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quinta-feira, 28 de março de 2013

HOMILIA PARA A SOLENIDADE DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!



            “A Vigília Pascal é a celebração da Ressurreição por excelência. Seu caráter de vigília não se refere à preparação da festa, mas tem raízes na celebração da vigília dominical, presente na origem do culto cristão, em que se começa a celebrar o Dia do Senhor ainda no sábado, desembocando no amanhecer do Domingo. A Vigília Pascal, portanto, não é ‘vigília’ à espera de uma festa, mas a própria festividade; a mais importante que ocorre no Domingo de Páscoa. A solenidade do terceiro dia do Tríduo Pascal.

            A celebração da Vigília Pascal consta de quatro momentos que costumamos designar como: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística.

            É verdade que, de modo bem semelhante ao que ocorreu às mulheres diante do sepulcro vazio, os acontecimentos da vida nem sempre nos parecem fáceis de interpretar, de modo que através deles reconheçamos a Páscoa de Cristo nos envolvendo. Ao nos depararmos com a crueza da violência urbana, a rapidez com que as pessoas são destruídas pelo uso do crack nas grandes cidades, a luta interminável dos povos indígenas de nosso país em conseguir seu pedaço de chão para sobreviver, a perseguição daqueles que se põem ao seu lado, a corrupção institucionalizada no setor político-financeiro... Tudo o que contemplamos com nossos olhos não parece testemunhar a vitória de Cristo sobre a morte. Parece que estamos a procurar entre os mortos aquele que está vivo.

            Somente quando nos reconhecemos dentro da História da Salvação e percebermo-nos indissoluvelmente identificados com o Cristo morto-ressuscitado, ao recordarmos suas palavras, é que começamos a vislumbrar a Páscoa. É interessante verificar que o relato de Lucas, na bíblia, não termina com a admiração de Pedro voltando para sua casa. Na bíblia, segue-se com o episódio de Emaús – previsto para ser proclamado na celebração vespertina do Domingo da Páscoa – e na conclusão deste uma citação de que o Senhor havia se manifestado a Simão. Mas a Liturgia da Vigília, de maneira proposital, nos deixa com aquele mesmo suspense, com aquele mesmo ar de surpresa como se estivéssemos à espera da visita do Senhor, de maneira que ele se mostre para nós que, às vezes, só conseguimos perceber os indícios da morte, pois como Pedro vemos apenas os lençóis.

            Cristo Ressuscitou. Vida nova se inicia: tristeza e desânimo pertencem ao passado; esperança e otimismo contagiam nossa existência. Jesus venceu a morte e vive para sempre junto à nossa comunidade e a cada um de nós.

            Acompanhemos Maria Madalena ao túmulo e ouçamos dela a alegre notícia: Jesus já não se encontra entre os mortos, mas está vivo e presente entre nós.

            Enquanto a humanidade destrói e mata, Deus ressuscita e dá vida. O amor nos faz acelerar o passo na busca dos objetivos. A presença do Ressuscitado provoca vida nova na comunidade’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 97-113).

            O texto de João que proclamamos, na celebração da Páscoa, conjuga o ‘primeiro’ e o ‘terceiro’ dia. O Domingo – Dia do Senhor – é ocasião concreta, experimentável para que os cristãos possam descobrir que Cristo Ressuscitou, segundo o testemunho das Escrituras. O Domingo, para os cristãos de todos os tempos, se mostra como uma submissão do tempo a Deus. Mas, na verdade, é uma maneira de designar a submissão do ser humano e todas as demais criaturas a seu criador, uma vez que o tempo não existe em si mesmo, mas se dá nas percepções e inteligência do ser humano. O ‘Dia’ é uma imagem do ser humano. Portanto, dizer ‘Dia do Senhor’ é falar do ser humano (e da criação inteira da qual ele é símbolo) como pertença a Deus. Em especial, por causa da Páscoa de Jesus, é uma maneira de colocar no centro das atenções a importância – e urgência – do ser humano redimido. O Dia é uma imagem do ser humano que vive de processos, ritmos e ritos. Do ser humano que se vai construindo. Melhor dizendo, do ser humano que se vai revestindo de glória nas palavras da carta de Paulo aos Coríntios.

