência gritam mais alto.
                
A conversão é voltar-se novamente para Deus, a quem damos as costas, deixando-O falar sozinho. É olhar nos olhos de Deus. É estar diante de Deus rosto a rosto e sentir-se envolvido pelo amor com o qual nos criou à sua imagem e semelhança. Isso nem sempre é fácil. Muitas vezes nosso orgulho é maior do que nossa humildade. Aqui está uma grande dificuldade de nossos tempos: o auto-perdão. Não é fácil admitir que erramos, que nos enganamos, o que se torna uma grande dificuldade de perdoar-nos a nós mesmos e, consequentemente aos outros.
                
Com facilidade nos atribuímos o direito de julgar os outros, até mesmo negando-lhes o perdão. Isso significa que temos a pretensão de sermos "deuses" sobre os outros. Outras vezes, escondemos nossos erros atrás dos erros dos outros, a fim de não sermos descobertos. Esse tipo de atitude é um desastre nas relações humanas, sobretudo em determinados grupos de pessoas, que desempenham algum serviço na sociedade, que os coloque em evidência, como nas esferas sociais, econômicas, políticas, familiares e nem por último, eclesiais. Esse
esconderijo é o principal ingrediente do pecado da inveja, que antes parece um câncer que embora se manifeste, ninguém aceite.


A conversão implica uma "reconciliaterapia". Isto é: admitir as próprias fraquezas, aceitá-las e com a ajuda do perdão que vem de Deus convertê-las em virtudes. Só então produziremos frutos saborosos e contribuiremos por uma sociedade mais humana, justa e fraterna!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            A forte insistência da Palavra de Deus proclamada no Primeiro Domingo da Quaresma é a conversão: mergulhados nos porões de nossa intimidade, reconhecermos o que não está bem e querermos mudar... Devemos sempre querer ser melhores hoje do que ontem. Ser melhores, significa ser mais humildes, bondosos, amorosos e ternos uns com os outros.
            A página do Livro de Gênesis apresenta este Deus “louco de amor” pela humanidade, insistindo em selar Aliança! Aliança implica em fidelidade! Quando o ser humano deixa Deus falando sozinho, virando-lhe as costas, este mesmo Deus tão misericordioso, teima em retomar a amizade com sua criatura predileta: a PESSOA!
            O dilúvio lembrado neste texto, remete-nos ao nosso Batismo, no qual somos lavados de todas nossas misérias e definitivamente adotados como filhos e herdeiros de Deus. Já o arco-íris lembra a ponte que Deus constrói entre o céu (a eternidade) e a terra (a humanidade), selando Sua aliança que nos permite tomar parte em Sua divindade, enquanto Ele se submete à nossa humanidade!
            O Evangelho de São Marcos é um convite ao deserto. Deserto implica em silêncio, interiorização. Olharmos para dentro de nós. Quanto mais olharmos para dentro de nós mesmos, menos encontraremos defeitos nos outros. Assim, nosso exercício de não falarmos mal de ninguém durante a Quaresma, torna-se mais deleitoso. Mas em nossa intimidade, seguramente encontraremos algum mofo, bolor, entulho, pó e mal cheiro a serem purificados na riqueza que o Tempo Quaresmal nos propõe: a conversão! Porém, não basta mudarmos o errado e pronto. É preciso também, crer no Evangelho. E o Evangelho tem suas exigências, quando colocado em prática na relação hodierna com os outros. Ele nos propõe um novo projeto de vida, pautado em valores essenciais, como o amor gratuito, a verdade, a justiça, a liberdade e a paz!
            Imagino o quanto Deus gosta de ser reconhecido no rosto dos irmãos, especialmente os enfermos, sofredores e surrados pelas injustiças de nosso mundo. De que adianta passarmos a mão no ostensório, se o Cristo Sacramentado não nos remete ao sacrário humano, tantas vezes desrespeitado em seus direitos básicos, como a Saúde Pública, por exemplo. Enquanto não nos esforçarmos por maior dignidade humana, estaremos falando com o Senhor, como se fala em telefone desconectado.
            São Pedro, em sua Primeira Carta, também lembra o dilúvio e nos propõe a alegoria da arca: “À arca corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação. Pois o batismo não serve para limpar o corpo da imundície, mas é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo”. No dia de nosso Batismo, recebemos como dom precioso de Deus, a , que nos possibilita a fidelidade diante da Aliança de Amor de Deus para com seus amados filhinhos, nascidos do “útero da Igreja, a Pia Batismal!”.
            Que o início da Quaresma nos ajude a sermos Anjos Bons uns para os outros. Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Gn 9,8-15; Sl 24(25); 1 Pd 3,18-22 e Mc 1,12-15)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2015, pp. 73-76 e Roteiros Homiléticos da CNBB da  Quaresma de 2015, pp. 21-26.