            Esta experiência precisa encontrar lugar real e concreto em nossa época. O domingo, como um dia no calendário, não mais responde por aquela ocasião em que as pessoas podem obter o descanso, exercitar a convivialidade com a família e os amigos. É mais um dia de consumo, de produção, de lucratividade. Para a tradição ocidental da qual fazemos parte – por influência da fé cristã – o domingo era um dia para recordar a permanente necessidade de humanização. Mas, dia após dia, tudo é igual e as urgências humanas dão lugar a urgências econômicas.

            Neste sentido, é fundamental reunir-se para celebrar, de modo que os gestos humanos revelem a Escritura e a Escritura lhes confira sentido, reorientando nossa existência. Nesta direção, é muito significativo o convite feito na aclamação ao Evangelho, reiterado, como antífona no canto de comunhão: ‘Celebremos, assim, esta festa, na sinceridade e na verdade’. A Páscoa celebrada tende sempre a fazer-se verdade sincera em ‘nossos dias’, quer dizer, em nossa vida e em sua trama cotidiana. Sabemos que o cotidiano em si não existe – é algo sem forma. Mas o que lhe poderá dar cor, sabor, contorno, veracidade senão a experiência profunda do encontro com o Ressuscitado que continua a passar fazendo o bem como outrora Pedro afirmou? Assim, o tempo pascal se estende diante de nossos olhos como um único dia, o Dia do Senhor, no qual a pessoa humana se redescobre e redefine como criatura de Deus, enriquecida com o seu Amor que a faz reconhecer-se filha bem-quista e com pleno direito à felicidade num mundo mais justo e mais cheio de paz” (cf. Roteiros Homiléticos da Páscoa de 2013 da CNBB, pp. 23-36).

            A Páscoa neste ano tem sabor de ANO DA FÉ! A Porta da Fé nos remete ao túmulo vazio de onde exalam os perfumes do Ressuscitado! É desse sepulcro vazio que emana o conteúdo de nossa acolhida, compreendida, celebrada e vivida na relação com Deus, que nos oferece o único Cordeiro Imolado necessário para nossa felicidade plena, seus Filhos, Jesus Cristo, agora vive presente entre nós, por força e obra do Espírito Santo!

            Celebrando o cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II, a renúncia do Papa Emérito Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, O Papa da Ternura nossa Páscoa nos convida à ressurreição imediata na relação com Deus, com a Comunidade de Fé, Oração e Amor e com os porões de nossa intimidade. Deixemo-nos envolver pelos aromas da ressurreição no esforço hodierno de configurarmo-nos cada dia mais com o centro de nossa vida, apaixonando-nos por Aquele que nos move a ser melhores do que somos, Jesus Cristo vivo e ressuscitado no meio de nós!

            Feliz e santa Páscoa a todos! Cheio de ternura, o abraço amigo e sempre fiel,

Padre Gilberto Kasper

(Ler At 10,34.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4 e Jo 20,1-9)

quinta-feira, 21 de março de 2013

HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “É Domingo de Ramos. São os últimos passos da caminhada rumo à Páscoa. Com Jesus, caminhando rumo à Jerusalém, agora, com ele entramos na cidade, cenário onde se desenvolverão os grandes mistérios de nossa fé. Hoje, carregando ramos em nossas mãos, somos convidados a contemplar o Deus que, por amor, fez-se servo e se entregou para que o ódio e o pecado fossem vencidos e a vida nova triunfasse.
       
           Com o Domingo da Paixão do Senhor, descortina-se a Semana Santa em que a Igreja celebra os mistérios da salvação levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da sua vida, a começar pela entrada messiânica em Jerusalém.
      
          Na celebração deste dia integram-se a entrada de Jesus em Jerusalém e a sua Paixão. A recordação solene da entrada de Jesus em Jerusalém começou no século V. Os cristãos de Jerusalém reuniam-se no monte das Oliveiras, às primeiras horas da tarde, para uma longa liturgia da Palavra. Em seguida, ao entardecer, dirigiam-se à cidade de Jerusalém, levando ramos de palmeiras ou de oliveiras nas mãos. Hoje, Domingo de Ramos, todos nós, exultantes, com ramos nas mãos, proclamamos que Jesus é o Messias, o Ungido. Ao recebê-lo com as palmas da vitória, damos testemunho de seu triunfo sobre a morte, porque compreendemos, na fé, o significado de seu último sinal quando ressuscitou Lázaro: ‘Eu sou a ressurreição e a vida!’.

            Os ramos abençoados que levaremos para nossas casas, após a celebração, lembram que estamos unidos a Cristo na mesma doação pela salvação do mundo, na labuta árdua contra tudo o que destrói a vida. ‘Tais ramos devem ser conservados antes de tudo como testemunho da fé em Cristo, rei messiânico, e na sua vitória pascal’.

            ‘Jesus vem a nós como rei humilde e servidor. A Palavra de Deus nos apresenta importantes aspectos da pessoa e da missão de Jesus: ele é o servo sofredor, aquele que se esvaziou a si mesmo, o justo, Filho de Deus’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 73-78).

            Jesus chega e entra em Jerusalém como rei messiânico, humilde e pacífico. Como servo sofredor, caminha rumo à Paixão mediante um ato de total despojamento: ‘Embora de condição divina, Cristo não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo’ (Fl 2,6). O Domingo de Ramos é marcado, de uma parte, pelo mistério, pelo despojamento e pela entrega total e, de outro, pelo senhorio e pela glória do Filho de Deus.

            O despojamento do Messias contrasta com a espontânea e entusiasta manifestação do povo. Alegre, a multidão louva a Deus por todos os milagres que tinha visto. O povo aclama a inauguração do novo tempo que privilegia os pobres. Novo tempo marcado pela humildade e ternura e não pela violência e pela força das armas.

            A manifestação popular causa medo aos que vigiam a ordem em nome da lei. Os fariseus estavam encarregados de vigiar o comportamento de Jesus. Diante de sua hipocrisia e falsidade, Jesus taxativamente rejeita seu pedido: ‘Eu vos digo: se eles se calarem, as pedras gritarão’ (cf. Lc 19,40). Não há como silenciar certos acontecimentos, mesmo às vésperas do sacrifício da cruz. A manifestação festiva do povo anuncia o significado da palavra e da ação de Jesus. Ele alimentou a esperança de vitória, do bem, da vida na perspectiva dos planos de Deus.

            Os ramos abençoados para nós se transformam em sinais de compromisso com os crucificados de nossa sociedade. Em contrapartida, os poderosos preocupam-se e agitam-se.

            Celebrar a Paixão e Morte de Jesus é deixar-se maravilhar na contemplação de um Deus a quem o amor oblativo tornou frágil. Por amor veio ao encontro e assumiu a condição humana, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu as investidas do tentador, temeu a morte, suou sangue antes de aceitar o projeto do Pai, mas mesmo incompreendido e abandonado, continuou amando. Desse amor brotou a vida em plenitude. Vida que Ele quis repartir com a humanidade até o fim dos tempos.

            Contemplar a cruz onde se revela o amor e a entrega do Filho de Deus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados nos dias atuais. Sobretudo os jovens que sofrem violência, que são explorados e excluídos; significa denunciar as causas geradoras do ódio, da injustiça e do medo. Significa empenhar-se em evitar que seres humanos continuem a crucificar seus semelhantes. Significa assumir a atitude de Jesus pela não violência, gerar novas relações de vida a partir da dinâmica do amor que conduz à ressurreição” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 56-64).

            Se durante a Quaresma fizemos o propósito de não falar mal de ninguém, o Domingo de Ramos que abre a grande Semana Santa nos convida ao balanço: conseguimos não falar mal de ninguém ao longo deste grande deserto em preparação à festa da Páscoa? Os pregos de hoje, que crucificam Jesus na pessoa do próximo, é, frequentemente a língua felina, que mente, calunia, destrói a oportunidade de o outro crescer! Muitas vezes por pura inveja! É também o domingo da prestação de contas de todos os nossos exercícios quaresmais de oração com melhor qualidade, de jejum consciente, pensando naquele que não tem o que comer todos os dias e, finalmente a profunda, sincera e generosa caridade! Sejamos honestos e entreguemos, no espírito da Coleta da Solidariedade os frutos saborosos colhidos em benefício dos que tem menos do que nós. A entrega de nossa partilha deverá ser o que na verdade deixamos de consumir na Quaresma. O resultado da Coleta será entregue integralmente na Cúria pelos Padres ou Colaboradores Paroquiais. Depois serão divulgados os mesmos em nosso Boletim IGREJA HOJE, para que todos saibam de nossa honesta generosidade. Numa das últimas coletas, fui procurado por um Agente de Pastoral de determinada Paróquia com a seguinte afirmação: Padre, eu entreguei na Coleta feita em minha Paróquia, três vezes o valor que foi divulgado. Como devo agir? Perguntar ao Padre onde ficou a Coleta? Ficar omisso? Se não puder fazer alguma coisa, fique sabendo, que não darei mais minha colaboração em nada de minha Paróquia. Eu mesmo farei minha caridade diretamente com quem precisa. Sei, que todo Padre honesto com Deus, consigo mesmo e com a Comunidade fica, como eu, profundamente envergonhado com tal situação! O que nos faz diferentes dos órgãos públicos que desviam verbas aqui e acolá? Não seríamos nós piores e muito mais desonestos? Sejamos desta vez, a exemplo de Jesus, despojados. Não utilizemos o arrecadado na Coleta da Solidariedade para benefício próprio, tornando-a Coleta da Desonestidade!