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUARTA-FEIRA DE CINZAS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


Iniciamos, nesta Quarta-Feira de Cinzas, dia de Jejum e Abstinência, o sagrado tempo da Quaresma para celebrarmos, de coração renovado, o mistério pascal de Jesus. Desde os tempos mais antigos, a Quaresma foi considerada como período de renovação espiritual, de revigoramento interior, para o testemunho do Evangelho.

A celebração da bênção e a imposição das cinzas lembram as palavras de Jesus: "Convertei-vos e crede no Evangelho".

Na abertura da Quaresma, tempo favorável de conversão, as leituras fazem forte apelo de mudança de vida e nos convidam a intensificar as práticas de caridade, oração e jejum. Quaresma, quarenta dias que nos separam da grande festa da Páscoa da Ressurreição do Senhor! Neste tempo, procuremos trilhar o caminho da conversão proposto pelo Evangelho e pela Campanha da Fraternidade, que nos leva a refletir sobre o tema: FRATERNIDADE: IGREJA E SOCIEDADE, e o lema: ‘Eu vim para servir’ (cf. Mc 10,45).

Quaresma é tempo de voltar para o Senhor, ele é benigno e compassivo. Há três grandes práticas quaresmais: caridade, oração e jejum. Neste tempo favorável, reconciliemo-nos com Deus e com os irmãos.

Pela escuta da Palavra do Mestre e pela acolhida da misericórdia divina revelada em Jesus, superam-se a falsidade e a infidelidade, constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que podemos compreender a palavra do Evangelho proposto para a celebração da Quarta-Feira de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a assumirem, com fidelidade, as obras da justiça - no relacionamento com o próximo: a esmola; para com Deus: a oração; para consigo mesmo: o jejum.

Na caminhada quaresmal, somos convidados a fazermos a experiência de Deus que acolhe nossa penitência, corrige nossos vícios, cuida de nós incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá a graça de sermos nós também misericordiosos.

            Gosto sempre de propor um exercício aparentemente simples, mas que na verdade é bem difícil: Durante a Quaresma não falaremos mal de ninguém. Se não houver motivos para elogios, calaremos! Será um exercício proposto diariamente. Se conseguirmos passar um dos dias da Quaresma sem falar mal de ninguém não importa. O que importa é o esforço que renovaremos todos os dias.
           
            Os frutos de nossos exercícios quaresmais, como jejum, abstinência e outros, deverão ser revertidos à Coleta da Solidariedade, realizada nas Comunidades de todo o Brasil no Domingo de Ramos! Seria bom que desde a Quarta-Feira de Cinzas já guardássemos aquilo de que abrimos mão em favor de quem tem menos do que nós. Assim não chegaremos ao dia da coleta com uma migalha apenas. Mas os saborosos frutos de nossa Penitência! É isso que converte e nos faz sermos melhores hoje do que ontem!

Na Igreja Santo Antoninho, teremos a Celebração da Abertura da Quaresma com o Início da Campanha da Fraternidade de 2015, às 19 horas desta Quarta-Feira de Cinzas!