            Sejam todos muito abençoados e que a Semana Santa nos santifique em nossa fé. Com ternura, meu abraço amigo e fiel,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Lc 19,28-40; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11 e Lc 23,1-49)

Programação Semana Santa 2013 - Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres


Domingo de Ramos – 24 de Março – (Coleta da Solidariedade da CF/2013).
 08h00 – Bênção, Procissão e Missa dos Ramos no Átrio da Igreja.
10h00  – Missa com Bênção de Ramos, sem Procissão.

Segunda-Feira Santa 25 de Março ANUNCIAÇÃO DO SENHOR!
Atendimento domiciliar de Confissões aos Enfermos!
Terça-Feira Santa 26 de Março.
 08h00 – Atendimento domiciliar de Confissões aos Idosos!
20h00 – Missa da Unidade com Bênção dos Santos Óleos!
                Catedral Metropolitana de São Sebastião de Ribeirão Preto.
Quarta-Feira Santa – 27 de Março.
15h00 – Atendimento Espiritual aos Enfermos e Idosos.
Quinta-Feira Santa – 28 de Março.
19h00 – Instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e da Humildade (Lava-Pés).
20h00 – Vigília Eucarística

Sexta-Feira Santa 29 de Março – Dia de Jejum e Abstinência
                                    (Coleta para os Lugares Santos)

09h00  – Confissões domiciliares: Enfermos e Idosos
17h00  – Celebração da Paixão e Morte do Senhor
                 Celebração da Palavra, Adoração da Cruz, Oração Universal e
                  Distribuição da Sagrada Comunhão.
                  “Dia de recolhimento e silêncio”
Sábado Santo – 30 de Março – VIGÍLIA PASCAL – A Mãe das Vigílias!

19h00 –  Bênção do Fogo Novo, Preparação do Círio Pascal, Proclamação da Páscoa, Liturgia da Palavra, Renovação das Promessas Batismais e Liturgia Eucarística!

Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor – 31 de Março.

08h00 – Missa Solene
10h00 – Missa Solene
11h30 – Batizados

Av. Saudade, 222-1 – Campos Elíseos – Ribeirão Preto – SP.

Pe. Gilberto Kasper
                                                                                                              Reitor

“O nosso cordeiro pascal, Jesus Cristo, já foi imolado.
Celebremos, assim, esta festa na sinceridade e verdade” (1Cor 5,7s).

domingo, 17 de março de 2013

NOVO SANTO PADRE O PAPA É FRANCICO I

Pe. Gilberto Kasper*
 
Após cinco escrutínios do Conclave que durou dois dias, foi eleito o primeiro Papa Jesuíta, e depois de 1.300 anos o primeiro Papa não europeu, e por fim, o primeiro Papa Latino-Americano. Nasceu dia 17 de dezembro de 1936 na Argentina, na Vila das Flores em Buenos Aires, de pais italianos o Cardeal Jorge Mário Bergoglio. Bispo Auxiliar de Buenos Aires de 1992 a 1997, sendo elevado a Arcebispo Metropolitano da mesma Arquidiocese em 1998. Em 2001 Papa João Paulo II, Beato, integrou-o ao colégio cardinalício. De hábitos simples, como preparar a própria refeição, utilizar o transporte público como ônibus e metrô, Cardeal Bergoglio é extremamente culto e ao mesmo tempo simples, verdadeiro testemunho de desprendimento e sua riqueza consiste na vivência da pobreza.


A máxima de que quem “entra Papa num Conclave, sai Cardeal”, foi mais um drible do Espírito Santo para as demasiadas especulações divulgadas antes e durante o Conclave. A impressão era de que a Mídia deveria decidir o perfil do novo Papa, enquanto somente o Espírito Santo tem tal tarefa, como já o afirmava Jesus Cristo, ao escolher o primeiro Papa, segundo o Evangelho de São Mateus, 16, 18-19.
 
Com 75 anos de idade, o Papa Francisco I leva para dentro do Vaticano seu caráter, sua personalidade e sua grande experiência pastoral. Foi grande colaborador na elaboração do Documento da V Conferência Episcopal Latino-Americana e Caribenha, de Aparecida em 2007. Além de sua simplicidade e sábia preparação intelectual: formou-se em Farmácia, Literatura, Filosofia e Teologia, nos inspira a esperança de grande mudança numa Cúria “emoldurada e engessada”, demonstrado desde sua primeira aparição no balcão da Basílica de São Pedro. Falou e rezou no idioma italiano. Afirmou que é tarefa dos Cardeais escolherem um “Bispo de Roma”. E que “escolheram um quase lá do fim do mundo”. Não se denominou a priori Papa, mas Bispo de Roma! É profundo conhecedor dos desafios da Igreja, sobretudo da América Latina. Está preparado para inovar caminhos para a tão desejada por todos os católicos, a nova evangelização! Sempre foi Pastor no meio do seu Povo, visitando as Paróquias de sua Arquidiocese, deslocando-se, geralmente de ônibus.
 
Segundo seu amigo pessoal, de quem fui coroinha na década de 60 em Novo Hamburgo (RS), Pe. Jesùs Sanches Hortal, também Jesuíta, Reitor Emérito da PUC do Rio de Janeiro, o novo Papa Francisco I ficou em segundo lugar no Conclave de 2005, que elegeu Josef Alois Ratzinger. Conta Pe. Hortal que o então Cardeal Jorge Mário Bergoglio suplicou aos irmãos Cardeais que o poupassem desta árdua missão e não votassem mais nele. Tais informações só são conhecidas oficiosamente, porque nada do que acontece num Conclave pode ser revelado. Mas foi o próprio colega jesuíta que anos depois o deixou escapar ao Padre Hortal.

Enquanto Arcebispo de Buenos Aires, o Papa Francisco I enfrentou com elegância e profunda dor e humildade os desafios que seu País lhe impunha. A Argentina foi o primeiro País Latino-Americano a formalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Foi duramente atacado pela Presidente Cristina Kirschner, quando declarou que crianças adotadas por tais uniões seriam discriminadas na sociedade extremamente hedonista e cruel.
Certamente escolheu ser chamado Francisco, porque em 1200, São Francisco de Assis foi convocado na Igreja de São Damião, numa visão que teve, de reconstruir a Igreja de Jesus Cristo. A grande expectativa do mundo todo é a renovação da Igreja através de uma nova Evangelização. Tema abordado inúmeras vezes por Bento XVI e pelas Conferências Episcopais, especialmente de nosso Continente. A “hemorragia de fiéis” da Igreja Católica e o acentuado crescimento de seitas e religiões pentecostais não podem ser remetidos ao Papa, mas a todo cristão batizado que deve estar consciente de sua missão evangelizadora num mundo de “mudança de época”, mergulhado no relativismo e hedonismo que não condizem com os valores evangélicos. Não depende do Papa tão somente o número de pessoas que

se afastam da Igreja Católica, antes depende da coerência entre o que professam e
vivem todos os católicos.


O Papa Francisco I em sua primeira aparição já acenou um Pontificado da modéstia, da simplicidade, da pobreza, da proximidade do Povo, da elegância, da abertura ao diálogo com as sedes de um mundo cheio de contrastes. Seu pedido foi: “Vamos iniciar este caminho juntos. Caminho de fraternidade, de unidade e de comunhão. Rezemos uns pelos outros. Eis o caminho que desejo caminhar com todos”. Convidou o mundo a rezar com ele pelo Papa Emérito Bento XVI. Depois, antes de conceder sua primeira Bênção Apostólica, bem como a Indulgência Plenária, suplicou silêncio à multidão comprimida na Praça de São Pedro e disse: “Antes de lhes conceder minha bênção, peçam, por gentileza, em silêncio, que Deus me abençoe!”. Inclinou-se por alguns instantes e depois proferiu a bênção.
 