Na quinta-feira, às 18 horas, teremos uma Hora de Reflexão silenciosa sobre os Exercícios Quaresmais da Oração mais intensa, do Jejum e da Caridade (Esmola), seguindo-se a Missa da Saúde às 19 horas. Sintam-se todos convidados!

Desejando-lhes um Tempo muito rico de Bênçãos Quaresmais, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler: Jl 2,12-18; Sl 50(51); 2Cor 5,20-6,2 e Mt 6,1-6.16-18).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2015, pp. 63-66 e Roteiros Homiléticos da CNBB da Quaresma de 2015, pp. 15-20.


ORAÇÃO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2015
            Ó Pai, alegria e esperança de vosso povo, / vós conduzis a Igreja, servidora da vida, / nos caminhos da história. / A exemplo de Jesus Cristo / e ouvindo sua palavra que chama à conversão, / seja vossa Igreja testemunha viva / de fraternidade e de liberdade, de justiça e de paz. / Enviai o vosso Espírito da Verdade / para que a sociedade se abra / à aurora de um mundo justo e solidário, / sinal do reino que há de vir. / Por Cristo, Senhor nosso. Amém.


FRATERNIDADE: IGREJA E SOCIEDADE

Eu vim para servir (cf. MC 10,45).

QUARTA-FEIRA DE CINZAS: INÍCIO DA QUARESMA

Pe. Gilberto Kasper

Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente na Associação Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista

               A Quarta-Feira de Cinzas inicia na Igreja um período de quarenta dias de preparação à principal Festa dos Cristãos: A Páscoa do Senhor!  Daí o nome: QUARESMA! É um tempo muito rico e que nos propõe alguns exercícios penitenciais, que visam melhorar nossa qualidade de vida, como cristãos, filhos de Deus e irmãos uns dos outros. A Quaresma vai da Quarta-Feira de Cinzas até a Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-Feira Santa, exclusive. A Igreja prescreve tanto para a Quarta-Feira de Cinzas, como para a Sexta-Feira Santa um Dia de Jejum e Abstinência o que não significa que ao longo deste tempo não se façam tais ou outros exercícios que nos levem a uma maior solidariedade e fraternidade para com os mais pobres.
              
Os exercícios quaresmais de penitência são: a oração, o jejum e a esmola! Os cristãos são chamados a aprimorar a qualidade de sua relação com Deus através de maior tempo de recolhimento e oração, na meditação da Palavra e na escuta da vontade de Deus para com a humanidade; a aprimorar a qualidade de sua relação consigo mesmos através do jejum e a aprimorar a qualidade de sua relação com os irmãos menos favorecidos, através da esmola, que melhor soaria como partilha!
               
Nossa oração, como diálogo, só é capaz de chegar ao coração de Deus, quando brota do nosso próprio coração. Do contrário seria a mesma coisa, como falar num telefone desconectado. Nosso jejum não pode reduzir-se a uma simples dieta que nos ajude a emagrecer, porque deixamos de consumir certas guloseimas que geralmente engordam. Não podemos esquecer que nossa região possui um dos lixos mais luxuosos do Brasil, ou seja, comida manufaturada jogada no lixo. Mais esbanjamos do que consumimos do necessário. É a comida que sobra nos pratos por conta de etiquetas já ultrapassadas ou que azeda nas panelas de nosso povo. Nossa esmola não pode reduzir-se a um simples desencargo de consciência ou ato de dó. Deve transcender ao esforço de que todos, principalmente os que têm menos do que nós, possam viver com igual dignidade humana.
               
A Campanha da Fraternidade sugere a Coleta da Solidariedade que acontece em todas as Comunidades do Brasil no Domingo de Ramos. O resultado dessa Coleta é investido em projetos de promoção humana, favorecendo os que tantas vezes nossa sociedade de consumo exclui, mas que sempre foram os preferidos de Deus. Gosto de sugerir que esta Coleta seja o resultado dos exercícios quaresmais de penitência: a oração, o jejum e a abstinência que remetemos aos mais pobres do que nós. De nada valerá contribuir com a Coleta da Solidariedade, colocando determinado valor que não nos faça falta. Mas se nossa contribuição for o resultado do nosso jejum e de nossa abstinência, durante os quarenta dias da Quaresma, o valor será agradável a Deus e produzirá frutos saborosos em benefício dos mais necessitados. Sugiro que façamos as contas de quantos refrigerantes, sorvetes, carnes ou outros prazeres deixaremos de consumir por conta de nosso jejum e de nossa abstinência. O resultado destes é que deveria ser oferecido no dia da Coleta e jamais uma quantia qualquer. Nosso jejum e nossa abstinência só agradarão ao coração de Deus, enquanto forem revertidos em benefício de quem tem menos do que nós.
               

Sejamos, nesta Quaresma, melhores do que em todas as anteriores. Assim seremos mais autênticos diante de Deus, de nós mesmos e dos outros.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

“Sois minha fortaleza e minha rocha;
para honra do vosso nome,
vós me conduzis e alimentais” (Sl 30,3s).

            Se puder escolher duas palavrinhas centrais que nos remetem à Palavra de Deus proclamada neste Sexto Domingo do Tempo Comum, seria: Compaixão e Dignidade! Trata-se de uma Compaixão Especial e de uma Dignidade Integral! Não uma dó apenas, e nem uma esmolinha a quem se encontra em dificuldades, principalmente portadores de doenças contagiosas, incuráveis, como a lepra! Tanto a Compaixão como a Dignidade implicam em compromisso. Da dó passamos a comprometer-nos com a pessoa necessitada e sofredora.
            O Profeta Eliseu indica o caminho a Naamã que o procura para curá-lo de sua lepra. O Profeta não é milagreiro. Faz com que o enfermo faça sua parte; participe do processo de sua própria cura. De acordo com a página do Segundo Livro dos Reis, basta que Naamã se banhe sete vezes no Rio Jordão para adquirir a cura. Mas Naamã, ao invés, esperava algo de mão-beijada. Um milagre mais espetaculoso do que espetacular. Mas ouvindo seus servos, Naamã fez o que Eliseu lhe sugeriu e curou da lepra.
            Com frequência, também nós esperamos as coisas acontecerem ou corremos atrás de coisas espetaculosas. O espetacular é operado pelo próprio Criador, que deseja suas criaturas felizes e cheias de saúde, realizando-se com a dignidade que lhes é conferida, por serem as criaturas prediletas do próprio Deus. O grande espetáculo do milagre Deus já operou; basta que nos demos conta disso e vivamos de acordo com a Vontade de Deus para conosco, que não é outra, do que nossa própria felicidade e realização plena. Ir ao Rio Jordão hoje, significa ir ao médico, confiar nele, tomar os remédios e seguir suas orientações. Quem espera curas milagreiras, sem participar do processo do restabelecimento da saúde, acaba frustrado, porque Deus não é mágico e nós não somos suas petecas, porém suas criaturas prediletas, convidadas a colaborar na administração das curas de nossas enfermidades, sobretudo, da lepra do pecado!

“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão,
tocou no leproso e disse:
‘Eu quero: fica curado!’” (cf. Mc 1,41).