Apresentou-se vestindo apenas a batina branca. Na hora da bênção impôs a estola, veste principal para ações litúrgicas, e depois ficou novamente à vontade. Para minha leitura, tais
gestos antecipam que teremos um Papa simples, amante da pobreza, pastor entre o rebanho e sedento de renovar em cada um de nós, o ardor de nossa fé, num projeto de Igreja Missionária, Ministerial conduzida por uma Nova Evangelização. Quebrou duas vezes o esperado protocolo: falou a língua italiana, o que me pareceu elegante diante da multidão e não o tradicional latim. Quando já havia concedido a bênção, pediu de volta o microfone, para mais uma vez agradecer a acolhida e desejar a todos uma “Boa Noite” e um “Bom Descanso”. Concluiu: “Nos veremos muito em breve!”.
Segundo o Porta Voz do Vaticano, Pe. Frederico Lombardi, a Concelebração Eucarística da Inauguração do Ministério Petrino do Papa Francisco I será às 9h30 (hora de Roma) 5h30 (hora de Brasília) do dia 19 de Março, Dia de São José, o Padroeiro da Igreja Universal. Porém, domingo ao meio-dia (Roma), 8 horas (Brasília) rezará o Angelus e saudará o Povo na Praça de São Pedro.
Agradecemos a Deus pelo novo Papa. Agora temos um Avô, Bento XVI, e um novo Papa Francisco I, que seguramente estará na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 23 a 28 de Julho próximo. A Iª JMJ foi sediada pela Argentina. Teremos o privilégio de conhecer um Papa do Povo, um Papa no meio do Povo, um Papa que sem dúvida sentir-se-á mais do que nunca acolhido e amado por nossa Nação, a maior católica do mundo! Desde já amamos nosso novo Papa Francisco I!


Padre Gilberto Kasper
 
Reitor Igreja Santo Antoninho de Ribeirão Preto.

Imagem retirada da internet.

quinta-feira, 14 de março de 2013

HOMILIA PARA O QUINTO DOMINGO DA QUARESMA DE 2013


Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!

            “Neste Quinto Domingo da QUARESMA, somos convidados a reconhecer nossos pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face de mais uma manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus, através dos gestos e palavras de Jesus.
        
A liturgia de hoje revela-nos um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a escravidão da lei e das nossas próprias fragilidades para chegar à vida nova, à ressurreição.

            Na reta final da caminhada em direção à Páscoa, o domingo de hoje se constitui num forte apelo à conversão. A conversão do coração significa mudança de orientação de vida. Ora, exige-se mudança radical quando a pessoa se encontra desviada do caminho do amor de Deus e aos irmãos, centrada em si mesma e ‘com as mãos repletas de pedras’.

            A Quaresma é um tempo para cuidar de nosso coração, libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do julgamento e do rancor. E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que necessitam da misericórdia, por não pertencermos ao grupo oficial dos ‘justos’, resta-nos a bem-aventurança da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e em sua voz firme e suave que diz: ‘Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais’. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!

            Será decisivo repassar, durante este Ano da Fé, a história da nossa fé que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade, com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai que vem ao encontro de todos (cf. BENTO XVI. Carta Apostólica Porta Fidei, n. 13).

            ‘Com o encontro de Jesus com a mulher pecadora, somos convidados a acolher em nossa vida o amor e a misericórdia de Deus. Celebramos a eucaristia dispostos a transformar o orgulho em compaixão para com aqueles que atendem ao apelo à conversão. [...] Se não for assim, nossas celebrações não passam de disfarce, hipocrisia e enganação. Isso deve irritar profundamente o coração misericordioso de Deus [...].

            As leituras nos revelam a ternura e a compaixão de Deus para conosco: realiza coisas novas para o povo e supera o legalismo frio e contraditório. A justiça de Deus, que nos vem por meio da fé em Cristo, é amor, misericórdia e perdão. [...] Quantas vezes enxotamos pessoas que não consideramos dignas de celebrar conosco a Eucaristia? Ministros Ordenados repreendendo aqueles que ainda vêm às nossas celebrações... Agentes de Pastoral, os que se acham ‘certinhos’ não raras vezes excluem pessoas que segundo seu juízo não correspondem às exigências legalistas de nossa Pastoral? Quem, a não ser o próprio Cristo é digno [...]?