            O Evangelho de São Marcos determina uma das principais atividades ministeriais da Missão de Jesus: com compaixão, devolver a dignidade aos enfermos, sobretudo aos excluídos da convivência social, por causa de suas doenças contagiosas, como no caso da lepra. O processo da cura começa com a vontade da pessoa de querer a saúde!
O querer a cura, implica em ter fé, confiança e disponibilidade de pedir: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Ao perceber a fé de quem pede, Jesus imediatamente age com compaixão, respondendo: “Eu quero: fica curado!”. Muitos de nós, ao sentirmo-nos curados, damos por encerrado o processo. Não é bem assim. Jesus pede que as formalidades preceituais sejam cumpridas. Mais do que fazer promessas e até mesmo cumpri-las depois, Jesus espera engajamento na Comunidade de Fé, na Comunidade Eclesial, no Compromisso e no Testemunho de ternura, amor, compaixão e misericórdia para com os demais enfermos em nossas relações. Implica, também, em zelarmos por uma melhor qualidade de vida. Sem nossa efetiva participação, nada acontece. Somos os protagonistas de nossa própria saúde ou de nossas enfermidades.
            São Paulo, ao escrever sua Primeira Carta à Comunidade de Corinto nos indica como melhor agir, para que também nossas Comunidades gozem de saúde. A cura individual não combina com o cristianismo. Somos responsáveis pela saúde da Comunidade à qual somos inseridos. “Fazer tudo para a glória de Deus... Procurar agradar a todos em tudo, não buscando apenas o que é vantajoso para nós mesmos, mas para todos...”. Lembro-me bem dos três pecados paroquiais, que nosso saudoso Dom Arnaldo Ribeiro, sempre elencava em suas Visitas Pastorais, e que precisam ser superados: saudosismo, milindrismo e estrelismo. E a pior lepra a ser curada em nossas atividades ministeriais, pastorais e missionárias é a inveja, ao lado de outras como: carreirismo, competição entre agentes e clérigos, indiferença e insensibilidade com o bem-estar da Comunidade, omissão, hipocrisia, fofocas caluniosas, falta de transparência, para não dizer mentiras descabidas e a aguda falta de humildade!

“Deus seu povo visita,
seu povo meu Deus visitou!” (cf. Lc 7,16).

O médico que cura as enfermidades de nossas Comunidades é o próprio Cristo Jesus! Se não desviarmos nosso olhar, nosso coração, nosso discurso, nossas atividades pastorais do Messias, seremos saudáveis e protagonistas de Compaixão e de Dignidade num mundo que está simplesmente doente! Com a Campanha da Fraternidade deste ano, possamos colaborar para com a FRATERNIDADE: IGREJA E SOCIEDADE Eu vim para servir (cf. Mc 10,45).
            Sejam todos muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço fiel.

Pe. Gilberto Kasper

(Ler 2 Rs 5,9-14; Sl 31(32); 1Cor 10,31-11,1 e Mc 1,40-45).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2015, pp. 55-58 e Roteiros Homiléticos da CNBB de Fevereiro de 2015, pp. 95-100.

AMAR OS ENFERMOS COM AMOR DE MÃE

Pe. Gilberto Kasper


Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Docente da Faculdade de Ribeirão Preto do Grupo Educacional da UNIESP, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto, Presidente do FAC – Fraterno Auxílio Cristão e Jornalista.

            No dia 11 de fevereiro a Igreja celebra, por proposição de São João Paulo II, o Dia Mundial do Enfermo! Recomendamos nossos amados enfermos à proteção de Nossa Senhora de Lourdes, cuja Memória celebramos nesse mesmo dia.
            Nossa época pós-moderna nos adverte contra o perigo de cairmos no objetivismo. Nosso relacionamento com o objeto envolve também sentimentos. E logo discernimos entre os objetos de nível físico, vegetativo, sensitivo e racional. Nosso relacionamento, ou seja, nosso conhecimento com os minerais, as plantas, os animais não pode ser o mesmo que temos com os homens e com Deus. No caso dos homens e de Deus, nosso relacionamento, que envolve conhecimento, vontade e sentimentos, é intersubjetivo. E essa característica envolve todo o nosso relacionamento com o universo, na medida em que o acolhemos de Deus e ele nos revela as suas maravilhas, tornando-se habitação e ambiente de vida para nós e nossos semelhantes. É o que nos ensina Saint Exupéry, no Pequeno Príncipe: a raposa, por não comer pão, não teria nenhum relacionamento com o trigal. Mas se for cativada pelo Pequeno Príncipe, lembrará as ondulações de seus cabelos e adquirirá um profundo e novo significado.
            Viver humanamente é realizar-se. É tornar-se pessoa. Isso se faz pelo relacionamento, que tem, na intersubjetividade, sua matriz. Sua atitude básica será a acolhida de cada pessoa, para que ela se sinta amada e realizada. Não é, pois, possível curar uma pessoa – de qualquer doença – sem levá-la à vivência de sua subjetividade, que resulta da intersubjetividade das pessoas que cuidam dela. Curar, no fundo, é demonstrar carinho, ir em socorro, tirar do isolamento, mostrando que ela não está a sós no combate à doença. Não conseguindo reagir com as próprias forças, há quem lhe venha em socorro. E isso deve ser feito humanamente, o que equivale a dizer, intersubjetivamente. A doença humana não se reduz a um fenômeno biológico. Envolve e afeta profundamente sua mente (cf. Fonte: GRINGS, Dadeus. Cartilha da Saúde – Um Apelo da Bioética. Presscom, Porto Alegre (RS), 2008 pp. 29-30).
            Especialmente a Igreja, através de seus Ministros Ordenados e da Pastoral da Saúde, deve priorizar nas Comunidades de Fé, Oração e Amor, os Enfermos, que fazem de seus limites físicos e leitos de dor, o verdadeiro Altar do Sacrifício do Senhor. Por isso, saibamos sempre amar os enfermos com amor de mãe!
            E neste dia 11 de Fevereiro, às 17 horas, na Sede do FAC, Rua Barão do Amazonas, 881 – Centro – Ribeirão Preto, temos um Encontro para a Apresentação da Diretoria do exercício de 2015. Além de sentir-se convidado, contamos, também com sua generosidade. Faça já sua doação, pois serão os enfermos adoecidos pela sociedade excludente que nos acolherão na eternidade, no dia em que lá nosso nome ecoar!
Fraterno Auxílio Cristão
Banco do Brasil
Agência 4242-0

Conta Corrente: 20029-8

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS - QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

                                   Entrai, inclinai-vos e prostrai-vos:
adoremos o Senhor que nos criou,
pois ele é o nosso Deus” (Sl 94,6s).

            Uma vez identificado como o Filho de Deus; apresentado seu Projeto Ministerial, que é Anunciar o Reino de Deus entre nós; tendo formado seu Discipulado, Jesus Cristo é apresentado pela Palavra de Deus proclamada no Quinto Domingo do Tempo Comum, curando os enfermos e acariciando os fracos da sociedade. Jesus é itinerante, não pára em lugar específico, não fica “colado” nem no barco de onde prega, nem na Sinagoga onde comunga da Palavra Revelada e muito menos nos círculos familiares onde cura. Segue de um lugar a outro, para confirmar sua Missionariedade, que deve ser também a da Igreja hoje. A Igreja que não é missionária não é a de Jesus!
            A Leitura do Livro de Jó descreve um mundo enfermo e despido de valores essenciais. Deus, o Criador que ama apaixonadamente a humanidade, quer revesti-la novamente de dignidade. Promete que o sofrimento e a enfermidade serão superados com o Ministério do Filho que envia para tal ministério. A saúde física é um valor transitório e não essencial à pessoa. Mesmo assim, Deus quer suas criaturas prediletas saudáveis, a fim de evitar a enfermidade interior. No dia em que nosso nome ecoar na eternidade, somente a saúde interior contará. Já não mais será necessária a saúde de um corpo perecível, mas a pureza interior. Com Santa Terezinha do Menino Jesus, Doutora, podemos dizer: “O sofrimento santifica!..”, o que não quer significar que tenhamos de sofrer para tornarmo-nos “santos”, porém aproveitar de nossos limites físicos para a própria santificação e a do mundo. Gosto sempre de pensar que nossos Enfermos fazem de seu leito de dor, o altar do sofrimento de Jesus. Eles, os Enfermos, devem sempre merecer o carinho e a especial atenção, não só dos Agentes da Pastoral da Saúde, mas também dos Ministros Ordenados, que muitas vezes “não têm tempo ou não gostam muito de priorizar as visitas aos enfermos”. Recebo incontáveis chamados para visitar enfermos de todos os lados de nossa cidade, com a desculpa de que os padres de determinadas Comunidades não têm tempo, não se encontram e alguns enfermos chegam a esperar mais de um ano para receber a visita de um sacerdote, fato que me assusta e preocupa muito.