            Sempre é tempo de deixar o passado e lançar-se para frente com otimismo, em busca de vida nova. Quem não tiver pecado seja o primeiro a julgar e atirar uma pedra. Quando aceitamos Cristo Ressuscitado, tudo se transforma para melhor em nossa vida’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 54-57).

            Em cada Quaresma ressoa o apelo ‘corações ao alto’, convidando-nos a olhar para o futuro e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de atitudes no sentido de esquecer os rancores do passado, os pecados, as tristezas que imobilizam a vida, daquilo que no presente é causa de queda, de fracasso, de frustração. [...] Tenho uma grande amiga que costuma dizer: ‘O passado já não me pertence mais. É preciso olhar para frente!’ Não devemos relativizar as coisas, mas construir oportunidades novas, ajudando as pessoas a reerguerem-se depois da queda. Muitas vezes acontece o contrário: quando as pessoas ficam deprimidas por causa dos pecados, costumamos pisar nelas e afundá-las ainda mais na lama das consequências de seus pecados. Gosto sempre de pensar que: Perdoar não é esquecer, mas lembrar sem rancor! [...] Sempre há um caminho longo pela frente, sempre podemos mudar o curso da nossa vida, de nossa história, basta que haja o desejo profundo de mudança no interior de nosso coração. Contudo, a conversão é um caminho em construção. [...] Nem sempre encontramos o apoio para a construção de uma nova vida. Principalmente no mundo clerical e de nossas Comunidades, costumamos colar adesivos na testa das pessoas. Temos ainda muitas dificuldades de perdoar de verdade. Como fica difícil à pessoa que busca a sincera conversão, mudar de vida, quando há tantas pessoas que se rogam o direito de marcá-las negativamente, até mesmo espalhando mundo a fora os erros do passado de quem tanto deseja mudar seu presente e futuro. Um dos hábitos que abomino entre nós, os ministros do Perdão, é falar mal daqueles cujos pecados vieram à tona. Quase sempre, aqueles que jogam as pedras, têm pecados semelhantes ou até mais graves. Escondem-nos (seus pecados) atrás de quem foi descoberto e isso é terrível e diabólico [...].

            Olhando para a nossa sociedade, averiguamos que o fundamentalismo e a intransigência, muitas vezes, falam mais alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da moral e dos bons costumes. O que fazer para transformar a realidade em que estamos mergulhados?

            Jesus, face à atitude condenatória dos fariseus e escribas, denuncia a lógica dos que se julgam ‘perfeitos e autossuficientes’. O que se considera justo não sabe perdoar [...] Quantas pessoas conhecemos, que são assim. Quantas experiências já se fizeram, especialmente entre quem busca cargos, funções, prestígios e poderes, pisando sobre a lama dos que algum dia erraram? [...]. ‘Devemos perdoar como pecadores, não como justos’. Todos temos alguma pedra na mão para jogar nos outros. Estamos todos a caminho e, enquanto caminheiros, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida do Homem Novo. O mais importante não é acusar, mas que o amor seja mais forte do que o nosso pecado.

            A Eucaristia é sacramento de unidade, de comunhão. Substituamos as pedras por gestos de partilha e de perdão. A Eucaristia é sacramento da misericórdia e do perdão divinos. Não a celebramos porque somos melhores do que os outros, e nem somos perdoados porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 47-55).

            Que nossos exercícios espirituais de penitência quaresmal se transformem em frutos saborosos diante de Deus e de nossa Igreja. Não apenas o resultado dos mesmos, que será a Coleta da Solidariedade a ser entregue com senso de justiça no próximo domingo, mas nossa disposição e nosso esforço para perdoar àqueles que ainda esperam por nosso perdão. Nunca esqueçamos que o próprio Cristo nos adverte: “Não são sacrifícios, mas misericórdia que agradam o coração do meu Pai”!

            Na próxima terça-feira, dia 19 de Março, celebraremos a Festa de São José, Esposo de Maria e Padroeiro da Igreja! Interceda Ele por nossa Igreja!

Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu  abraço sempre amigo,

Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 43,16-21; Sl 125(126); Fl 3,8-14 e Jo 8,1-11)