“Cristo tomou sobre si nossas dores,
carregou em seu corpo as nossas fraquezas”
(Mt 8,17).

            O Evangelho de São Marcos narra a “Cura da Sogra de Simão... e de muitas pessoas de diversas doenças...”. Geralmente os primeiros votos desejados às pessoas, é a saúde. Dizemos que tendo saúde, tudo se ajeita. E seguramente Deus quer seus filhos bem de saúde. As devoções populares aos Santos também, na maioria das vezes, provem de pedidos de curas. Os milagres reconhecidos pela Congregação da Causa dos Santos, que oficializa a “santidade” de alguém, também giram na grande maioria em torno de “curas de enfermidades”, consideradas incuráveis pela medicina. Daí que os Santos invocados às Curas atraem multidões de fiéis, pedindo curas. Quantos fiéis se reuniram para celebrar a festa da Apresentação do Senhor, popularmente conhecida como a festa de Nossa Senhora das Candeias? E quantos fiéis buscaram a Bênção da Garganta na memória facultativa de São Brás? Uma de minhas preocupações no processo evangelizador é sermos mais pedintes do que agradecidos! E quantos entre nós só buscam auxílio divino no momento da tristeza, da dor, do desespero, do desemprego e da enfermidade? “Ai de Deus se não ouvir nossas súplicas... Que a vontade de Deus seja feita, desde que coincida com a nossa...” Não podemos relacionar-nos com Deus revelado no ministério de Jesus Cristo, que veio sim, para curar e para promover vida e vida em abundância para todos, como se Ele fosse um comerciante. “Pedimos, e se formos atendidos, cumpriremos promessas, muitas vezes descabidas, como se Deus necessitasse de coisas, como velas ou sacrifícios...” Segundo Jesus Cristo, é misericórdia que agrada o coração do Senhor e não sacrifícios.
            Precisamos respeitar a religiosidade e as devoções populares. Porém, como Comunidades de Fé, Oração e Amor, temos a missão de evangelizar, sempre orientados pelos ministros ordenados e agentes de pastoral bem formados.  São Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios é bem claro nisso e seu apelo, quase expresso como desabafo, é atual e se remete às nossas iniciativas, planos e atividades pastorais: “... pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade... Ai de mim se eu não pregar o evangelho!”.
            Paulo nos leva à reflexão da autenticidade da vocação específica na Igreja. Os ministros ordenados que procuram viver coerentemente sua vocação, empreendem seu tempo, dão prioridade àqueles Sacramentos que somente a eles foram conferidos presidir: a Eucaristia, a Reconciliação e a Unção dos Enfermos! Muitas vezes há quem prioriza outras atividades, que nossos irmãos não ordenados talvez fizessem melhor do que nós Presbíteros. Não me refiro aqui a praticar algum hobby de predileção para o merecido descanso. Mas priorizar nosso hobby em detrimento do desatendimento de nosso povo é uma cruel infidelidade à vocação à qual nos sentimos chamados. Assim, desfiguramos nosso Sacerdócio, que deveria ser configurado com Cristo, o Bom Pastor, descrito nas atividades do Apóstolo: “Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça... Com os fracos, eu me fiz fraco... Com todos, eu me fiz tudo... Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.
Todos, Ministros Ordenados e Comunidades Evangelizadas, somos conclamados a viver a maturidade de nossa fé na relação com o Senhor, Seu Evangelho e com Todos que nos são confiados! Não esqueçamos que nossa primeira vocação é a Vocação ao Amor!
            Com ternura e gratidão, meu abraço amigo e fiel.

Pe. Gilberto Kasper

(Ler Jó, 7,1-4.6-7; Sl 146 (147); 1Cor 9,16-19.22-23 e Mc 1,29-39).

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de 2015, pp. 36-39 e Roteiros Homiléticos da CNBB de Fevereiro de 2015, pp. 89-94.